História A Estrela da Solidão - O Imprevisto e o Carma

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Quando o aniversário de dez anos de Naruto chegou, seus pais o levaram para um parque de diversões, finalmente o menino tinha a idade e a altura necessária para realizar um dos seus desejos infantis - a montanha russa.

Ao chegar no parque, Naruto correu puxando as mãos dos seus pais, mirando o brinquedo com o quão tanto tinha sonhado, sem se importar com as pessoas no caminho ou as broncas da sua mãe por sua falta de educação. Ficar na fila interminável ao seus olhos foi a maior tortura que ele já tinha passado até o momento, Naruto pulava no lugar e andava em círculos ao redor dos seus pais para que o tempo passasse mais rápido. Seus pais, conhecendo bem o filho que tinham, escolheram um dia menos movimentado para irem, então a espera não foi tão longa quanto da perspectiva do Naruto. A vez deles chegou em menos de cinco minutos de espera e Minato achou que os olhos do seu filho estavam brilhando mais do que a lua em todo o seu esplendor.

Naruto se lembrava bem das sensações que experimentou naquele dia, pois as imagens estavam confusas na sua cabeça. Ele se lembra do carrinho subindo devagar, as mãos do seu pai segurando forte a sua até que eles chegassem ao topo. O carrinho se moveu bem devagar e ele pôde ter uma visão panorâmica da sua cidade, desde os vales verdinhos que circulavam até o mar intensamente azul no leste. Naruto jura que conseguiu enxergar até mesmo a base onde eles moravam, mas ele não podia dizer isso com certeza pois assim que ele fechou seus olhos, tudo ficou preto, o sangue no seu corpo se assustou e gelou e um grito queimou sua garganta quando eles caíram.

Naquele dia Naruto gritou por experimentar pela primeira vez a intensidade assustadora e apaixonante que a adrenalina correndo nas veias pode causar. Sua memória daquele dia era um misto de consciência e imagens com preto e sensações, e assim também aconteceu após o acidente.

Sem conseguir controlar seu corpo, Naruto só podia contar com os sentidos e percebeu que o lugar onde ele estava era frio, até mesmo o ar que ele estava respirando estava gelado. Sua boca estava amarga, embora a visão ainda lhe faltasse. De início, ele se desesperou ao pensar que estava cego mas percebeu que o problema era outro, ele não conseguia abrir os olhos, estava fraco demais. 

Ele escutou uma porta correndo e sua atenção mudou de foco, passos ecoaram no chão, parecia o mesmo som dos sapatos bonitos que sua mãe usava em ocasiões especiais, e por um breve segundo ele pensou que sua mãe estava ali para lhe acordar e dizer que eles iriam sair para algum lugar chique e ele teria que usar as roupas incômodas de sair, porém logo descobriu estar errado.

-Primeiro você precisa checar os níveis de…

Naruto teve certeza que nunca ouviu a voz cansada daquela mulher antes, nem da mulher irritada que a respondeu.

-Eu sei, deixe comigo.

-Tsk!

Naruto ouviu alguém bufando e barulhos metálicos vindos do seu lado esquerdo, papel farfalhando e outros barulhos desconhecidos. Ele tentou encontrar forças para abrir os olhos ou para falar, talvez por ser ações tão corriqueiras e naturais que Naruto não soube ao certo quais os músculos ou comandos eram os certos.

-Pobre criança - A mulher irritada falou - Como ele conseguiu se machucar tanto num acidente tão bobo?

-Você diz isso porque não viu o estados dos pais dele…

Seus pais? Seu coração bateu acelerado e o sangue pulsou tão forte nos seus ouvidos que ele não conseguia ouvir direito como seus estavam.

-... Que tragédia - A segunda mulher, a que parecia cansada, falou - Teria sido melhor se os pais nunca tivessem tido essa criança ou se ele tivesse morrido logo cedo. Criar alguém como ele é atrair o infortúnio!

-Como assim?

-Você já viu a ficha dele?

-O que tem a ficha… - A voz da primeira mulher ficou mais baixa e depois subiu vários tons - Não pode ser! Ele nasceu no butsumetsu? Que azar, que carma ruim!

-Por sorte a outra pessoa é de Taian e saiu praticamente ilesa, se não ele também...

-Por que eu tenho que cuidar dessa criança? - A mulher falou irritada novamente - Eu não quero o carma ruim dele em mim!

-Residentes não podem escolher pacientes, agora foque no seu trabalho.

-Que medonho - Naruto sentiu seu cotovelo formigar e uma sensação gelada subiu pelo seu braço - Depois daqui, eu farei uma visita ao templo mais próximo!

Naruto não era uma criança com grandes medos, estava acostumado desde pequeno que o escuro não é nada além de uma parte natural do dia, mas naquele momento ele ficou com medo, não da escuridão, mas sim da solidão que as palavras que ele ouviu trouxe no seu coração.

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Depois que sua consciência afundou na inércia novamente, Naruto não sabia quanto tempo se passou até que ele tivesse acordado novamente. Acordado não era bem a palavra, já que ele ainda estava fraco e não conseguia abrir os olhos.

Naruto sentiu mais frio ainda pois sentiu sua mão esquerda mais quente que o resto do corpo - alguém estava segurando sua mão com grande força.

De alguma forma, Naruto se sentia pior agora do que quando acordou antes, o amargor na sua boca mais forte e desagrável. Diferente do seu despertar anterior, agora seu corpo estava doendo tanto quanto seu coração, e ele sentiu que tinha alguma coisa com seu braço direito porque ele estava doendo tanto que ele queria chorar.

Sem nunca ter passado por uma dor tão grande, sua consciência fraca estava confusa e incapaz de raciocinar claramente, por isso ele demorou para prestar atenção nos sons ao redor até que um soluço alto soou da sua esquerda e sua mão foi apertada com mais força. Ele percebeu que tinha alguém ali com ele e que esse alguém estava chorando de uma forma tão lastimável e amargurada que Naruto esqueceu sua dor brevemente, desejoso de poder fechar seus dedos e pedir para que essa pessoa parasse de chorar.

-Me desculpe, me desculpe Naruto. Por favor, acorde, por favor, por favor, fique bem, por favor.

Além do seu nome, a pessoa ali só repetia de forma apressada essas sete palavras. Por estar falando tão baixo, e pelo choro deixando sua voz embargada, Naruto não conseguiu reconhecer que era que estava ali chorando por ele.

Essa pessoa tinha relaxado o aperto das suas mãos quando suas palavras se intensificaram. Ele pareceu ter notado isso certo momento e voltou a apertar forte seus dedos forte, mas sem lhe causar dor.

-Por favor Naruto, acorde, por favor, me desculpe, me desculpe, me desculpe.

Desculpar pelo quê? Naruto lembrou de um dia que, ao chegar do trabalho um pouco mais cedo que de costume, seu pai o encontrou chorando depois de ouvir certas ofensas das crianças que estudavam com ele. Seu pai não lhe incentivou a se vingar ou reclamar com os professores, ele disse que Naruto deveria perdoar, pois o perdão traz esperança e paz tanto para aquele que perdoa quanto para a pessoa que pedia perdão.

Antes do cansaço emocional e a dor cobrarem sua consciência mais uma vez, Naruto desejou muito conseguir dizer que desculpava aquela pessoa pelo o que fosse, para que aquele choro angustiante parasse.

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Naruto perdeu a conta de quantas vezes sua consciência afundou em escuridão fora do seu controle, mas com certeza foram mais numerosas do que as quedas que as voltas na montanha russa fizeram em seus três passeios nela.

Ele nunca sabia o que esperaria ele ao acordar - o silêncio frio do quarto vazio, a mulher cansada e a mulher irritada com medo de tocar nele e de alguma forma ser contagiadas com o azar, ou se seria aquela pessoa chorosa novamente.

Dessa vez, a pessoa não estava chorando enquanto segurava firme sua mão, pelo menos - Naruto já estava familiarizado com aquele toque para conseguir diferenciar de quando aquelas mulheres seguravam a sua mão, ele passou até a gostar do toque quentinho na sua mão. Apesar de não chorar, a pessoa estava novamente pedindo desculpas e pedindo que ele acordasse.

Naruto queria gritar - Acha que eu estou dormindo porque eu quero? Minhas costas estão doendo, eu estou com a boca tão amarga que só consigo sonhar com chocolate! Eu não estou dormindo porque eu quero, dá pra entender? - Mas claro, ele ainda não conseguia falar. Sempre que tentava ele sentia a garganta queimar e depois da terceira tentativa dolorosa, ele desistiu.

A quietude do quarto serena como a superfície de um rio era abalada apenas pelo mantra repetitivo daquela pessoa, como uma brisa suave de primavera criando pequenas ondulações na superfície espelhada da água. Bom, foi assim até que a porta do quarto foi aberta bruscamente e sua mão esquerda perdeu a fonte do seu calor.

-O que você pensa que está fazendo perto do meu filho?

Quem mais poderia gritar assim além da sua mãe? Seus olhos queimaram, finalmente sua mãe tinha aparecido! Naruto lutou nos limites da sua mente para conseguir abrir os olhos e ver sua mãe, a saudade que ele estava sentindo o deixou desesperado.

-Me responda! O que caralhos você está fazendo aqui?

Kushina gritou mais alto e com mais raiva ainda, tanto que Naruto só pode agradecer por não ser o alvo da raiva dela.

-Primeira-Sargento - uma voz calma totalmente fora de contexto apareceu - Por favor, se acalme, a senhora acabou de acordar.

-Uma ova que eu vou me acalmar! Eu quero que você me diga o que está fazendo aqui!

A pessoa que estava rezando sem parar para que Naruto acordasse até poucos segundos não respondeu.

-Saia daqui! - Kushina ordenou - Nunca mais chegue perto do meu filho!

A pessoa pareceu hesitar um segundo e sua mãe gritou furiosa novamente - Saia daqui!

-Primeira-Sargento, por favor, a senhora não pode passar nervoso, eu te peço por favor, pelo menos se deite um pouco.

Sua mãe ignorou a enfermeira preocupada e caminhou até o lado da cama de seu filho, passando ela mesma a ser a fonte do calor que Naruto começou a sentir falta.

-Eu estou aqui, meu filho, mamãe está aqui. Eu nunca mais vou deixar você se machucar assim, mamãe promete.

Naruto usou toda sua força de vontade para, no mínimo abrir os olhos, mas tudo que ele conseguiu do seu esforço foi uma dor de cabeça terrível e uma frustração sem comparação. Ele nunca odiou a falta de força como agora.

-Como ele está? - Kushina perguntou mais calma, mas ainda respirava pesadamente.

-Ele está estável desde o acidente, não melhorou nem piorou - A enfermeira falou - O inchaço no cérebro dele não diminuiu nem aumentou, então por hora não precisamos colocar ele em coma induzido.

-Vocês não podem fazer mais nada?

-Os médicos estão fazendo o melhor, eu posso lhe garantir. Mas dependemos dele para nos dar algum sinal antes que possamos intervir. No momento, só podemos checar seu estado diariamente e torcer pelo melhor.

-Por que você não acordou ainda?

Kushina perguntou baixinho e Naruto sentiu o cabelo sendo afagado - Eu estou acordado mamãe, eu estou bem! - Naruto gritou em pensamento.

-Essas coisas são complicadas, a senhora mesmo demorou uma semana para acordar - A enfermeira falou embora a pergunta não tivesse sido direcionada a ela - Seu filho logo se recuperará. Enquanto isso, posso colocar vocês dois no mesmo quarto.

-Obrigada.

-Me desculpe por poder só fazer isso.

A conversa entre elas cessou e Naruto sentiu que iria dormir novamente, mas pelo menos dessa vez ele tinha certeza que sua mãe estaria do seu lado quando acordasse, e no seu coração ele sorriu por isso.

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Dessa vez, Naruto acordou assustado com a conversa no seu quarto, ele estava acostumado com a voz da sua mãe apenas e estranhou ouvir outras pessoas ali, pelo menos ele ficou feliz logo em seguida por reconhecer aquelas vozes.

-Mikoto, eu já disse várias vezes que a culpa não foi sua!

Sua mãe falou de forma quase divertida, mas o ânimo da sua tia não melhorou nem um pouco.

-Mas é sim, se eu não tivesse ocupado vocês tanto tempo ou se… se…

-Meu amor, se acalme - Fugaku pediu.

-Como? - Ela chorou baixinho - Olhe como o Naruto está, e o Minato? Meu deus, Fugaku! Se naquele dia, nós…

-Mikoto, não tínhamos como prever isso. Nós também temos culpa pela gravidade dos nossos machucados. Eu não coloquei cinto nele e nem em mim - Kushina falou, os dedos penteando o cabelo dos filhos - O Minato também desviou a atenção da rua para falar com o Naruto.

-Resumindo, foram uma série de infelicidades que aconteceram. Não podemos culpar ninguém.

O coração de Naruto bateu mais alegre ao ouvir a voz tão calma e confiante do seu pai! Nesses dias que ele passou entre picos de clareza e escuridão, ele não ouviu seu pai ou sua mãe falando dele e estava secretamente ansioso. Agora, ouvindo sua voz ali, Naruto não tinha mais nenhuma preocupação assombrando seu coração.

-Os médicos sabem quando ele vai acordar?

-Não - Kushina falou triste - Eles tiraram os aparelhos de suporte há alguns dias, pelo menos ele tem conseguido respirar sozinho.

-Naruto sempre foi dorminhoco, deve ser por isso.

Minato comentou fraco e a tensão que Naruto sentia nas vozes diminuiu, ele conseguiu perceber isso quando ouviu a conversa entre os adultos continuar.

Talvez a inconsciência tenha sido uma forma de proteção que seu corpo achou quando o acidente aconteceu, talvez ele tenha mesmo levado todo aquele tempo para se recuperar. Coincidência ou não, quando seu coração ficou calmo e leve, sua força aumentou um pouco e ele conseguiu abrir os olhos.

-Urgh! 

Ele quase se arrependeu de ter aberto os olhos, pois primeiro a claridade fez seus olhos doerem, e depois sua mãe quase o sufocou no abraço apertado.

-Naruto! Você acordou, meu filho!

-Naruto!

Seu pai se juntou ao abraço, o quarto outrora frio ficou tão quentinho que Naruto sentiu lágrimas correndo pelo seu rosto, tamanho o conforto que ele sentiu no abraço dos seus pais. Seu corpo parecia todo errado, mas ele não ligou para isso no momento.

Ele só conseguia enxergar os cabelos da sua mãe cobrindo o seu rosto, mas por entre os fios, ele conseguiu ver Mikoto e Fugaku abraçados mais ao fundo da sala de um azul tão claro que poderia ser confundido com branco facilmente. 

-Você está com dor? - Seu pai perguntou ao notar suas lágrimas e junto com sua mãe, eles se afastaram um pouco dele.

-Não.

Ele só disse uma palavra mas doeu tanto! A garganta seca fez ele tossir várias vezes, seu pai ergueu seu pescoço e ombros para que sua mãe lhe ajudasse a beber água de um copinho descartável. Se dependesse dele, teria tomado vários goles mas sua mãe não permitiu.

-Devagar, você vai se engasgar assim! Respire um pouco e daqui a pouco a mamãe te dá mais, tudo bem?

Ele não quis falar e sentir aquela dor novamente, então ele só assentiu um sim e observou melhor o rosto deles. Naruto não sabia quanto tempo tinha passado, só sabia que ele estava morrendo de saudades dos seus pais!