SASUKE
Fiquei preocupado quando deixei Sakura ontem em sua casa, ela estava tão alterada, me ofereci para levá-la a porta, entretanto não devo ter feito a pergunta certa.
"Não vai me convidar para entrar?" Isso não é pergunta que se faça, principalmente a uma mulher bêbada e sozinha, fui um completo idiota. Espero que ela possa me perdoar.
Sua atitude ontem no bar foi hilária, mesmo exagerando na bebida, conversava de maneira engraçada e teve horas que realmente extrapolou, sua amiga loira chamada Ino serviu como babá na hora de carregá-la ao banheiro, saia trocando os pés e não largou seu copo, fico preocupado, se aquela era a Sakura de sempre, alguém poderia abusar dela.
Lee era um bom exemplo disso, vi como a olhava, aquele desgraçado, quando se ofereceu para levá-la… Meu sangue ferveu, manteria olhos dobrados nele, sabe-se lá o que faria com ela, não gosto nem de imaginar as possibilidades.
Ontem não só ver Sakura foi um prazer, mas estar com os representantes também foi, eles eram boas pessoas, quis ser gentil como Sakura sugeriu e paguei a conta de todos, faria aquilo de novo se tivesse a oportunidade, até mesmo a loira que não trabalha comigo. Percebi o quão incomodados estavam pela minha presença, era nítido como tomavam cautela nas coisas que falavam, contudo, quis parecer o mais amigável e senti que se soltaram mais ao longo da noite.
Sei que eu era o assunto antes de chegar, escutei o que falavam, o que Sakura falava, na verdade, sua reação foi impagável, no início não entendi a letra da música que ela falou, com o passar do tempo ao seu lado e escutando Haku e Ino, finalmente compreendi a ideia, sexo, ela estava falando sobre querer fazer sexo comigo, fazer um meia-nove… Um pouco constrangedor, porém quando fui tirar a prova perguntando para ela, de novo aquela reação nervosa, não sabia se era sim ou não.
Em casa pesquisei a música, era bonita e o conteúdo extremamente sexual, pelo menos assim entendo seus gostos. Procurei também a outra que citou, a que disse combinar comigo, sua letra era tão profunda e ela tinha razão, tudo descrito ali era verdade e a certa frase define tudo: não está no meu sangue, principalmente agora que estou decido sobre meu futuro.
Cheguei no trabalho e fui direto para minha sala, adiantei algumas coisas que precisava para poder ter um momento com Naruto e falar sobre meu futuro, era o único que sabia da loucura qual ia fazer, logo seria Sakura a descobrir.
Por falar nela, sai para deixar alguns papéis em sua mesa, foi quando a vi sair do elevador, estava com umas olheiras profunda e seus dedos massageavam as têmporas, parecia um pouco perdida.
— Está tudo bem? Lhe avisei que ficaria de ressaca.
— Xiu! Para de falar tão alto, estou na sua frente, não precisa gritar. — resmungou levando o indicador aos lábios, seus olhos mal se abriam — Talvez eu tenha exagerado ontem, mas só um pouquinho, vou ficar bem. — não me contive e acabei rindo, seu olhar me fuzilou — Não deboche de mim.
— Não estou debochando, jamais faria isso.
Era isso o que pensava de mim? Que estou debochando? Não faria isso sabendo que está mal, ela tem muitas ideias erradas sobre mim, queria poder compreendê-la melhor, sabia poucas coisas a seu respeito e uma delas é que seu cabelo é rosa. Tirei a prova ontem enquanto dormia na mesa, sua peruca castanha estava torta, então tentei ajeitar com cuidado para não acordá-la, porém foi necessário, se alguém a pegasse ali reclamaria, ou sabe lá o que falariam.
Rosa combinava com ela, seu cabelo era bonito mesmo que tingido, não entendo o porquê dessa peruca.
Deixei-a avisada sobre minha reunião com Naruto que aconteceria em alguns minutos, pedi que cuidasse das coisas enquanto estivesse ocupado, apenas me passasse se fosse urgente ou muito importante.
Aproveitei o tempo que me restava, antes de a conversa franca a ter com meu melhor amigo, nossas opiniões não coincidiam, entretanto, o respeito e apoio eram mútuos, dos melhores aos piores dias.
Guardei alguns documentos, olhei os e-mails, haviam tantos com título urgente e nenhum era spam, queria poder sumir com todos eles, contudo, estavam gradualmente sumindo e sendo resolvidos, devo agradecimentos a minha secretária, ela simplesmente chegava entregando os problemas e eu tratava de resolvê-los com sua ajuda, sempre assim, seu tom autoritário era curioso, às vezes sentia que eu era o funcionário, não ela.
Nas primeiras semanas trabalhando, Sakura era gentil e até submissa, com o passar disso foi se soltando, acostumando com as tarefas e comigo.
Escutei a porta bater, ela se abriu e em seguida um cabelo loiro passou por ela, depois fechando-a. Naruto cruzou os braços me encarando sério.
— Mandou chamar, merdinha?
— Deveria me respeitar, sou seu chefe, cabeça de vento. — retruquei. — Eu que pago seu salário.
— Chefe ruim do caralho. Sou seu sócio, se tem dinheiro é por minha causa, se me demitir vai à falência em um mês. — caminhou até a cadeira em frente à minha mesa, se sentando de forma largada.
Aquela forma patética de conversarmos era nosso segredo, na frente das pessoas agimos de forma profissional, quando sozinhos éramos nós de verdade, pessoas que se xingam sem perder a amizade. Ele era como um irmão, crescemos juntos, mesma escola, mesma vizinhança até a vida de adulto chegar.
Foi ele que esteve comigo nas situações mais difíceis, quando me casei e divorciei, quando perdi… Quando fiquei sozinho ele estava lá, hoje ele está, fazendo visitas com sua esposa e seu filho — meu afilhado.
Ri da situação, ele sabia mesmo como me provocar e ganhar nos argumentos.
— Acredito que um mês ainda é muito. — voltei a rir e ele me acompanhou. O sorriso se foi quando lembrei do que iremos falar, lhe encarei tenso — Você sabe por que te chamei, não sabe?
— Sei, tem certeza que vai continuar com essa ideia maluca? — assenti — Acho isso tudo uma grande loucura, mas sabe que vou te apoiar sempre. Então? Vamos?
— Vamos.
Por alguns minutos discutimos meus planos, como executar e dar sequência, métodos, estratégias, dentre outras coisas.
Quando senti certa confiança, liguei para meu advogado, o homem chegou lá em pouco minutos e quase foi barrado por minha secretária, ela era fogo mesmo.
Nós três discutimos até o almoço, planejando um contrato com vantagens, sem furos, onde não pudesse sair perdendo de maneira alguma, esse papel vai definir minha vida, se tiver algo errado nele coloco tudo em risco, minha sanidade, meu império e conquistas.
Eu estava realmente fazendo isso. Loucura, tudo isso era uma grande loucura, entretanto é meu desejo, meu sonho desde mais novo.
Meu advogado disse que levaria algumas semanas até o contrato ficar pronto, pois ele estava com outros problemas mais sérios para resolver, lhe disse que o meu não tinha urgência, então poderia fazer com calma e resolver suas coisas.
Quando fiquei sozinho na sala, pensei sobre o que iria comer, estava terrivelmente com preguiça e só de imaginar dirigir ao restaurante que fiz reserva… Era isso ou ficar sem comer até o jantar.
Sai da sala e vislumbrei minha secretária, completamente focada olhando os contratos vencidos, me sinto mal por ela estar fazendo isso, quando era função das empresas afiliadas fazerem. Ela pode estar com fome também, pelo horário já deveria ter ido almoçar, mas duvido que tenha.
— Já foi almoçar? — perguntei chamando sua atenção.
— Hã? Ainda não. Nem vi as horas passarem.
Como imaginei. Será que ela aceitaria almoçar comigo? Não suponho que seja um problema, aliás, vejo várias vantagens, não ficarei sozinho e posso pedir para ela dirigir.
— Quer almoçar comigo?
— Agradeço o convite, mas não posso sair agora, vou comer só mais tarde.
Que mulher difícil, é apenas um almoço. Não pode simplesmente aceitar de boa vontade? Esse trabalho pode esperar, já está esperando há tanto tempo, o que é uma hora de almoço? Vou insistir, talvez a técnica no dia do vestido funcione, inclusive, ela está usando o vestido preto que comprei.
— Vamos, preciso de sua ajuda com algo. — por favor, apenas aceite.
— Ah! Não! Você não está pensando em comprar outras roupas para mim, né? — perguntou inconformada. Qual seria o problema em comprar mais roupas para ela?
— Hoje não.
— Então precisa da minha ajuda com o quê? — disse erguendo uma sobrancelha, mas que mulher difícil e curiosa.
Preciso pensar rápido, ou posso ser um pouco sincero, não quero dirigir e ela pode fazer isso para mim, quando chegar ao restaurante terá que comer, pode ser que funcione. Levantei a chave do carro e balancei.
— Preciso que dirija.
Seu olhar divagou entre a chave e meu rosto, por segundos rápidos que pareciam ter durado horas.
— Por que não disse antes? — questionou levantando e pegando a chave da minha mão, seguiu para o elevador.
Isso foi tão fácil, tive sorte, não sabia como insistir nisso.
Perguntei se estava com sua carteira e ela me mostrou o celular, bendito celular, espero que ela não o perca, ou quebre, não iria gostar de voltar dirigindo com ela me olhando como se fossemos bater a cada esquina, na noite de ontem foi ela que bebeu, mas ela me olhava como se eu que tivesse virado o bar inteiro.
O silêncio que se instalou foi constrangedor, porém não sabia o que falar com ela, descemos pelo elevador sem comentar nada, passamos pelo saguão — recepção, fomos ao carro e entrei no lado do carona. De cintos colocados a observei rir, uni o sobrecenho, não entendendo a graça.
— Do que está rindo?
— De você. Você confia muito em mim, entregou a chave do carro e não liga para isso. — respondeu rindo.
— Não tenho motivos para me preocupar, não é como se você fosse enfiar o carro em um poste e tentar me matar, colocaria sua vida em risco também. Além disso, não parece esse tipo de pessoa, você administra todas minhas coisas e até agora não tive nenhum problema, pelo contrário. Se quisesse me ferrar, já teria feito isso.
Suas bochechas ficaram com um leve rubor, tornou a sorrir e deu partida no carro, nos guiei até o restaurante que fiz reserva.
Enfrentamos uma pequena fila na porta, parecia até um absurdo, no entanto, não surpreendia, já que o restaurante era bem famoso e requisitado. Quando cheguei ao recepcionista, uma frustração, minha mesa tinha reserva para apenas uma pessoa, ele não queria colocar acompanhante, de acordo com ele, estavam lotados e não tinha mais cadeiras.
Sakura pediu para ir usar o banheiro deles, enquanto isso discutia com o recepcionista, recuso aceitar que um restaurante de tal porte não tenha mais cadeiras, principalmente quando minha reserva já estava feita, mesmo que Sakura não estivesse inclusa, tudo seria pago, e bem pago.
Desisti de discutir e pedi para darem meu lugar a outra pessoa, trouxe minha secretária para almoçar, esperava almoçar com ela. Fiquei aguardando-a do lado de fora e logo chegou com raiva, reclamando de uma mulher ignorante no banheiro.
Após soltar toda a reclamação e crítica à estranha, lhe expliquei nossa situação, queria que ela pudesse experimentar o tempero desse lugar, todavia ficará para a próxima vez.
— Tenho uma ideia, conheço um lugar que não é muito longe daqui, a comida é divina, vamos? — sugeriu sorrindo.
Apenas assenti, não conseguia pensar em outro lugar que aceitaria reserva em cima da hora. Comer no shopping era uma opção, entretanto não muito agradável.
Dentro do carro Sakura nos guiou, conhecia aquelas ruas como a palma da minha única mão. Quando o carro parou, perguntas rondavam minha cabeça de forma frenética, qual seria a comida? Pois, o lugar não tinha sequer um restaurante, a não ser por lanchonetes e barraquinhas.
Fora do carro segui ela até um carro improvisado que mais parecia um trailer. Quando parou em frente tive certeza, comeríamos ali.
— Vamos almoçar aqui? — perguntei apontando para o lugar.
— Sim, é o melhor pastel de vento que tem na região. Por quê? Nunca comeu pastel de vento? Vai amar, recomendo caldo de cana com limão, perfeito, não fica muito doce. — disse caminhando e sentando em um banco de madeira, me sentei ao seu lado.
Ela pediu pastel de pizza e frango com catupiry para si, e dois caldos com limão para nós dois. Me sugeriu alguns sabores da massa, fiquei tentado, aquilo tudo era novo para mim.
Depois que comi o primeiro, não consegui parar mais, experimentei seis sabores e pedi mais quatro para viagem, Sakura me admirou surpresa, só deu conta de três, ela tinha razão de novo, amei e me sentia cheio, o caldo com limão estava maravilhoso, difícil de acreditar que não havia experimentado isso antes, como se estivesse vivendo errado por trinta e um anos.
Paguei a conta e prometi voltar para comer mais pastéis, foi desnecessário notas menores, a conta deu um valor alto pela quantidade que comi.
No caminho de volta Sakura brincou pela quantidade de massa que consumi, era a primeira vez que estávamos conversando de forma amigável, aproveitei aquela oportunidade para brincar de volta falando sobre a noite anterior, não fiquei surpreso quando disse não se lembrar das coisas.
Conversamos entretidos até chegar ao nosso andar no prédio, entrei em minha sala e dei continuidade ao meu trabalho.
Passei a tarde toda preso na minha cadeira, por mais que tentasse me manter concentrado, às vezes divagava pensando no contrato, se aquela era a escolha certa ou não.
Andei pela sala ansioso, talvez um pouco de álcool me ajude. Peguei a garrafa de uísque que costumo guardar em um armário, servi uma pequena dose e virei, foi inevitável controlar a careta. Servi outra dose e sentei, precisava disso.
Desde a minha infância, sempre quis construir uma família, uma família igual à minha, meus pais me despertaram esse desejo cuidando de mim e do meu irmão. Quando comecei a namorar minha ex-mulher pensei que isso seria possível, ser um pai tão bom quanto o meu.
Contudo, quando me casei não foi assim, após alguns anos juntos, descobri que nossos planos não eram os mesmos, ela não queria ser mãe e eu não a forçaria a tal coisa, sugeri adotarmos, talvez ela não quisesse gerar um bebê, porém, a ideia foi um fiasco, só me restava aceitar. Eu a amava de todo o coração e estava disposto a abrir mão desse sonho.
Com o passar do tempo, nosso relacionamento foi se desgastando, depois de nove anos juntos, seis de casados, eu pedi o divórcio, ainda me dói, todavia não tanto como antes, já faz dois anos sem ela, dizer que estou curado é ignorância, mas não caio mais em seus charmes como no início, Naruto me ajudou bastante nisso e brigava sempre que descobria — ou contava — sobre as recaídas.
Por isso fiz o contrato, não consegui me relacionar com ninguém nos últimos anos, não estava disposto a entrar em outro compromisso, se encontrasse alguém como ela? Ainda quero ser pai e me recuso a desistir disso.
Farei um contrato com alguém, ela servirá de barriga de aluguel, carregará meu bebê e depois ficará até ele completar seis meses, darei todo suporte, cuidados, morará comigo na minha cobertura, terá controle de um cartão para comprar o que quiser, ao fim do acordo ganharia uma boa quantia em dinheiro.
Quero acompanhar todo o processo da gestação, desde o escutar das primeiras batidas do coração, até o primeiro choro quando nascer, quero estar lá para ver o quanto o bebê se parecerá comigo, sentir sua pele macia e poder beijar, seus pés e mãos pequenas. Darei tudo a meu futuro bebê.
Olhei para o relógio, poucos minutos para encerrar o expediente, não tinha a menor vontade de voltar para casa.
A garrafa de um litro me informava que já havia bebido mais de um copo cheio, precisava controlar, ou chegaria na metade da garrafa até mais tarde.
Levantei da cadeira, tomei mais um gole e senti minha garganta queimar, observei pela janela as luzes dos postes começando a iluminar, a luz fraca do sol pelos prédios e ruas, a visão da minha sala era espetacular, além de dar uma sensação de paz.
Escutei a porta bater e a fitei, Sakura pontou a cabeça, depois terminando de abrir a porta, seu olhar passou pela minha mesa e se direcionou a mim, tinha uma expressão no rosto dela que não sabia dizer o que era.
— Sr. Sasuke, eu já terminei por hoje, precisa de alguma coisa?
— Não, pode ir, obrigado. — assenti levemente com a cabeça.
— Ok. — ela se virou para ir embora, mas vacilou e tornou a me encarar, aquele olhar… acredito que seja preocupação — Está tudo bem?
Era verdade, estava de fato preocupada comigo, talvez seja fruto da criação de nossa amizade mais cedo. Não deixaria de pensar nisso agora.
— Estou sim, fique tranquila, obrigado. — levantei o canto dos lábios, ela continuou lá, esperava algo a mais? Admirei meu copo, isso faz sentido, estendi ele num gesto de brinde — Pode deixar, pagarei um táxi.
Sakura deu um sorriso gentil, deu um leve aceno com a cabeça e saiu fechando a porta.
Fico grato por ela não ter desistido, penso que se fosse qualquer outro não exerceria esse trabalho com tal esplendor.
Alguns minutos se passaram, ainda apreciava a vista além do vidro, o sol já havia sumido, apenas se via a luz dos postes, carros e edifícios.
Escutei a porta bater, mirei para ver quem era, possivelmente os seguranças, nesse horário eram os únicos — além de mim — aqui.
A porta se abriu revelando ela.
Ela está aqui.
É ela.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.