História A Hashira do Gelo - Pique-esconde

Os dois mal haviam passado pela entrada do distrito, e Yukiko disse sentir algo estranho já nas primeiras casas. O local era uma periferia com construções em mal estado de conservação. Era de se imaginar que pessoas muito pobres ou negligenciadas deveriam viver ali.

- Onde ele está? - Uzui compreendeu a situação rapidamente.

- Uns 60m bem a minha frente. - Ela se voltou na direção de onde sentia a presença. As construções eram pequenas e amontoadas, dificultando uma descrição mais precisa. - Não consigo dizer qual casa sem chegarmos até lá.

- Há muito civis perto dele?

Yukiko tinha uma expressão atônita no rosto.

- Nenhum... 

- Bom, acho que isso torna as coisas mais fáceis pra nós! - Ele tirava as espadas das costas, se preparando para atacar.

- Uzui-san… Não tem ninguém em centenas de metros. Todos podem ter sido devorados.

Uzui deteve-se por alguns instantes, tomando uma postura mais séria e preocupada.

- Consegue dizer se ele parece forte?

- Tem algo errado. Se o calor fosse visível, ele pareceria estar… Piscando. Oscilando entre fraco e forte. Mas não há um padrão, não dá pra adivinhar quando ele vai assumir cada estado. Nunca vi nada assim. - Ela ficava apreensiva com a sinistra novidade. - O que vamos fazer?

- Vamos ter que nos aproximar de qualquer forma. Vamos seguir o plano inicial, e cubra minha retaguarda.

Os hashiras correram em direção ao local que indicava a presença do oni o mais rápido possível, porém de maneira sorrateira. Seguiram pelas pequenas vielas de acordo com as orientações da moça, que percebia o calor emanando em intervalos. Com linguagem corporal, ela sinalizou que o alvo não se moveu em momento algum.

- Está aqui. - Ela disse no tom de voz mais baixo possível, às portas de uma casa que se mostrava a maior dentre as outras.

- Certo. Vamos entrar.

Eles arrombaram a porta do lugar, com Uzui avançando na frente, enquanto Yukiko vigiava aos arredores de seu parceiro. O ambiente estava escuro, mas quando ambos se adaptaram a falta de luz no local, se depararam com algo que parecia um emaranhado de grossos fios acinzentados, cobrindo todas as superfícies - desde o chão até o teto, incluindo as mobílias. Os fios tinham um aspecto macio ao toque, flácidos. Inevitavelmente foram pisados pelos hashiras, causando desconforto ao contato, e instabilidade nas pisadas.

- Mas que nojeira é essa?! - Uzui se arrepiou, aflito com a sensação.

- Parece que o oni produziu essa… Não faço ideia do que seja. Mas é frio. Não consegui perceber antes de entrarmos.

- Temos que descobrir a origem dessa merda, o oni provavelmente está lá.

- Só tem um problema. Não consigo sentir nenhum corpo principal. Na verdade, não sinto nada. É um dos intervalos sem calor.

- Seu sentido funciona para baixo? Abaixo do chão?

- Sim, em todas as direções.

- Expanda o alcance. Esse maldito pode estar usando algum truque.

- Kōri no kokyū. Ichi no kata: Fuyumi (Primeira forma: 冬美 - Beleza do Inverno). - Na Primeira forma, Yukiko mantém um estado de concentração profunda, expandindo seu sentido enquanto desliga outros. Ela descreve a sensação dessa forma como uma névoa fria se espalhando além do limite anterior, ampliando sua percepção em detalhes e distância. Era a lembrança que tinha dos invernos mais generosos em sua casa, quando o vento tocava-lhe o rosto de forma gentil, e lhe trazia um estado de paz.

Após uma avaliação do local, ela chega a uma conclusão:

- Continuo sem sentir nada. Vamos ter que procurar ou esperar outro pico de calor.

- Vamos checar alguns cômodos com cuidado. Talvez achemos algo. Mas não vamos nos apressar. Ainda mais com essa nojeira escorregadia por todos os lados! - Ele estava irado com a situação.

Uzui seguia na frente, verificando cada canto possível do ambiente, enquanto Yukiko o acompanhava pelas costas, atenta aos arredores mais distantes, permitindo que seu líder se concentrasse na busca. Passaram por algumas entradas, inspecionando diferentes ambientes. Em um dos cômodos, que parecia ser um quarto, o Hashira do Som já se irritava levemente com a falta de resultados.

- Não encontramos nada de diferente! Sempre esses fios repugnantes pra todo lado! - Ele cutucava os fios sobre um móvel com a ponta de uma das enormes espadas. - Nada aponta para uma origem ou corpo principal. Ou qualquer coisa mais extravagante! - Ele terminou de olhar o lugar, virando-se de frente para Yukiko, em posição de guarda, que vigiava da porta o lado de fora.

Já de frente para a moça, ele olhou para o rosto dela ainda na intenção de continuar reclamando. Mas percebeu os olhos que costumavam ser tão apáticos, como quem está sempre com sono, encarando-o arregalados, enquanto o corpo assumia uma postura agressiva. A mulher sentiu o emaranhado de fios no chão começar a se aquecer, e então tomar uma forma humanoide, há poucos metros das costas de seu parceiro.