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História A Escritora Solitária e O Amante de Animais - Amigos Estúpidos


Escrita por: HiroNekochan18

Capítulo 14 - Amigos Estúpidos


Com toda a felicidade do mundo, Mutano jogou dentro de seu liquidificador enorme e potente toda a xícara de amêndoas de molho há 12 horas. Acrescentou também três tâmaras picadas grosseiramente e uma colher de chá de essência de baunilha. Pegou uma jarra medidora ao lado e cobriu as amêndoas com água. Tampou o liquidificador e apertou o botão de ligar. Logo mais, o eletrodoméstico começou a triturar as amêndoas em alta velocidade até transformar em leite vegetal.

Enquanto isso, Mutano se encostou na mesa da cozinha, onde havia uma cumbuca cheia com um delicioso macarrão vegano sem ovos coberto de queijo cheddar vegano de castanha de caju com batata e cenoura salpicado de salsinha e cebolinha picadas que ele havia acabado de preparar para seu jantar. Pegou seu celular verde na mesa e destravou a tela. Estava pesquisando uma receita de picolés veganos de abacate e de chá de hibisco que queria testar no próximo verão quando surgiu uma mensagem de Robin.

Curioso feito um gato, Mutano clicou na mensagem e viu que Robin havia lhe enviado uma publicação do Instagram de Ravena. O amante de animais nem queria saber da escritora solitária, mas ao ver a foto que ela postou essa noite lhe chamou muito a atenção. Ela estava toda de branco como se fosse uma noiva – mas melhor do que isso: uma grande bruxa branca que usava uma longa capa encapuzada branca com plumas pelas bordas e uma roupa muito estilosa também tão branca quanto a neve.

Mutano odiou admitir: Ravena estava linda, misteriosa, mística e provocante demais como um delicioso mistério a ser desvendado. Mas ele não entendeu o motivo de uma roupa tão caprichada assim. Logo abaixo da fotografia havia uma legenda que dizia o seguinte:“Preparando para o Mabon”.

-Mabon?-Mutano franziu a testa confuso.-Mas o que é isso?

Como se tivesse adivinhado seus pensamentos, Robin lhe enviou outra mensagem, dessa vez, escrita. Antes de lê-la, o garoto verde desligou o liquidificador após alguns minutos triturando as amêndoas e tirou da tomada. Enquanto ele pegava a jarra já aberta do liquidificador e derramava todo o leite de amêndoas dentro de sua prensa francesa na mesa, leu a mensagem de seu amigo mascarado:

Mabon é um antigo

festival da Wicca

celebrado durante

o equinócio de

outono. Segundo

a crença antiga,

era quando as faces

mais sombrias do Deus

e da Deusa eram reveladas.

Uma época para se agradecer

às conquistas do ano e à

segunda colheita.

-Ahhh...-falou Mutano como se uma luz tivesse se acendido em seu cérebro escuro. Logo, escreveu uma mensagem para Robin:

O que é Wicca?

Robin respondeu rapidamente:

É a antiga religião

dos antigos celtas.

-Ahhh...-ecoou Mutano como se tivesse entendido tudo e escreveu mais uma mensagem:

Quem são os

antigos celtas?

Robin enviou alguns emoji raivosos, mas respondeu assim mesmo:

Foram um grupo

de etnias europeias

como gauleses e bretões

organizadas em tribos

da Antiguidade que

viveram em regiões

como o País de Gales,

Escócia, Irlanda, Gália

(França e norte da Itália),

norte de Portugal, Galiza

(noroeste da Espanha) e

Ásia Menor. Sua sociedade

era regida pela hierarquia

de druidas, nobres, guerreiros,

homens livres e escravos.

Eram um povo politeísta que

cultuava muitos deuses,

famosos por criarem símbolos

como o pentagrama, o triskelion

e a árvore da vida. Foi deles

que surgiu Boaddiceia, a

Rainha dos Icenos, que

liderou muitas tribos contra

a dominação romana antes

de ser derrotada e se suicidar

para impedir que os romanos

lhe apresentassem como

prêmio de caça como

tentaram fazer com

Cleópatra, última

rainha do Egito Antigo.

Depois daquela aula de História enorme que só serviu para embaralhar a cabeça de Mutano, ele deixou a jarra vazia do liquidificador na mesa e colocou a prensa na jarra de vidro da prensa francesa para prensar todo o resíduo do leite de amêndoas no fundo, deixando apenas o leite vegetal bem limpo e saboroso. Logo mais, ele digitou uma mensagem para Robin:

Tudo bem...

e por quê eu

tinha de saber de

tudo isso?

Robin respondeu rapidamente:

Ora pois, Garfield!

Antes de namorar

uma feiticeira linda

e poderosa, você

precisa saber de

suas origens pra

fazer bonito no

primeiro encontro.

A reação foi instantânea. Arregalando os olhos verdes com uma fúria enlouquecedora, Mutano clicou para fazer chamada de vídeo com Robin no ato, pois se digitasse tudo o que tinha de digitar seu celular ia se partir ao meio de tanto ódio.

Segundos depois, Robin aparece sentado no sofá de sua sala usando um casaco de moletom preto e vermelho com o zíper aberto que exibia um pouco de seus músculos de pele branca e ele bebia de uma caneca de chocolate quente. Logo ao seu lado, estava Cyborg vestido num cobertor de mangas azul claro com o capuz abaixado devorando um hamburgão de carne de porco com bastante cheddar nada vegano e passando os canais na TV com o controle remoto.

-Oi, Mutano!-Robin sorriu calorosamente.

-Oi, Mutano um soco no meio do focinho!-esbravejou Mutano no ato.-Como é que você se atreve à me dar uma aula de História com coisas que eu nunca ouvi falar na vida e ainda me larga um absurdo desses sobre aquela cretina descontrolada?!

-Ele nunca ouviu falar de um monte de coisas.-riu Cyborg com a boca cheia.

-Oh, Mutano, eu posso ver na sua cara.-Robin também riu.-Pensa que eu já não percebi que você se amarrou na Ravena?

-NÃO!-gritou Mutano, fazendo seus animais na sala de estar olharem para a cozinha.-Não pronuncie esse nome! Esse nome é azarento! É tão azarento que só de pronunciar as coisas começam a quebrar!

-Ravena! Ravena! Ravena!-Cyborg começou a falar sem parar.-Ravenaaa!!!

Mutano só não arrebentou o celular na parede porque pagou com seu próprio dinheiro. Em vez disso, cerrou o punho com tanta força que suas articulações ficaram brancas e seus dedos estalaram.

-Olha, Mutano, eu entendo que você esteja muito chateado com ela.-está dizendo Robin.-Mas é que...

-Chateado?-questionou Mutano ironicamente.-Eu fico chateado quando uma receita não dá certo, ou quando o Wi-Fi cai bem na hora do meu filme favorito. Se isso é ficar chateado, como é que eu me sinto agora?

-Ora, Mutano, fala sério!-estrilou Cyborg ao engolir um monte de comida na boca.-Entenda uma coisa. A garota é wiccana. Ela é descendente de irlandeses e ingleses. Ela já escreveu seis livros e eu andei dando uma sondada em resenhas e críticas na Internet e me pareceram histórias bem fascinantes. A garota é tão inteligente e culta que sabe falar oito línguas, cara!

Nessas, Mutano teve um súbito interesse e suas orelhas pontudas até se levantaram.

-Sério?-indagou.-Quais?

-Se não me engano...-Cyborg tentou se lembrar.-Irlandês, inglês britânico, alemão, latim, romeno, sumério antigo e sânscrito.

-Ah... por isso que ela tinha um sotaque estranho que não parecia americano e...-Mutano se tocou e voltou à ficar com raiva.-Ora! O que me importa?! Viu como ela é uma inútil?! Ela nem sabe japonês! Se pelo menos, ela soubesse japonês seria uma vantagem para mim porque aí não precisaria ficar vendo anime legendado!

-Mutano, seu grande imbecil!-Cyborg parecia chocado.-A garota sabe sumério antigo! Quantas pessoas você vai conhecer na vida que sabem falar sumério antigo fluentemente?!

-Total.-concordou Robin.-A Suméria é coisa muito das antigas. Das antigas de verdade. Milênios atrás. Essa garota simplesmente se alimenta de conhecimento e...

-E eu não estou nem aí!-rebateu Mutano teimosamente.

-Até onde vai a ignorância desse retardado mental?!-Cyborg já estava furioso.-Cara! Já não passou pela sua cabeça que se você se aproximasse dela sem brigas e criasse um relacionamento decente, você ganharia bastante conhecimento para essa sua cabeça mais vazia do que um sistema de ventilação?!

-Ah, como se eu não tivesse nenhum conhecimento, não é, Cyborg?!-rebateu Mutano com risos zombeteiros.

Na tela do celular, Robin e Cyborg se entreolharam, assentiram e depois Robin olhou para Mutano.

-Diga o nome de três rainhas icônicas da História.-pediu o mascarado.

-Simples.-sorriu Mutano bobamente.-Amelia Earhart, Coco Chanel e Lucy!

-Aviadora, estilista e uma humana ancestral da Pré-História.-respondeu Robin sem rodeios.

O rostinho verde de Mutano começou a ficar todo vermelho.

-Três rainhas, inteligência rara.-disse Cyborg, mostrando seus três dedos robóticos.-Maria Antonieta, Cleópatra e Elizabeth I.

-Ah...-fez Mutano e coçou a nuca.-Mas se olhar por um ângulo bem feminista, as mulheres de que citei também são rainhas e...

-Confessa, Mutano.-riu Robin.-Você é totalmente leigo em História.

-Mas a Raveninha, não!-exclamou Cyborg todo sorridente.

-VÃO SE LASCAR!-berrou Mutano e logo encerrou a chama de vídeo.

O amante de animais, furioso como um leão desafiado por um oponente em potencial a usurpar-lhe o trono de rei entre as leoas, largou seu celular verde na mesa. Sentou-se à cadeira e começou a comer seu macarrão com queijo vegano, servindo-se de uma caneca de leite de amêndoas delicioso.

Mas depois dessa a comida mais parecia serragem em sua boca.

:

Mutano já estava sacando as intenções de seus amigos idiotas. Eles queriam que ele namorasse sem rodeios com Ravena, mesmo sem nem conhecê-la direito, mas ao mesmo tempo nem querendo se esforçar pra isso. A idéia era da mais revoltante para o amante de animais que via aquela escritora solitária como uma louca sem controle da raiva, sinistra, antipática e que ainda comia carne.

E isto é inaceitável.

Após o seu jantar que nem pareceu ter sabor direito depois daquela discussão na chamada de vídeo, Mutano foi tomar um longo banho quente. Ele ficou debaixo do chuveiro por longos minutos, deixando que a água quente acalmasse seus músculos que se retesavam toda vez que a raiva vinha na intensidade de um acidente de carro a mais de 100 km/h contra um caminhão de combustível de foguete.

Seus banhos eram sempre demorados como se fosse uma noiva se preparando para o casamento, mas sempre saía de lá tão perfumado de shampoo e sabonete que nem precisava dos seus perfumes franceses quando tinha algum compromisso na rua, mas nunca resistia em lançar perfume sobre si. Quando saiu do banho, ele seguiu para o quarto em uma toalha enrolada na cintura que era toda desenhada com o fundo do mar, corais coloridos, peixes, baleias e golfinhos. Antes de se vestir, Mutano foi localizar cada um dos seus animais pelo apartamento.

Castanha & Castanhola estavam se lambendo no sofá. Trovoada e Labareda pareciam assistir um programa sobre cuidados com os cães na TV. Penumbra e Bola de Neve roíam alguns pedaços de madeira que sempre tinham à sua disposição para gastar os dentinhos em eterno crescimento. Tutti Frutti se encontrava relaxando sobre uma almofada abaixo da janela da sala. Gritalhão estava lá em seu poleiro assoviando e tagarelando como sempre. E Ervilha estava paralisado numa baliza entre a mesinha de centro e o sofá.

Mutano já havia alimentado seus animais antes do banho, então feliz por vê-los numa boa se dirigiu para seu quarto. Chegou naquele cômodo que era uma bagunça total e foi procurar umas roupas que estivessem limpas e passadas no armário. Pegou uma regata preta cavada e colada, e uma calça de moletom cinzenta bem larga e confortável. Optou por não vestir nenhuma cueca boxer dessa vez. Largou as roupas sobre a cama de baixo do seu beliche e pegou o celular verde na escrivaninha para ver se tinha alguma notificação nova.

Eram as mesmas coisas de sempre: YouTube avisando sobre novos vídeos de receitas veganas e de animais fofos, algumas novas publicações e stories no Instagram, coisas assim. Mutano saiu andando até parar de frente para o grande espelho de corpo inteiro que ficava ao lado do beliche. Seu reflexo verde surgiu no espelho enquanto ele deslizava o dedo pela tela de seu celular.

Em um pequeno momento de distração, ele olhou para o espelho de corpo inteiro e se viu. De repente, ele se achou um gatão ali só de toalha na cintura com os cabelos verdes levemente úmidos do chuveiro quente. Sem resistir muito, tirou uma foto de si e postou no Instagram sem nenhuma palavra à declarar, pois uma fotografia já valia mais do que mil palavras.

Não demorou muito e começaram as curtidas e comentários dos ratos de Internet de plantão. Mutano deixou seu celular sobre a cama de baixo do beliche e despiu-se da toalha de banho. Se vestiu e se sentou na sua cama para checar algumas mensagens. A maioria eram mensagens de garotas que estavam totalmente desesperadas por Mutano, uma mescla entre românticas incuráveis e maliciosas hormonais, cujo desespero fora tão grande que o próprio amante de animais decidiu manter as conversas somente no mundo virtual e não na realidade como na vez em que visitou o bairro japonês da cidade e havia arrasado tanto no karaoke que um bando de japonesas pularam em cima dele e quase não o deixaram escapar com vida.

Honestamente, Mutano não queria ser dono de um harém desvairado com um furor hormonal tão grande que poderia ser comparado à um vulcão explodindo. Bastava um amor que fosse sincero e doce o suficiente para que acordasse todos os dias ao lado dela com um sorriso bobo e feliz no rosto.

Mas mesmo com todo seu carisma, seu sorriso irresistível de presas fofas, seu bom humor, sua personalidade alegre e extrovertida, sua imensurável vontade de amar e até mesmo sua beleza corporal sensual ainda continuavam ocultas para o verdadeiro coração apaixonado que ele procurava. Quem era a garota especial que o ganharia? Ela existia? Ela estava perto dele agora? Estava pensando nele agora?

A resposta veio rapidamente. Quando acessou a busca do Instagram, havia como de praxe uma porção de vídeos e fotos abaixo, mas o que estava em evidência foi uma foto de Ravena Roth que bebia de uma caneca de chá de forma toda misteriosa e intelectual. Como um feitiço sedutor e irresistível, Mutano ficou preso no olhar de Ravena e em sua face delicada e provocante.

Na foto, é como se a escritora solitária olhasse para o amante de animais e os dois se comunicassem só com o olhar. Mutano pensou num coração que desejasse a mesma coisa que o seu e por um momento imaginou Ravena.

-Não.-falou ele e largou o celular na cama.

:

Já estava ficando tarde da noite. Como último lanchinho do dia, Mutano fez um mingau de aveia vegano com um pouco de cacau e canela em pó e levou para a sala de estar. Ligou sua televisão num documentário de natureza e se aconchegou no sofá. Havia trazido do seu quarto seu cobertor e seu travesseiro para ficar mais confortável. Seus animaizinhos, é claro, não deixaram de lhe acompanhar no sofá com metade deles deitados sobre o cobertor e metade deles deitados no tapete perto do sofá.

Mutano ficou lá por quase uma hora assistindo as luzes azuis das larvas de mosquito nas florestas escuras da Nova Zelândia enquanto devorava cada vez mais seu mingau de aveia. Nessas, quase todos os seus animais estavam adormecidos, ou quase à exceção de seus gatos que eram animais noturnos. Já com o amante de animais o sono veio como uma brisa suave que soprava a cortina da janela e refrescava a sala.

À medida que o sono chegava mais e mais, Mutano começava a pensar em Ravena, mesmo com seu cérebro se recusando à pensar nela, mas é como se outra coisa em seu corpo estivesse mandando no seu cérebro. Como isso poderia acontecer, se era o cérebro o dono do corpo todo? Pensou em Ravena, nos seus trajes brancos de frio que a faziam parecer uma verdadeira feiticeira, nas suas origens célticas, na sua gatinha linda e, sobretudo, no seu olhar de tristeza e solidão que aparecia em seus belos olhos violetas quando menos se esperava.

Quando o mingau de aveia acabou dentro da leiteira, Mutano colo adormeceu com a cabeça confortavelmente aconchegada em seu travesseiro. Em seus sonhos, ele viu uma doce garotinha de cabelos violetas que vestia branco e tinha medo de ficar sozinha.



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