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História A Garota das Visitas Noturnas - Aquele que Não Merece Amar


Escrita por: Anonymous-san

Notas do Autor


Foi maaaaaaaal, gente, Demorei um pouco mais do que o previsto. Tive que trabalhar ontem, e fiquei ocupada de tarde com minha mãe, então acabei esquecendo de postar o capítulo à noite.
Mas vamos lá!

Capítulo 10 - Aquele que Não Merece Amar


Fanfic / Fanfiction A Garota das Visitas Noturnas - Aquele que Não Merece Amar

A conversa com o pequeno havia rendido alguma coisa, e tudo agora estava nas mãos dele, cabia apenas ao ruivo decidir o que fazer. Sua parte estava feita, sua consciência estava leve.

Bem, talvez nem tanto.

A casa parecia vazia como sempre. Ouvia os passos das empregadas no corredor, apressadas em fazer seu trabalho, elas tinham uma vida própria com a qual se preocupar. Ganhar dinheiro, manter a casa, sustentar os filhos. Perto disso, os problemas dele pareciam tão insignificantes que parecia errado estar jogado ali na cama enquanto outras pessoas estavam por aí, ocupadas em atingir metas maiores.

O quarto, praticamente vazio, não ajudava muito. Quase tudo que gostava tinha ficado para trás quando retornara ao Japão, e por isso o ambiente ao seu redor explicitava seu toque de organização recém-adquirido. Quando não tinha o que fazer, se prontificava a arrumar o quarto, mas não tinha muitas coisas, e até isso as vezes o deixava irritado. Sua mente estava presa em um ciclo ininterrupto em que os principais estágios eram: tristeza, raiva e saudade.

Estava muito sensível aqueles dias, e isso o deixava completamente suscetível a lembranças que gostava de evitar. A tristeza vinha assim, sorrateira e repentina, geralmente em seus momentos de silêncio, quando não tinha mais no que pensar e acaba lembrando da infância e dos tempos deixados para trás. Quando pensava que a época em que esteve mais perto de Iwaizumi nunca mais voltaria, Oikawa percebia que toda a culpa era da maldita sociedade preconceituosa em que vivia.

Este era o gatilho principal para o estado seguinte, a raiva.

O mais complicado de refrear, mas que lhe tirava um peso das costas sempre que gritava sozinho em casa, e também o que mais demorava de passar. A raiva vinha junto com uma explosão de realização sobre a situação atual do mundo, e toda a dor que as pessoas sofrem ao não se encaixar em um estereótipo do "perfeito" criado pela sociedade cruel. Pessoas como Tooru pareciam não ter direito de serem tratados como um ser humano de respeito.

Gordos demais, magros demais, mulheres masculinas demais, homens femininos demais, muita maquiagem, pouca maquiagem, amor demais. Ninguém nunca estava satisfeito até que houvessem pessoas sofrendo por seus preceitos preconceituosos do que é ou não aceitável, certo ou "puro".

Oikawa era homossexal. Nascera assim, e não teve como se proibir de amar alguém do mesmo sexo. Não é como se alguém escolhesse sofrer por amar com um modus operandi que a sociedade não aceita como natural ou digno. Não tinha pedido para nascer assim, e nem deveria ser julgado e desprezado por algo sobre o qual não tinha qualquer poder. E então se lembrava dos pais e ficava com raiva por saber que as únicas pessoas que realmente deveriam estar o apoiando, estavam exatamente contra ele.

E então vinha a saudade, tão sorrateira quanto a tristeza, mas com um poder de devastação maior. Ela fincava suas raízes em memórias que lhe eram felizes, de uma época de inocência em que corria por aí de mãos dadas com os amigos, sem saber que as pessoas o julgariam no futuro justamente pela coisa que mais o deixava feliz. A saudade do tempo em que se encontrava alheio às obscuridades da sociedade e aos seus preconceitos, e vivia as emoções em sua plenitude, sem esconder dos outros o que sentia para não ser taxado. Ele era apenas feliz.

Se lembrava dos cheiros e dos brilhos nos olhos do Hajime quando andavam por aí de bicicleta, e dividiam seus doces na pracinha perto da casa de Kageyama, acabando por se esbarrar no mais novo. Os três brincavam até que a primeira mãe ligasse e os mandasse voltar. Todos iam embora no mesmo horário, já que os pais pareciam ter combinado um toque de recolher, e eles não gostavam de ficar de castigo. Assim, era atraído novamente para a tristeza, e logo estava preso naquele maldito ciclo outra vez. Não era como se pudesse escapar daquilo de qualquer maneira.

Olhou para o relógio, badalando seu suave tic tac, marcando os segundos, os minutos e as horas que passavam, perdidas para sempre. Sem volta, sem segundas chances, sem concertos ou reparações. Nada podia ser feito a partir dali, e isso era o mais angustiante. Saber que não podia volta a presenciar aquele sorriso por causa de um erro seu, ou de seja lá quem tenha sido.

Talvez de todas as burradas que Oikawa tenha cometido, aquela fosse a de que mais se arrependia. Deixar os amigos para trás e nem ao menos tentar uma comunicação para explicar que não tivera escolha, que aquele destino nunca esteve em suas mãos. Tentava se convencer de que tinha feito o certo, que não havia nada que ele poderia ter feito de diferente, e que ter lhes contado não teria feito nenhuma diferença, mas era impossível acreditar em algo que sabia ser apenas uma desculpa para esconder o mais constrangedor dos fatos: Não quis se mostrar fraco para Iwaizumi.

Na frente do outro, Tooru sempre cedia aos sentimentos mais ridículos. Os olhares do Hajime eram como feitiços que incapacitavam seu cérebro de funcionar como devia, e acabavam por transformá-lo em uma marionete de seus desejos mais irracionais. Sabia que se tivesse encontrado ele no dia em que fora mandado para o exterior, não teria conseguido segurar as lágrimas em seus olhos, por mais teimoso e cabeça-dura que conseguisse ser. Simplesmente abaixava sua guarda ao lado do outro. Era inevitável.

- Eu realmente pareço uma garota do ensino médio quando penso nisso... - falou amargamente, como se aquilo fosse tão ridículo quanto tudo o que mais odiava. - Você não leva jeito mesmo, hein, Tooru?

É, deveria anotar "falar consigo mesmo" como um de seus mais novos hábitos. Passava tanto tempo sozinho, sem ninguém para discutir todos os problemas que assolavam sua pobre mente, que a alternativa de reclamar para si mesmo lhe estava sendo estranhamente convidativa e confortável. Por que não tinha pensado naquilo antes? Era genial!

O capitão do Aoba Johsai enlouquece de vez. Boa manchete para um jornal...

Ouviu uma batida na porta, logo seguida por uma voz fraca e insegura de uma das empregadas, que abriu uma pequena fresta da porta e o chamou:

- Senhor Oikawa? - sondou a mulher, tentando perceber se o estava incomodando ou não.

- Sim, Shiyemi -respondeu, com um sorriso simpático. Não gostava de distratar as pessoas que trabalhavam na casa, ao contrário de sua mãe. - Pode falar.

- Há uma ligação para o senhor, seu celular está aqui - informou a garota, enquanto adentrava o recinto timidamente e o entregava o aparelho em mãos. Devia ser uma das novas empregadas, as outras o tratavam com mais familiaridade.

- Obrigada. - Oikawa sempre se preocupava em agradecer, e sorriu ao ver a empregada se curvando em resposta.

Quando a porta se fechou, ele direcionou os olhos ao visor do aparelho, que se acendeu após ter apertado o botão na lateral. Se assustou ao ver uma mensagem do sistema indicando mais de dez chamadas do técnico do time de vôlei, e antes que pudesse retornar a ligação, o celular estava tocando novamente.

- Oikawa, maldito! Por que não atendeu antes? - ouviu a voz do técnico ajudante, ao fundo pedindo que o treinador e acalmasse. - Eu te liguei mais de dez vezes!

- Me desculpe, Irihata-sensei. Eu quase tive um ataque quando vi as notificações. Aconteceu alguma coisa?

Não idiota, é só o aniversário do time. - retrucou o homem com sarcasmo. - Estamos esperando por você no lugar de sempre.

- Ok, avise ao time que estou indo! - respondeu animado, desligando o telefone antes mesmo de obter uma resposta, e já podia imaginar a cara e o grunhido de indignação do técnico do outro lado, xingando-o de idiota desrespeitoso.

Correu para o armário e procurou na pilha de roupas lavadas o uniforme do clube de vôlei, imaginando que os colegas estariam vestidos da mesma forma, como já havia virado tradição nas comemorações. Tomou um banho rápido - seu toque de limpeza o impedia de sair sem ao menos passar uma água no corpo - e avisou a uma das empregadas que estava de saída, recebendo um 'bom passeio' em troca.

Correu como um condenado até o pequeno restaurante, nada muito luxuoso nem simples demais, e cumprimentou a dona, que já reconhecia todos do time do Seijoh*. Foi levado até a mesa em que os colegas estavam, e se desculpou pelo atraso. Todos riram da sua cara de desespero quando o técnico o olhou com raiva, mas este logo caiu na gargalhada junto com os jogadores.

- Vocês são os melhores! - iniciou, propondo um brinde ao perceber que o recém-chegado já estava com um copo na mão. - Eu não sei o que dizer a vocês. Muitos estiveram comigo por bastante tempo, e outros chegaram em nossa quadra esse ano, mas todos vocês são parte dessa família. Sim, somos da Seijoh, somos Aoba Johsai, somos companheiros. Enão pensem que vão conseguir escapar de mim quando se formarem - olhou para os alunos dos segundo e terceiro ano - , por que não vão. De mim vocês não escapam! Um brinde ao nosso sucesso, rapazes!

Todos ergueram suas taças e brindaram às palavras sabias do treinador, o qual respeitavam bastante, principalmente por conta da convivência e do conhecimento que ele possuía após anos na área esportiva. O treinador Irihata e o vice-técnico eram tidos em alto patamar por todos.

A festa foi geral, todos os integrantes se divertiram, e a dona do local até acabou por se juntar ao grupo extremamente animado que comia e conversava em meio a altas gargalhadas. Tooru olhou de canto e pode perceber o Hajime conversando com um dos atacantes, e sentiu algo como uma mão que envolvia e esmagava seu coração aos poucos. Não era necessariamente por causa de ciúmes, mas sim por se sentir incapaz de falar com o outro e se explicar, colocar tudo para fora, esclarecendo todas as intrigas.

Mas ele parecia tão feliz. Seria certo estragar aquele belo sorriso só por que queria tê-lo ao seu lado novamente? Esse era um dos piores dilemas, não sabia se deveria ser egoísta e encher o outro com seus problemas ou apenas continuar se mantendo longe e deixar que Iwaizumi seguisse sua vida sem mais complicações. A segunda opção parecia a mais certa, e decidiu que abdicaria de mais uma coisa, e não se arrependeria se aquilo fizesse o garoto feliz.

Só percebeu que o estivera encarando quando alguém tocou em seu ombro, e ouviu a voz do vice-técnico o chamando de maneira irritada. Antes de direcionar a atenção ao homem, porém, percebeu uma olhadela sobre si, e se sentiu envergonhado por encarar alguém durante tanto tempo.

- Oikawa, estou te chamando a séculos! O que deu em você hoje?

- Ah, me desculpe, vice-técnico. - respondeu o moreno, ainda um pouco atordoado. - Problema de adolescente, nada que valha seu precioso tempo.

- Você adora essas piadas sarcásticas. - comentou o homem, um pouco menos irritado.

Esse era exatamente o problema. Tudo o que falava era dado como uma piada, Tooru nunca se sentia sendo levado a sério por nenhum de seus colegas, fossem eles de time ou de classe. Sempre viam seus comentários narcisistas como piada, sendo que eram uma máscara para sua autodepreciação e constante baixa auto-estima. Quase ninguém conseguia distinguir quando algo era piada ou apenas um disfarce para seus reais sentimentos.

-Então, continuando - prosseguiu o mais velho -, eu preciso ir embora, e vou tentar levar o resto dos membros comigo. Você vai querer ir conosco até o ponto de ônibus?

- Ah, não, obrigada. Acho que vou esperar o técnico ir embora.

- Ok. Vou indo então. - acenou e se despediu. - Vamos rapazes! Hora de ir.

Alguns reclamaram que era cedo demais, e outros apenas acenavam e desejavam boa noite aos que ficaram para trás no restaurante. Antes que percebesse, o técnico Irihata já estava indo, e sobrava apenas Oikawa no restaurante. Ele se despediu dos funcionários e da mulher, confirmou que a conta do time já fora paga pelos técnicos e colocou um sorriso no rosto ao pensar na consideração dos dois homens mais velhos.

Saiu do lugar com a cabeça abaixada, olhando para os pés, e percebeu que a noite estava mais úmida que o normal. Olhou para cima e viu que estava embaixo de uma árvore cujas folhas estavam molhadas pelo orvalho. Uma dessas gotas lhe acertou a bochecha, e piscou, limpando o rosto com as costas da mão.

- Você demorou.

Olhou para o lado e se assustou ao constatar que o garoto estava perto demais para que não tivesse percebido sua aproximação. Devia estar muito imerso em seus próprios pensamentos para não ter ouvido os passos do outro.

- Hajime? - indagou, incrédulo por encontrar a pessoa que menos esperava estar à sua procura.

- Eu mesmo. - Retrucou o menor, com sua melhor expressão de seriedade. - Precisamos conversar.

- Haha, você precisa de uma senha para falar com alguém tão importante quanto eu. Estou ocupado agora, volte mais tarde.

- Oikawa, pare com isso...

- Parar o quê? - riu nervosamente, sentia o feitiço do Hajime começar a fazer efeito. - De ser tão lindo? Impossível, eu nã...

- Tooru!

O capitão parou de falar ao ouvir a exclamação do outro, e logo sentiu uma mão agarrando seu pulso, o impedindo de fugir da inquisição que se seguiria. O Oikawa não estava pronto para isso, para responder perguntas, tinha acabado de decidir que se afastaria do outro em prol da sua felicidade. Por que o Hajime era tão importante assim.

- Por favor - pediu, sem direcionar o rosto para o outro. - Não insista nisso. É a única coisa que eu te peço, Hajime.

Sua voz soou fraca, e Tooru rezou para que o vice-capitão não percebesse esse pequeno detalhe. Fechou os olhos com força, aguardando o sentimento de aperto em seu pulso diminuir, mas não acontecia. Abriu os olhos e colocou a mão livre em cima da que lhe impedia de fugir dali, tentando se soltar á força. - Por favor, me deixe ir...

- Não! - gritou o garoto, decidido. - Eu não vou deixar que você desapareça de novo, Oikawa. Não deixarei que se afaste de mim tão facilmente outra vez.

- Seu idiota! Você não pode me obrigar a ficar aqui! - retrucou, irritado com a persistência alheia. Será que, uma vez na vida, não podia simplesmente seguir em frente sem que se metessem em suas decisões? E logo no momento em que havia feito uma das piores escolhas que tivera o desagrado de enfrentar. A complexidade do mundo não era algo com que o garoto de cabelos mais claros gostava de lidar.

-Não posso? Eu vou, e você não vai escapar - puxou-lhe para mais perto, virando o rosto do amigo em sua direção - , porque não é isso que você realmente quer.

- Você não sabe...

- Eu sei sim. - Iwaizumi sorriu fracamente, lembrando o quão bem conhecia aquele ser complicado que estava em sua frente. - E sei que apenas lhe faltava coragem. Mas eu esperei demais por essa infame coragem, e decidi agir. Não posso aguardar uma explicação por todo o sempre. Não consigo mais esperar.

- Então por quê você não parte para outra? - retrucou Tooru, subitamente irritado com a implicação do outro jogador. - Eu sou descartável. Até você pensa isso, não é?

Percebeu os olhos se enchendo de lágrimas, mas não era tristeza. Eram lágrimas de raiva, carregadas com seu sentimento mais puro guardado por anos. Não era raiva do garoto em sua frente, mas dos seus pais e de si mesmo por não conseguir dizer o que realmente queria.

- Eu nunca disse isso... - explicou o Hajime, aproximando sua mão do rosto delicado do amigo, que recusou o gesto de afeto com um tapa. 

-Mas é isso que todos pensam. - Nâo! Cala a boca, Oikawa! - Você, meus pais, os hipócritas dessa sociedade, todos iguais.

Não me leve à sério.

- Pare com isso, Oikawa! Você sabe que eu não sou assim! O que deu em você?

- Eu não sei, tudo bem?! - ele tentou se aproximar novamente. - Pare.

Não me deixe fazer isso.

Não chegue perto de mim.

Não escute minhas palavras.

- Eu não quero suas desculpas, Hajime. Eu não preciso da sua pena, nem da sua paciência. Tudo bem?!

Por favor, me abrace.

- Você vai continuar com essa maluquice?- indagou ele, soltando seu pulso. - Eu vou embora se é isso o que você realmente quer. É isso o que você quer, Oikawa?

- É! Eu quero que você me deixe em paz. Suma e me deixe sozinho!

Por favor, não me troque por outro...

- Se é assim - respondeu Iwaizumi, ajeitando a alça de sua bolsa lateral e olhando nos olhos castanho-claros do garoto - eu vou. Mas saiba que espero por você.

Por favor, não me deixe.

Observou o menor se afastar na noite, sua silhueta delineada pelas diversas tonalidades das sombras noturnas em contaste com a luz gerada pelos postes espalhados no caminho. Se deixou escorregar até o meio-fio e se sentou, colocando a cabeça entre as pernas. Chorou de raiva, de tristeza, infelicidade e dor. O nó em sua garganta insistia e torturá-lo a cada segundo. Por que não deixava o orgulho de lado? Sabia muito bem da conselhos, como os que concedia À Kageyama, mas não sabia segui-los ele mesmo.

Por favor, eu preciso de você.

 

 


Notas Finais


UOUOUUOUOUOUOUOUO(UOUOUOUOUOUO, é muito mais fácil passar o capítulo para cá quando não tem negrito...Mas a música faz parte, então os próximos capítulos provavelmente terão alguma.
E desculpem os erros de português, tenho a mania de não reler o capítulo antes de postar, e acaba ficando meio errado.


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