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História A Escritora Solitária e O Amante de Animais - Mabon, Festival do Equinócio de Outono


Escrita por: HiroNekochan18

Capítulo 13 - Mabon, Festival do Equinócio de Outono


Mais um dia se despedia em Jump City. O céu escurecendo, esmorecendo cada vez mais com os fracos raios de Sol deixando que as trevas da noite assumissem seu lugar. Neste crepúsculo azul-acinzentado, a cidade já se iluminava com suas luzes como de praxe, conferindo-lhe uma beleza toda especial.

Lá para as 17h, Ravena se preparava para viajar de táxi até a casa de sua mãe, pois hoje era dia 21 de setembro, ou seja, Mabon, festival do equinócio de outono. Sua mãe estava preparando um delicioso jantar em seu chalé para receber a filha e as duas amigas. Mabon era o festival da segunda colheita do calendário celta e era como a versão pagã do Dia de Ação de Graças para se agradecer à todas as coisas boas conquistadas este ano.

Ravena não tinha lá muito o que agradecer a menos as críticas maravilhosas ao seu último livro e as vendas deste que estavam fluindo maravilhosamente tal qual um rio feroz e poderoso no degelo da primavera. Em seu quarto, ela se preparava toda para o sabbath.

Uma curiosidade inesperada sobre Ravena é que só durante os dias dos oito sabbaths ela se despia das suas roupas pretas e azuis tão sombrias e se vestia totalmente de branco, mesmo que cada sabbath tivesse as cores certas para sua simbologia – mas o branco era um estado de paz para Ravena. Ela sempre se sentia em paz total quando chegava a data de algum sabbath, então ela sempre caprichava no vestuário.

Nos sabbaths da primavera e do verão, Ravena costumava se vestir com uma roupa branca estilosa que a fazia parecer uma maga branca poderosa e mística. Consistia em um collant de mangas compridas todo branco acompanhado de botas brancas e sua longa capa encapuzada branca que era presa por um prendedor com pedra brilhante que possuía o desenho da cabeça de um corvo. O único acessório que se permitia neste belo visual era um cinto repleto de pedras redondas amarrado na cintura.

Mas como chegaram tempos mais frios ela não poderia ficar desfilando de collant por aí com as pernas expostas ao ar frio, então ela tinha uma versão para frio destes trajes brancos como a neve. A capa encapuzada branca era mantida, ganhando plumas brancas pelas bordas do capuz e da capa ao passo que o collant era substituído por uma blusa grossa e branca também de mangas compridas com plumas nos pulsos e na bainha que fazia um elegante corte de V invertido na frente, além de calças brancas grossas e as mesmas botas brancas com mais plumas.

Quando Ravena terminou de se vestir toda, ela se olhou no espelho. Nunca quis admitir que era uma garota bela, afinal ela não conseguia enxergar isso muito bem no espelho que jamais mentia. Ela tinha certos complexos que surgiram ainda na infância. Só suas amigas e sua mãe já lhe disseram que era bela. Ninguém mais.

Ela escovou seus cabelos violetas com sua escova de cabelos e pôs o capuz branco por cima da cabeça, uma sombra ocultando metade de seu rosto pálido como a Lua cheia. A escritora solitária iria se encontrar com suas amigas lá na rua que viriam de táxi e rumariam as três para o chalé de Arella na floresta, onde passariam a noite todas juntas como de costume a cada sabbath celebrado.

Súbito, achou que seria interessante tirar apenas uma foto de si para postar na Internet. Ela gostara da roupa, não de si mesma. Já era suficiente. Pegou o celular azul na penteadeira e rapidamente tirou uma foto e postou no Instagram com os dizeres “preparando para o Mabon”.

Ao sair de seu quarto, Ravena chegou à sala de estar e avistou Morgana já sentadinha perto da porta da frente lhe esperando com colete azul e guia. Ravena pegou sua bolsa tiracolo no sofá que estava cheia com seu livro novo, alguns petiscos e biscoitos de gato e duas latas de ração felina para Morgana – e logo guardou seu celular dentro.

Ela colocou a bolsa tiracolo sobre o ombro e foi se dirigindo até a porta, pegando a guia de Morgana na mão. Estava pronta para sair quando olhou para trás e, por um momento, pareceu querer se despedir de alguém.

Mas não tinha ninguém lá. Ravena se sentiu uma estúpida. Por quê sempre tinha essa sensação de que faltava alguém por perto? Ela odiava isso. Por fim, saiu pela porta da frente com sua gatinha e se mandou.

Ao descer até o térreo e sair nas frias ruas lá fora, Ravena deu sorte quando viu que um táxi acabara de estacionar em frente ao seu prédio e o vidro da janela traseira abaixou, revelando uma Estelar toda de branco e toda sorridente.

-Ravena!-gritou ela.-Você está uma gata branca!

Ravena fechou o semblante rispidamente. Ela ainda estava com um pouco de raiva das suas amigas por hoje mais cedo. Por fim, caminhou com Morgana até o táxi. Estelar abriu-lhe a porta e se chegou para o lado para que a amiga entrasse com sua gata. Estrela Negra estava junto da irmã e também se vestia de branco. Estavam ambas com elegantes casacões brancos compridos, mas era provável também que estivessem com roupas brancas por baixo, mesmo que ficassem parecendo médicas, ou enfermeiras. 

-Pelo visto, alguém anda muito vaidosa.-disse Estrela Negra ao mostrar a tela de seu celular com a foto nova de Ravena no Instagram.

-Ah, deu vontade.-rebateu Ravena, desviando o olhar.

-Mas você é linda e maravilhosa.-sorriu Estelar alegremente.-E o que é lindo e maravilhoso tem que ser mostrado.

-Hmm, sei...-Estrela Negra sorriu maliciosamente.

-Calma. Eu retiro o que disse.-Estelar ruborizou.-Eu não quis dizer pra ela tirar a roupa.

-Ah, você quis dizer que era pra ela tirar a roupa sim.-provocou Estrela Negra.-Estelar, sua safadinha, está querendo colar o velcro?

-Vai você colar o velcro, sua safada!-rebateu Estelar.

-Taxista!-falou Ravena.-Vamos embora!

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A viagem até a casa de Arella foi rápida, já que havia pouco trânsito nas ruas e nas estradas das florestas. Após pagarem o táxi, o tríptico de amigas foram subindo a colina todas juntas através da floresta outoniça em direção ao chalé de pedras da mãe de Ravena.

Agora eram quase 18h da tarde e a noite chegara de vez. O chalé estava iluminado por uma grande lanterna japonesa que ficava pendurada no teto da varanda toda ornada com vasos de flores. Lá, estava Arella uma vez mais trajando um longo vestido branco de mangas longas com capuz – ela estava regando todas as suas flores com um lindo regador azul com desenhos de tulipas roxas pintados à mão.

Quando percebeu as garotas chegando, Arella logo sorriu e acenou para elas.

-Chegaram cedo, meninas!-exclamou ela alegremente.

-Oi, mãe.-sorriu Ravena.

-Boa noite, Arella!-saudaram Estelar e Estrela Negra em calorosos sorrisos.

-Boa noite pra vocês, minhas meninas.-Arella sorriu de volta.-Entrem. A mesa está posta esperando por vocês.

Todas entraram no aconchego caloroso do chalé. Ravena deixou sua capa branca no cabide ao lado da porta de entrada, assim como Estelar e Estrela negra que deixaram seus casacões brancos pendurados ali. Logo na sala de jantar já se sentia o aroma de comida gostosa flutuando pelo ar.

Estelar, que era a mais glutona de todas, já foi se chegando perto pra ver qual era o cardápio de hoje. Dos alimentos que eram típicos do Mabon tinha-se pães integrais caseiros de aveia e de avelãs com um maravilhoso bolo de maçã com canela salpicado de açúcar e canela em pó que acompanhavam vinho branco e suco de framboesa. Além disso, tinha também batatas assadas com queijo acompanhadas de sobras de frango frito assados no forno com bolinhos salgados em molho de cenouras e ervilhas, sopa de alho-poró com batatas e várias outras delícias como geléia de framboesa para passar nos pães, chocolate quente cremoso e chá de maçã vermelha com canela em pau, mel e limão.

-Ai, que delícia!-exclamou Estelar toda maravilhada.-Arella! Você se superou de novo! 

-Grata, Estelar.-Arella sorriu docemente.-Agora vamos. Vamos comer, senão a comida vai esfriar.

Na cabeceira da mesa, Arella se sentou e foi acompanhada de sua filha na lateral esquerda da mesa e suas duas amigas no lado direito. Até Morgana ganhou um cantinho sobre a mesa de jantar, onde poderia comer sua lata de ração felina perto de sua dona. É claro que antes de começarem a comer, Arella propôs que todos agradecessem aos deuses pelas boas conquistas deste ano.

-Quero agradecer pelas vendas de meus últimos quadros terem rendido um bom dinheiro.-está dizendo Arella.-E também por Nimue ter se recuperado da cólica equina. E é claro por eu, minha filha e suas ilustres amigas estarmos bem em todos os sentidos.

-Minha vez! Minha vez!-falou Estelar toda alegrinha e sorridente.-Quero agradecer por toda essa comida maravilhosa, por eu ter conseguido pagar as loucuras que fiz na liquidação do shopping antes que cortassem meus sete cartões de crédito e também pela minha irmã ter devolvido meu cinto.

Arella riu enquanto Ravena dava um meio sorriso e Estrela Negra meio que fazia uma careta para a irmã sempre meio infantil.

-Bom.-disse Estrela Negra.-Quero agradecer pelo lindo rubi que ganhei de um cara que hoje nem lembro o nome, por ter tido mais paciência com as crianças petulantes que aparecem lá no planetário sem querer jogá-las num poço e também por não ter aderido à idéia da louca da minha irmã de pintar os cabelos de rosa.

-Você ia ficar linda!-rebateu Estelar.

-Ah, vocês duas.-Arella riu em diversão.-Sempre me fazem rir.-e olhou para Ravena.-Sua vez, filha.

Ravena as olhou meio tímida e logo começou a falar:

-Quero agradecer pelo sucesso do meu último romance e também por toda a inspiração que tem desabrochado em minha mente para escrever este novo romance...-ela ficou quieta por um segundo.-É isso.

-Não está se esquecendo de nada, Ravena?-Estelar abriu um sorriso bobo.

-Não...-Ravena parecia confusa.-Do quê? 

-Ora pois!-Estelar riu.-Do Mutano!

-Se você pronunciar o nome dessa criatura mais uma vez, eu viro essa mesa toda em cima de você!-berrou Ravena no ato.

-Essa história ainda está rolando?-indagou Arella, curiosa.

-Claro que não.-respondeu Ravena.

-Claro que sim.-respondeu Estrela Negra.-Hoje de manhã ela se encontrou com ele de novo no correio e lascou mais um tapa na cara do coitado.

-Tadinho, Ravena.-falou Arella, toda compassiva.-Não devia ter feito isso.

-Como não devia ter feito isso?!-exigiu saber Ravena.-O infeliz esbarrou em mim na maior distração com aquela cachola mole que me deu um banho do chá de bolhas que ele tomava e ainda me fez derrubar todas as minhas encomendas no chão. Por pouco não quebrava nada. De novo, o cara riu de tudo o que eu falei e eu não tive dó de marcar a cara verde dele com a minha mão!

-Eles brigaram na frente de todo mundo do correio.-contou Estrela Negra aos risos.-Depois ela se mandou e deixou o coitado lá sozinho e todo molhado.

-Eu jamais faria uma coisa terrível dessas.-disse Estelar tão carinhosamente.-Eu levaria ele pra minha casa, lhe daria um banho quente, lavaria suas roupinhas e lhe embalaria num cob...

-Cala a boca!-gritou Ravena.-Ou quebro a sua cara!

-Mas o que foi que aconteceu?-Arella questionou, rindo.-Você esqueceu suas encomendas?

-Ah, foi um problema de atualização do site de compras online.-explicou Ravena brevemente.-E pra piorar, o retardado mental do porteiro estava tão viciado nos seus joguinhos de celular que nem deve ter visto, ou ouvido o entregador chamando do lado de fora.

-Ah, que lástima. Sinto muito mesmo...-falou Arella e depois lançou um sorriso para Estelar e Estrela Negra, que sorriram também.-Bom. Vamos comer?

-Ai, estou ansiosa!-Estelar já foi logo pegando um dos pratos da pilha.

Todas começaram a se servir. Ravena estava abrindo a lata de ração de Morgana quando percebeu uma refeição um tanto curiosa que ela ainda não tinha percebido ali.

-O que é isso, mãe?-quis saber ela.

-Ah, sim.-sorriu Arella.-São berinjelas recheadas com proteína de soja, pimentão, cebola, tomate, ervilha, salsinha e cebolinha assadas no forno com cheddar vegano de castanha de caju, cenoura e batata. É uma delícia.

-E...-Ravena já estava desconfiada.-De onde você tirou essa receita?

Rapidamente, Arella pegou seu celular que estava na borda da mesa e mostrou na tela o que Ravena mais temia.

-Foi do Instagram do Mutano.-respondeu ela.-Estou seguindo ele. As meninas também.

Ravena ficou paralisada.

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Não faltaram brigas em volta da mesa por parte de Ravena que xingava e repudiava Mutano repetidas vezes e por parte também de sua mãe e suas amigas que, para ela, estavam contra à garota ao proteger aquele verdinho extremamente irritante.

A situação só se suavizou depois que o jantar terminou e todo mundo foi para o jardim de camélias de Arella, que estava iluminado por alguns pequenos postes de luz dourados e ornamentais que adornavam o lugar que viria à ser o bosque sagrado para os rituais de sabbaths. Tudo seria realizado de frente para o grande bordo vermelho, que derrubava um grande tapete de folhas secas ao seu redor. Ravena e Arella eram quem iriam realizar o ritual de agradecimento da segunda colheita enquanto Estelar e Estrela Negra se sentariam perto dali e tocariam o tambor e o sino como canção xamânica do ritual. Morgana também participava, junto com Nimue. A bela e maravilhosa égua branca havia se deitado entre as arvoretas de camélias floridas e deixou que a linda gatinha negra se deitasse toda sobre suas costas, ambas assistindo tudo de camarote.

Para o ritual, Ravena e Arella pegaram três caldeirões, sacos de grãos e sementes, incensos de benjoim, lavanda e sálvia, um cálice medieval com água, uma vela marrom e fósforos.

Com o lugar do ritual já coberto de folhas secas que eram um dos símbolos do Mabon, mãe e filha totalmente vestidas em seus trajes longos e brancos posicionaram os três caldeirões juntos lado a lado próximo ao bordo vermelho. Uma mesa de madeira perto dali estava com tudo de que precisavam. Logo, foram elas pegar os sacos de grãos e sementes, o cálice com água e a vela marrom com os fósforos.

Enquanto isso, Estelar tocava um grande e belo sino de prata e Estrela Negra tocava um tambor que cabia em seu colo. Depois das múltiplas brigas que tem acontecido neste fim de semana, Estelar estava um tanto pensativa e olhou para sua irmã que parecia bem distraída assistindo a realização do ritual.

-Irmã?-sussurrou Estelar.-Acha que a Ravena até hoje não superou?

-Não superou o quê?-indagou Estrela Negra.

-O dragão.-respondeu Estelar.

-Que dragão?-Estrela Negra franziu a testa.

-Você sabe. O lagarto falso... cujo nome começa com M.

-Ahh, sim... o Dragão M... não, creio que não. Ela continua vivendo no passado.

-Pois é! É isso que tenho pensado ultimamente. Ravena nunca mais se abriu pra ninguém desde que aconteceu aquela “coisa”. 

-Bom, irmãzinha, quando se acontece uma “coisa” daquelas, a pessoa não se recupera tão fácil...

Neste momento, Arella enchia o cálice medieval com água de um decantador de vinho enquanto Ravena acendia a vela marrom com os fósforos. Ambas pareciam lindas e místicas magas brancas wiccanas.

-Essas lembranças ruins estão matando ela por dentro a cada dia...-comentou Estelar, preocupada.-E se ela nunca se recuperar? E se ela se tornar amarga?

-Bom, Ravena já é um tanto azedinha, principalmente quando acorda de mau humor.-está dizendo Estrela Negra.-Mas se ela se tornar amarga, aí será fim de jogo. Não terá volta.

-Não quero que isso aconteça com ela...-murmurou Estelar tristemente.

Arella pôs no caldeirão da esquerda o cálice com água, representando o Reino do Mar. Ravena colocou no caldeirão do centro a vela marrom acesa, representando o Reino do Céu. Logo mais, as duas foram buscar os sacos de grãos e sementes para colocar no último caldeirão que, por sua vez, representaria o Reino da Terra.

-Acha que ela poderia se dar bem com o Mutano?-sugeriu Estelar curiosamente.

-Olha, sinceramente, depois de tudo o que aconteceu, Ravena tem tido uma desconfiança irracional com pessoas, cujo nome começa com a letra M.-explicou Estrela Negra.-E Mutano começa com a letra M.

-Mas deve ser apelido, não?-disse Estelar.-Afinal, nós também temos apelidos.

-É.-assentiu Estrela Negra.-Komand’r e Koriand’r eram nomes difíceis demais para as pessoas burras pronunciarem e nosso amor por astronomia acabou ajudando bastante em nossas vidas sem que os outros não nos chamassem por “aquela de olhinhos verdes”, ou “aquela de cabelos roxos escuros”.

-Acho que eu vou entrar em contato com ele... pra saber seu nome verdadeiro.

-Tome cuidado... ou será mandada direto para a Quinta Dimensão.

Por fim, com os sacos de grãos e sementes dentro do caldeirão do Reino da Terra, Arella e Ravena acenderam dois pares de cada uma das três fragrâncias dos incensos, pegando nas duas mãos os pares divididos em trípticos e logo começaram a defumar todo o local do ritual, andando em círculos três vezes no sentido horário.

Agora, o ciclo foi fechado. O Mabon era o último sabbath da Roda do Ano e o calendário celta só seria reiniciado durante o Samhain em 31 de outubro, o que levaria algumas longas semanas. Feito isso, Arella e Ravena recolheram todas as coisas e Estelar e Estrela Negra lhes ajudaram.

O resto da noite foi resumida em beliscar as sobras do jantar de quando em quando e assistir bons filmes na TV.



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