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História A garota do calendário - Clace (EM REVISÃO) - De volta ao passado


Escrita por: Cassie_fray e gio_gioo

Notas do Autor


Oioi dengos, sentiram saudades??


Boa leitura <3

Capítulo 8 - De volta ao passado


Fanfic / Fanfiction A garota do calendário - Clace (EM REVISÃO) - De volta ao passado

{Clary}



— Olá — murmurei e tentei forçar um sorriso, falhando miseravelmente. 

Cada parte do meu corpo tremia de dentro para fora e senti meu estômago se revirar. Estar na presença de Sebastian depois de tanto tempo e depois de tudo o que ele havia feito era repugnante, horrível. Eu estava me sentindo desconfortável, o coração batia nos ouvidos, acelerado e dolorosamente pesado. Eu o odiava mais do que tudo — e sentia medo também, na mesma medida. 

Jace conversava animadamente com Verlac, como velhos amigos — literalmente, aparentemente. Não consegui escutar sobre o que diziam, eu estava atônita de mais para tal. Eu só conseguia pensar em tudo o que havia acontecido. Tudo se passou como um filme em minha cabeça, e só prestei atenção nos dois quando Jace acariciou meu braço e me estendeu o cardápio. 

Escolhi a primeira coisa que li e voltei minha atenção para os sachês dispostos a mesa, respondendo vagamente o que me perguntavam. 

Eu ainda não conseguia acreditar que aquele desgraçado estava bem ali na minha frente, fingindo que não me conhecia e mostrando ser uma pessoa sutil e gentil que ele certamente não era. Jace não fazia ideia do monstro que ele era, e isso me apavorava. Senti vontade de avisar Herondale, de dizer para ele não confiar em Sebastian, mas teria que explicar todo o caos que aconteceu antes e eu não estava pronta para aquilo. 

— Mas me contem, como você dois se conheceram? — ouvi aquela voz asquerosa e cravei as unhas na mesa. 

Ele estava fazendo de propósito. Eu sabia que no fundo ele já sabia de tudo, mas queria continuar se divertindo com a nossa cara. 

Desgraçado tóxico. 

— Clary eu nos conhecemos na praça da Concórdia. Ela veio conhecer Paris e em um dos seus passeios acabamos nos esbarrando, e foi onde tudo começou. Estamos juntos desde então — Jace sorriu e colocou sua mão sobre a minha. 

Isso era o que precisávamos dizer a todos que perguntassem, mas Jace não sabia que Sebastian estava por dentro de tudo e já sabia que eu era sua acompanhante de luxo. 

— Claro — Sebastian riu com escárnio e lancei um olhar fuzilante em sua direção. — Você adora praças, não é? Era de se esperar que conhecesse o amor da sua vida em uma. 

— É — Jace riu e me lançou um olhar carinhoso. 

Ele não suspeitava de nada, não havia percebido nada e aquilo doía meu coração. De verdade, doía. 

— Então... — o infeliz olhou demoradamente para mim e depois para Jace — você se referiu a essa dama na ligação mais cedo? 

— Sim — Jace sorriu. — Aliás, foi bom ter tocado no assunto. Linda, Sebastian vai passar um tempo em casa. Tudo bem por você? 

Arregalei os olhos, a boca começando a secar. Suor escorreu por minhas mãos trêmulas. Eu queria correr dali e levar Jace comigo, queria gritar tudo o que Sebastian era, queria... 

— Tudo bem — menti. — Por quanto tempo? 

— Uma semana, no máximo. — Sebastian respondeu, lançando um sorrisinho cínico para mim.

— Eu vou ao banheiro — Jace se levantou e eu quase pedi para ir junto. 

Assim que Jace sumiu do nosso campo de visão, Sebastian riu com escárnio para mim e se debruçou sobre a mesa. 

— O que você está fazendo aqui? — perguntei tentando não demonstrar o tremor em minha voz. — Jace sabe que você é um bandido desgraçado que acaba com a vida dos outros? — cuspi as palavras do modo mais desprezível possível, a raiva consumindo cada célula do meu corpo. 

— Jace sabe que você é uma vadia que está colocando a vida dele em risco? — seu tom de voz era frio e intimidador, me encolhi diante dele. — Se eu fosse você tomaria cuidado com as palavras porque às vezes acidentes acontecem, e principalmente com quem amamos. Imagina só que trágico o ator mais famoso da Europa pagando o pato por causa de uma acompanhante de luxo suja e vagabunda. Imagina o escândalo nas mídias? Ah, eu me divertiria com isso, certamente. 

Segurei os talheres com mais força do que deveria. Se um olhar pudesse matar, Sebastian já estaria desvanecido em cima daquela mesa. Uma ira perigosa percorreu minha corrente sanguínea e mordi o interior da bochecha, sentindo o gosto metálico do sangue em minha boca. Eu queria machucá-lo, queria que ele pagasse por tudo o que havia feito e ainda estava fazendo... 

Senti as mãos de Jace em meus cabelos e relaxei o corpo. Ele voltou a se sentar e continuou sua conversa com Sebastian. Não prestei atenção em nada do que foi dito, apenas comi um pouco e foquei minha atenção em qualquer coisa que não fosse ele. 

— Sebastian, te mandei a localização de casa — anunciou Jace enquanto pegava as chaves do Porshe. — Quando chegar, mostre o código que te  enviei para Wes. 

— Claro — Sebastian sorriu cinicamente. 

Jace se despediu e disse que o encontraria mais tarde, e eu me levantei rapidamente antes que ele mudasse de idéia e resolvesse ficar. 

Finalmente entramos no carro e Jace saiu dali. Soltei o ar que sequer percebi que havia prendido e encostei a cabeça no vidro gelado. 

— O que aconteceu? — Jace perguntou calmamente. 

— O quê? 

— Você mal comeu e nem quis a sobremesa — pontuou. — E além disso estava quieta durante o almoço. Aconteceu alguma coisa? 

— Não — me apressei em dizer —, é só que... Estou me sentindo um pouco mal hoje. 

— Mal? 

— É — menti. — Acho que foi algo que comi. Mas não importa, vou ficar bem. 

— Assim que a gente chegar, você vai tomar um banho quente e um remédio. Depois vamos assistir um filme. Vou cuidar de você. 

 Senti meu coração se apertar fortemente dentro do peito. Mentir para ele não era justo, principalmente pelo fato de ele ter me ajudado tanto e ter se mostrado uma ótima companhia confiável. 

Pensei em contar tudo mais uma vez, mas tudo o que eu disse foi: 

— Obrigada Jace. 





{Izzy}


Senti uma pontada aguda na lombar e levei a mão ás costas por impulso, apertando os olhos fortemente. Eu havia pegado no sono mais uma vez naquela poltrona desconfortável. 

Alec ainda dormia, os remédios que o estavam aplicando eram fortes de mais. Me levantei com dificuldade pela dor na coluna e me posicionei ao lado da cama do meu irmão, acariciando seus cabelos bagunçados. Notei os hematomas espalhados pelos seus braços e rosto, estavam bem ruins. Um aperto no meu peito me fez respirar mais forte e lutar contra a vontade de soltar as lágrimas que insistiam em se acumular em meus olhos. Só Deus sabia o que ele tinha passado, tudo o que teve que suportar, e eu me sentia culpada por aquilo. Querendo ou não. 

Machucaram meu irmão e não foi pouco, e eu queria que aqueles merdas pagassem pelo o que fizeram comigo e, principalmente, com ele. Queria que eles sofressem, sentissem a dor que Alec com certeza sentiu...

Já fazia cinco dias que eu estava dormindo naquele hospital, cinco dias que eu havia chegado em Paris, e Alec nem tinha tido a oportunidade de conhecer a capital ainda. Aquilo me apertou o peito. 

— Ele está bem? — me sobressaltei ao escutar a voz de Clary. Me virei e vi a ruiva entrando no quarto, carregando uma caixinha de chocolates nas mãos. Ela colocou-a sobre a mesinha ao lado da cama e me deu um abraço acolhedor e sutil, e eu permiti que as lágrimas teimosas e insistentes caíssem dessa vez. 

— Os médicos disseram que ele está com duas costelas quebradas — contei. — Isso explica a dificuldade para respirar. Disseram que por pura sorte os pulmões não foram perfurados e que ele vai ficar bem. Ele vai sentir dores fortes, mas vai ficar bem. Fora isso está tudo normal, mas ele ainda precisa ficar em observação pelos próximos dias. 

— Meu deus — Clarissa murmurou. Seus olhos exalavam preocupação agora. — Mas... Vai dar tudo certo. 

— Sim — meu sorriso não chegou aos olhos, tamanha era a culpa e a decepção que se alastravam dentro de minha mente. — Ah, e ele luxou o pulso, mas esse é o menor dos problemas aqui. 

Clary deu um meio sorriso diante da minha observação e acariciou meu ombro sutilmente. 

— Tudo isso é culpa minha — murmurei. 

— Ei, claro que não — a ruiva olhou profundamente em meus olhos. — Nunca mais diga isso, tudo bem? Izzy, coisas ruins acontecem o tempo todo, não temos como controlar isso. Você fez o melhor que pôde e conseguiu arrumar um jeito de pedir ajuda e, nossa, foi o começo de tudo. Você ter entrado em contato e ter contado tudo, é o motivo de você estar frente a frente comigo aqui. Nada disso teria sido possível sem a sua ligação e iniciativa. 

— Acho que eu estava precisando escutar palavras positivas e só me dei conta disso agora — ri em meio ao choro. — Obrigada. Obrigada por tudo. Você é a melhor pessoa. 

Antes que Clarissa pudesse responder alguma coisa, Magnus entrou no quarto. A blusa branca com uma enorme frase em glitter pink contrastava perfeitamente com a sua pele. 

glitter é poder? Sério? — eu disse enquanto cobria a boca com as costas das mãos, evitando uma risada. 

— Qual é — Magnus revirou os olhos e esticou a blusa para baixo, mostrando melhor a frase. — Vai dizer que não é um arraso. 

Magnus fez companhia a mim e a Alec durante os cinco dias em que ficamos no hospital, mesmo que não precisasse. Ele se deu bem com o meu irmão e realmente era uma pessoa maravilhosa. Ele tinha uma energia tão positiva e gostosa que chegava a ser contagiante, e mesmo fazendo pouquíssimo tempo, eu já havia me acostumado com ele ali.  

— Se você tá dizendo — brinquei e Bane fingiu desapontamento. 

— Simon Lewis está querendo te ver — ele disse e se sentou na poltrona, pegando a caixinha de chocolates que Clary trouxera e escolhendo a dedo um deles. — Está no corredor, esperando. 

Assenti e saí rapidamente do quarto. 

Simon manteve contato comigo desde que chegamos em Paris. Sempre atencioso, perguntando como estavam as coisas, visitando Alec e me oferecendo almoços confortáveis — mesmo que na cantina do hospital. 

Dei de cara com Lewis. Ele estava incrivelmente bonito. Usava roupas casuais, nada de uniformes, e me recebeu com um sorriso de tirar o fôlego. Seus cabelos bagunçados o deixavam muito atraente e, por mais estranho que fosse, meu coração acelerou ao reparar nele. 

— Pode falar — sorri sutilmente. — É sobre o Alec? 

— Tem a ver com ele — disse e abriu uma porta atrás de si. — Entra aqui. 

— Simon, o que...? — murmurei ao fechar a porta atrás de mim. 

— Eu não deveria estar te contando isso — passou as mãos pelos cabelos e se recostou na parede. — Tenho trabalhado em um caso nos últimos seis meses, mas sempre que eu e minha equipe achamos que estamos chegando perto, tudo fica confuso. 

— Não estou entendendo, Simon — contraí as sobrancelhas e ele caminhou até mim. O olhar de Simon era eletrizante, intenso. 

— Depois de todo esse tempo conseguimos o nome de uma boate em Viena e estudamos todas as filmagens das câmeras de segurança dos últimos meses. Nada estava claro para mim ainda, mas depois de Alec eu entendi — ele explicava tudo da maneira mais sutil que conseguia, percebi isso. 

— Como assim? — perguntei. 

— Estávamos investigando cinco suspeitos por tráfico de pessoas e drogas, contando com a ajuda da narcóticos, mas até então não tínhamos conhecimento de suas identidades e quase nada de pistas. Acontece que em uma das filmagens, um homem recebe uma ligação e, pela leitura labial que foi realizada, ele disse para os outros quatro cúmplices algo como “vamos sair um pouco fora da caixinha, temos um pacote novo em Londres. Não é exatamente nosso trabalho, mas vão pagar bem. Só temos que sequestrar um homem e vigiar a sua irmã, o que, para nós, é moleza. Arrumem as malas, temos um vôo para pegar”.

Engasguei com a própria saliva e Lewis bateu levemente em minhas costas. Eu estava impactada, surpresa, mas não deveria. Afinal, eles eram o FBI. 

— Isso não pode ser coincidência, Isabelle — o tom de voz de Simon oscilou e ele engoliu em seco. — Eu tenho certeza absoluta que alguém de fora contratou esses caras para sequestrar Alec e ameaçar você. 

— Eu... Simon, e se eles vierem atrás de Alec novamente? 

— Eu acho difícil. Esse tipo de trabalho se encerra mais rápido do que se começa quando o alvo foge. Provavelmente eles podem estar com problemas por terem, supostamente, perdido seu irmão e você. Mas fique tranquila, eu vou redobrar a segurança daquele quarto e vou garantir a segurança de Alec. Se alguém quiser pegar vocês, vai ter que passar por cima de mim e do FBI inteiro. 

— Obrigada por isso — sorri tímida e Simon mordeu o lábio inferior. — Vocês descobriram quem são eles? 

— Ainda não, mas mandamos nosso pessoal até a boate em Viena e tenho certeza que receberemos notícias em breve. Não conte nada a ninguém por enquanto, tudo bem? 

— Claro — assenti. — Eu sei que eu já disse isso um milhão de vezes, mas obrigada. Tudo o que você está fazendo por mim e meu irmão... Eu nunca fui tão grata na minha vida, e se hoje estou feliz é por sua causa. 

— Que isso — suas bochechas ganharam um tom intenso de vermelho. — Ajudar as pessoas, prender os bandidos. 

Simon Lewis estava perto. Perigosamente perto de mais. Estudei os detalhes daquele rosto impecável e senti minha frequência cardíaca aumentar ao passo que meu desejo por tê-lo em meus braços crescia. 

Não pensei muito no que fiz quando juntei meus lábios nos de Simon. Passei a mão pelo seu cabelo o bagunçando ainda mais enquanto intensificava o beijo. Lewis segurou meu rosto com uma das mãos enquanto a outra acariciava minha cintura. 

Me dei conta do que havia feito e me separei de Simon, levando as costas das mãos até a boca, ofegante. Minhas bochechas esquentaram fortemente e eu sabia que estava corando. 

Ótimo, humilhação em dobro. 

— Isabelle... — murmurou. 

Não respondi, apenas abri a porta e saí da sala mais rápido do que havia entrado, a vergonha queimando cada milímetro do meu corpo; do meu ser. 

Legal, agora Simon pensaria que eu era uma oferecida. 






{Jace}


Vi Clarissa saindo do hospital com uma expressão preocupada no rosto. Ela entrou no carro e colocou o cinto de segurança. 

— Como ele está? — perguntei. 

— Duas costelas quebradas, pulso luxado, hematomas pelo corpo todo... Precisa ficar mais um tempo em observação — sua voz era baixa, distante. 

— Ele vai ficar bem — murmurei e segurei sua mão na minha. — Eu posso prometer isso a você. 

A ruiva mirou aqueles olhos verde folha nos meus e senti um arrepio repentino se espalhar pelo meu corpo. Ela abriu um sorriso lindo e eu não pude evitar sorrir de volta. 

— Você é todo boas energias, não é? — brincou. 

— Claro que sim — girei a chave no contato e saí em primeira. 

Durante o caminho, Clarissa me contava sobre como eram as coisas com Isabelle e Simon quando eles eram crianças. Seu tom de voz era nostálgico e me contagiou da maneira mais doce possível. Fiz um esforço enorme para não parar aquele carro e beijá-la até que ela esquecesse seu nome. Ela era irresistível em todos os sentidos. 

Não demoramos muito a chegar, e quando entramos em casa Sebastian estava assistindo um filme na sala. 

— Em fim chegaram — brincou.

Cumprimentei o loiro e recusei seu convite para assistir ao filme com ele. Eu estava cansado e minha cabeça doía um pouco. Notei que a mão de Clarissa, no momento entrelaçada com a minha, suava bastante. Resolvi não fazer perguntas a ela sobre aquilo, ela provavelmente estava nervosa por conta do estado de Alec. 

Eu disse a Sebastian que ele ficasse a vontade e subi as escadas, Clary em meus calcanhares. No meio do corredor ela me parou e me empurrou contra a parede, tomando minha boca com a sua numa voracidade que eu não vira antes. Apenas intensifiquei o beijo e a peguei no colo, levando-a até meu quarto e a colocando na cama. 

Ela sabia me provocar de um jeito intenso, ela mexia com a minha cabeça noite e dia, a todo momento. Eu soube que a queria do meu lado quando vi aquela foto dela com a mancha de café no suéter e fazendo aquela careta engraçada. Ela era espontânea, divertida, era a melhor companhia que alguém poderia ter. Sem contar que aquele corpo me deixava maluco, e o que ela sabia fazer com ele, me tirava de órbita. 

Clary e eu transamos pelas próximas três horas e foi intenso pra caralho. Qualquer pessoa que estivesse na casa, com certeza havia escutado seus gritos e gemidos e, sinceramente, eu estava pouco me fodendo para qualquer coisa que não fosse ela

Após meia hora de uma conversa sutil e tranquila, enchi a banheira e coloquei uma loção da Channel com cheiro de morango e me sentei lá dentro, Clarissa no meio de minhas pernas. 

Eu me dei conta de que meus dias sem ela seriam sem graça porque ela fazia toda a diferença do mundo perto de mim. 

Passei a mão pelo seu cabelo molhado o ajeitando mais para o lado e notei sua pele exposta se arrepiar. 

— Sabe — comecei, o tom cauteloso. — O que aconteceu com o seu pai? Ele está no hospital, certo? 

Vi Clarissa intensificar o aperto na borda da banheira até os nós dos seus dedos ficarem brancos. Eu queria saber mais sobre ela, sobre a vida dela mas... ela estava tão tensa com relação àquilo. 

— Não precisa dizer nada caso não se sinta confortável com isso e está tud...

— Espancaram meu pai e ele entrou em coma — me interrompeu abruptamente. 

A ruiva levou as mãos ao rosto e começou a chorar baixinho em meus braços. Decidi não perguntar nada, quis dar um tempo para que ela se recomposse, mas vê-la chorando quebrou meu coração em mil e uma partes. 

— Meu pai sempre foi uma pessoa boa para mim — disse depois de um tempo. — Mas ele começou a jogar e a apostar e... isso acabou com a vida dele. Ele conheceu um cara ruim com que apostava sempre e acabou devendo uma grana altíssima para ele. Acontece que esse cara bateu no meu pai até que ele entrasse em coma e agora a dívida passou para mim. 

— Por isso o emprego — juntei os pontos —, você quer quitar a dívida. 

— E foi o único emprego que pagava o suficiente para fazer isso — fungou.

— Quem é o cara, Clary? — perguntei e retraí o maxilar. 

— Que? — perguntou confusa. 

— O cara ruim que seu pai apostava. 

— Eu... não sei. É que eu nunca o via — pude perceber a tensão em seu tom de voz mas decidi não perguntar mais sobre o cara. Ela estava chateada o suficiente. 

Clary fungou mais uma vez e deitou a cabeça nos joelhos, me dando a visão perfeita de suas costas nua. Acariciei o local carinhosamente, sem segundas intenções. Ela chorava sem parar e vê-la tão vulnerável e triste me deixava louco. Ela era uma mulher tão doce e carismática e certamente não deveria ter passado por aquilo, e eu sabia que tinha sido um acontecimento traumatizante em sua vida. Senti também que ela precisava falar sobre aquilo pelo modo como soltou as palavras com rapidez, como se elas possuíssem um grande peso — e eu acreditei que tinham.

— Me desculpa Jace — murmurou em meio às lágrimas. 

— Pelo quê? — questionei sutilmente enquanto ainda acariciava suas costas. 

— Por soltar meus problemas em cima de você. Quero dizer, eu sou uma bomba relógio e estou te arrastando junto comigo para... 

— Nem mais uma palavra — eu disse autoritário e virei seu rosto para mim. Aqueles olhos verde folha penetraram nos meus da maneira mais intensa que eu já havia visto. — Você não é nada disso, você é simplesmente a mulher mais incrível que eu já pude conhecer na minha vida. Eu não quero que você se sinta assim com relação a mim nem por um segundo. Tudo o que eu fiz foi porque eu quis, e eu vou continuar fazendo de tudo para te ajudar e te ver feliz. Eu sei que não faz tanto tempo, mas você é importante para mim, Clarissa. E está tudo bem não estar bem o tempo todo, a gente é humano, seria estranho ficar cem por cento okay com tudo. 

Ela sorriu para mim e voltou a se recostar em meu corpo, as mãos afrouxando a borda da banheira. Beijei o topo de sua cabeça num ato quase inconsciente e a abracei por trás. 

— Eu... Obrigada Jace — murmurou enquanto brincava com os dedos da minha mão. — Obrigada por tudo. 

— Sempre que precisar, linda — sussurrei em seu ouvido e Clarissa arrepiou. — Sabe do que você precisa? 

— Hum? — perguntou. 

— De uma massagem. 

Ela riu e senti cada célula do meu corpo se derreter diante sua risada. 

Nós nos secamos e Clarissa deitou de bruços na cama, apenas com a lingerie. Fiz um esforço enorme para não começar tudo de novo com ela e passei o óleo sobre sua pele. Massageei por minutos até que quase todo seu corpo estivesse coberto pelo líquido. 

— Se sente mais relaxada agora? — perguntei enquanto rosqueava a tampa no produto e o guardava no guarda-roupa. Não obtive resposta. — Ei, Clary? 

Caminhei até a ruiva. Seus olhos estavam fechados e ela dormia profundamente. Fiz menção de tocar seu ombro para acorda-la, mas parei no caminho. Ela parecia tão confortável que repensei na regra que eu mesmo impus. Era só uma noite, não faria mal algum. 

Apaguei as luzes e me deitei ao seu lado, observando aquele rosto delicado sob a luz do abajur. Senti mil e uma coisas naquele momento, coisas das quais eu nunca conseguiria colocar em palavras porque, afinal, você não consegue descrever o que sente com exatidão quando gosta de alguém. É algo imensurável. 

E ali, olhando para aquele rosto esculpido pelos anjos, por mais que eu tentasse lutar contra, eu soube. 

Soube que estava me apaixonando por Clarissa Morgenstern. 







Notas Finais


Nunca é sobre questão de tempo, e sim sobre quem <3


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