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História A Força do Amor - O Prelúdio da Guerra


Escrita por: Indis_Imladris

Notas do Autor


Como vão, caríssimos leitores?
Mais um capítulo e as coisa estão ficando difíceis. Preparem-se para mais emoção e romance.
Boa leitura!

Capítulo 36 - O Prelúdio da Guerra


Kyara dedicou-se integralmente a cuidar dos feridos e, nesse tempo, pouco foi ao castelo. Quando o fazia, geralmente era para se trocar e pegar um pouco mais de ervas. Toda essa dedicação já estava lhe custando um preço alto. Por conta das operações que realizava e a pretensão de acelerar a cura dos pacientes, o uso excessivo da sua magia, sem o contato com a floresta e sem o Olho de Teferi, a levavam ao esgotamento de suas forças e sua energia vital.

Ela pouco se alimentava ou dormia e numa das vezes que conseguiu descansar teve um pesadelo vendo Legolas em perigo, o que a deixou mais apreensiva. Sentia que chegava o momento de ter que tomar uma atitude sobre essa guerra contra os Orcs.

Vinte dias haviam se passado desde a partida de Legolas e as notícias vindas de fora deixaram aqueles dias muito tensos, quando o luto não tomava conta. Muitos outros guerreiros retornaram ao reino, alguns feridos gravemente, além dos bravos derrotados, que agora eram chamados aos salões de Mandos.

Na tarde deste dia em que ela estava no jardim do castelo colhendo um pouco mais de ervas, viu pousar o seu amigo falcão na cadeira da mãe de Legolas. Alguma coisa naquela ave a fez tomar uma atitude que causaria grande alvoroço no futuro.

Ela passou depois na casa de cura para deixar as ervas e foi fazer uma visita ao talan de Mirhaniel. Antes que ela fosse ver seu paciente ficou um tempo na varanda conversando com a amiga, que parecia viver dias de muita ansiedade.

- Você está com uma aparência muito abatida. De longe se vê que não descansa direito e também não tem se alimentado.

- Perdoe-me não ter vindo antes, mas as coisas não estão nada bem. Tenho passado meus dias e minhas noites na casa de cura... E Kyara suspirou evidenciando cansaço... – Como anda se comportando nosso paciente?

- Calado. Eu também não tenho dado muita chance para qualquer contato. Desde aquela conversa que tivemos no dia que foi operado eu me distanciei e só lhe dirijo a palavra quando estritamente necessário.

- Ele deve estar estranhando muito o seu comportamento.

- Que estranhe. É bom ele ver que não sou mais a mesma tola de antes. A cada dia penso ainda mais em ir para Valfenda visitar Glorfindel.

- Ainda pensa nisso. Você mesma admite que ama o capitão. Como espera ser feliz casada com outra pessoa?

- Glorfindel e eu nutrimos um pelo outro muito carinho e admiração e sei que poderei ser feliz com ele.

- Carinho e admiração não são a mesma coisa que amor. Se fosse uma edain não me meteria nessa história, mas você é uma elfa. Sente diferente e age diferente que uma mortal... Será infeliz e ele também.

- Então o que devo fazer Kyara? Sentar-me e morrer? Porque quem eu amo jamais me desposará. Para ele o compromisso que assumiu com o reino é impedimento suficiente... Esse tempo em que ele está aqui na minha casa me fez mais infeliz do que nunca. Ele me observa o tempo todo calado... Ela suspirou aflita... – Narthan já não consegue disfarçar seus sentimentos por mim, mas não passará disso. E esta situação me dá a certeza de que não quero mais passar minha vida sozinha.

- Fique tranquila, porque alguma coisa me diz que o nosso capitão já percebeu que será um tolo abrindo mão de você. Eu sabia que se o trouxesse para cá as coisas entre vocês mudariam.

- Eu pensei que a necessidade a fez trazê-lo para cá.

- Sim. A necessidade de unir dois amores. Tanto os pais dele quanto Idrial acreditam realmente no amor dele por você. O que falta, então? A meu ver, entendimento. Tinha que fazer vocês dois reacenderem esse sentimento que nutrem um pelo outro.

- Bom, se você fez tudo isso com essa finalidade, então perdeu seu tempo. Ele não fará nenhum esforço por nós dois e vê-lo tão próximo, cuidar dele, tocar seu corpo somente me angustiou ainda mais. Nunca pensei que um dia odiaria minha raça. Se eu fosse uma edain eu o esqueceria e amaria outro homem... Amaria Glorfindel.

- Não acredita que Narthan seja capaz de lutar por você e imagina que Glorfindel a fará feliz e juntos formarão uma família.

Mirhaniel suspirou profundamente angustiada.

- Seja como for nada se resolverá nesses tempos de guerra. Terá que esperar de qualquer forma. Até lá vamos ver como ficam as coisas. Deixe-me ver meu paciente... Se achar que se sentirá melhor, eu posso transferi-lo para o alojamento.

Mirhaniel olhou para Kyara sem saber o que responder e ela sorriu.

- Vou até o quarto resolver isso com ele, então.

Quando Kyara entrou no quarto encontrou Narthan de pé olhando a praça pela janela.

- Boa tarde, capitão!

- Princesa!

Ele fez menção de curvar-se, mas ela não permitiu.

- Tire sua túnica e as bandagens. Vou examiná-lo.

- Mirhaniel faz curativos duas vezes por dia. Vejo que não há mais necessidade para isso.

- É incômodo para você os curativos que ela lhe faz? Acaso ela não faz direito?

- Não, de forma alguma. Ela faz os curativos muito bem e não estou incomodado com eles, apenas acho desnecessário.

- Se está reagindo tão bem assim vejo que está na hora de voltar para seu alojamento. Creio que esteja ansioso para isso.

Narthan não fez nenhum comentário e atendeu ao pedido feito em silêncio. Kyara viu de imediato que ele não queria deixar a casa de Mirhaniel, assim como Mirhaniel não queria que ele se fosse.

- Deite-se, capitão... Ela teve vontade de rir da vergonha do elfo... – De fato seus curativos terminaram. Digo até que já pode retornar às tropas, mas sem exageros para esforço. Espere mais um mês e estará liberado para patrulhar a floresta novamente.

- Um mês? A guerra chegará antes disso. Então, não poderei acompanhar as tropas?

Kyara pensou sobre o assunto antes de responder.

- Acho difícil impedi-lo de participar, mas terá que repousar o máximo que puder. Se não vai ter complicações.

Encabulado com sua parcial nudez diante da princesa, o elfo levantou-se e lhe deu as costas para se vestir, logo que ela terminou de examiná-lo.

- Eu gostaria de lhe fazer um pedido especial, capitão.

- Seu pedido é uma ordem, princesa.

- Não permita que Mirhaniel vá para Valfenda. Ela o ama, mas está indo atrás de uma ilusão porque não acredita mais na força do seu amor, Narthan.

Ele ouviu em silêncio o pedido dela e seu semblante fechou-se.

- Sei que me envolvo em algo que não me diz respeito, mas um amor tão lindo como o de vocês não pode se perder por conta de tolices. Você a ama. Está nos seus olhos.

Ele abaixou a cabeça, constrangido.

- Realmente a amo e já disse isso a ela... Mas, não sei o que fazer para que acredite em mim.

- Case-se com ela... Vocês se amam.

- Estamos no meio de uma guerra. Muitos casam sem as bênçãos dos familiares em situações como essa, mas eu não acho justo fazer isso com ela. Sinto como se estivesse me aproveitando dos seus sentimentos.

- Então o que me diz é que um guerreiro élfico não se casa?

- A maioria opta por essa vida consciente de que o amor e a guerra são incompatíveis. E, no entanto, ainda assim ele nos surpreende... Princesa! Entenda que seria imensamente feliz por poder desfrutar dos prazeres do casamento, mas posso morrer na floresta e ela? Ficará atrelada a um falecido para sempre em troca de alguns momentos? Neste caso prefiro que se case com Glorfindel... Ela me disse que ele poderia fazê-la feliz.

- O que ela disse foi uma grande bobagem. Se fizer isso tornará os três infelizes para sempre... Se quiser esperar esse conflito passar, muito bem. Mas não espere por muito tempo, porque sua atitude está condenando vocês dois e cada dia que passa piora ainda mais a situação... A morte pode chegar a qualquer tempo para qualquer um, capitão. Precisa que alguém lhe diga que não estará se aproveitando do amor de uma donzela se a desposar em pleno período de guerra?... Não percebe que tirou dela o seu direito de escolha?

Ele se calou por um instante e caminhou até a janela ponderando sobre o que ouvira.

- Perdoe-me, minha senhora, pelo que vou dizer, mas como seu paciente tem toda autoridade sobre mim... Se realmente acredita que não devo perder mais tempo em desposá-la, então, peço que não me tire desta casa hoje. Não será digno da minha parte, mas não vou me arriscar mais. Eu a tornarei minha esposa mesmo sem a benção das nossas famílias.

Kyara sorriu com a atitude impetuosa do capitão, e o elfo empalideceu consciente da sua ousadia para com a princesa.

- Perdoe-me, senhora, mais uma vez. Não deveria tratar desses assuntos com uma dama, ainda a esposa do herdeiro do reino.

- A rainha de Gondor me disse uma vez que não devemos nos encabular com o amor, que é divino, e qualquer manifestação desse sentimento é igualmente sagrado... Por tanto, mellon¹, não se acanhe. Meu interesse nessa história é a felicidade de vocês.

- Diga-me o que fazer, então, senhora.

- Arrume-se e retorne ao seu posto. Eu lhe direi depois o que terá que fazer... Certamente todo o reino desejará compartilhar com vocês esse momento único na vida de um elfo. E vocês dois merecem isso por tudo que já sofreram afastados um do outro. O reino precisa de um pouco de alegria também, não acha?

Deixaram a casa no fim da tarde e Mirhaniel e o capitão despediram-se sem muito entusiasmo. Enquanto ele assumia seu posto perante suas tropas, Kyara regressava a casa de cura e aos seus afazeres. A noite começou a sentir uma forte tonteira acompanhada de fraqueza. Seu corpo tremia, com calafrios, e imaginou que pudesse estar anêmica devido ao esforço e a má alimentação.

Usar sua magia da forma como vinha usando sem ter tido nenhum contato com a floresta a estava consumindo demasiadamente. Tarde da noite, enquanto trocava as bandagens de um paciente, começou a sentir os sintomas novamente, e o senhor Hirengil percebeu seu mal estar, obrigando-a a sentar-se para descansar.

- Princesa, retorne para o castelo e descanse. Poderemos cuidar perfeitamente dos pacientes sozinhos. Vem se esforçando demais.

- Não vou me poupar sabendo que precisam de mim.

- Mas usar sua energia da forma como vem usando sem a floresta para se restabelecer a levará a morte. Sabe perfeitamente que seus sintomas são de anemia e pelo que vejo está se agravando... O elfo foi até ela e segurou-lhe a mão... – Veja como sua mão está gelada. Este reino lhe é eternamente grato pelo que tem feito, mas não há necessidade de sacrificar sua saúde, e até ouso dizer sua vida.

- Já disse que não preciso que me agradeçam... Na verdade toda minha dedicação foi à forma que encontrei para não definhar a espera de Legolas. Se ficasse no castelo ocupando-me com bobagens enlouqueceria. Aqui tenho coisas sérias que me obrigam a estar concentrada todo o tempo. Só assim tenho conseguido suportar a falta que sinto dele e o medo de que algo ruim aconteça.

- Ah! O amor! Esse insolente que invade nosso coração e nos arrebata a alma. Se não o temos, então ainda não vivemos, e se o temos damos a vida por ele.

- Já amou alguma vez na vida, senhor?

- Sim, amei. Agora vivo de lembranças e da espera de um dia poder reencontrá-la... Hirengil suspirou saudoso... – Mas isso é assunto para outro dia, agora quero que vá para o castelo e só retorne quando tiver melhorado essa aparência. Se não o príncipe me acusará de tê-la torturado.

Aquela noite Kyara retornou ao castelo e pôde desfrutar do conforto da sua cama, mas o descanso, esse ainda estava longe de conseguir. Sua mente rodava pensando em Legolas e o temor de que estivesse correndo grande perigo a desesperava.

Mais uma semana se passou e Kyara não deixou a casa de cura, mesmo sob protesto do rei que a via se consumindo. Ela não deu ouvidos aos seus apelos e insistiu para que lhe deixasse tratar dos doentes alegando que só assim suportaria a ausência de Legolas. Nesse período um contingente retornou ao reino com vinte elfos feridos e com eles outros doze, que haviam sido derrubados na batalha.

As notícias eram as piores possíveis porque agora se sabia que a estrada velha estava impossibilitada de ser utilizada como passagem para a Cidade do Lago e as regiões a leste da floresta. Cada vez mais o cerco se fechava e a horda Orc havia triplicado. Todos os ataques não aconteciam com menos que cento e cinquenta a duzentos Orcs e até mesmo as corriqueiras patrulhas do reino haviam sido suspensas. Tudo indicava que o momento derradeiro aproximava-se.

A Cidade do Lago estava sitiada e todos impedidos de entrar ou mesmo de sair. A trilha que dava passagem para Valle e o Morro do Corvo foram bloqueada. O comércio foi silenciado e a palavra de ordem era vigilância vinte e quatro horas por dia. O último ataque havia acontecido há quatro dias e parte da Cidade do Lago havia sido incendiada. Foram salvos da destruição total pela tropa de Legolas com os guerreiros de Grimbeorn, que chegaram num momento crucial.

Enquanto a floresta sucumbia a mais uma tragédia, no reino élfico todas as provisões foram racionadas devido ao cerco dos Orcs a Cidade do Lago.

Kyara estava cada vez mais debilitada e o curador temia que seu quadro fosse irreversível, trabalhando ou não na casa de cura. Naquela tarde ela retornava ao castelo para se trocar e recolher mais um pouco de ervas, como de costume. Sentia-se fraca e tonta como jamais esteve. Ela olhava as luzes da cidade e as coisas ao redor e tudo parecia estar fora de foco, distanciando-se cada vez mais até que a tonteira piorou e veio acompanhada de calafrios, náuseas e uma forte dor de cabeça.

A última coisa que viu foi o teto da caverna.

 

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Sem entender o que se passava, Kyara perambulava no meio de um forte nevoeiro. Folhas secas juntavam-se aos seus pés, o vento frio começava a gemer e tudo ao seu redor não era mais que um vislumbre em preto e branco de uma floresta morta. Adiante Legolas estava sozinho rodeado de Orcs e gritou por ele, mas nem ela mesma conseguia ouvir o som da sua voz.

A aljava dele não tinha mais nenhuma flecha e a quantidade de inimigos que o cercava foi demais para combater até que o engoliram. Quando deu por si estava gritando, com o rei a amparando pelos braços. Ela parou de gritar e olhou em volta assustada. Era o seu quarto e tudo não havia passado de outro pesadelo.

Kyara agarrou-se ao sogro apavorada temendo pelo pior.

- Senhor! Tive um sonho terrível e temo que algo muito ruim tenha acontecido com Legolas... Disse ela aos prantos.

- Ioneth-nin²! Deite-se. Você está muito debilitada. Vem se esforçando demais na casa de cura... Deite-se.

- Legolas está em perigo. Preciso fazer alguma coisa para ajudá-lo.

- Está tudo bem, Legolas está bem. Agora deite-se.

Dizia o rei tentando fazê-la se deitar enquanto ela insistia em querer ficar de pé.

- Eu acabei de receber uma mensagem e em quinze dias ele estará de volta ao reino.

Ela olhou para ele surpresa e deixou-se conduzir.

- Uma mensagem?

- Sim. Está tudo bem com ele. Na mensagem me pede para organizar todo o nosso exército para a batalha que acontecerá em breve. Ele retornará para nos reunirmos com o comando das tropas e partiremos desta vez para a guerra. Na floresta somaremos forças com os homens do sul e os povos do leste, que estão guardando a Cidade do Lago. Dain Pé de Ferro também concordou em nos ajudar. Então fique calma porque nada aconteceu com ele. Você é quem precisa de cuidados. Está muito doente e não permitirei que saia mais do castelo até que se recupere. Precisa dormir e se alimentar.

Kyara olhava para ele atônita. Tudo em volta estava rodando e sua cabeça latejava incessantemente. Neste momento Galwen entrou no quarto com uma enorme bandeja trazendo uma sopa de legumes, algumas fatias de carne assada, frutas, queijo, mel, manteiga e pão. Para acompanhar, seu chá predileto, com a intenção de tentar acalmá-la. Ela olhou a bandeja e torceu o nariz. Sentia-se tão fraca e tonta que aquela comida lhe deu náuseas.

- Não tenho fome. Não quero comer nada... Minha cabeça dói muito.

- Minha querida! Trouxe um desjejum leve com coisas que eu sei que gosta... Insistiu Galwen... – Se quiser substituo seu chá por leite, suco ou até mesmo vinho. Quer suco de maça?

- Hirengil me alertou da sua falta de apetite. Entretanto, vou ficar aqui até que se recupere e vai começar comendo alguma coisa. Se não for isso será o que conseguir comer, mas vai comer. Galwen traga um prato para mim. Eu vou ficar aqui com ela. Se ela não comer nada do que trouxe faça um mingau, por favor, e traga o suco também. Peça para Idrial vir aqui.

O rei arrumou as coisas da bandeja na mesa da varanda para que os dois jantassem. Logo Idrial chegou ao quarto.

- Minha querida! Quero que ajude Kyara a se banhar e vestir algo confortável para dormir longas horas. Estarei aqui no quarto caso precise de ajuda.

Kyara observou o rei tomar todas as providências que julgou necessárias sem se pronunciar. O seu mal estar era tão forte que não tinha forças para se levantar sozinha, quanto mais discutir sobre qualquer coisa. Quando ele a levantou para conduzi-la a sala de banho, ela viu tudo rodando novamente e seu enjoo foi ainda mais forte. Mesmo sem nada no estômago vomitou o que pôde e o que não pôde no chão do quarto.

Sua cabeça parecia que explodiria de tanta dor e sua palidez acentuou-se. Precisava ir para a floresta o quanto antes e sentir a terra sob seus pés novamente, o frescor do verde e tocar as árvores.

O rei a pegou no colo e a carregou. Colocou-a sentada em uma cadeira e deixou que Idrial a banhasse sentada ali mesmo. Depois de ter vomitado e se banhado ela sentia-se melhor, entretanto sua fraqueza tornou-se ainda mais evidente.

Mal conseguia andar e não tinha forças para segurar as coisas. Ela mesma se convenceu de ter abusado do seu poder e se não parasse morreria, como o curador previu. Idrial vestiu-a com uma longa camisola bege com alças de seda e um adorno marrom abaixo dos seios. Penteou seus cabelos com muito cuidado devido sua forte dor de cabeça e a ajudou a chegar à varanda.

O quarto já havia sido limpo e o rei a esperava. Ela conseguiu comer um pouco da sopa, umas frutas, uma fatia de pão com queijo e bebeu seu chá. Com o estômago forrado seu mal estar começava a melhorar. O rei a conduziu até a cama e a cobriu com uma grossa manta.

- Senhor! Não há necessidade de ficar aqui. Tem assuntos muito importantes que exigem sua atenção, ainda mais depois da mensagem de Legolas.

- O único assunto que me importa neste momento e exige minha total atenção é você. Agora feche os olhos e durma... Falou o rei sentado a beira da cama.

- Legolas não mandou nenhuma mensagem para mim?

- Não. Certamente não houve tempo para isso, mas logo estará aqui. Por isso quero que descanse bastante e se alimente muito bem. Não quero que ele a encontre doente.

O rei tentava animá-la, mas Kyara sentia um peso enorme no peito e, sem se importar com mais nada, chorou. Ele, compadecendo-se da sua fragilidade, a abraçou. Apoiou a cabeça dela em seu ombro, encostando-se na cabeceira permitindo que chorasse o quanto quisesse.

- Sinto tanta falta dele. Nunca imaginei que seria tão difícil esperar pela sua volta. Vivo assombrada com meus sonhos achando que algo terrível possa lhe acontecer ao ponto de ter medo de dormir e sonhar novamente... Sempre fui motivo de preocupação para os outros agora sou eu que tenho o coração nas mãos temendo pelo pior.

- Não tenha medo. Ele está bem e logo chegará.

Disse o rei acariciando os cabelos dela. Ela ficou algum tempo choramingando abraçada ao rei até que o cansaço a venceu e dormiu. Ele a acomodou debaixo das cobertas e apagou as lamparinas das mesas de cabeceira, permanecendo no sofá do quarto até o dia amanhecer. Depois de muitos dias, finalmente ela conseguiu ter uma noite tranquila de sono e acordou tarde na manhã seguinte.

Kyara permaneceu no castelo se recuperando por sete dias e, ainda que estivesse com a aparência bem abatida já se sentia bem melhor. Não poderia ser para menos porque o rei marcava seus passos a todo instante ao ponto de fazer suas refeições no quarto dela nos três primeiros dias.

Vendo sua recuperação, ele mesmo pediu para que fizessem as refeições no salão de jantar com os demais. Dali ele a levava para o jardim com Idrial e lhes fazia companhia. Neste período Kyara recebeu a visita da Mirhaniel e do curador, que acompanhou a evolução da sua recuperação bem de perto.

Na tarde do quinto dia mais guerreiros retornaram a cidade, alguns gravemente feridos e Kyara, tomando ciência da situação, insistiu para ir à casa de cura, o que foi impedida pelas sentinelas. O rei deu ordens expressas para que ela não saísse do castelo na sua ausência, causando a morte de dois soldados. Foi o bastante para ela se revoltar.

Kyara foi ao encontro do rei no salão do trono onde ele tratava de assuntos sobre a guerra com seus capitães, com a sua entrada intempestiva. Ela nem se deu ao trabalho de esperar que fosse anunciada. Circulando de um lado para o outro diante do trono reclamou ao rei que as sentinelas do castelo não permitiram sua ida à casa de cura e ainda foi escoltada até o salão depois de exigir ser recebida pelo sogro. Thranduil a observava calado com sua coroa de folhas adornando sua cabeça.

- Senhor, Legolas já me obrigou a não me envolver nessa guerra. Eu entendo as razões dele e as respeito, mas me impedir de ajudar na casa de cura é absurdo. Não vou ficar aqui enquanto aqueles soldados morrem. De que adianta ter os poderes e os conhecimentos que tenho se não posso usá-los?

- Já dei minha ordem e espero que seja acatada. Não seja insolente, menina!

Neste momento Rumir aproximou-se acompanhado do capitão.

- Majestade! Estou com o relatório e toda a tropa pronta para a batalha... Manifestou-se Narthan.

- Muito bem. Vamos deixar os guerreiros que acompanharam Legolas na cidade com os recrutas para reforçarmos nossas divisas. Os demais seguirão. Vou tratar desse assunto no meu gabinete... Minha querida nos acompanhe, por favor!

Kyara não escondeu sua insatisfação e acompanhou os cavalheiros até o castelo em silêncio. Enquanto o rei era reverenciado pelas sentinelas, Kyara esgueirou-se pela passagem lateral, escapando pelos fundos fugindo para a casa de cura. Permaneceu lá o restante do dia operando os casos urgentes e ajudando a tratar dos demais. Ela se assustava com qualquer movimento suspeito, esperando que a guarda real viesse forçá-la a retornar a mando do rei, o que não aconteceu. A noite ela retornou para o castelo e a felicidade que sentia por salvar vidas superava o temor de ter que enfrentar a ira do sogro, que foi descaradamente afrontado. Logo que chegou a escadaria do castelo deparou-se com ele esperando por ela.

- Devo aprisioná-la em seu quarto? Porque se essa for a única forma de detê-la não hesitarei.

- Majestade! Antes que fale qualquer coisa preciso lhe informar que minha ida à casa de cura salvou vidas do nosso povo, seus guerreiros. Sei que agi errado não acatando suas ordens, mas um bom soldado às vezes precisa tomar decisões difíceis e esta foi uma delas. Não quero dizer que estou certa com a minha conduta, mas precisei fazê-lo e agora pode aplicar o castigo que julgar adequado. Não me oponho.

Ele caminhou até a entrada do castelo ponderando sobre o que ouvira. Kyara aguardou pacientemente que o rei se pronunciasse.

- Você se intitulou um soldado.

- É o que sou majestade. Sou esposa do seu filho, mas também uma guerreira guardiã da magia do meu povo, assim como sou uma sacerdotisa. E embora hoje esteja aqui assumindo meu papel de mulher casada não posso negar minhas raízes e o que nasci para ser. Aqueles soldados precisavam de mim eu não posso me poupar vendo-os perecer. Eles agora são a minha gente, o meu povo e eu os defenderei até a morte. Agora lhe pergunto: o que faria se estivesse no meu lugar?

- Eu a impedi de ir à casa de cura apenas porque estava debilitada demais. Poderia, perfeitamente, ter dado ordens aos soldados para trazê-la a força. Contudo, não o fiz em respeito a você. Não nego que fico feliz vendo o quanto se dedica e o quanto tem ajudado. O que você precisa entender é que um bom soldado também tem que conhecer suas limitações e saber a hora de recuar. Da forma como estava agindo acabaria morta. Você é uma ótima guerreira, Kyara. Eu a vi em ação, mas sua impetuosidade ainda a levará a ruína... Na batalha contra o bruxo acabou capturada. Se Legolas não a tivesse libertado quem poderia prever qual teria sido seu fim? E aqui no reino sua incursão a floresta poderia ter lhe custado à vida... Ele a segurou pelos braços encarando-a... – Sua lealdade e dedicação são insuperáveis, mas arrisca-se em demasia. Se quiser ajudar precisa estar viva e inteira, porque você não é indestrutível... Agora vá se aprontar. Eu a esperarei para jantarmos.

- Falou como meu pai.

- Eu também sou seu pai agora, e tomo conta de você como minha filha. Será que estamos tão errados em lhe pedir que se poupe?... Quando ela estava subindo às escadas o rei a chamou... – Kyara! Você está em condições para cantar hoje?

Ela sorriu... – Sim... E será um prazer, Ada.

No dia seguinte Kyara retornou a casa de cura, mas não se sentia muito bem. Havia acordado com dor de cabeça, fraqueza e sem nenhuma fome. Seu maior medo era a tonteira. Se desmaiasse novamente o rei a proibiria de sair, então torceu para que não precisasse operar ninguém. Chegando lá foi examinada pelo curador, que ficou satisfeito por vê-la com uma aparência mais corada, mas ainda estava longe de estar recuperada. Conversaram algum tempo e depois ela examinou com o curador alguns pacientes até a chegada do capitão.

- Princesa!... Disse o capitão fazendo-lhe uma reverência.

- Já disse que dispenso essa formalidade.

- Senhora, estou sentindo fortes dores no estômago. Vejo que o ferimento está fechado, mas não consigo suportar a dor.

- Você sentiu enjoo? E se vomitou, viu vestígios de sangue?

- Não. Apenas dores. Comecei a sentir há alguns dias, mas eram fracas. Como estamos nos organizando para a chegada de Legolas, tenho feito muito esforço. E o que era apenas um incômodo tornou-se insuportável.

- Você pegou peso nesses dias?

- Infelizmente, sim.

- Meu amigo, lamento, mas acho que você terá que ficar de repouso absoluto. O esforço que fez prejudicou o ferimento por dentro e agora só muito descanso e muitas ervas para curá-lo. Fique aqui na casa de cura para descansar. Se não fizer repouso agora, não aguentará seguir com as tropas depois.

- Mas... Tenho muito que providenciar. Daqui a pouco terei que me reunir com o rei. Não posso fazer repouso agora. Não tem um chá que eu possa beber para resolver isso?

- Sim, mas sem repouso não vai ajudar muito... Kyara deu-lhe o chá e recomendou beber três vezes ao dia para tentar acelerar o processo.

À tarde quando o capitão estava reunido com o rei no castelo começou a sentir fortes dores, vomitou sangue e desmaiou. O rei chamou por Kyara para socorrê-lo e o capitão teve que ser internado na casa de cura. Kyara usou o que pôde da sua magia para que o elfo se recuperasse logo, mas a condição dele não favorecia sua participação nessa guerra, coisa que o deixou aborrecido. Por outro lado, o cansaço e mal estar da Kyara retornou com força por conta desse esforço.

Para se curar de vez precisava da floresta.


Notas Finais


Tradução das palavras élficas:

1 - Mellon¹ - Amigo;
2 - Ioneth-nin² - Minha filha.


Queridos! A coisa tá ficando feia na floresta de Eryn Lasgalen e a Kyara tem que se cuidar se quiser viver.
Preparem o coração para as próximas emoções e romances.
Uma beijoca! Comentem!


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