– Surpresa em me ver?
– Jimin, eu...
– Acho que a gente precisa conversar, bem sério.
– Eu tenho que ir pra faculdade, não posso faltar, tenho um trabalho importante pra fazer.
– Pode ir tranquila, eu te espero exatamente aqui – sorriu – Não vou embora tão cedo.
[...]
– Como assim o Jimin voltou? – Jungkook perguntou confuso assim que sentei ao seu lado no sofá.
– Ele tá lá em casa, sei lá o que aconteceu.
– Já pensou que pode ter algo a ver com o seu pai?
– Não quero saber daquele homem.
– Você sabe que não pode negar ele desse jeito.
– Ele me negou, não tenho meu direito de fazer o mesmo?
– Você sabe que não foi bem isso ______.
– Não me interessa, só sei que o Jimin voltou pra casa e eu não tenho a mínima ideia do que fazer agora.
– Quer que eu vá pra lá com você depois da faculdade?
– Acha que é uma boa ideia?
– Não sei, mas é melhor do que você encarar isso sozinha.
– Você tem razão.
[...]
Não preciso dizer que não consegui prestar em uma palavra sequer das minhas aulas, sobrou pro Jungkook fazer anotações e me explicar com calma depois.
– Você tem certeza que tá tudo bem? – ele perguntou segurando na minha mão.
– Claro, eu só...sei lá, foi um choque.
– Você não via ele há dois anos, é óbvio que foi uma surpresa maior do que o imaginado.
– Eu achei que ele estava em outro país, ou que nem lembrava mais de mim.
– A gente não sabe sobre o que ele quer conversar com você, ouve primeiro, talvez ele queira explicar a decisão dele.
– Não me importo com a explicação dele, ele me deixou pra trás também.
– Por favor ____, escuta seu irmão.
Jungkook tentou me acalmar durante todo o caminho mas nada funcionava.
Quando chegamos em casa demos de cara com Jimin sentado no sofá assistindo TV e ele sorriu ao ver Jungkook.
Eles eram antigos amigos, antes mesmo de eu estudar na mesma sala que o Kook na faculdade.
Faziam tudo juntos, estavam sempre rindo e fazendo piada um com o outro. Até que o Jimin decidiu simplesmente deixar tudo pra trás.
Ele deixou o Jungkook e eu sem entender porque escolheu ir embora ao invés de ficar conosco.
– Cara, quanto tempo – Jimin disse vindo abraçar o maior que ficou com os olhos cheios d’água se controlando ao máximo pra não chorar.
– Por que você fez isso cara?
– Eu quero falar com vocês, preciso falar.
Ainda em silêncio sentei no sofá, seguida de Jungkook que sentou ao meu lado. Jimin sentou no tapete pra ficar de frente pra gente.
– _____, eu sei que você não queria me ver e te entendo por isso – o mais velho disse olhando pra mim – Eu queria tanto te ver.
– Você pode me dizer o que tá acontecendo, Jimin? – falei com certa frieza.
– Vocês sabem como tudo aconteceu, eu fui egoísta e só pensei na minha carreira – Jimin disse nos encarando.
Três dias antes do meu aniversário de dezesseis anos Jimin me deu a notícia de que iria embora.
Nossos pais estavam se separando e a nossa família estava em um completo caos.
Meu irmão disse que ia embora com o nosso pai porque ele moraria mais perto do clube de basquete do qual ele sonhava em fazer parte. Então ele arrumou as malas sem ninguém saber e no dia em que a separação dos nossos pais foi ‘’oficialmente’’ decretada, ele se foi.
Sem mais nem menos, deixou pra trás o amigo e a irmã que ele tanto jurava amar.
Ninguém tem noção da dor que eu senti, de ser largada pelo meu pai e pelo meu irmão ao mesmo tempo. Deixada pra trás como se não fosse nada, e era exatamente como eu me sentia, um nada.
No dia do meu aniversário apenas o Jungkook estava ao meu lado, tentando me animar com um cupcake com uma pequena vela em cima. Ele estava mal também, tentando disfarçar que não tinha ficado abalado com o fato do amigo ter ido embora sem nem ao menos ter conversado com ele antes.
Então nesse mesmo dia a campainha tocou e eu vi um vaso de girassóis que foi deixado no chão. Peguei o mesmo e coloquei em cima da mesa, vendo grudado em si um bilhete.
‘’_____, me perdoe por nem ao menos esperar pelo seu aniversário.
Sei que deve estar me odiando agora, mas por favor, não me odeie.
Prometo que vou voltar e não esqueça de jeito nenhum o quanto eu te amo, por mais que você provavelmente não acredite mais nisso nesse exato momento.
Me perdoe, por favor.
Prometo que a promessa que fizemos se tornará realidade assim que eu voltar.
Espero que consiga de alguma forma aproveitar seu aniversário, e mais uma vez, me desculpe por não estar ao seu lado.
O Jungkook vai cuidar de você melhor do que eu, juro.
Vou sentir sua falta mais do que tudo.
Eu te amo muito, acredite nisso.
Do seu irmão, Park Jimin’’
A promessa era que ele, Jungkook e eu moraríamos juntos assim que completássemos dezoito anos.
Bom, agora eu tenho dezenove e a promessa nunca passou de uma enorme mentira.
– Você me deixou pra trás Jiminie – sussurrei – Sabe o quanto isso me fez mal?
– Eu sei, me perdoa – ele disse de cabeça baixa – Foi imaturidade da minha parte deixar vocês só pra seguir um sonho.
– Mas você pelo menos realizou seu sonho?
– Treinei muito mas quando ia fazer o teste, eu simplesmente travei.
– Por que?
– Porque eu não poderia realizar meu sonho sem vocês lá comigo.
– E o que você vai fazer daqui pra frente?
– Eu voltei pra realizar nossa promessa, _____ – ele disse sério.
– Então você...
– Quero voltar a morar com você, isso é claro, se quiser aceitar – disse desviando seu olhar pro Jungkook – E gostaria que você cumprisse a sua parte nessa promessa também.
[...]
No dia seguinte...
Acordei cedo pra procurar as histórias que prometi pro Namjoon.
– Caiu da cama? – Jungkook perguntou, sentando no sofá do meu quarto, o qual foi sua cama durante essa madrugada.
– Prometi uma coisa pro Namjoon.
– O menino da floricultura? O negócio tá ficando sério então.
– Nada a ver – falei enquanto mexia nas caixas.
– Você já sabe o que vai responder pro Jimin? – desviou o assunto.
– Já.
– E o que vai ser?
– Depende da sua resposta também.
– Que resposta?
– Você vai morar com a gente?
– Eu...não sei.
– Se você não vier eu não aceito. Você mora sozinho também, não teria problema nenhum em vir.
– Tenho medo de sei lá, você enjoar da minha cara e a nossa amizade acabar.
– Te encontro três vezes por dia há três anos e até agora não enjoei, acho que não é tão fácil enjoar de uma cara tão bonitinha assim – ri baixo.
– Eu senti o cheiro da ironia daqui.
– Por que?
– Desde quando você me acha bonitinho?
– Eu nunca falei que você é feio.
– Mas me xinga quase todo o dia.
– Eu digo que você é um preguiçoso viciado em vídeo game mas isso não quer dizer que você é necessariamente feio.
– Belíssima explicação – falou irônico – Quer ajuda aí?
– Uma ajudinha é sempre bem vinda – falei colocando duas caixas no chão.
Ele sentou no chão e começou a fuçar nas caixas em busca dos papéis.
– Lembra disso? – disse mostrando uma foto na qual estávamos juntos do Jimin deitados no quintal.
– No dia do aniversário de dezessete anos dele – sorri.
– Eu sinto falta disso tudo.
– Quem sabe se você vier morar com a gente isso não volte a acontecer?
– Adoro sua tentativa disfarçada de me convencer.
– Vai dizer que não funcionou?
Namjoon P.O.V
Quatro e trinta e dois.
Foi a hora em que a _____ chegou.
– Você está exatamente dezessete minutos atrasada – falei brincando.
– E você é muito bom com horários – sorriu.
– Entra, vem comer um pedaço de torta com a gente.
– Claro!
Ela e a Sra. Greenwald conversaram um bom tempo, pareciam se conhecer a anos. Se deram realmente bem e no final das contas ela estava tratando a _____ como se fosse sua neta mais querida.
– Vou deixar vocês conversarem um pouquinho – a mais velha disse enquanto levantava-se – Preciso regar minhas rosas de novo.
– Obrigada pela torta maravilhosa Sra. Greenwald – _____ disse sorridente.
– Pode me chamar de Helga, querida – sorriu.
Assim que ela deixou a sala, ____ começou a mexer em sua pequena bolsa.
– Achei! – exclamou animada – Essa foi uma das primeiras poesias que eu escrevi, se bem que nem considero uma poesia é mais um desabafo mesmo.
Ela me entregou algumas folhas grampeadas e sorri ao notar que ela realmente não tinha esquecido do meu pedido.
– Essas outras folhas são uma ficção que eu escrevi, é bem velhinha então pode ser meio infantil – disse fechando o zíper da bolsa.
– Prometo que vou ler cada página – falei animado e ela sorriu.
– Quero sua opinião sincera depois.
– Pode deixar.
– Essa poesia é dedicada ao meu irmão – apontou pra primeira folha.
‘’Você se foi...
Deixou pra trás os amores, os amigos, as promessas, a infância, os nossos sonhos conjuntos.
Foi pra algum lugar que eu não pretendo conhecer, algum lugar distante que não fiz questão nem ao menos de saber o nome.
E os laços de sangue?
E o amor que você dizia sentir por mim?
E a nossa casa na árvore que nunca pudemos construir?
E as juras de irmandade?
Onde foram parar?
Quilômetros apagaram meu sonho de permanecer contigo até o fim.
Quem vai cuidar de mim quando a vida se tornar um pesadelo?
Quem vai cuidar do que havia entre nós?
Desde quando o basquete se tornou mais importante?
Por que eu não consegui ver que você pretendia me abandonar?
Apenas abriu a porta e saiu, sem nem ao menos dizer se pretendia voltar.
Um bilhete, uma flor, uma dor, um amor destruído.
Você se foi e esqueceu de voltar.’’
– Meu irmão se chama Jimin – ela disse após um bom período de silêncio.
– Pra onde ele foi?
– Não sei – disse séria – Mas ele aparentemente lembrou de voltar.
– Você o viu?
– Ele voltou pra casa – sorriu fraco.
– Isso é ótimo, não é?
– Eu sinceramente não sei.
– Por que?
– Ele pode ir embora de novo Namjoon, e eu não gosto de ser abandonada.
– Acha que ele teria coragem de fazer isso?
– Eu não sei mais o que esperar dele, não sei se ele continua o mesmo.
– Pelo que eu entendi ele foi embora pra jogar, isso?
– Queria fazer um teste pro time favorito de basquete dele e como nosso pai tinha ido morar mais perto do clube...ele foi junto.
– Só seu pai? E a sua mãe?
– Meus pais se separaram três dias antes do meu aniversário de dezesseis anos, desde que meu pai saiu de casa com o Jimin não tive mais notícias dela.
– Sua mãe te deixou sozinha?
– É, tipo isso – suspirou – Minha tia disse que ela surtou e foi pra outro estado, mas não sei mais no que acreditar.
– Imagino que deva ser um assunto bem delicado...
– Não muito, eu já acostumei com todo mundo me deixando pra trás mesmo – sorriu, mas era visível a dor em seu tom de voz.
– Obrigado por me deixar saber um pouco mais da sua história.
– Obrigada por estar disposto a ouvir as reclamações de alguém que você conheceu há tão pouco tempo.
– Saiba que eu vou adorar ouvir sempre que quiser falar.
– É realmente bom saber disso.
Peguei em uma das suas mãos que estava em cima da mesa e ela sorriu fraco.
– Desde que tudo aconteceu...você foi uma das poucas pessoas que conseguiu me passar tanta segurança.
– Isso é um bom sinal, não é?
– É sim – sorriu – É ótimo saber que tem alguém ao meu lado, bom, alguém além do Jungkook.
– Seu irmão vai estar ao seu lado daqui pra frente também.
– Mas a sua companhia é diferente, Namjoon. Me sinto bem perto de você de um jeito que não me sentia nem perto de quem eu conhecia há anos.
– É uma honra.
– Você é o ex desconhecido que eu mais gosto – sorriu.
– Já me chamaram de muita coisa mas ex desconhecido é novidade até pra mim.
– Eu poderia te chamar de amigo mas é muito comum e você não é só isso.
Ela parecia tão leve depois de ter contado sobre uma parte de seus problemas.
Seu sorriso era mais animado, parecia mais confiante e transmitia um carinho em sua fala.
– Então pelo que eu entendi do poema...seu irmão é um dos motivos pra você não gostar de flores, certo?
– O primeiro deles.
– E qual seria o segundo?
– Meu pai.
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