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História A história de nós dois - O tudo e o nada


Escrita por: CaliVillas

Capítulo 16 - O tudo e o nada


Quando a luz do amanhecer daquele domingo entrou através janela da sala, dando cores diferentes a desordem do lugar já tão conhecido, e encontrou as roupas espalhadas e esquecidas pelo chão, Nina e Gabriel deitados, enroscados, pernas e braços se confundindo, no aconchego do sofá, entorpecidos pela felicidade de estarem tão próximo após aquele momento de entrega, sem se importarem com a posição incomoda no improvisado e apertado leito, só queriam ficar assim, juntos e fortes, esquecidos do mundo exterior, como se nunca pudessem ser atingidos por mal nenhum, depois daquela noite especial, não querendo se abandonar ao sono, que já pesava os olhos.

- Eu queria que essa noite nunca acabasse, que pudéssemos ficar assim para sempre. Eu tenho medo do amanhã – Nina desejou, aconchegada na curva do braço de Gabriel, passou, suavemente, a mão sobre o peito dele liso, enquanto ele lhe afagava os cabelos.

- Não precisa acabar, não temos o que temer, porque podemos ficar juntos, nada nos impede – ele afirmou, sem dúvidas, olhando direto para os olhos delas, ele estava seguro.

- Mas teremos que enfrentar os nossos pais e, ainda, tem Lia – Nina não tinha tanta certeza, não queria confrontar com a realidade que surgia junto com a claridade do dia, enquanto os sonhos se escondiam, assustados.

- Não precisamos enfrentar ninguém, não estamos fazendo nada de errado. Essa história de irmãos foi uma invenção deles, somos tão parentes quanto o meu pai e sua mãe – Gabriel ponderou.

- E a Lia? Ela é minha amiga e gosta muito de você. Ela nunca entenderia o que fizemos – Nina considerou com pesar, com medo da reação da sua melhor amiga.

- Não há nada sério entre mim e ela, era apenas um namorinho inconsequente, uma forma de ficar mais perto de você.

- Ela vai ficar zangada com nós dois – ela previu.

- Se você concordar, podemos representar uma mentira por algum tempo, eu termino com ela e esperamos alguns dias, antes de mostrar que estamos juntos. O que você acha?

- Acho que pode ser a solução, mas ninguém pode saber, nem nossos pais.

- Combinado, ninguém poderá saber. Será o nosso segredo – Gabriel declarou. – Sendo assim, vamos selar o nosso pacto – disse, inclinando-se para beijá-la, mais uma vez.

Amanhã já ia longe, quando, finalmente, foram vencidos pelo cansaço da noite. Adormecidos no fim da manhã, acordaram, no quarto, com o som do telefone de Gabriel, tocando insistentemente. Sonolento, ele esticou o braço para alcançá-lo, leu o nome de Lia na tela, encarou Nina, sem ação, os dois se sentiam culpados de traição.

- Não atenda, ela deve estar querendo falar sobre a festa – pediu Nina e Gabriel recusou a chamada. Mas, logo em seguida, o telefone soa novamente, Lia persiste, mais uma e duas vezes, depois se cala. Em seguida, é o telefone de Nina que toca, mais uma vez, é Lia, os dois se entreolham, considerando que o motivo pode ser outro e, desta vez, ela atende, com o coração pesado, ouve o choro do outro lado. – Lia! – exclamou, preocupada.

- Nina! – A voz dela sai embargada, quase um grunhido

- O que houve, Lia? – Nina questiona, exaltada.

- Onde está, Gabriel? – Ela funga ao telefone.

- Acho que deve estar dormindo – mentiu, olhando para ele, angustiada. - Por que? Aconteceu alguma coisa?

- Eu estou tentando falar com ele há tempão, mas ele não atende.

- Ele chegou tarde, deve estar ferrado o sono. Mas, afinal, o que está acontecendo, Lia? – Nina insiste na mentira, com um péssimo pressentimento do que iria ouvir.

- Nina, minha mãe morreu. Ela se matou! – Lia informa e cai em um choro compulsivo.

 

No táxi, indo para a casa de Lia, estavam Nina e Gabriel, encarando o vazio à sua frente, ao som do noticiário vespertino do rádio, enquanto a cidade passava rapidamente pelas janelas. Gabriel estendeu o braço e segura, com firmeza, a mão de Nina sobre o banco do veículo.

- Gabriel, me prometa que não vai deixar Lia saber de nada sobre nós dois, por enquanto – Nina suplicou e ele concordou com a cabeça.

 

Na sala do seu apartamento bastante desorganizada, com tudo fora do lugar, os resquícios da festa do dia anterior, Lia estava sentada no sofá, reta e apática com o olhar perdido em algum tempo que não era esse, enquanto a sua volta o mundo se movia aleatório a sua vontade e com certa lentidão e descontrole. Parentes, vizinhos, amigos circulavam ao redor, não sabiam exatamente o que fazer, alguns queriam ser úteis, outros só querendo alimentar a sua curiosidade mórbida, de vez em quando, alguém se aproximava com uma palavra de consolo ou um gesto de carinho que não encontrava resposta. No momento em que Nina e Gabriel chegaram, Lia estava ali sentada, frágil, pálida e esquecida no mesmo lugar, ela apenas levantou os olhos para eles, que sem falar nada, posicionaram-se cada um de um lado e seguram suas mãos. Ficaram ali parados, vendo a vida continuar um tanto desordenada a sua volta, sabendo que nada que dissessem ajudaria nessa hora.

- Ela tomou veneno para rato – Lia começou a contar em voz baixa, quase sussurrando, após algum tempo. – Ninguém sabe como ela conseguiu. Mas, ela já tinha tudo planejado, ficou boa nisso, foi a terceira vez.

- Nós lamentamos muito, Lia – sussurrou Nina, comovida, mas a garota parecia não escutar, apertando a mão da amiga com gentileza.

- Ela e meu pai estavam se preparando para dormir, ela se levantou e foi para o banheiro, depois voltou para cama, meu pai não notou nada – Lia continuou um tom monótono e baixo. -  Ele acordou com minha mãe passando mal, vomitando sangue e a levou para o hospital, mas não puderam fazer mais nada.

Lia não conseguia segurar as lágrimas que molhavam sua face, Gabriel a abraçou e ela desabou, chorando compulsivamente, o rosto afundando no seu peito e fortes soluços faziam todo seu corpo sacudir violentamente.

Daí para frente, os fatos aconteceram como em uma peça de teatro, onde os três jovens assistiam toda a trama se desenrolar como meros espectadores, sem poder interferir ou falar nada, só esperavam.

Em certo momento, uma das tias de Lia se aproximou, inclinando-se na direção dela.

- Lia, venha para casa conosco, você poderá descansar um pouco – ela falou com a voz branda.

- Não! Eu quero ficar – murmurou, sacudindo a cabeça em negativa.

- Será pior assim, você precisa comer e descansar um pouco – a tia insistiu, cheia de boas intenções, mas, de olhos fechados, Lia só sacudia a cabeça, recusando.

- Venha para casa conosco – sugeriu Nina, Lia a olhou, perplexa. – Ficaremos juntos, você poderá descansar um pouco.

- Isso – corroborou a tia. – Então, vá com seus amigos e descanse um pouco, não adiantará nada ficar aqui.

Assim, Lia foi conduzida para fora de sua casa, para dentro de um táxi e entrou na casa de Nina e Gabriel, sem resistência, totalmente anestesiada.

- Você quer comer alguma coisa, Lia? – Nina perguntou, ela balançou a cabeça em negativa.

- Seria bom dormir um pouco – Gabriel a aconselhou e levou para o quarto de Nina, deitando-a na cama igual faria com uma criança.

- Gabriel, fique comigo – Lia pediu com a voz débil, ele olhou de soslaio para Nina, como se pedisse aprovação e ela assentiu com a cabeça. Então, ele se aconchegou ao lado dela e a abraçou, enquanto Nina saía do quarto, o deixando na penumbra.

Nina foi para a cozinha, fez alguns sanduíches, apesar de estar quase sem fome, mais para se ocupar, sentou-se à mesa e começou a comer sem muito entusiasmo, quando Gabriel surgiu.

- Ela está dormindo agora – comunicou, ocupando o lugar à frente dela, pegando um dos sanduiches.

- Ela está muito triste, nem posso imaginar como deve ser ruim, a mãe se matar assim dessa maneira. O que leva uma pessoa querer acabar com a vida?

- A mãe dela era doente, sofria de depressão, não foi a primeira vez que tentou se matar.

- Tenho medo se essa doença possa passar de mãe para filha - confessou Nina. – Lia está arrasada. Desde pequena, ela e a mãe ficavam sozinhas naquele apartamento, quase o tempo todo, pois seu pai estava sempre ausente. Sei que Lia se sentia um tanto responsável por cuidar da mãe, deve estar achando que é culpada pela morte da dela.

- E o que vamos fazer agora, Nina?

- Esperar, porque ela não pode saber nada sobre nós dois, ainda. Isso só iria piorar a situação dela – Nina pediu, estendendo a mão sobre a mesa, Gabriel a segurou com carinho, trocaram sorrisos tristes de cumplicidade.

 



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