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História A Herdeira do Fogo - Primeiros passos


Escrita por: _betterharmony

Notas do Autor


Acabei demorando bem mais do que eu queria, aconteceu tantas coisas nessas semanas... Deuses hahaha
Esses quatro capítulos foram os mais chatinhos, mais daqui para frente a estória vai desenrolar melhor. Seria legal quem entiver lendo me dizer o que estão achando :)
Boa leitura e espero que gostem!

Capítulo 4 - Primeiros passos


 

C.C.

 

A principal atitude para sermos quem quisermos ser, é dar o primeiro passo.

 

 

Os pulmões apressados querendo cada molécula de oxigênio, as gotas de suor tomando o corpo, o arrepio frio na espinha junto com a tremedeira insistente. Pânico. Seguido de alívio quando as pupilas dilataram ao máximo e enviaram a informação de que estava tudo bem, que não havia mais nada para se preocupar.

Mãos cuidadosas seguravam meus ombros. Aos poucos eu voltava lentamente para minha veracidade, um pouco mais movimentada do que a última recordação do lugar lotado, agradeci mentalmente quem me fixava em pé, não tinha certeza se mantinha forças suficiente nas pernas. Tentei compassar minha respiração, inspirando longas golfadas de ar, mas cada tentativa era um chiado de minhas vias respiratórias que ardiam como se estivessem inalando fumaça. Rolei meus olhos reconhecendo o espaço mais uma vez, vi que a multidão ao redor movimentava-se com animo, reunindo-se em grupos novamente. Girei para onde ficava o grande palanque que já não havia quase ninguém, apenas alguns homens cumprimentando-se e um pouco mais a esquerda Adlan, que me olhava atento junto de uma deslumbrante mulher ao seu lado. Ignorei seu olhar, forçando-me a lembrar da última figura antes de cair no poço de chamas negras. Espiei  sobre o ombro direito na direção onde ela se encontrava, mas só tinha um espaço vazio que aumentava pelo deslocamento desorganizado dos adolescentes. Suspirei abatida.

- Você está se sentindo bem? – O tom preocupado de Dinah fez com que eu percebesse que era ela segurando-me.

- Eu... O que foi que eu perdi? – Ignorei sua pergunta, focando melhor nela e no que acontecia no pátio, preferia esquecer o resto.

- Eu não sei, quando te olhei você estava estática e pálida, os olhos estavam opacos... Sei lá, parecia até que não estava mais aqui, morta... – Disse a última palavra dois tons mais baixo, mas consegui entender.

- É complicado. – Suspirei. – Mas obrigada. – Apertei uma de suas mãos que continuava me segurando.

Dinah me soltou, deixando que eu mantivesse o equilíbrio sozinha, não quis manter muito o contato visual com ela, queria evitar possíveis perguntas do que tinha acontecido. A garota maior era gentil, mas eu tinha acabado de conhecê-la, seria um pouco estranho desabafar o meu problema.

Como se ela pudesse saber o que eu estava pensando, simplesmente abriu um sorriso dizendo que entendia, me puxando pra um dos lados do local, onde estava um grande grupo de pessoas. Um pouco mais a frente do grupo, eu conseguia ver uma outra trilha, idêntica a que me trouxe até aqui quando esbarrei em Dinah. As pessoas daquele lado conversavam animadas, apontavam pro espaço ao redor deles e riam despreocupados.

- Os novatos da nossa legião é aquele grupo. – Apontou para onde estávamos indo. – Adlan, o primeiro homem que discursou, disse que teríamos um aluno veterano chefe, tipo um sênior para nos coordenar e lembrar das  regras de Cosmornorth.

Primeiro a discursar e regras... Eu devo ter ficado um bom tempo fora de orbita.”

- Parece um bom número de pessoas. Será que só uma pessoa vai dar conta de tudo isso?

- Você realmente não prestou atenção nas regras. – A loira riu divertida. – Não é como se tivéssemos muitas opções de desobedecer às normas e badernarmos. Eles são um pouco rígidos, principalmente com os híbridos novatos.

Fiz um som nasal mostrando entendimento e aos poucos retomando minha tranquilidade física e mental. Eu sentia certo conforto em conversar com Dinah, ela poderia ter sido grossa e me chutado de lado por eu ter esbarrado nela na primeira ocasião, mas ao invés disso, foi educada me ajudando a levantar e puxando conversa. Ela parecia ser uma pessoa divertida, mantinha um sorriso no rosto e quando passava perto de alguém acenava com a cabeça em saudação, recebendo sempre uma resposta educada. Lembrei-me dela dizendo que Hectares era um lugar que mantinha a união de todos, e pela primeira impressão não era algo que eles queriam manter só em papel. Percebi também que todos mantinham uma conversa com alguém, estavam totalmente relaxados como se mesmo deslumbrados com a beleza do lugar, tudo aquilo fosse normal.

- Você está fazendo uma careta engraçada. – Paramos no final da aglomeração de pessoas.

- Estou pensando. – Articulei com os braços enquanto, enquanto compartilhava meu raciocínio. – As pessoas aqui, agem com extrema naturalidade, consigo ver admiração pelo lugar no olhar deles, mas não é como se a mente deles estivesse fritando com o quanto isso parece maluco.

- Ah sim. É tudo insano né? Eu fiquei assim também, juro. Eu acho que todos nós ficamos, fiquei em extrema negação, mesmo quando cheguei aqui. Mas encontrei uma pessoa nesta semana que fiquei em Hectares, em que conseguiu mostrar melhor tudo isso, eu acho que consegui de certa forma absorver melhor também. Agora os outros de nós estão quase um mês nesta dimensão. – Ela franziu um pouco o nariz quando disse a palavra dimensão.

- Sinto um pouco de inveja. Deus, me sinto totalmente perdida. É como se eu estivesse esperando para despertar daqueles sonhos esquisitos, sabe?

- Totalmente! Fiquei surpresa por você ter acabado de chegar aqui, literalmente dizendo, é muita coisa para ingerir, mas se serve de consolo, se eu consegui em uma semana, acho que você também consegue. E se quiser uma amiga, você sabe, no caso de sentir que vai surtar ou algo assim, pode contar comigo. – Comentou colocando as mãos no bolso de sua jaqueta e levantando um pouco os ombros. – Você parece ser uma pessoa bacana, não é de falar muito, mas tive um pressentimento bom quando você esbarrou em mim, mesmo me levando ao chão como se fosse um caminhão sem placa.

Não tive como conter o sorriso e me sentir um pouco envergonhada, mas era a primeira vez que alguém que não fosse minha tia tentava puxar assunto e tentava fazer amizade comigo, era uma sensação nova, e Dinah realmente parecia uma boa pessoa.

- Só para constar eu posso me tornar uma bela de uma tagarela sem freio se eu começar a falar, espero que você saiba disso agora.

Dinah iria me responder, mas no começo de uma das saídas do pátio em que estávamos junto das outras pessoas, um pequeno pedestal retangular começou a subir do chão, parando quase um metro acima. Um rapaz alto e magro vestido todo de preto subiu chamando nossa atenção.

- Olá pessoal. Meu nome é Christopher Jauregui, sou o monitor sênior da legião lunae. Infelizmente o sênior de vocês, Troy, não pôde estar aqui agora. Sei que estão ansiosos para conhecer cada detalhe de Cosmornorth, mas se conseguirem manter um pouco de paciência, prometo tentar leva-los para um pequeno tour depois que já estarem acomodados em seus dormitórios.

As pessoas acenaram mostrando estarem de acordo e Christopher desceu de onde estava, fazendo o seu pequeno apoio voltar a ficar rente com o chão. Olhou para a turma uma ultima vez, verificando se todos estavam juntos e fez com que nós o seguíssemos para uma das largas calçadas que levava para o exterior do pátio. Por toda a extensão do lugar, haviam várias saídas, como aquela que seguíamos, eram longas calçadas de pedra, percebi que elas eram o nosso meio de acesso para as construções daquela mine cidade, algumas em algum ponto se uniam, seguindo um único caminho, outras trilhavam para diferentes lados, por meio das árvores, para pequenas praças, ou enormes estátuas, de qualquer forma eram muitos caminhos, sendo muito fácil se perder.

Por ser uma das últimas da turma, percebi que outro monte de pessoas estava atrás, sendo eles liderados por uma garota de capuz . Conforme seguíamos, pude ver e ter uma melhor ideia de como era o real espaço de onde eu estava. Realmente era um lugar enorme, quase tudo era decorado com vidro platinado, dando brilho ao lugar. A minha frente um pouco mais longe, eu consegui ver grandes blocos alinhados, não eram iguais aos enormes arranhásseis de quando eu cheguei, e nem eram cobertos por alguma cor brilhosa, mas não deixava de ser impressionante pelo tamanho. Dinah passou a falar do meu lado, apontando para cada coisa que ela via, até os postes com lamparinas ela dizia ser algo magnífico por parecerem tão mais bonitos do que os da cidade onde ela morava. Quando estávamos próximos dos blocos, que agora eu podia ver melhor, viramos em uma esquina até chegarmos a uma ponte de madeira por cima de um lago coberto de árvores e plantas ao seu redor. No outro lado tinha um grande número de alunos, pareciam enfeitiçados, todos olhavam para o alto sem ao menos piscar, eu não sabia a razão pois as copas das árvores não me deixavam ver o céu.

Acontece é que quando eu tinha passado da ponte e nenhuma árvore impedia minha visão, eu pude concluir que não era o céu que eles estavam babando, era o que estava em nossa frente. E na minha frente estava um conjunto de prédios integrados entre si, fugia do conceito de edifícios e torres altas e isoladas. O que eu via eram prédios em forma hexagonal, postos horizontalmente encaixados, deixando alguns vácuos em sua vertical, parecendo até uma construção de lego. Reluzia luxo, beleza e conforto, mas encaixava-se com o tom natural, eu conseguia ver enormes varandas nos andares superiores que foram transformadas em jardins. Era extremamente lindo.

- Definitivamente eu nunca mais volto para minha casa. – Dinah dava pulinhos de animação ao meu lado. – Este lugar não para de me surpreender, é tudo maravilhoso... – Eu só conseguia acenar sem olhar para ela.

Mantive-me com a atenção presa na imagem até quatro pessoas subirem no muro que nos separava da construção, sendo um deles Christopher, nos informando que os edifícios eram nossos dormitórios e nossa moradia enquanto estivéssemos em Cosmornorth, o que fez a animação de todos só aumentar. Após passarmos pelos muros, pude ver varias piscinas em um dos cantos e diversas quadras esportivas espalhadas. Cada monitor uniu sua turma pra diferentes entradas, sendo a minha colocada no terceiro acesso, que era o edifício dos híbridos. Visto de longe parecia que tudo era uma coisa só, mas realmente havia uma separação. O hall de entrada era todo branco com detalhes dourados, grande como tudo o que era em Cosmornorth, algumas poltronas e sofás estavam espalhados nos cantos do local, a minha direita estava uma porta de vidro que revelava uma pequena sala de jogos. No Balcão de mármore branco logo a frente que ocupava um espaço em “L”, não havia ninguém, mas tinham cerca de quase dez telas touch screen viradas para a nossa direção. Ignorei as telas e fui para a sala de jogos, que era feita inteiramente de vidro, eu conseguia ver um dos jardins do outro lado, tinha algumas pessoas lá, talvez veteranos.

A sala tinha todos os tipos de jogos imaginados, algumas maquinas de fliperama em um canto, vídeo games modernos e antigos, alguns modelos que eu nunca vi também. Em uma das paredes estavam pendurados seis quadros, cada um com um desenho diferente. O tom branco das paredes deixava um ambiente claro e os detalhes dourado, davam um ar de luxo. Tudo em Cosmornorth era lindo, cada traço bem trabalhado e arquitetado de maneira única, a abundância em detalhes luxuosos era evidente, mas não chegava a dar a sensação que aquilo era algo dispensável ou exagerado, cada detalhe era único, nada parecia demais. Claro que todo toque chique tinha um toque mágico também, como o fato de o chão se levantar só, a energia que vibrava e fazia pulsar uma parte de meu corpo, como se algo estava certo desde que pus meus pés aqui, eu não poderia entender, mas não podia negar sentir, e o que eu sentia era bom.

- Achei você! – Dei um pulo com a voz de Dinah. – Ande, temos que subir para os dormitórios, no meu caso apartamento, fui contemplada. – Ela levantou uma das mão mostrando um molho de chaves. – Deixe-me te perguntar, por um acaso seu sobrenome é Cabello?

- É sim, como você sabe? – Perguntei confusa enquanto deixava que ela me arrastasse para os elevadores. – Não lembro de ter me apresentado com ele.

- Então você acaba de ganhar uma maravilhosa amiga de quarto, no caso apartamento. O seu nome estava no meu acesso de dormitório na hora que fui retirar as chaves. Sorte hein!

- Não acho que acredito em sorte visto pelo lugar em que estamos. – Falei baixinho, tendo certeza que Dinah não tinha me escutado pela empolgação que ela estava me arrastando.

Imaginava de início que demoraria até conseguirmos pegar um elevador pela quantidade de pessoas ali, mas outra vez para minha surpresa, os elevadores mais pareciam salas do que de fato elevadores, três saletas que subiam e desciam em velocidade considerável. Não consegui ver de início qual o número do andar que Dinah tinha marcado, mas já no quinto andar só havia ela e eu.

- Você tem certeza que estamos indo para o lugar certo? – Perguntei um pouco apreensiva pela hipótese de estar indo para o lugar errado.

- Absoluta, estava na minha ficha de acesso. – Disse resoluta de si.

Concordei em um aceno pensando que também deveria ter visto minha ficha de acesso antes de deixar a garota alta me arrastar, mas que mal teria certo?

No vigésimo sétimo andar o elevador parou, fazendo Dinah se desencostar da parede e caminhar para as portas já abertas, fiz o mesmo me deparando em um longo e largo corredor com portas em ambos os lados, alguns vasos com flores e plantas estavam espalhados, enfeitando o lugar de paredes brancas e portas da mesma cor com maçanetas de cor dourada assim como uma faixa ondular de enfeite em todas elas, tornando-se um traço padrão. Andamos até a porta com o número trezentos e oitenta e oito talhado na mesma. Esperei até que minha recente colega pegasse as chaves e abrisse a porta, nos dando a visão de um ambiente totalmente organizado e confortável na primeira impressão. Entramos em uma sala grande com sofás em tom de cinza claro, uma enorme TV embutida na parede, uma mesinha de centro e abaixo da TV um raque baixo em um cinza mais escuro, no chão um tapete felpudo de cor branca e preto completava o cômodo. Tudo trazia uma sensação de tranquilidade e lar. Logo atrás dos sofás estendia-se uma pequena sala de jantar com uma mesa, a cozinha ficava a sua frente sendo separada por um balcão em L. Enquanto eu admirava o que seria minha nova casa, pude notar Dinah andando de um lado para o outro parecendo uma criança solta no parque.

- Camila, venha até aqui! Você precisa ver isso. – Fui de encontro a sua voz animada, voltando para sala e indo para porta de vidro que dava acesso a enorme varanda. – Isto aqui é lindo, é mais que lindo...

Deparei-me com o que ela dizia e perdi o ar com a visão maravilhosa que eu pude ter, mesmo não entrando de fato na varanda, da entrada eu podia ser contemplada com a imensidão de Cosmornorth e sua beleza, a natureza, e o sol ao topo brilhando, dando mais vida ao cenário. Sentia-me mais uma vez abraçada por aquela energia, e pela primeira vez me senti que talvez eu realmente estivesse no lugar certo, no meio de toda aquela imagem de calçadas de pedras que agora pareciam mais como pequenas ruas que levavam aos colossais prédios, arenas e pátios. Queria ter mais um pouquinho de tempo para poder conhecer mesmo de longe o lugar que eu estava, mas minha energética colega me arrastava mais uma vez para algum canto do apartamento.

- Quero conhecer nossos quartos, temos todo o tempo do mundo para morrermos com essa vista maravilhosa depois.

- Não podemos morrer mais um pouquinho com a vista e depois conhecermos nossos quartos? – Perguntei em expectativa?

- Se você quiser perder a oportunidade de discutir quem ficará com o melhor quarto, então tudo bem, pode ficar lá na varanda. – Respondeu toda cheia de si. – Não fará diferença, de qualquer modo ficarei com o melhor.

- Isso é o que vamos ver Dinah Jane. – Falei rindo sendo acompanhada por sua risada alta.

No final de contas os dois quartos eram iguais exceto pela as cores das paredes que se diferenciavam e de alguma forma nossas coisas já se encontravam em cada cômodo, como se a pessoa que os planejou já soubesse em qual quarto ficaríamos. Sendo eu ficando com o primeiro e Dinah com o segundo. No corredor que nos levava aos quartos havia mais duas portas, uma sendo um espaçoso banheiro e outra uma sala com poucos móveis, quase vazia.

No momento estávamos de volta à sala sentadas no sofá, no caso, eu estava sentada no sofá e Dinah no tapete. Parecíamos estar penetradas em nossas mentes, mas eu decidi não me perder em meus pensamentos escuros e cheios de perguntas sem respostas. Passei observar a garota em minha frente, sentada com as pernas cruzadas e com os olhos focados, reflexiva, seu cabelo de mexas loiras caia suavemente sobre seus ombros, enquanto as mexas mais compridas sumiam em suas costas, ela era uma garota bonita e aparentemente energética pela forma que me arrastava toda vez que ficava animada com algo.

- Devo me preocupar pela forma que você está me encarando? – Sua voz brincalhona me fez perceber que eu devia estar a olhando que nem uma pateta.

- Não estava te encarando. – Tentei desconversar, negando o óbvio.

- Vou fingir que acredito e você pode me contar o que aconteceu no pátio. – Fiquei apreensiva com sua proposta, pensei que ela tinha entendido que eu não queria falar sobre, mas pelo jeito Dinah também parecia ser curiosa. – Ou se quiser podemos falar de outra coisa, nos conhecermos melhor, afinal tudo indica que moraremos juntas por quatro anos, bom convívio parece uma ideia ótima para início.

Olhei para todos os cantos da sala, absorvendo suas palavras e tentando colocar em minha cabeça bagunçada que ali seria meu novo lar por alguma causa do destino e universo, e que com sorte teria como colega de quarto a garota que derrubei no chão. Coincidência? Talvez. Um lugar tão incrível e fantasioso como o que eu estava não me deixava mais acreditar tão veemente que acasos existiam, um pouco mais de duas horas fora do conforto de minha casa e na proteção de minha tia já me fizeram mudar algumas formas de pensar, não que o apartamento se mostrasse desconfortável, muito longe disso, até parecia um pouco demais, afinal, Christopher dissera mais de uma vez que teríamos dormitórios, não apartamentos extremamente confortáveis.

Dinah continuava me olhando com expectativa para uma resposta, já eu não queria entrar no tema que me deixava desconfortável e nem deixá-la chateada por recusar o primeiro passo para um bom convívio como ela tinha dito. Se de fato eu estava fadada a passar anos no local e na companhia da garota, cedo ou tarde ela saberia de meus surtos de inconsciência, eu não tinha controle, não sabia mais quando eles vinham e por quanto tempo me domariam. Mas não agora. Eu diria para ela, mas no momento queria conhecê-la melhor e me sentir acomodada, vai que ela me expulsasse por saber que tem uma pessoa quase fora de si convivendo com ela...

- Eu não tenho nada de muito interessante para dizer sobre mim. – Comecei sendo realista. – Sou só uma garota de dezesseis anos que mora com a tia em Miami, ou era, vendo por agora.

- Nenhum amigo sendo deixado para trás, ou namorado? – Ela perguntou curiosa, parecendo não aceitar que eu era a conclusão daquelas poucas palavras, e eu negando e me divertindo pela sua cara. – Ok, só vou acreditar porque minha vida não é nem um conto divertido de uma adolescente aventureira. Agora me conte como é Miami, sempre tive vontade de conhecer...

 

Conversar com Dinah por incrível que pareça não foi difícil, aos poucos fui me soltando e os assuntos passaram a fluir como se nos conhecêssemos a um bom tempo. Ela falava sempre com um tipo de confiança, e divertimento. Em algum momento saímos de onde estávamos e voltamos para varanda, nunca deixando de conversar e nos conhecermos um pouco mais, e sem notarmos acabamos perdendo o pequeno tour que teríamos para conhecer melhor Cosmornorth, o meio do dia se transformou em final de tarde, a conversa simples que seria um passo para nos conhecermos, revelou sem que nenhuma de nós percebêssemos no momento que ali nascia o início de uma grande amizade, que nada em Cosmornorth era coincidência e que uma pequena esbarrada poderia ser mais do que aparentava. E em algum canto, em um dos jardins no térreo perto do terceiro edifício, uma pessoa também deixou de ir conhecer o local, preferiu ficar encostada em uma das estátuas de anjo olhando para cima, olhando para o que passou a lhe atrair desde que chegou a mini cidade, sentindo uma energia que mesmo que muito fraca pulsava e a puxava. Eu sentia a impressão de estar sendo observada, sentia um pequeno formigamento em meu corpo, não os que precediam as minhas dores, era de outra forma, da qual nunca senti e não poderia explicar, mas não me incomodavam, eu preferia continuar apoiada ao apoio que me separava de uma queda e olhar para Dinah, dando risada de suas histórias. Pois se por algum momento eu tivesse desviado meu olhar para algum ponto abaixo, eu teria visto atentos olhos verdes me fitando, me analisando em um contraste perfeito de frustração.



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