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História A Escritora Solitária e O Amante de Animais - Uma Vida Tranquila de Escritora Romancista


Escrita por: HiroNekochan18

Capítulo 4 - Uma Vida Tranquila de Escritora Romancista


-Daí chegou aquele garotinho, aquele pirralhinho que eu nem sei o que estava fazendo no planetário.-está dizendo Estrela Negra enquanto mexia a colher em seu cappuccino de chocolate.-E ele ainda teve a cara de pau de me perguntar se a Lua era feita de queijo.

Ao seu lado, Estelar começou a rir, mesmo com a boca cheia de pizza. Ravena, que acariciava Morgana no colo e comia uma fatia de pizza, rolou os olhos violetas com certo deboche.

-Então, eu tive de explicar as razões mais concretas pelas quais a Lua não é feita de queijo.-prosseguiu Estrela Negra com seu infeliz episódio no trabalho.-E quando ele disse que não entendeu nada, a minha vontade era de dar um murro e afundar ele no chão pra ficar mais tampinha do que nunca!

-Hmm. Interessante.-comentou Ravena.-Crianças também não se dão comigo. Elas sempre correm com medo de mim e falam que sou uma bruxa.

-Oh, Ravena...!-Estelar engoliu o monte de pizza na boca e voltou à falar:-Você também não se esforça. Eu até entendo o lado da minha irmã porque ela é meio antipática.

Estrela Negra olhou para a irmã mais nova com carranca enquanto bebia do seu cappuccino.

-Mas você parece querer repulsar todo mundo de perto de você.-continuou Estelar.-E logo as crianças! As criancinhas que são tão cheias de vida e luz do Sol!

-Então, se as crianças são tão brilhantes como o Sol, considere-me uma vampira frágil.-retrucou Ravena.-Mais um motivo pra não chegar perto de crianças.

-Exatamente, Ravena.-concordou Estrela Negra.-Não cheguemos perto das crianças. Elas me dão arrepios. Parece que vão pular em cima de mim e me comer viva.

-Isso foi um filme de terror que você assistiu com uma escola cheia de crianças mortas-vivas.-disparou Estelar.

-Deve ter sido baseado em fatos reais.-Estrela Negra deu de ombros.

Estelar rolou os olhos verdes e olhou para a pilha de papeladas de anotações sem fim perto de Ravena na mesa da cozinha. Imediatamente, a garota de cabelos vermelhos começou a sorrir com sua curiosidade imparável.

-E... Ravena?-disse ela, toda sorrisos.-Como vai o livro?

Ravena bebeu do seu cappuccino com um olhar desconfiado.

-Bem.-respondeu.

-Bem como?-quis saber Estelar.

Estrela Negra olhou para a irmã, o olhar questionador.

-Apenas bem.-disse Ravena.-Sem nenhum problema.

-E...-Estelar parecia estar agonizando de curiosidade.-Eu posso dar uma espiadinha?

-Estelar.-Ravena colocou a caneca na mesa.-Se você estivesse andando na rua e, de repente, se deparasse com um misterioso buraco na parede de um suspeito prédio abandonado há anos com uma placa bem grande escrito “não olhe dentro”, você olharia? 

Estelar ficou quieta por um momento.

-Então...-ecoou e deixou no ar.

-Droga, Estelar, se controla, mulher!-bufou Estrela Negra.-Sabe como Ravena gosta de ser misteriosa com cada novo romance. É isso que deixa os leitores loucos para ler quando for lançado. Se fosse o contrário, ninguém mais ia querer ler, se ela ficasse contando a história toda pra todo mundo.

-Mas eu não consigo resistir!-choramingou Estelar.-O último romance da Ravena me deixou um gostinho de quero mais tão grande que eu já estava quase lendo todos os seis livros anteriores de uma vez!

-Estelar, você já sabe da sinopse básica que lhes dei.-falou Ravena seriamente.-O resto você descobrirá depois.

Estelar murchou toda triste por mais uma tentativa em vão. Então, pra se consolar, ela pegou uma fatia de pizza, enrolou-a como um rocambole e enfiou-a inteira na boca. Ravena e Estrela Negra encararam pasmas a cena de gula total.

-Você tem quantos estômagos?-indagou Ravena.-9?

Estelar mastigou tudo, engoliu e sorriu bobamente.

-Acho que se derem um pneu de caminhão, ela come também.-comentou Estrela Negra.

:

Estelar e Estrela Negra ficaram mais um tempo fazendo companhia para Ravena, mesmo após a pizza acabar. Quando as duas irmãs foram embora, restou apenas a companhia de Morgana para Ravena.

A caixa de pizza fora rasgada aos pedaços e colocada na lixeira da cozinha. Os pratos e canecas ficaram de molho na pia. Ravena não estava muito a fim de lavar louça agora. Foi pra sala de estar, onde se jogou toda no sofá confortável, junto com um travesseiro e um cobertor que pegou em seu quarto. Morgana se deitou ao seu lado, aconchegando-se confortavelmente em toda a maciez quentinha.

Dessa vez, Ravena não ligou a televisão, nem colocou nenhum disco para tocar música, pois a chuva regressara com sua sinfonia relaxante e aconchegante caindo lá fora. Eram agora umas 21h da noite e tudo estava tranquilo. Ravena se aconchegou bem no sofá, as costas contra o travesseiro no braço estofado do móvel. Pegou seu livro na mesa de centro e começou a ler os quatro últimos capítulos enquanto fazia carinho em Morgana que estava toda preguiçosa e ronronante ao seu lado.

A escritora solitária gostava de um terror, ou um mistério em suas leituras e o livro deste instante era Um Apartamento em Paris de Guillaume Musso. Contava a história de uma ex-policial inglesa deprimida e um escritor americano mau humorado que viajam à Paris para tirar férias durante o início do inverno, mas por engano da imobiliária acabam alugando a mesma casa para sua estadia. A casa era o antigo atelier de um artista que morreu de um ataque cardíaco há um tempo e lá rolava um mistério do desaparecimento das três últimas telas do artista após o assassinato de seu filho pequeno.

Ravena estava fascinada pela história, sentia-se como se estivesse na pontinha da cadeira por causa de um suspense misterioso e eletrizante. Ela ficou lá por pouco mais de uma hora lendo compulsivamente os últimos capítulos de seu amado livro. É claro que já havia um próximo livro na sua lista, que era A Cor que Caiu do Espaço de H. P. Lovecraft. Desde que assistira o filme no cinema com suas amigas, Ravena não tirava mais a história da cabeça e jurou à si mesma que compraria o livro e o devoraria rapidamente.

Então, os segundos se desenrolaram e se transformaram em minutos, que tornaram-se horas. A chuva continuava caindo lá fora e havia se intensificado com alguns trovões e relâmpagos ocasionais. O apartamento estava todo silencioso, apenas o som da chuva cortava este silêncio. Na sala de estar, Ravena permaneceu deitada no sofá lendo e fazendo carinho em Morgana que parecia a ponto de adormecer com a cabeça repousada nas patinhas fofas e negras.

A leitura só fora interrompida quando o celular de Ravena apitou com novas mensagens. Ela colocou o marca-página no livro e pegou o aparelho na mesa de centro. Era uma mensagem de Estrela Negra. Tratava-se de uma foto de uma caneca redonda de vidro cheia de café Dalgona cremoso e delicioso. Logo abaixo, uma mensagem escrita:

Café Dalgona

testado e aprovado.

Uma delícia! Valeu,

garota das bebidas

quentes!


Ravena sorriu e respondeu à mensagem:

Disponha!

No mesmo instante, apareceu uma mensagem de Estelar. Era uma foto também, mas não de uma bebida quente. Era uma frigideira cheia de macarrão que estava lotado com uma porção de ingredientes: salsinha, cebolinha, cebola roxa, pimentão vermelho, dentes de alho, brócolis, acelga, couve-flor, bacon em cubos, queijo derretido, camarões, cenoura em cubos, ervilhas, frango desfiado e ainda tinha um ovo cozido de gema mole no meio.

Ravena ficou pasma com tanta comida enchendo aquela pobre frigideira. Logo abaixo, uma mensagem escrita de Estelar:

Kujirai Ramen

testado e aprovado!

Ficou tão gostoso!

Recomendo!

Logo mais, Estelar enviou um monte de emoji de ramen, queijo, ovo, brócolis, camarão, uma porção de corações coloridos, arco-íris, gatinhos fofos, carinhas lambendo os beiços e, pra variar, bandeiras da Coréia do Sul.

Apesar disso, Ravena respondeu à mensagem:

Se isso é

Kujirai Ramen,

eu não sei o que

é yakisoba. Mas

divirta-se.

Estelar logo enviou um GIF da animação kawaii de um gatinho fofo lambendo a tela do celular. Ravena rolou os olhos violetas, mas sorriu e deixou o celular na mesa de centro.

Por fim, ela regressou à leitura de seu livro. Faltava bem pouco e ela continuaria ali até o final como uma completa traça de livros.

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Com grande tristeza no coração, Ravena coloca seu último livro lido na prateleira da estante de livros do seu quarto. Ela olhou para aquela estante abarrotada de livros, onde em alguns espaços vagos haviam estátuas de corvos, cálices medievais e esculturas pequenas do Stonehenge. Já se foram tantos livros lidos que ela se sentia uma enciclopédia ambulante, mas Ravena tinha prazer no conhecimento.

Por sua vez, ela se afastou da estante de livros e saiu de seu quarto. Passando pela sala de estar, Ravena avistou Morgana toda aconchegada no sofá no exato lugar em que ficou. Súbito, a idéia de dormir no sofá essa noite pareceu ser bem agradável. Então, a escritora solitária foi para o banheiro tomar um banho quente na banheira para aquecer seu corpo. Encheu a banheira com bastante água quente e se banhou nela por meia hora até se sentir confortavelmente quentinha até a alma.

Ao terminar o seu banho, rumou ao seu quarto, onde buscou em seu armário uma blusa de manga comprida azul clara com desenhos de ondas do mar e uma caveira negra de pirata com faca entre os dentes e uma calça de moletom preta bem grossa e quente. Calçou umas meias azul escuras e partiu para a cozinha. Lá, Ravena colocou a chaleira no fogo com um pouco de água e pegou uma de suas canecas favoritas que era toda desenhada com carinhas de gatinhos fofos, onde colocou dois saquinhos de chá de melissa e camomila.

Lá fora, a chuva havia enfraquecido, reduzindo-se à pingos que caíam espaçados aqui e ali. No céu noturno, a grossa cortina de nuvens se abrira e revelara uma linda Lua cheia que brilhava com um halo azul em volta dela. Com as mãos apoiadas na pia cheia de água e espuma de detergente, Ravena contemplou a linda Lua de leite que brilhava no céu noturno como uma imensa pérola luminosa da noite mais escura.

Por longos, longos anos de muitas decepções e sofrimentos, a Lua era a grande confidente de Ravena em seus momentos mais tristes e solitários. Para a Lua ela contava suas angústias, seus medos, seus segredos, suas dúvidas e seus sonhos. Coisas que se escondiam na sua mente, no seu coração e flutuavam em seu espírito. Coisas que nem suas amigas e talvez nem sua própria mãe soubessem.

Perguntava-se se algum dia alguém seria capaz de destrancar os portões de seu coração que há muito estavam reforçados com poderosas correntes e cadeados de distanciamento emocional, indiferença e sarcasmo – mas Ravena não desejava isso. Mesmo escrevendo sobre o amor e toda a sua magia em suas histórias, o amor em si era a última coisa que desejaria em sua vida.

Assim que a chaleira começou a apitar, Ravena desligou o fogo e pegou-a. Encheu sua caneca com a água quente e adoçou o chá com três colheres de açúcar mascavo. Se dirigiu para a sala de estar, onde Morgana lhe esperava com a cabecinha levantada e lhe olhando com curiosidade nos lindos olhos de âmbar.

Ravena sentou-se no sofá, cobriu o corpo todo com o cobertor grosso e quente, e se encostou no travesseiro fofo. Morgana se aconchegou ao lado de sua dona e se preparou para uma boa noite de sono. Com somente a luz da cozinha acesa em todo o apartamento, Ravena se ocupou apenas de beber do seu chá lentamente até que se acabasse. Por fim, deixou a caneca vazia ainda meio quente na mesa de centro perto do celular já desligado e logo mais se cobriu completamente com o cobertor, aconchegando sua cabeça confortavelmente no travesseiro.

Antes de fechar seus olhos de ametista, Ravena imaginou os planos para o dia seguinte: banho de banheira, café da manhã, comprar A Cor que Caiu do Espaço na livraria mais próxima, ler, ler e ler desenfreadamente antes de escrever, escrever e escrever desenfreadamente.

Esta era a vida de Ravena. Uma vida tranquila de escritora romancista, onde suas verdadeiras aventuras estavam nos livros. Ao fechar seus olhos violetas e se entregar de vez ao sono, Ravena não poderia nem sonhar que sua vida pacata sem turbulências estava prestes a ficar de cabeça para baixo.



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