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História A Escritora Solitária e O Amante de Animais - A Chácara dos Amantes


Escrita por: HiroNekochan18

Capítulo 60 - A Chácara dos Amantes


-Komand’r!-gritou Estelar com sua irmã enquanto as duas andavam apressadamente em direção ao chalé de Arella.-Como você pôde esconder uma coisa gigantesca dessas de mim durante todo esse tempo?!

-Eu tive de esconder, Koriand’r!-respondeu Estrela Negra enquanto puxava sua irmãzinha pela mão para andarem mais depressa.-Ontem à noite, eu tentei fazer uma chamada de vídeo com a Arella, mas parece que ela foi dormir cedo. E se eu te contasse naquela hora, você ia fazer um estardalhaço e ir correndo atrás da Ravena pra saber de tudo. Só hoje de manhã eu percebi como esse assunto é sério e precisa ser tratado cara a cara com Arella!

-Ai! Pela Teoria da Relatividade de Einstein!-Estelar começou a choramingar toda derretida.-A Ravena e o Mutano estão planejando ter um lar juntinhos! Isso é extraordinário demais!

-E bota extraordinário nisso!-exclamou Estrela Negra.-Os caras se conheceram no final de setembro. Foi pouco tempo pra ficarem juntos até o começo de novembro, o que só prova que o amor deles é tão imenso que já é suficiente para terem um lar juntos o mais rápido possível!

-Ah! Será que eles vão ter filhinhos?-indagou Estelar toda sorridente.

-Filhinhos?-Estrela Negra riu.-Os filhos que eles vão ter provavelmente vão ser um bando de animais que vão ficar perambulando por aquela chácara, ou o que quer que seja.

Finalmente, as duas irmãs alcançaram o chalé de Arella. Subiram a pequena escadaria da varanda e começaram a bater na porta e a tocar a campainha simultaneamente no maior desespero.

Nessas, Arella deve ter ouvido o escândalo todo e logo abriu a porta.

-Mas o que aconteceu?!-exigiu saber ela.-Vieram salvar uma bruxa da forca?!

-Não, exatamente.-disse Estelar apressadamente.-Mas os assuntos são sobre uma certa bruxinha.

-Ravena?-perguntou Arella com um olhar inocente.

-Com licença!-Estrela Negra simplesmente invadiu o chalé, arrastando Estelar junto.

Sem entender nada, Arella fechou a porta atrás de si e seguiu as duas garotas desesperadas até a sala de estar, onde as duas se viraram e olharam para a mulher de branco de um jeito tão desesperado como se fossem explodir.

-Vocês duas podem me dizer o que está acontecendo?-quis saber Arella, tentando manter a calma das duas.-Aconteceu coisa ainda pior com Ravena?

-Não! Ia acontecer coisa ainda melhor!-falou Estrela Negra praticamente gritando.-Mas aquela idiota estragou tudo!

-Por quê ela estragaria uma coisa tão linda?!-Estelar estava começando a chorar.-Eu não consigo entender?!

Arella piscou os olhos violetas completamente em choque com o desespero daquelas garotas malucas.

-O ponto, Arella, é que ontem à noite ficamos até tarde com a Ravena no apartamento dela.-está dizendo Estrela Negra na velocidade da luz.-Pedimos pizzas, tomamos chá, tudo na cama dela, só que teve uma hora que ela saiu e eu fui escovar meus cabelos na penteadeira dela. Você sabe, eu trato bem dos meus cabelos e faço de tudo para os fios não terem nós, então eu escovo 100 vezes ao dia, 50 de um lado, 50 do outro e...

-Koriand’r!-Arella falou um pouco alto demais.-Direto ao ponto e faz sua irmã parar de chorar.

Estelar estava se debulhando em lágrimas ao lado da sua irmã, mas ela estava nervosa demais para dar atenção à isso.

-Bom, então, eu sem querer achei um papel preso numa das gavetas.-prosseguiu Estrela Negra, falando bem rápido.-Eu abri pra arrumar, mas foi então que achei uma porção de papéis todos desenhados e escritos! Tinha a planta de um chalé em estilo tradicional japonês todo projetado por dentro e por fora em todos os detalhes! Telhado inclinado, varanda engawa, portas shoji, genkan! Tinha até uma cozinha enorme, sala de estar com lareira de tijolos e um sofá gigante e até a sala de jantar tinha mesinha baixa pra se sentar no tatame! E tinha um quarto de casal!

Arella assentia devagar com um olhar chocado enquanto seus ouvidos e seu cérebro tentando acompanhar as palavras nervosas e aceleradas que jorravam da boca de Estrela Negra feito uma represa gigantesca que explodiu. Enquanto isso, Estelar estava chorando feito uma condenada à cadeira elétrica sem ser culpada de qualquer crime hediondo.

-Os projetos ainda contavam com jardim japonês até os mínimos detalhes e uma horta colossal pra se plantar de tudo! E tudo isso escondido nas florestas!-Estrela Negra agora estava gritando loucamente.-Eu não faço idéia de como tudo isso começou, mas pelo visto a Ravena e o Mutano estão tão apaixonados um pelo outro que estão se lixando pra quaisquer morais e bons costumes, que são verdadeiras pilhas de lixo inútil, que os dois estão dispostos à ir morarem juntos nesse lugar sozinhos e provavelmente com um monte de animais à tiracolo e os dois cretinos não contaram isso pra ninguém! Ou seja, isso era uma fuga minuciosamente planejada que eles iriam realizar, assim que tudo estivesse construído na floresta! É isso que viemos te contar, Arella!!!

Depois dessa, Arella assentiu vagarosamente e pareceu voltar à ouvir o mundo depois de seus ouvidos terem sido recheados de palavras loucas, rápidas e nervosas até estourar os tímpanos.

-Ah, isso?-disse Arella simplesmente.-Eu já sabia há muito tempo.

Estelar parou de chorar na hora e olhou para Arella com a maior cara de tacho. Por outro lado, Estrela Negra pareceu que ia desmaiar, pois teve de se segurar no sofá da sala.

-O quê?-rosnou ela furiosamente.-Você sabia disso e não contou nada pra nós?!

-Antes de qualquer coisa.-Arella apontou para o sofá e as poltronas da sala.-Sentem-se que eu vou contar tudo.

As duas irmãs pareceram se acalmar um pouco e foram se sentar no sofá. A mulher de branco se sentou na poltrona ao lado e se recostou nela confortavelmente.

-Essa história toda deve ter começado no início de outubro. Muito antes do Samhain.-Arella começou calmamente.-Eu lembro que estava levando uns lanchinhos para Ravena quando vi ela conversando com Mutano em frente ao prédio dela. É claro que eu não sou idiota e fiquei assistindo aqueles dois tão lindos juntos. Depois que ele foi embora e ela subiu, eu fui atrás. Lá na cozinha, estávamos tomando um chá quando Ravena me perguntou se eu tinha algum amigo, ou amiga que trabalhasse com arquitetura.

-Não!-Estelar e Estrela Negra falaram ao mesmo tempo, ambas pasmas.

-Sim.-assentiu Arella.-Eu contei pra ela que tinha um amigo japonês à quem todos apelidam de Brushogun. Expliquei que ele é mestre em arquitetura tradicional japonesa, já que a própria Ravena me perguntou isso meio que nas entrelinhas. Disse também que ele faz ótimos jardins japoneses e que todos no Japão admiram e valorizam muito seu trabalho. Depois de tudo isso, eu perguntei à Ravena o por que dessa curiosidade toda e tudo o que ela disse foi “ah, por nada, só pra saber”.

-Eu não acredito nisso!-Estrela Negra esbravejou, perplexa.

-Mas eu só descobri tudo esses dias.-continuou Arella.-Brushogun conhece Ravena e tem certa noção de como ela funciona porque sempre expliquei aos meus melhores amigos os probleminhas bizarros da minha filhinha maluca, por isso ele ligou para mim perguntando o que havia acontecido com Ravena para ela ter contratado seus serviços com o intuito de construir um chalé de estilo tradicional japonês, um jardim japonês e uma grande horta, todos componentes de uma chácara na floresta localizada exatamente a uns 30, ou 40 metros de distância da minha casa, o que parece ser bem conveniente, já que minha filha até hoje tem uma certa dependência comigo.

-E você contou pra ela o que descobriu?-quis saber Estelar, parecendo que ia chorar de novo.

-Bom, eu questionei sobre isso.-explicou Arella.-Foi uma surpresa muito grande, eu não estava sabendo de nada. Mas isso não é tudo.

-Como assim?!-Estrela Negra gritou em pânico.-Ainda tem mais?!

-Acontece que Ravena Roth tem agido por trás das paredes há várias semanas.-falou Arella muito seriamente.-Ela está escondendo tudo isso de nós e até mesmo do próprio Mutano, pois já podem ligar para as ambulâncias porque eu vou dizer agora mesmo sem mais delongas que Ravena não só contratou Brushogun como também contratou uma horda de profissionais de todos os tipos. Construtores de casas, paisagistas e até mesmo designers de interiores pra criar o que ela está chamando de Chácara dos Amantes. A garota está pagando tudo isso do seu bolso e pelo que eu soube a maioria de todos os projetos já está concluída e as obras começarão no início de dezembro. E quando Brushogun perguntou o motivo de tudo isso, tudo o que Ravena disse para ele foi que estava querendo realizar o sonho antigo da pessoa mais especial e importante na sua vida toda, mas... não disse o nome, porém sabemos muito bem que é essa pessoa. É isso.

Pois bem, Estelar e Estrela Negra pareceram perder o ar, o chão e até mesmo as cabeças!

-Eu perdi um pedaço da noção...!-falou Estelar, colocando a mão na cabeça como se estivesse ficando tonta.

-MAS QUE CRETINA MASCARADA DE PRIMEIRA QUALIDADE!!!-vociferou Estrela Negra ao pular do sofá toda revoltada e furiosa.-Essa garota passou todas essas semanas fazendo mil planos mirabolantes, orquestrando toda uma obra gigantesca direto dos bastidores e não conta nada para suas amigas do peito, nem para a sua amada mãezinha e muito menos para o dono do coração dela!!! O que ela tem naquela cachola mole?! Uma xícara de chá azedo?!

-Bom...-Arella deu de ombros.-Acho que ela queria fazer uma surpresa.

-EU NÃO GOSTO DE SURPRESAS!!!-gritou Estrela Negra, batendo o pé no chão.-Da última vez que fizeram uma surpresa pra mim, uma pessoa morreu!

-O quê?-Arella arregalou os olhos violetas.

-Tá. Eu me empolguei.-confessou Estrela Negra.-Mas digamos que aquela afortunada pessoa já pode tocar violão de novo.

Arella desviou o olhar de forma confusa.

-Mas eu não levo esse desaforo pra casa nem que fosse provada a existência das Pontes de Einstein-Rosen!-e Estrela Negra se virou para Estelar que parecia estar quase desmaiando no sofá.-Koriand’r! Anda logo! Junta todos os cacos que sobrou da sua cabeça explodida e vamos agora tirar satisfações com aquela garota mais louca do que rato de privada!

De repente, a porta da frente do chalé é aberta como uma enorme explosão. Logo em seguida, Ravena entra correndo e chorando loucamente. Estrela Negra paralisa na hora, Estelar pula de susto no sofá e Arella só assiste quando sua filha vem em sua direção, se joga de joelhos aos seus pés se agarra ao seu longo vestido branco, repousando a cabeça em seu colo tão logo chorou ainda mais sem parar um segundo.

Estelar e Estrela Negra ficaram bem quietas e paralisadas assistindo àquela cena na sua frente. E Arella, como se já fizesse idéia de algo, começou a acariciar os cabelos violetas de sua filha com a mão.

:

Mutano perambulou solitariamente mais uma vez pelas ruas de Jump City por algumas horas. Ele não sabia mais se já estava do outro lado da cidade, ou se estava simplesmente andando em círculos, afinal ele estava tendo a leve impressão de ter passado pela mesma papelaria umas três vezes.

Entretanto, este foi o efeito que seu encontro com Ravena provocou nele. Enquanto Mutano a via andar para bem longe dele, novas lágrimas rolaram de seus olhos verdes. Ele nunca foi desses garotos retrógrados e machistas que se recusavam à chorar de todas as formas possíveis e também seria algo totalmente impossível tentar, só tentar segurar aquelas lágrimas que insistiam em cair sem parar.

Enquanto andava sem destino com as mãos no bolso, a cabeça e as orelhas pontudas baixas com seu rosto verde sem sorriso e seus olhos esmeraldinos injetados pelas lágrimas que derrubou, o amante de animais só conseguia pensar na escritora solitária e se perguntava a todo momento por que ela fugia tanto de um amor tão lindo e que tem tudo pra dar muito, muito certo. Ele sabia, ele sentia: algo grave demais aconteceu com ela no passado. Mutano não queria arrancar essa informação de Ravena, nem de suas amigas e muito menos de sua mãe, apesar de desejar saber por uma grande preocupação amorosa.

Além disso, ele queria saber o que aconteceu, pois assim ele saberia como dar à ela o tratamento certo para que essas feridas cicatrizassem em seu coração. Saberia como cuidar dela e como dar todo o seu amor pra que o que quer que tenham sido essas experiências ruins sejam totalmente superadas e esquecidas. Ao mesmo tempo, Mutano também conseguiria fazer o mesmo quando finalmente Ravena aceitasse esse amor.

Tudo dependia disso...

Mutano estava passando pela mesma papelaria pela quarta vez quando ouviu duas buzinas de carro seguidas por um assovio alto que ele conhecia muito bem. Virou-se e viu Cyborg com Robin junto estacionando o carro na rua pertinho dele.

-Mutano?-Cyborg o chamou com um olhar de preocupação.-O que aconteceu? Você parece ainda pior do que antes.

-Eu...-Mutano mordiscou o lábio, sentindo vontade de sumir.-Encontrei com a Rae no parque... de repente e... ela correu de mim, eu corri atrás dela, pulamos um banco de madeira, nos beijamos apaixonadamente debaixo de uma faia e aí ela lascou um tapa na minha cara, brigou comigo e depois se mandou.

-Hmmm...-Cyborg assentiu lentamente.-Logo vi que você se encontrou com ela. Além dessas orelhas baixas, parece que sua cara foi marcada à ferro quente com a mão dela.

-Entra aí, Mutano.-disse Robin, abrindo um leve sorriso compassivo.-Vem ficar um tempinho lá no nosso apartamento.

Mutano olhou para seus amigos e esboçou um pequeno sorriso triste:

-Tudo bem.

***

O apartamento de Robin e Cyborg não mudou muito desde que Mutano fora embora de lá. Ainda era a mesma decoração, nenhum móvel trocado de lugar. Isso, se ele não contasse com os pêlos de animais resgatados que ainda estão por aí e a certa desorganização que o verdinho passou para seus amigos. Mas fora isso, o apartamento estava bem.

Mutano estava sentado no grande sofá vermelho da sala assistindo O Reino Proibido com Jack Chan e Jet Li, ou pelo menos tentava assistir. Era mais um dos filmes favoritos de Robin, esse em questão ele amava muito, pois além das artes marciais e a essência mágica e poderosa do kung fu, o filme era ambientado na China Antiga e misturava a mitologia chinesa com personagens místicos como o Rei-Macaco, o Imperador de Jade e a Bruxa de Cabelos Brancos.

Neste momento, Robin e Cyborg estavam lá na cozinha caçando o que poderia oferecer de comida e bebida para Mutano sem ter derivados de origem animal, mesmo o garoto verde insistindo que não estava com nenhum apetite. Logo mais, após um abre-fecha de armários e geladeira, e um liquidificador triturando alguma coisa, Robin e Cyborg chegavam da cozinha levando um prato com barrinhas de cereais caseiras e um copo grande de suco de frutas vermelhas.

-Fiz essas barrinhas de cereais ontem.-disse Robin, colocando o prato sobre a mesa de centro.-Não estão com mel, eu coloquei xarope de bordo.

-E as frutas desse suco estavam bem fresquinhas.-falou Cyborg após colocar o copo de suco na mesa de centro.

Mutano olhou para aquelas coisas como se nada fossem.

-Bom... já que insistem...-respondeu ele, pegando algumas barrinhas de cereais e o copo de suco.-Grato...

-Você tem que comer.-avisou Cyborg ao sentar na poltrona ao lado.-Ou essa falta de apetite toda vez que acontece alguma coisa ruim entre você e a Rae vai acabar fazendo você emagrecer e perder massa muscular.

-Isso mesmo.-concordou Robin, sentando-se no sofá ao lado de Mutano.-Tente se cuidar, Mutano. Sabemos que seu coração não está bom agora, mas não pode deixar o mesmo acontecer com o corpo e muito menos com a mente.

-De boas...-ecoou Mutano vagamente após tomar um gole do suco de frutas vermelhas.-Eu vou continuar me alimentando normal, fazendo minha malhação durante a semana... é que... eu só preciso de forças pra isso...

-Tem razão.-assentiu Cyborg.-A melhor força pra continuar fazendo tudo isso se chama amor. Robin e eu sabemos muito bem como você vive explodindo de amor, mas nunca tem ninguém pra dar tudo isso, mas você também precisa receber as suas doses de amor, afinal amar por dois não é algo emocionalmente saudável.

Mutano engoliu a terceira barrinha de cereal e bebeu um pouco mais do suco. Ficou olhando para a bebida em seu copo de forma pensativa por alguns instantes como se ela fosse lhe revelar algum segredo feito uma bola de cristal, ou folhinhas de chá. Só de pensar em cristalomancia e teimancia, ele acabou se lembrando de Ravena.

-Sabe, às vezes, eu tenho vontade de colocar a Rae contra à parede e descobrir dela o que foi que aconteceu com ela.-sussurrou ele, suspirando.-Mas depois eu sinto que isso não seria certo. Eu vou estar invadindo um terreno inexplorado à força e isso só vai fazer com que ela se assuste, pense ainda mais mal de mim e se afasta cada vez mais... eu... não sei o que posso fazer.

Nessas, Cyborg olhou para Robin e cutucou o joelho dele subitamente. O mascarado olhou para seu amigo cibernético de forma interrogativa e ele fez um certo tipo de sinal com a mão como se quisesse dizer para contar alguma coisa para Mutano.

-Ah, sim.-Robin virou-se para Mutano.-Olha... Garfield... eu estava conversando com a Kory ontem à noite e eu tentei arrancar alguma informação dela sobre esse incidente misterioso da Ravena. É claro, fiz isso o mais gentil e cautelosamente possível e foi com muita persistência de monge shaolin que eu consegui descobrir uma pequena coisa.

Mutano parou de olhar para o copo de suco, suas orelhas pontudas se levantaram e ele olhou para Robin no mesmo instante.

-O quê?-indagou.

-A Kory não disse muito, mas já parece ser suficiente pra termos uma noção.-explicou Robin delicadamente.-Ela me contou que foi algo tão grave que aconteceu com Ravena que ela quase se atirou de uma janela.

-COMO É QUE É?!-Mutano gritou, pulando do sofá e quase derrubando o copo de suco da mão.-Ela tentou cometer suicídio?!

-Tentou, mas não conseguiu.-respondeu Robin.-Kory disse que Ravena sempre teve essa fantasia sobre voar. Parece que voar é como um tipo de libertação para ela e Kory acredita que quando esse tal incidente grave aconteceu Ravena deve ter sentido vontade de voar para se libertar da dor que ela sentiu.

-Eu não estou acreditando numa coisa dessas!-Mutano imediatamente colocou o copo de suco na mesa de centro com certa força.-Ela tentou cometer suicídio e eu estou aqui parado sem fazer nada?! Eu vou agora atrás dela!

-Mutano!-Cyborg levantou-se da poltrona e logo empurrou os ombros do verdinho pra que sentasse de volta no sofá.-Se controla. Não vai fazer nada no calor do momento com essa descoberta. Você precisa ser inteligente e paciente.

-Cyb, eu não consigo!-Mutano estava começando a entrar em pânico.-E se ela se matar na banheira?! Eu já vi a banheira dela! É enorme! Deixaria qualquer suicida louco pra se matar dentro dela!

-Calma, Garfield Logan!-ordenou Cyborg, quase gritando.-Ravena não é suicida e também nunca sofreu de depressão pra que isso fosse possível. Os problemas dela são mais emocionais do que psicológicos. Tem a ver com traumas de infância como o pai dela e o divórcio pelo qual a mãe dela passou. E também esse incidente do qual ninguém quer falar porque Ravena proibiu todo mundo de revelá-lo.

-Mas...-Mutano mordeu o lábio e lágrimas começaram a surgir em seus olhos verdes.-Eu posso cuidar dela. Eu sei que posso. Nem que eu nunca fique sabendo o que aconteceu, eu sei que posso fazê-la feliz, dar todo o meu amor à ela e acabar de vez com esses traumas e bloqueios dela!

-Mutano, vamos com calma.-Robin falou com sua voz pacífica que tranquilizava.-Ravena não está passando mal de verdade para cometer um suicídio, mas também não passa totalmente bem emocionalmente. Já descartamos a possibilidade de um estupro porque você mesmo pôde nos confirmar que ela era virgem, então esse incidente foi algo mais emocional. O que podemos especular é que só pode ter sido uma desilusão amorosa muito séria que a fez ficar assim. O que você deve fazer agora é dar um tempo para ela conseguir se recuperar. Alguém como ela que tem todos esses problemas encarou a noite de amor de vocês como ultrapassar todos os limites que ela havia estabelecido para se proteger.

-Você acha, Robin?-perguntou Mutano enquanto algumas lágrimas ainda rolavam de seus olhos verdes.

-Eu acredito que sim.-assentiu Robin.-E Kory confirmou a minha teoria. Ela também acredita que foi essa a reação de Ravena.

-Ravena é complicada, Mutano.-disse Cyborg, voltando à se sentar na poltrona.-Complicada e complexa. Veja bem, ela tem 24 anos e até um tempo atrás ela era virgem. Você também era virgem com seus 25 anos de idade. Ou seja, o amor levou muito tempo para aparecer em suas vidas. Ela sempre fugia dele com medo de se ferir, você procurava sem parar, mas nunca encontrava. Então, essas experiências novas estão sendo um choque para Ravena. Pelo que as amigas dela contam a garota jamais namorou. Quando elas se conheceram no ensino médio, a Kommie e a Estelar já perderam as contas de quantos garotos vinham atrás de Ravena chamando ela pra sair, quase caindo aos pés dela e tentando seduzir elas à todo o custo.

-Isso, fora as cartas de amor que ela recebia.-Robin começou a rir nessa hora.-Como ela tinha vindo da Europa, os garotos achavam que ela era elegante demais pra receber confissões amorosas por e-mails no computador, então eles simplesmente escreviam longas cartas de amor e enfiavam tudo dentro do armário dela.

-O quê...?-Mutano abriu um sorriso descrente e surpreso.

-Daí sempre que a Ravena abria o armário, vinha aquela tsunami de envelopes com adesivos de coraçõezinhos.-acrescentou Cyborg, rindo.-Ela não parece esse tipo de garota e nós nunca que íamos imaginar, se as amigas dela não tivessem nos contado, mas a Ravena já seduziu uma legião de garotos sem ter nenhuma intenção e sem fazer o menor esforço. Ela simplesmente estava sendo ela mesma. Introspectiva, silenciosa, observadora.

-Ríspida, às vezes, que fala na sua cara o que pensa.-falou Robin, sorrindo.-Sempre sarcástica.

-E...-Mutano sorriu de um jeito todo apaixonado.-Fascinante, arcana, sedutora, linda e terrivelmente maravilhosa...

Nesse momento, Robin e Cyborg se entreolharam e sorriram divertidamente, ambos se comprazendo com o sorriso de Mutano.

-Você é apaixonado mesmo por essa garota.-comentou Robin, sorrindo.

-Robin, cara.-Mutano o olhou, todo sorridente.-Eu nasci pra ela e ela nasceu pra mim. Estávamos procurando um ao outro sem saber esse tempo todo, nós já nos amávamos antes de nos conhecermos. Quer um amor maior do que esse? Que já estava nos conectando através de um fio vermelho indestrutível? Eu acho que vocês devem saber muito bem o que estou sentindo...

Depois dessa, Robin e Cyborg ruborizaram terrivelmente como se tivessem devorado toneladas da pimenta mais psicopata de todo o Continuum Espaço-Tempo e seus olhos mais pareceram discos voadores prontos para decolar de suas órbitas tamanho seu pânico.

-Não! Não! Não!-responderam eles dois ao mesmo tempo.-A gente nem sonha com um amor assim...

Mutano arqueou a sobrancelha e sorriu de forma provocante descrente de tudo isso, mas preferiu deixar pra lá.

:

Depois de muito chorar, Ravena estava escondida sob as cobertas da cama de sua mãe no chalé dela até agora. Estava mais calma e estável, pelo menos do lado exterior, pois sua mente e seu coração ainda estavam explodindo em um confronto decisivo que determinaria para que lado da encruzilhada ela seguiria.

Enquanto ela se recuperava do encontro com Mutano, Ravena pôde ouvir trechos de conversas da sua mãe com suas amigas lá na sala de estar – e como sua audição era assustadoramente potente, ela infelizmente descobriu que Estelar e Estrela Negra já sabiam dos seus planos sobre a Chácara dos Amantes. Conseguiu ouvir bem que foi Estrela Negra quem fez a descoberta sem querer graças aos papéis que estavam pra fora da gaveta de sua penteadeira.

Ravena odiou-se por isso. Ela era mais inteligente e muito mais cautelosa do que isso para deixar algo tão secreto assim escapar tão facilmente de sua visão minuciosa. O motivo dessa falha? Mutano. Era o que ela acreditava ser. Ela sentia que não era mais a mesma quando Mutano apareceu em sua vida e Ravena não queria que sua essência fosse mudada pelo amor.

Passou longos minutos enrolada naqueles cobertos que tinham o doce perfume de Arella que era o mesmo que o seu: lavanda com canela. Mesmo se recusando de todas as formas, seu coração foi mais poderoso e fez com que seu cérebro repassasse as lembranças do beijo com Mutano no parque. Naquele momento, ela não conseguiu resistir. Bastou o primeiro toque daqueles doces e quentes lábios verdejantes em sua boca pra que as muralhas despencassem como castelos de cartas e a razão fosse para o espaço.

Ravena se entregou ao beijo de Mutano e o agarrou com toda a sua ânsia por amor. Ela queria amor, queria ele de todas as formas possíveis e, se não estivesse debaixo de uma faia num parque público, a escritora solitária bem sabia que já estaria fazendo amor apaixonadamente com o amante de animais por várias e várias vezes sem parar.

Pois mesmo não querendo admitir, Ravena jamais sentiu prazer tão grandioso como aquele e pôde sentir o amor mais nu e cru tanto na sua carne como à nível espiritual.

Enquanto nadava em sua mente feito uma sereia na escuridão enluarada do oceano, Ravena mal percebeu quando Arella abriu a porta do quarto e entrou carregando uma bandeja com uma caneca de chá de ervas.

-Ravena?-Arella a chamou delicadamente ao colocar a bandeja na mesa de cabeceira.

Ravena se encolheu sob as cobertas como resposta.

-Acho que você já deve ter ouvido tudo lá na sala.-disse sua mãe.-Você tem um ouvido atento como o meu. Como dizia sua avó: ouvido de tuberculoso.

-Se aquelas duas cretinas se atreverem à contar qualquer coisinha sobre a Chácara dos Amantes, eu não respondo por mim!-rosnou Ravena ainda escondida sob as cobertas.

Arella suspirou e se sentou na borda de sua grande cama de casal. Ela levou a mão até os cabelos violetas de Ravena e os acariciou devagar.

-Conte-me, minha bruxinha...-sussurrou a matriarca carinhosamente.-Você estava querendo realizar o sonho antigo de Mutano, ou queria morar com ele de uma vez?

Sua filha ficou em silêncio por alguns momentos até ser derrotada pela questão fundamental de sua mãe.

-Os dois, eu acho...-ecoou ela, sua voz quase sumindo de vergonha.-Eu queria que ele tivesse sua própria chácara... ele me contou que teve de vender a chácara dos pais dele porque não podia bancar um lugar tão grande... ele disse que sempre sonhou em viver perto da natureza de novo... ter uma linda casinha de estilo tradicional japonês como ele vê nos anime que assiste... ter um jardim japonês e uma porção de animais correndo livres e felizes por lá... e ter sua própria horta de alimentos orgânicos pra se alimentar deles e também trabalhar com hortifruti.

-O quê? Jura?-Arella se surpreendeu na hora.-Ele quer trabalhar vendendo frutas e vegetais numa feira?

Nesse momento, Ravena começou a rir e finalmente se virou para sua mãe, ainda deitada sob as cobertas quentinhas.

-Ele me disse que jamais conseguiria trabalhar como veterinário.-está dizendo Ravena com um sorriso todo doce.-Porque ao mesmo tempo em que ele se sentisse em êxtase por salvar a vida de um animal, ele também iria até os confins do mundo para destruir a vida de quem fez um animal morrer em suas mãos. Gar ama os animais demais e ele sente que essa profissão lhe traria felicidade, mas sofrimento também, por isso ele prefere ser feirante, já que sempre gostou de mexer com horta desde que era criança na chácara de seus pais... mas eu sinto que ele ainda vai querer resgatar animais por aí...

-Ele é um amante de animais, não é?-comentou Arella, sorrindo.-E você é a escritora romancista.

-Eu estou mais para escritora solitária, mas...-ecoou Ravena, deslizando o dedo pelos lençóis da cama.-Sobre a sua pergunta sobre eu querer ir morar com ele, bom... se o Gar me convidar para morar com ele na Chácara dos Amantes, eu não pensaria duas vezes...

-Hmmm, que interessante...-Arella sorriu de um jeito bem cretino.-Você está tão apaixonada por aquele que não deve ser mencionado que voltou rapidinho à chamar ele de Gar, não é?

Pois bem, Ravena olhou para sua mãe e ficou tão vermelha quanto uma cozinha, onde uma panela de pressão cheia de molho de tomate explodiu.

-Você trouxe o chá.-falou Ravena rispidamente.-Agora já pode ir embora.

-Garota, você está na minha cama, no meu quarto e no meu chalé.-Arella começou a rir.-Não tem nenhum direito de me mandar ir embora daqui.

E então, Ravena fez uma carinha fofa de raiva toda chorosa, gemeu e escondeu o rosto vermelho sob as cobertas. Arella riu e olhou para a porta do quarto.

-E vocês duas já podem sair daí.-disse ela, sorrindo.

De repente, eis que cai Estrela Negra no chão em frente à porta do quarto e Estelar logo cai em cima da irmã mais velha.

-Ai! Que negócio é esse?!-Estrela Negra estrilou, raivosa com a cara no chão.-Garota, os seus ossos pesam uma tonelada? Você quase quebrou as minhas costelas!

-Ai, que mentira mais cabeluda!-rebateu Estelar, irritada por cima da irmã.-Meus ossos são tão leves quanto ossos de pássaros!

-Ah, claro, seus ossos são tão pesados que dá pra fazer malhação com eles.-debochou Estrela Negra.-É capaz de você morrer e mil anos depois acharem sua ossada e pensarem que era um dinossauro!

-Cala a boca!-rosnou Estelar.-Sua cretina!

Estelar e Estrela Negra continuaram discutindo, Arella só ria e Ravena só gemia debaixo das cobertas.



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