História A escolhida - O começo para Ethan

Meu pai se virou para Ethan e com um movimento extremamente rápido sacou uma arma presa no equipamento de polícia e atirou. 

     ~~~~Continua~~~~

[...] 

Caminhava atento pelas ruas daquele lugar completamente diferente dos céus. 

Vi algumas crianças brincarem e correrem pela rua como se não se importassem com mais nada. Não conhecia aquela brincadeira. Eles apenas se escondiam de uma pessoa que era excluída do grupo e quando a outra ia até elas, eles corriam... Assim revezando quem ficava excluído na próxima rodada. Passei despercebido pelos pequenos que brincavam cegamente. 

Segui meu caminho até o quarteirão ao lado. 

Já havia visto o Pai trabalhando no mundo dos humanos. Tirando e colocando coisas em seus devidos lugares. Esses mortais sempre me fascinara. O modo como construíam, evoluíram rapidamente, agiam em grupo, unidos. Mas tinha uma coisa que me chamou devida atenção e despertou em mim o que os outros anjos achavam impossível acontecer entre nós, o amor entre eles. 

O amor dos humanos não era igual o amor que tínhamos no que eles diziam ser o "paraíso". Os anjos se amavam como colegas e simples irmãos. Pelo menos é o que eu sentia quando os via se cumprimentar e conversarem nas horas vagas de trabalho. E o amor de Deus... As vezes me sentia um pouco... Igual. Teu amor  era dado igualmente para todos. Suas criações eram amadas eternamente e imensamente. Porém, ainda com tanto amor, me sentia igualado aos outros. 

Podia ver que todos os anjos, e as outras criaturas, davam o melhor de si para impressionar Deus. Mas, ainda sim, eram amados do mesmo modo como antes já eram. 

Os humanos eram diferentes. Esses amavam sem fazer muito. Simplesmente achavam uma pessoa que as faziam bem e ficavam ao seu lado. Mesmo passando pelas dificuldades que Deus lhe dava para torná-las mais fortes, elas prosseguiam   sem temer ao pior. 

Os anjos podiam, sim, amar daquele modo, mas Deus nunca acreditou nisso. Sabia que eu tinha razão quanto à isso e ainda continuava com sua argumentação. 

Podia ver que havia medo envolvido. Talvez Deus quisesse nos deixar daquela forma para sermos diferentes dos humanos. Ou, talvez, quisesse nos deixar assim para sermos mais  obedientes e não dar tanto valor ao amor entre nós mesmos. Não sei o por que eu o questiono tanto. Poderia simplesmente aceitar suas regras mantidas para nos proteger. Proteger? De quê, exatamente? Ok. Ok. Chega de questionar. Preciso encontrar o que procuro. 

[...] 

O quarteirão ao lado da rua das crianças sorridentes estava vazio. A escuridão tomava conta do local. Avistei algumas sombras e logo percebi que se tratava de lixos espalhados pelo meio fio e o meio da rua sendo empurrados para longe pelo vento que soprava levemente. 

Continuei a andar sem me importar com o que pudesse estar se escondendo entre as sombras das casas escuras. Afinal, era um anjo, ou melhor, quase um anjo. Mas ainda era imortal. 

Ao olhar para um dos postes que se punha a piscar freneticamente, vi uma sombra se esquivar para trás do mesmo e se esconder. Parei meus passos lentamente. Olho para os lados. Aquelas casas escuras, não deveria ter gente andando por aquela rua tão tarde da noite. 

Minha mão penetra entre os fios do meu cabelo negro caídos sobre os olhos. Não via motivo para usar minha visão noturna, já que ainda não conseguiria ver quem estava atrás do poste. 

Me aproximo de onde penso ter visto a silhueta e, extremamente rápido, apareço por trás do poste. Não havia ninguém ali. Como poderia fugir tão rápido? Só seria possível se não fosse algo humano, como pensei. 

Sinto uma mão repousar em meu ombro esquerdo e me viro. 

Uma garota com longos cabelos negros e ondulados está de pé em minha frente. Ela retira a mão do meu ombro e sorri. 

_Mirian. O que faz aqui? - Digo seriamente para a menina já conhecida. 

_Olá, Ethan. - Mirian sorri gentilmente exibindo os dentes tão brancos quanto a pela pálida. _Andei ouvindo muitos boatos no inferno sobre o anjo tão amado se retirar do paraíso por própria vontade e decisão. 

_Não sei quem lhe deu permissão para sair do inferno, Mirian. - Minha voz era indiferente

_Lúcifer me pediu para que ficasse de olho em você. - Ela inclina a cabeça para o lado e sorri meiga, como uma criança. 

_Porque ele faria isso? 

_Talvez tenha medo de você, Ethan. - Ela se aproxima de mim e segura meu braço, acariciando. _Sempre tão forte com palavras e seguindo suas próprias ideias. Tanto que até se opôs à Deus. 

_Não me opus a meu pai. Apenas quis prová-lo que anjos também podem  amar. - Eu a afasto e ando alguns passos até a rua. 

_Anjos amarem?? - Mirian solta uma risada de deboche, virando o rosto para o lado e retornando os olhos para mim. _Digamos que seja possível, como vai conseguir prová-lo em um lugar como este? 

_O amor está em toda parte, Mirian. - Sorrio para ela vendo-a ficar decepcionada por eu estar feliz à procura do amor. _Mas claro que você não pode enxergar, pois é um mero demônio solitário e repugnante. Não há amor em você, apenas as ruínas do que um dia foi um sonho e esse foi destruído por Lúcifer. Como pode não enxergar uma coisa tão óbvia? 

Vejo ela serrar os punhos e seus olhos ficarem negros com todo o ódio e angústia que fervia dentro de si. 

_Deveria tomar mais cuidado com palavras, Ethan. Mas não se preocupe, vou lhe ensinar a ficar calado. 

Míriam toma impulso contra o chão e se lança à mim com a mão erguida para um golpe brutal. Minhas asas se abrem e batem forte, me levantando e esquivando do ataque. 

_Não sabe o quanto esperei para ver sua força, Mirian. 

_Deveria ter pedido para levar um soco quando ainda éramos crianças. 

Um sorriso brota em meu rosto relembrando da infância. Eu e Mirian brincando nas nuvens. Sempre fui mais sábio, porém Mirian ainda me vencia com ataques poderosos. Por sorte, conseguia me esquivar usando velocidade. 

Suas asas negras se abrem e a levanta, ficando de frente para mim. Ela vê meu sorriso estampado e logo franze a testa. 

_Do que está rindo, Ethan? Não está com medo?  

Outro impulso. Mirian vai rapidamente em minha direção e, concentrando o poder nas mãos, forma uma adaga dourada. 

_E porque deveria teme-la?  

Minhas asas batem ainda mais forte e evita o ataque indo para o lado. 

_Sou mais forte que você, Ethan. Sabe disso. 

Eu voo rapidamente para trás dela e dou um golpe. Mirian despenca no chão causando um buraco no solo. Pouso devagar e caminho até ela. Vejo seu corpo se erguer novamente e ficar parada me encarando. 

_Não teria tanta certeza disso, Mirian. Você pode ser forte no passado, mas aqui isso muda. 

Ela corre até mim escondendo suas asas. Eu faço o mesmo. Mirian prepara a adaga ao lado de seu corpo segurando com ambas as mãos. Respiramos fundo e nos preparamos para o último ataque. 

Um clarão surgiu em nosso meio após nos confrontamos. Tudo ficou branco. Não pude enxergar mais nada. Quando percebi, estava ajoelhado no chão com as mãos sobre a barriga. Um líquido quente escorreu em meu corpo. Senti uma onda gelada passar por todos os membros e me arrepiar. 

Olho devagar para baixo enquanto meus olhos se acostumam com o escuro. A adaga dourada estava fincada  entre meu coração e a barriga. Viro a cabeça um pouco para o lado e vejo Mirian se levantando e caminhando até mim. Ela para em minha frente exibindo um sorriso sádico. 

_Seus olhos estão...  cegos...  pela escuridão. - Tento dizer algo mas me engasgava com o sangue. 

_Acabou, Ethan. - Mirian se ajoelha em minha frente e se inclina perto do meu rosto. _Demônios não fazem esse tipo de coisa, mas vou abrir uma exceção. Tem algum último pedido, Ethan?

Não digo nada. Apenas me aproximo mais e a selo com um beijo. Um beijo demorado. Sua língua pede passagem mas eu me afasto e abaixo a cabeça. 

_Teve sua chance. Poderia ter me vencido. Por que fez isso? - Mirian ergue a mão direita e a coloca em meu rosto, levantando minha cabeça. Meus olhos encontram os seus. Posso sentir o calor que ela sentia naquele momento. 

_O que quer dizer com isso se... - Eu abro um sorriso insano e agarro a adaga cravada em mim. _... A luta ainda não chegou ao fim. 

Puxo a adaga com força e ataco Mirian extremamente rápido. Ela tenta se afastar mas a lâmina à corta perto do pescoço criando uma corte profundo e doloroso. 

Seu grito era pura tormenta. A boca se abria ao máximo e os olhos exibiam todo o medo que sentia. 

Vi uma das luzes da casa mais próxima se acender. 

_Vou ficando por aqui. Espero que os mortais a levem para o hospital mais próximo. 

_Não... Ethan. _Agora era ela quem cuspia sangue e se engasgava nas palavras. _Eles não podem me ver. Por favor... 

Ouço a tranca da porta estalar. 

_E... than... - Sua cabeça repousa sobre o solo e apaga. 

Caminho até Mirian e a pego nos braços. Minhas asas se abrem e voo até uma das árvores do bosque onde à deixo deitada. 

_Você vai se curar. Logo, logo. - A selo com um beijo na testa e me afasto. Mirian agarra a barra de minha calça. Olho para trás ainda calmo. 

_Obrigada. - Um leve sorriso se forma em seus lábios e em seguida sua cabeça se vira e adormece. 

Não sorrio de volta. Não demonstro nenhuma feição. Apenas ando lentamente pela grama até a rua. 

Em uma das casas, iluminadas pelos postes de luz, vejo uma garota com cabelos longos e escuros destrancando a porta. Ela olha para os lados mas não me vê. Fico parado, observando-a. Meu coração bate ainda mais forte e minha boca fica seca. Seus olhos... Aqueles olhos que me ganharam. Eles eram mesclados verde e castanho. Podia ver aquele brilho... 

       ~~~~Continua~~~~