História A Flor da Folha e o Imperador do Fogo (EM REVISÃO) - -- Encontro

Capítulo 9  ❅ Encontro

❅ Reino da Folha ❅

Os intensos raios de sol despertavam o Império Uzumaki para um novo dia. Desde o anúncio do casamento dos herdeiros da Folha, as semanas pareciam simplesmente voar e não havia outro assunto em todo o Reino senão àquele. Os preparativos estavam a todo vapor e as primeiras comitivas com os convidados já eram aguardadas para os próximos dias. Kushina, que estava cuidando pessoalmente de cada detalhe da cerimônia de casamento de seus dois filhos, caminhava pelo salão escolhido para o evento, indo ao encontro de uma anciã que a aguardava com um semblante tranquilo:  

– Bom dia, Chiyo-san! – Cumprimentou-lhe com um sorriso largo, tomando-lhe ambas as mãos, sobre uma das quais depositou um beijo carinhoso.

– Kushina você nunca vai perder esse costume, não é mesmo ? – Retribuiu o sorriso ao se referir ao cumprimento da mãe de Naruto e Sakura. – Você precisa parar de fazer essas coisas, afinal, é a Imperatriz agora.

– Não me venha com esses sermões outra vez!  – Cruzou os braços. – Eu posso ser a Imperatriz agora, mas quando cheguei aqui ainda era aquela moça atrapalhada e inexperiente de quem você cuidou todo àquele tempo. Como poderia tratá-la de outra forma? – Respondeu com sinceridade, vendo a mulher corar.

Chyio, uma ranzinza anciã com um coração do tamanho do mundo,  trabalhava para o Reino há várias décadas como modista real, responsável por confeccionar a vestimenta da família Uzumaki.  Era notório todo o apreço que Kushina detinha pela anciã já que, no passado, fora quem a acolhera em sua chegada à Folha, na época em que havia sido enviada para se casar com Minato. A Imperatriz, no entanto, nunca entendeu os laços de Chiyo com o Reino e desconhecia suas origens já que a mulher sequer carregava um nome de família. Entretanto, tê-la ao seu lado, para a esposa de Minato, era o suficiente.

– Esqueça essas bobagens e me diga Chyio-baa, já tomou as medidas de Sakura? – Referiu-se as vestes de casamento com um brilho no olhar.

– Acabo de vir de seu quarto. Já está tudo certo. – Respondeu-lhe com serenidade. – Touji também já tomou as de Naruto então, não há com o que se preocupar. – Referiu-se a seu ajudante. – Apesar do pouco tempo, as roupas estarão prontas para a cerimônia!

– Fico feliz em ouvir isso! – Mostrou novamente seu sorriso cativante. – Não sei como agradecê-la Chyio-baa! Sempre estamos te causando problemas e você continua vindo nos salvar.

– Não há o que agradecer. Esse é meu trabalho afinal. – Assegurou. – Ainda assim, devo admitir que estou impressionada com o que pretendem realizar aqui em tão poucos dias. São dois casamentos importantíssimos para a Aliança.

– Sim. – Concordou, assumindo um semblante apreensivo.

Apesar de nunca ter tido filhos, Chiyo sabia, apenas ao deparar-se com a feição aflita de Kushina, que naquele momento não estava mais olhando para uma Imperatriz e sim para uma mãe amorosa e insegura sobre o futuro incerto de suas crias. Na verdade, de uma delas em especial.

– Essa expressão em seu rosto ...  É a criança de Fugaku que te preocupa, não é mesmo? – Atraiu de imediato os olhos de Kushina para si.

– Ele já não é mais uma criança, Chiyo-baa. – Sorriu amargamente.

– Para mim, todos vocês ainda são crianças, afinal continuam a me dar o mesmo trabalho... – Suspirou sob o olhar curioso da Imperatriz. – Você está se preocupando demais por nada, Kushina. Lembre-se de que, no passado, você também esteve na mesma posição que Sakura e olha como se virou bem! Nossa Flor de Cerejeira é muito parecida com você, tenho certeza de que ela também encontrará o seu próprio caminho para alcançar a felicidade assim como você fez. – Viu a mulher diante de si corar. – Confie nela! Esse também é seu dever como mãe.

– Minato disse-me a mesma coisa... – Seus olhos marejaram-se. – É claro que eu acredito em meus filhos e entendo tudo o que você, Tsunade e meu marido me dizem mas... Eu ainda sou uma mãe e sempre me preocuparei por eles... – Referiu-se aos filhos.

– Acalme sua alma, Kushina.  Sakura é uma das mais belas mulheres que já se vira em toda a Aliança e ainda herdou preciosas qualidades vindas de você e Minato. – Apoiou suas mãos carinhosamente sobre os ombros da imperatriz. – Nenhum Uchiha poderá resistir a ela, entende o que eu digo?. – Afirmou com convicção, causando risos na Imperatriz.

– Chyio-baba ...

– Bem, eu já falei demais e também já gastei muito do pouco tempo que eu ainda tenho. Há muito o que se fazer. – Viu a Imperatriz assentir. – Você ficará bem ?

– Sim, não se preocupe.

– Ótimo. Lembre-se de que Sakura precisará de você mais do que nunca. – Alertou-a. – Trate de manter-se firme.

– Eu sei.

De onde estava, Kushina viu Chiyo-baa acenar e, minutos depois, sair por um dos corredores do Palácio.  Com um sorriso nos lábios, respirou fundo e assumiu novamente a postura séria que cabia a uma Imperatriz.  Ela ainda tinha muito o que fazer e precisava se manter firme pelo bem de sua família e seu povo, exatamente como nas palavras da anciã.

Após dar algumas ordens, designar tarefas e atribuir novas funções aos empregados do Castelos encarregados de organizar o casamento, Kushina deixou o salão em busca de Tsunade. Com passos ágeis, a esposa de Minato, após subir alguns lances de escadas, entrou em um longo corredor ao final do qual poderia encontrar a anciã. Antes que chegasse até ela, no entanto, acabou interrompendo sua caminhada ao deparar-se com Shikamaru, saindo de um cômodo naquele mesmo corredor:  

– Imperatriz. – Recebeu sua respeitosa reverência com um olhar singelo.

Burocraticamente, era o Duque Nara quem estava encarregado de organizar todas as transações, tratados e acordos que estivessem envolvidos naquele casamento. Era dele também a responsabilidade de representar o Imperador em compromissos esporádicos caso houvesse impossibilidade por parte de Minato e Jiraya durante as semanas precedentes ao casamento.

– Muito trabalho esta manhã, Shikamaru-kun ? – Sorriu com gentileza enquanto seus olhares se cruzavam. Era de Kushina que Naruto havia herdado o jeito informal de tratar as pessoas ao seu redor. Uma mania que ela nunca havia perdido desde que era uma menininha.

– Sem dúvidas Imperatriz. É um evento e tanto afinal.

– Minato disse-me que os primeiros convidados devem chegar dentro dos próximos dias. Sabe de mais detalhes a respeito, Shikamaru ?  

–  Até o momento, pelo o que sei Kushina-san, as comitivas da famílias Hatake, Otsutsuki e Yamanaka confirmaram sua chegada ao Império até o final desta semana. – Explicou-lhe. – A propósito Imperatriz, já que tocou no assunto, eu estava mesmo me encaminhando até o encontro de Tsunade-sama para repassar-lhe uma importante mensagem de Minato, mas já que a encontrei, passarei-a diretamente a vossa Alteza.

– Informação ? Do que se trata, Shikamaru-kun?

– O Imperador ordenou que lhe reportassem sobre a chegada da comitiva vinda do Reino do Fogo. – Os olhos azuis de Kushina estavam fixos no Duque. – Uchiha Sasuke e Uchiha Itachi estarão na Folha dentro de três dias. – Finalizou suas palavras tendo diante de si uma mulher visivelmente em choque.

– Três... dias ? Mas como isso é possível ? – Desacreditou. – O Reino do Fogo é o mais distante da Folha, como chegarão aqui antes mesmo de Inoichi, Nagato e Kakashi?

– Eu entendo seu espanto Kushina-san, mas a verdade é que o Imperador Fugaku ordenou a vinda de seus filhos à Folha poucas horas após a confirmação do casamento. Itachi e Sasuke já estão em viagem há vários dias.

– Não pode ser ...

Por um breve instante em silêncio, Kushina tentou organizar a confusão de sentimentos que se faziam dentro de si. Mesmo ciente de que o casamento era algo real e inevitável, ouvir sobre a chegada de Sasuke fez seu coração estremecer. O futuro ao qual sempre se referiam, no final das contas, não estava mais tão distante assim.

– Kushina-san ? – A voz do Duque trouxe-lhe novamente para a realidade.

 – Desculpe-me Shikamaru-kun. – Controlou suas emoções. – O clã Hyuuga....  Já sabem quando chegam ?

– Por motivos imperiais, Hiashi-sama chegará em torno de dois dias antes do casamento, mas nos confirmou que a Princesa do Gelo estará em nossas terras ainda no início da próxima semana, acompanhada pelo irmão e herdeiro dos Hyuuga,  Neji.

– Hmm. – Fez uma pausa. – Meus filhos já sabem disso ?

– Naruto apenas, que estava ao lado de Minato quando as correspondências chegaram.

– Entendo.  – Respirou fundo e, sem maiores expressões em sua face, retomou o semblante sereno. – Bom, com a chegada de tantos convidados importantes devemos mesmo nos apressar por aqui também. – Forçou um sorriso gentil, vendo o Duque consentir.

– Se me der licença Imperatriz, ainda tenho ordens a cumprir.

– Claro, Shikamaru-kun! Está livre para ir. – Fez um sinal positivo, vendo o nobre reverência-la uma última vez antes de seguir seu rumo.

Sem sair da posição em que estava, Kushina lembrou dos rostos de Sakura e Naruto e sentiu seu grande coração de mãe se apertar dentro do peito. O tempo estava passando rápido demais e fortes emoções estavam por vir.

Após um longo suspiro, a esposa de Minato resgatou suas forças e retomou sua caminhada até o encontro de Tsunade. Aquela não era mais a hora de hesitar. Agora, mais do que nunca seus filhos precisariam dela e, como sempre, ela estaria lá por eles.

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A tarde caia no Reino da Folha enquanto os preparativos para o casamento continuavam a mil. Em meio a toda agitação, as passadas rápidas da princesa da Folha, por entre os corredores, chamava a atenção de quem a via, extremamente bela em um longo vestido azul marinho, bordado em pedras preciosas, dentre elas esmeraldas assim como a cor de seus olhos. Ela havia recebido um importante chamado do Imperador e, prontamente, dirigiu-se até seu escritório, local onde ele a aguardava.

Assim que chegou a seu destino e teve sua entrada autorizada, a princesa, sem pressa alguma, caminhou até Minato enquanto seus olhos, depois de tanto tempo sem se ver, cruzavam-se novamente. Algo simples, porém suficiente para que uma sensação boa invadisse-lhe:

– Recebi o seu recado a pouco. Aconteceu algo, pai ? – Deixou as formalidades de lado ao se referir ao Imperador, carregando certa timidez enquanto ocupava um lugar a frente dele.

Pacientemente ela aguardou por uma resposta porém, em seu lugar,  recebeu o mais carinhoso dos gestos. Estática, Sakura viu seu pai estender sua mão direita e tocar-lhe a face amorosamente. Não houve tempo para surpresas, afinal seu coração se aqueceu mais rápido do que sequer podia pensar. Aquela sensação tão reconfortante que tomou-lhe inteiramente por dentro era exatamente a mesma de estar ao lado de sua mãe ou de seu irmão.

Demorou alguns minutos, mas a princesa finalmente reagiu àquele toque, primeiro cobrindo a mão de seu pai com a sua própria e depois abrindo-lhe um largo sorriso enquanto seus olhos marejavam-se por completo, tomados por aquela forte emoção.

– Como é bom ver você, minha filha... – Com uma voz tão suave quanto seu toque ou seu olhar, Minato sorriu ao encarar os lindos olhos esmeraldas de sua cria. – Sempre vai ser estranho para mim pensar que não posso estar tão perto de você e seu irmão como eu gostaria. Era bem mais fácil quando vocês eram pequenos, detinham menos responsabilidades do que agora e me seguiam por toda a parte. – Riu para o encanto de sua filha.

– Eu ainda me lembro de me esconder debaixo desta mesa sempre que alguém aparecia. – Disse com nostalgia ao tocar o móvel. – O problema era que Naruto sempre nos entregava. Ele sempre foi tão escandaloso. 

– Você tem razão. – Manteve o sorriso e aproximou seu rosto um pouco mais do de sua filha. – Não diga nada a sua mãe, mas Naruto e ela são tão parecidos nesse ponto. Deveria ter conhecido-a na mesma época que eu. – Piscou para a princesa que tentava conter os risos.

Sakura e Minato continuaram rindo juntos e mantiveram os olhos um no outro até o instante em que o silêncio se instarou entre eles. Havia muito mais naqueles olhares do que se podia ser dito. Muitas coisas haviam acontecido até ali, muitas palavras haviam se perdido e muito tempo também já havia se passado, mas o sentimento entre pai e filha nunca havia e nem poderia ser mudado. O que estava refletido em seus olhos era a coisa verdadeira:

– Sakura.. – Minato quebrou o silêncio. – Me desculpe, por tudo até agora.

– Hã? Do que está falando ? Eu-

– ... Por não poder estar sempre ao seu lado, por ter te causado tantas dores e tantos sofrimentos e por não ter conseguido ser o pai que você merecia ter...  Eu realmente sinto muito. – Seus olhos entristeceram-se. – Minhas escolhas a arrastaram para este casamento e, mesmo sendo minha filha amada, eu não pude fazer nada por você. Eu, realmente-

– Você não me deve desculpas alguma, pai. – Juntou as suas mãos às de Minato, apoiando-as sobre a mesa, enquanto deixava seu coração falar. – Eu tenho certeza de que os motivos de suas escolhas são maiores do que seus verdadeiros desejos. Por isso, não se culpe mais, eu sei que está fazendo isso pelo bem do nosso povo e pelo bem da Aliança. Não há nada pelo o que se desculpar. Na verdade,  sou eu quem deveria agradecer-lhe por tudo até agora.

– Sakura...

– Por sempre se esforçar para estar ao meu lado em todos os momentos, por todos os seus sermões, seus valiosos conselhos, sorrisos reconfortantes e abraços acolhedores....  Por sempre me manter segura, por sempre me passar confiança e por sempre querer o meu bem.... Por  sempre tentar me proteger e por sempre acreditar em mim.... Obrigada, do fundo do meu coração, muito obrigada. – Os olhos de Minato brilhavam. – Para mim e para meu irmão, você é e sempre será o melhor pai do mundo!

A lágrima que correu pela face de Minato e o abraço apertado que ele deu em Sakura fizeram o coração da princesa transbordar. Estar nos braços de seu pai fazia-lhe sentir forte, invencível, inquebrável. Mesmo tendo tanto a dizer, sua voz embargada pelo choro não podia mais ser ouvida ou entendida. Então, decidiu apenas aconchegar-se naquele abraço, num momento tão bonito entre pai e filha  que quase lhe parecia uma despedida:

– Você nunca estará tão longe quanto meus olhos não possam lhe enxergar. – Minato sussurrou gentilmente no ouvido da filha, enquanto a apertava contra seu peito. – Não importa aonde vá, eu sempre estarei de olho em você!

– Eu te amo, pai! –  Foi o que a princesa conseguiu dizer, em meio as lágrimas, enquanto desejava profundamente em seu coração nunca mais ter que sair daquele abraço.

– Eu também, minha filha ...  Eu também...

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Reino da Folha

❅ Dias depois ❅

Um novo dia iniciava-se no Reino da Folha. Sakura arrumava-se em seu quarto, preparando-se para o desjejum sentada em sua penteadeira de frente para um límpido espelho. A brisa leve que invadia seu quarto através das janelas tocava o seu rosto levemente ao mesmo tempo que bagunçava seus fios róseos enquanto ela tentava concentrar-se em trançar seus cabelos.  Aquele seria outro dia cheio, assim como todos os outros desde que o casamento havia sido a ela anunciado.

Casamento...

Nunca havia pensado tanto naquela palavra quanto agora e nem imaginado que algo assim lhe traria tanta frustração. Diisfarçava na frente de seus pais, tentava parecer animada mas a verdade é que seu coraçãozinho estava em pedaços. Suas expectativas quando criança eram tão diferentes da realidade que vivia naquele instante que mal podia acreditar.

Sakura sempre sonhou em casar-se por amor, com alguém que fizesse seu coração disparar logo a primeira vista, ou que fizesse suas pernas bambearem quando se olhassem e suas mãos tremerem por  causa de um simples acenar. Coisas tão clichês e tão distantes para ela que foi inevitável rir naquele instante. Um sorriso, entretanto, repleto de amargor, afinal, já estava mais do que claro que a realidade era bem diferente das fantasias que um dia passaram em sua cabeça.   

Toc Toc.

Assustou-se com as batidas na porta de seu quarto que a tiraram daqueles pensamentos e, rapidamente, desviou seu olhar naquela direção. Duvidou sobre quem poderia ser, logo tão cedo e não exitou em pedir que entrasse:

– Bom dia, Alteza! – Observou, de cenho franzido e semblante fechado a chegada de Tenten em seus aposentos, trazendo uma enorme bandeja de prata em seus braços.

– Outra vez! – Sapateou. – Vou ter que tomar meu café no quarto hoje também ? Que chato! – Repetiu a mesma cena do dia anterior, e do dia antes deste e de vários outros dias atrás.

– Eu sinto muito princesa, mas não há o que se possa fazer. – Tentou consolá-la enquanto encarava sua expressão chateada. – O Imperador está ocupado recebendo a última comitiva que chegou há poucas horas atrás e ordenou novamente que a refeição fosse servida nos quartos. Tente compreender ... 

–  Outra comitiva ? – Sua voz não escondia a frustração que sentia no momento. – Será que nunca vão parar de chegar ?

– Estão todos aqui por você, Alteza, para vê-la se casar. Isso não deveria ser uma coisa boa ? – Disse com um tom de animação em sua voz e esperou. Entretanto não obteve respostas ou comentários, apenas o silêncio. – Sakura ?

Da posição em que estava, Tenten viu o semblante da princesa mudar totalmente. Sua expressão, sempre tão leve, tornara-se em uma questão de segundos completamente carregada e seus olhos, que a poucos instantes traziam o mesmo brilho de sempre, pareciam opacos.

– Você têm razão. Isso deveria ser uma coisa boa, não é mesmo ?  – Quebrou o silêncio. – Eles estão aqui para o meu casamento afinal. Eu deveria estar realmente contente por isso mas... – Hesitou. – .. Por que não consigo me sentir assim ? – Suas palavras eram tão amargas quanto seu sorriso entristecido. – Por que as coisas tinham que ser assim ? – Questionou enquanto a primeira lágrima formava-se em seus olhos.

– O que há com todo esse seu pessimismo ? Onde foi parar aquela Sakura alegre e determinada que eu sempre conheci e admirei por todos esses anos ? – A serviçal se aproximou, depositando as mãos sobre os ombros caídos da amiga. – Vamos lá, não pode ser tão ruim assim, hã ? Eu tenho certeza de que tudo ficará bem no final! – Sorriu para ela como forma de passar-lhe a confiança que faltava. – Apenas acredite em si mesma!

– Eu não tenho muita escolha, afinal. – Não pareceu muito animada mas certamente havia apreciado a tentativa da amiga em animar-lhe. – Desculpe-me por encher-lhe os ouvidos de reclamações logo tão cedo e...  Obrigada por sempre cuidar de mim...

– Não há pelo o que se desculpar. É meu dever como sua amiga. – Trocaram sorrisos sinceros enquanto se olhavam. A amizade que as unia era tão forte e real quanto o brilho de seus olhos naquele momento. – O que acha de tomar seu café da manhã agora, Alteza ? Seu Okayu* logo esfriará. – Sugeriu enquanto mantinha o mesmo sorriso no rosto.

Calmamente e com o coração um pouco mais resignado, Sakura fez como Tenten dissera e inciara seu desjejum. A pedido da princesa, a serviçal ficou ali fazendo-lhe companhia enquanto conversavam coisas sem sentido, apenas para evitar o silêncio. Os olhos castanhos de Tenten sobre Sakura, embora reconfortantes, guardavam uma preocupação real para com o futuro da amiga.  Ela também conhecia as histórias sobre o Fogo e, em especial, sobre Uchiha Sasuke e era inevitável temer pelo bem estar da princesa.  Ainda assim, ela tinha fé na princesa e sabia que as palavras que havia dito-lhe a pouco eram mesmo reais. Esse era o tamanho do carinho e da amizade que sentia por ela.

– Hmm,  isso está mesmo delicioso! – A princesa comentou sobre as iguarias de seu café da manhã para a alegria de Tenten, a pessoa quem havia preparado-as. – O que acha se-

Toc toc.

– Outra vez a porta? Quem será desta vez ? – Sakura comentou logo após ouvir as novas batidas.

– Prossiga o seu café da manhã, Alteza. Eu mesma verificarei. – De prontidão, Tenten tomou o caminho da porta enquanto a princesa observava-a com atenção.

Sakura viu a amiga abrir a porta e logo reparou que a pessoa que batera na porta se tratava de outra serviçal do Palácio. Com uma reverência sutil, Tenten deixou brevemente o quarto da princesa para conversar com a outra moça fora de seus aposentos.  Sem se preocupar, Sakura continuou com seu café embora estivesse curiosa a respeito. Era inevitável. Ela sempre queria estar a parte de tudo.

Poucos minutos depois, Tenten retornou ao quarto em silêncio, colocando-se novamente ao lado da amiga. Sakura percebeu de imediato que ela parecia um pouco tensa, porém achou adequado não perguntar nada. Aquele provavelmente deveria ser um assunto que não merecesse sua intromissão, mesmo que fosse a princesa daquele Reino.

– O café estava maravilhoso. Obrigada pela refeição! – Agradeceu com gentileza enquanto limpava sutilmente o canto de seus lábios com um lenço.  – Não quero mais te causar nenhum problema então não precisa mais atender aos meus caprichos. Pode retornar a seus afazeres. – Disse com simplicidade enquanto imaginava se a amiga havia levado algum sermão por ter ficado tanto tempo em seu quarto.

– Como desejar Alteza. – Disse porém não se moveu.

– Algo de errado?

– Princesa, antes que eu vá devo reportar-lhe sobre uma mensagem enviada pelo Imperador.

– Meu pai ? – Estranhou. – O que foi?

–Ele... pediu que lhe informasse sobre a chegada de uma nova comitiva no Palácio. – A voz de Tenten era sóbria.

– Comitiva ?  – Franziu o cenho. – Que incomum. Tantos convidados já chegaram à Folha e esta é a primeira vez que sou diretamente informada sobre. – Cruzou os braços diante de si de forma pensativa. – Que comitiva é essa que merece tanta importância assim- – Interrompeu subitamente suas palavras, arregalando pressurosamente os olhos.

 – Alteza, eu-

– Não me diga que ...  – Sob o olhar apreensivo de Tenten, Sakura uniu as próprias mãos, juntando-as ao peito enquanto seu corpo tremia por completo. – Então ele, finalmente... – Não completou.

– A comitiva vinda do Reino do Fogo acaba de chegar à Folha, Princesa. Seu noivo, Uchiha Sasuke, e o irmão já se encontram no palácio. – Repassou a informação de antes enquanto a filha de Minato e Kushina sentia seu coração desfarelar-se dentro de si.

Nos minutos que se seguiram à notícia, Tenten viu os lábios de Sakura se moverem diversas vezes porém palavra alguma fora dita. Com o coração apertado, a serviçal viu lágrimas rolarem livres pela face da amiga e sofreu profundamente ao compreender o tamanho de sua impotência mediante aquela situação.

Ciente de que, àquela altura, nada do que dissesse poderia acalmar o espirito da Flor de Cerejeira, Tenten, com simplicidade, acariciou os cabelos da amiga e recolheu rapidamente a bandeja e os demais utensílios do café, deixando o quarto da princesa após uma breve reverência. Ela precisava ficar só.

Sakura, por sua vez, depois de torturantes minutos estática e em silêncio, moveu os braços lentamente, abraçando o seu próprio corpo, totalmente tomada pelo turbilhão de emoções que se confundiam dentro de si.

“Eu e ele estamos mesmo debaixo do mesmo teto ?” – Balbuciou para si mesma, entre lágrimas enquanto seu coração batia tão rápido que poderia atravessar-lhe o corpo a qualquer instante.

 “Como ele era ?... Qual era o som de sua voz ou o brilho de seus olhos ?... Como seria sua personalidade?... Ele era tudo aquilo que falavam dele ? Como ele a trataria?... Ele estava feliz com o casamento ? Ele desejava vê-la? Será que tinha as mesmas dúvidas sobre ela ? ...”

Perguntas demais e respostas que pareciam estar, finalmente, a seu alcance. A verdade estava a um passo dela e por isso seu coração titubeou.

Agora, era questão de tempo para que ela finalmente conhece-se o homem a quem estava prometida.

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Pela vigésima vez Sakura olhou para o relógio aquela manhã. O tempo parecia estar passando de forma tão lenta quanto as passadas de uma tartaruga e seu cenho já havia franzido incontáveis vezes pela irritação que sentia a cada vez que olhava para os ponteiros e via que nada além de um ou dois minutos apenas havia se passado desde uma última vez que verificara.

A noticia da chegada de Uchiha Sasuke a Folha havia devastado-a por completo. Seu coração não havia se acalmado uma só vez desde o momento em que Tenten havia deixado seu quarto e sua ansiedade crescia a cada minuto que se passava.  Por vezes pensou em procurar sua mãe, mas desistiu quando imaginou que ela, provavelmente, estivesse envolvida na recepção da comitiva Uchiha, ao lado de seu pai. Estava claro que deveria ser assim, afinal eram seu noivo e seu cunhado, então era natural que o primeiro contato fosse com sua família antes que ela e ele se encontrassem de fato.

Estremeceu com aquele pensamento, entretanto não havia mais o que se fazer a respeito. Cedo ou tarde, ela ficaria de frente com Sasuke.

“Como deveria agir quando o encontrasse?.. Como se sentiria?” – A cada segundo uma nova dúvida formava-se em sua mente. Ela sabia, todavia, que se continuasse assim, poderia surtar a qualquer momento.

Em meio aquele caos em que sua vida se transformara em questão de segundos, Sakura  interrompeu abruptamente seus movimentos de idas e vindas pelo quarto, respirou fundo diversas vezes e pôs-se a organizar seus pensamentos. Da forma como estava tão atordoada, ela sabia que encontrar seu noivo naquelas condições seria um completo desastre. Mesmo não sendo o amor de sua vida, ela não queria causar nenhuma impressão ruim em Sasuke. Não por ele, mas pela segurança da Aliança. 

Foi pensando assim que ela começou a buscar meios de impedir aquele encontro, pelo menos até que se acalmasse completamente.

– “Talvez uma forte enxaqueca ?” ... Não, isso é muito clichê e ainda acabarei tendo  que tomar aqueles remédios horrendos. – Raciocinou em voz alta enquanto fazia caretas. – “Posso simplesmente não atender a porta assim pensarão que estou dormindo.” ... Não, não, eles podem insistir e se eu não responder podem pensar que sofri um desmaio ou um mal súbito ou...  Ou muito pior! Eles podem acabar arrobando a porta do quarto! Isso sim seria pior do que qualquer fiasco! ... – Levou as mãos até os cabelos. –  AHH, que droga! Não consigo pensar em nada! – Reclamou enquanto seu coração se apertava cada vez mais dentro do peito.

Sakura continuou se esforçando em encontrar boa ideias, mas após inúmeros insucessos, ela resolveu que o melhor seria tentar a sorte e ir em busca de Naruto em seu quarto. Mesmo sabendo que ele não a ajudaria em seu plano de evitar o encontro com Sasuke, Sakura  sentiu que só precisava estar com alguém que amasse naquele momento para retomar as forças e conseguir suportar o que viria a seguir.  Ganhou uma motivação ainda maior em procurá-lo, quando se deu conta de que os aposentos dele ficavam no corredor ao lado, o que não implicaria em uma caminhada tão longa, além de que ela nem precisaria passar por áreas do Palácio que considerou ser de “risco”.

Decidida, a princesa apressou-se em sair de seu quarto e, com agilidade, guiou seus passos com cuidado até o quarto de Naruto. Ao se aproximar de seu destino, Sakura percebeu que já havia alguém parado diante da entrada dos aposentos do irmão e freou prontamente seus movimentos. Com as mãos trêmulas e a cabeça a mil, a princesa estreitou seus olhos para um tentativa de reconhecimento mas sentiu dificuldade em enxergar com nitidez a pessoa que estava mais a frente, talvez por causa de todo o estresse e de toda a angustia que a situação envolvia.

Convencendo-se de que se tratava de um guarda ou um mensageiro qualquer, Sakura retomou seus passos, posicionando-se segundos depois,  nas proximidades da  porta do quarto de Naruto, tendo as costas do tal homem voltadas para si. Sem pensar duas vezes e por causa da diferença de altura, a princesa pôs-se na ponta dos pés e tocou-lhe o ombro com o intuito de chamar a atenção:

– Estou a procura de Uzumaki Naruto. Sabe se ele se encontra em seus aposentos ? – Perguntou-lhe num impulso.

Reagindo ao toque sobre um dos ombros, Sakura viu o homem a sua frente virar-se lentamente, atendendo a seu chamado. A medida que ele se movia, suas esmeraldas acompanhavam-no fixamente até que fosse possível obter uma visão mais adequada de seu rosto. Boquiaberta,  Sakura não pode esconder sua surpresa no instante em que o homem se virou por completo. Ele era alto, aparentava ser forte e tinha um olhar completamente obscuro e imponente. Nunca havia visto cabelos e olhos tão negros como os dele, em lugar algum. Inexplicavelmente, sentiu-se totalmente hipnotizada pelo o que via e, inconscientemente, Sakura admitiu para si mesma que aquele era, com certeza, o homem mais bonito que já havia visto em toda a sua vida.

Ainda que tentasse os olhos da princesa não conseguiam fugir daquele mar negro que eram os dele. Seu semblante inteiramente fechado e suas expressões que nada diziam, pareciam ser indecifráveis.  Sem ter certeza do que dizer ou fazer, Sakura deu um passo meio desequilibrado para trás e foi somente nesse instante que ela reparou nos trajes finos que ele usava. Sua camisa negra, dobrada sobre os cotovelos e ligeiramente aberta na altura de seu peitoral, parecia ser feita de um tecido refinado, e o casaco que trazia apoiado sobre os ombros não parecia ser do tipo que um guarda ou mensageiro pudessem adquirir com facilidade. A partir daí, foram questões de segundos para que suas mãos ficassem trêmulas e suas pernas bambas. Algo tão simples como respirar tornou-se repentinamente impossível no instante em que começou a entender quem poderia, realmente, ser aquele homem. 

Com a mente em branco, Sakura não conseguia mais pensar em nada além de sair dali o mais rápido possível:

– E-eu... – Gaguejou – A-acho que ele não está aqui então-

– Sakura. – Ouviu e arrepiou-se dos pés ao último fio de seus cabelos.

Aquele forte tom de voz, os olhos negros e audaciosos e seu nome saindo diretamente daqueles lábios vermelhos dele causaram sensações em Sakura que, nem em mil anos, ela poderia ou saberia ao certo descrever.  

Visível e completamente arrebatada por aquele homem, a flor da Folha tornou a encará-lo corajosamente e, desta vez, teve mais certeza do que nunca.

Era Uchiha Sasuke que estava diante dela.