Várias semanas se passaram. Yukiko estava largada ao chão da varanda de sua casa, deitada, relaxando enquanto sentia a brisa fria passar. A leve ventania agitava as folhas dos pinheiros, trazendo o nostálgico cheiro da madeira que lotava a montanha onde viveu na infância.
Entre as árvores ao redor, eis que surge a figura de Uzui, vindo visitá-la sem o menor aviso, como de costume.
- Quantas vezes preciso dizer que poderia ao menos mandar um corvo antes? - Ela disse ainda deitada, olhando os enfeites pendurados na cobertura do espaço externo.
- Não seria uma chegada extravagante se eu avisasse que vou aparecer. Surpresas são umas das maiores extravagâncias possíveis!
A garota riu, e se sentou com as pernas penduradas para fora do chão de madeira, encarando de frente o amigo que seguia na direção dela.
- Deixou de ser uma surpresa assim que passou da área Ubuyashiki. - Ela revelou de forma maldosa.
- O quê?! - Ele se decepcionou vendo seu plano ser estragado. - Você é muito sem graça, sabia? Não tem a menor noção de extravagância mesmo…
Ela sorriu da zombaria, e ao sentar-se do lado da moça, Uzui logo continuou a falar, mostrando o verdadeiro motivo de estar tão surpreso.
- Seu alcance sensorial aumentou tanto assim? Não era algo como… oitenta metros?
- Depois do treinamento que comecei após nossa primeira missão, minha habilidades melhoraram drasticamente. Principalmente as minhas especialidades. Agora consigo sentir muito mais longe sem mesmo usar a Respiração do Gelo.
- Você ficou incrivelmente forte. - Ele disse sorrindo. - Estou orgulhoso de você. Quero poder ver até onde você vai chegar…
Yukiko deu um largo sorriso, levemente encabulada, mas contente. Ela não entendia exatamente o motivo, mas sabia que o sentimento era familiar. Ciente disso ou não, ela claramente enxergava grande parte de seu irmão mais velho no amigo, e talvez por isso tenham se dado bem tão rápido.
- Bom… Na verdade o real motivo da minha visita é que não te vejo há semanas! Queria saber se estava tudo bem…
- Ah! Eu realmente devo me desculpar por isso! - Ela uniu as palmas das mãos em sinal de ressalva. - Nesse tempo estive ocupada demais com a mudança de trabalho.
Yukiko explicou como Ubuyashiki começara a cobrar muito mais, e as rondas passaram a durar o dobro do tempo, sendo dois dias seguidos sem descanso.
- Estava exausta demais até mesmo para mandar cartas. Isso sem contar o treinamento, ou quando preciso sair para caçar onis também… Me perdoe!
- Tudo bem, não esquenta com isso… - Ele afagava os cabelos dela. - Mas… Dois dias... Como está aguentando?
- Nem eu mesma sei… Alguns Kakushi que conheço da Mansão me trazem água e comida durante meus turnos. Mas, mesmo agora que preciso fazer um percurso menor, ainda é muito exaustivo.
- Percurso menor?
- Sendo capaz de sentir mais longe, não precisa andar tanto pela base pra ficar de vigia.
Uzui olhava a garota ao seu lado, que até pouco tempo parecia tão inexperiente.
- Mas é incrível. - Ele insistiu. - Mesmo tendo boa audição, não sei se consigo ouvir tão longe quanto você pode sentir…
A moça convidou o amigo para entrar, e beberem alguma coisa mais confortavelmente. Uzui serviu-se com uma bebida que ele mesmo havia trazido, ainda na esperança de presenciar a amiga consumir álcool alguma vez na vida.
Enquanto conversavam, ele aproveitou a chance de perguntar mais sobre o trabalho especialmente designado para a Hashira do Gelo. Rondas e vigias que nunca foram dadas a nenhum Exterminador antes. Muito menos que ocupassem o tempo de alguém na posição de Hashira.
- Oyakata-sama não me dá ordens muito específicas. - Ela contava a Uzui. - Digamos que ele só peça para vigiar bem. Eu fico de olho nas pessoas, no que elas fazem; quem chega e quem vai embora; quando e onde… Tudo o mais detalhadamente possível.
- E o que faz com seu relatório? Quero dizer, como ele usa as informações?
Yukiko deu de ombros, e sua expressão facial deixava claro que ela não fazia ideia dos planos de seu mestre. O Hashira do Som coçava a cabeça, ponderando sobre as intenções de Ubuyashiki, e preocupado com as possíveis situações futuras com as quais toda a organização poderia lidar.
A garota tocou o ombro do outro, que embora bebesse com moderação, estava claramente corado, parecendo pensar mais devagar. A preocupação era visível nele.
- Não fique tão nervoso. Tenho certeza que Oyakata-sama está fazendo o melhor pra todos. Ele sabe das coisas.
O homem se conformou, e sentiu mais confortável com a confiança da outra.
- Espero que esteja certa. Todos esperamos.
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