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História A Garota Dos Olhos Não Azuis - Tons de amarelo.


Escrita por: raildab

Capítulo 11 - Tons de amarelo.


 2016, 21 de agosto – Cleveland, Ohio.

 Olho as paredes que uma vez foram completamente brancas, hoje tem seu aspecto amarelado, encardido. Hoje não era um bom dia, já fazia algum tempo desde daquilo.

 1 ano atrás.

 Eu passava pelos corredores da escola pensando no que aquela garota repugnante havia dito sobre mim. Talvez fosse verdade, talvez não. As aulas já haviam acabado, estava indo para casa.

 Todos os minutos se passavam as palavras cruéis vociferadas pela ruiva.

 Já em casa encontrei minha mãe fazendo o almoço.

 – Oi – digo baixo.

 – Oi, pega pra mim aquela colher – diz sem se virar.

 – Qual?

 – A amarela escura.

 Entrego a ela e observo o que ela preparava. O cheiro era bom, muito bom. Saio de perto dela e vou para meu quarto.

...

 Alguns dias passaram, mas eu não conseguia esquecer o que a garota havia me dito. Passava do meio-dia, minha mãe tinha saído de casa para procurar emprego e eu estava deitada, a janela estava fechada, a luz acesa. A todo minuto tentava olhar a luz amarelada da lâmpada, mesmo que isso por alguns segundos me cegasse.

 "alguém de sua raça não devia estar aqui".

 "Se você morresse seria uma a menos para os policiais se preocuparem".

 "Ninguém gosta de você".

 As suas palavras doíam mais que tiros. Eu sempre me lembraria delas, nunca mais iriam parar de me assombrar.

 Mesmo que se peça de joelhos o perdão, você se lembrará do que lhe foi falado, não se pode pegar de volta e engolir as palavras que machucam.

 Vou até a cozinha, pego uma faca afiada e volto ao quarto. Fecho a porta e a tranco com chave.

 Não faria diferença, uma a menos para ter o trabalho de matar. Eu ia acabar roubando mesmo, como eles diziam minha "raça" não é bem-vinda nesse mundo, somos as pessoas sem importância. Iremos ao inferno por nascermos assim.

 É isso que eles me dizem.

 A faca está perto de meu pescoço, um único golpe e tudo se acabará, o sofrimento e a dor iram embora junto de minha vida.

 – Eu cheguei. Desça até aqui – ouço minha mãe dizer.

 Por alguns segundos me assusto, mas logo me recupero, só de ouvir a voz de minha mãe.

 Parecia que meu coração se enchia de algo. Era como se eu não ouvisse sua voz há tempos, talvez fosse saudades.

 Não valia a pena, nada do que a outra disse era verdade.

 Não importa o que ela disse, eu não devia ficar triste ou com raiva.

 Não era verdade. Eu sabia disso, ela poderia continuar falando, era apenas mais uma pessoa repugnante e otária do planeta.

 Ninguém pode dizer quem eu sou ou deixo de ser, a não ser eu mesma.

 Ninguém me conhece de verdade, eu valia a pena. Eu não precisava ir "embora", eu teria pessoas que se importassem comigo.

 Guardo a faca e desço as escadas e corro para abraçar minha mãe a fazendo derrubar sua bolsa amarela claro.

 Tudo está bem, tudo ficará bem.

...

 Na escola, tudo estava do mesmo jeito, já se havia passado um mês de suas palavras. Não me afetavam tanto assim.

 – Oi.

 A ignoro esperando que vá embora.

 – Sinto muito pelo que ela tenha falado.

 – Tanto faz – digo a ela

 – Quer realmente saber? Ela tem inveja de tudo, do seu cabelo afro, do jeito que se veste, não precisa se encher de maquiagem. É capaz de ser tão invejosa que tenha raiva de você ter a pele negra e ela não.

 Apenas a olho nos olhos me perguntando o que tinha lhe dado na cabeça.

 – Eu te acho linda e também tenho um pouquinho de inveja – ela sorri para mim. – Quer conversar sobre problemas?

...

 2016, 21 de agosto – Cleveland, Ohio.

 Lembro-me da conversa claramente. Como se fosse ontem. Dou um pequeno sorriso, quando tudo o que disse a mim é ouço em minha cabeça.

 Eu valia a pena, fazer o tal ato de acabar com tudo não.

 –Tá sorrindo assim por quê? – ouço a voz de Thomas.

 – Quer realmente saber?

 – Sobre o que? Tá começando a me assustar.

 – Saber por que ajudei Hollie e como de algum modo, eu sabia?

 A cor amarela me parece minha preferida. Deixa-me feliz por algum motivo.

 Anotação 10: Se sinta livre para ser e fazer o que quiser. Ninguém pode lhe dizer como você tem que ser.

...

 "De 0 a 10, dê uma nota de como se sente feliz hoje".

 "8".

...

É normal não se sentir bem...

Lágrimas não simbolizam derrota...

Apenas seja verdadeiro à sua essência...

Não há nada de errado com quem você é.

– Who You Are, Jessie J.




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