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História A História Secreta - Camren - Nibil sub sole novum


Escrita por: amoorcita

Capítulo 58 - Nibil sub sole novum


- E onde está Dakota na manhã de hoje? -, Vanessa perguntou quando abrimos os livros de gramática.


- Em casa, suponho -, Lauren disse. Ela chegara atrasada, impedindo que conversássemos todos antes da aula. Parecia mais calma, descansada, mais do que seria direito.


Os outros mostravam-se surpreendentemente calmos também. Até Robin a Charlie, bem vestidas, comportavam-se com a despreocupação de antigamente. Christian sentou-se entre as duas, o cotovelo apoiado de modo negligente sobre a mesa, segurando o queixo com a mão, tranquilo demais.


Vanessa franziu a testa para Lauren. 


- Ela está doente?


- Não sei. 


- O tempo ruim pode ter feito com que se atrasasse um pouco. Talvez seja melhor esperar alguns minutos.


- Acho uma boa ideia -, Lauren disse, retornando ao livro.


Após a aula, assim que nos afastamos do Lyceum e nos aproximamos do bosque de bétulas, Lauren olhou em volta para se certificar de que ninguém nos poderia ouvir; aproximando-nos todos para escutá-la, mas naquele exato momento, reunidos em círculo, soltando nuvens brancas quando respirávamos, ouvi alguém chamar meu nome e, ao longe, vi o dr. Pearlman, avançando com dificuldade na neve como um cadáver ambulante. 


Afastei-me do grupo e fui encontrá-lo. Ele respirava com dificuldade, tossia muito e pigarreava. Disse que precisava me mostrar uma coisa em sua sala.


Nada me restava a fazer exceto acompanhá-lo, ajustando meu passo sob a sua lentidão pesada. Lá dentro ele parou várias vezes na escada, reclamando da sujeira que o zelador não removera, chutando debilmente o lixo espalhado. Segurou-me por uma hora. Quando escapei, finalmente, os ouvidos doloridos e um punhado de papéis soltos que tentavam escapar das mãos por causa do vento, o bosque de bétulas estava vazio.


Não sei o que esperava, mas o mundo seguramente não sairá de órbita da noite para o dia. As pessoas corriam de um lado para o outro, a caminho da aula, tudo transcorria como de costume. O céu estava cinzento, e um vento gelado soprava do monte Cataract.


Comprei um milkshake na lanchonete e voltei para o meu dormitório. Atravessava o corredor, a caminho do quarto, quando esbarrei em Ariana Grande.


Ela me encarou. Enfrentava uma ressaca brava, a julgar pelas olheiras profundas.


- Oi, tudo bem? -, falei, desviando o corpo. - Desculpe.


- Espere -, ela disse.


Dei meia-volta.


- Quer dizer que você dormiu com alguma garota essa noite? 


Por um segundo, não entendi o que ela estava dizendo. 


- Como?


- E então? -, ela perguntou, maliciosa. - Quem era ela? Foi bom?


Surpresa, dei de ombros e recomecei a andar pelo corredor. Isso não era da conta dela. Mas para meu aborrecimento, ela me seguiu e segurou meu braço.


- O dormitório inteiro ouviu vocês duas hoje cedo. -, ela disse.


- Não me importo.


- Pois deveria. Ano passado pegaram duas garotas se beijando e esculacharam elas em público. Sabe, estamos na faculdade e todo o mais, temos que experimentar sim as coisas mas não podemos deixar os demais saberem, nem todo mundo é a favor.


A olhei de esguelha e de tão ofendida, puxei meu braço com força e segui meu caminho ignorando seus chamados.


Pouco antes de acordar, tive um sonho terrível.


Estava num banheiro antigo, enorme, como aqueles dos filmes de Zsa Zsa Gabor, com torneiras e espelhos dourados, revestimento cor-de-rosa no piso e nas paredes. Um aquário redondo, com peixinhos dourados, repousava num pedestal espiralado. Aproximei-me para olhá-lo, os passos ecoando nos ladrilhos, e notei de repente um ruído ritmado, plinc, plinc, plinc. A torneira pingava, na banheira.


A banheira também era cor-de-rosa. Estava cheia de água, e Dakota, inteiramente vestida, jazia imóvel no fundo. De olhos abertos e óculos tortos, tinha as pupilas de tamanhos diferentes. A água estava clara, parada. A ponta da gravata ondulava próxima à superfície.


Plinc, plinc, plinc. Não consegui me mexer. Então, subitamente, ouvi passos e vozes que se aproximavam. Aterrorizada, percebi que precisava ocultar o corpo em algum lugar mas não sabia onde. Mergulhei a mão na água gelada, segurei-a por debaixo do braço e tentei erguê-la, mas não consegui; a cabeça caía para trás, a boca aberta cheia de água...


Lutando para aguentar o peso, recuei e derrubei o aquário do pedestal, quebrando-o. Havia peixes dourados em volta dos meus pés, entre os cacos de vidro. Alguém bateu na porta. Apavorada, larguei o corpo, que caiu novamente na banheira com estardalhaço, esparramando água para fora, e acordei.


Escurecia. Senti meu peito batendo forte, irregular, como se um pássaro imenso estivesse preso no tórax, debatendo-se até a morte. Ofegando, continuei deitada na cama.


Quando o pior passou, sentei-me. Tremia por inteira, banhada de suor. Longas sombras, longa noite de pesadelo. Via meninos brincando na neve lá fora, meras silhuetas contra o céu medonho, cor de salmão. Seus gritos e risadas, ao longe, pareciam insanos. Esfreguei as mãos nos olhos com força. Pontos leitosos, estrelinhas luminosas. Aí, meu Deus, pensei.



Cara pálida no ladrilho frio. O ronco e o rugido da descarga era tão alto, imaginei que me engoliria. Foi igual a todas as vezes em que passei mal, a todos os acessos de vômito por bebedeira que sofri em banheiros de postos de gasolina e bares. Visões de detalhes insignificantes: pequenos botões na base do vaso sanitário, que a gente nunca nota em outras ocasiões; louça suja, zumbido nos canos, o longo gorgolejar da água descendo em espiral.


Enquanto lavava o rosto, comecei a chorar. As lágrimas se misturavam com facilidade à água fria, no arroxeado luminoso de meus dedos em concha, e no início nem notei que chorava. Os soluços eram regulares, desprovidos de emoção, automáticos como os ataques de náusea que haviam cessado finalmente. Não havia razão para as lágrimas, nada tinham a ver comigo. Ergui a cabeça e olhei para meu reflexo choroso no espelho com interesse distante. O que isso significa?, pensei. Minha aparência era terrível. Nenhum dos outros perdera a compostura; todavia, lá estava eu, tremendo e vendo morcegos como Ray Milland em The lost weekend.


Um vento frio soprava pela janela. Abalada, não conseguira me refrescar. Resolvi tomar um banho quente, jogando um punhado dos sais de banho da Ariana na banheira. Quando saí e vesti a roupa, já me sentia melhor.


Nibil sub sole novum, pensei ao percorrer o corredor de volta ao meu quarto. Qualquer ação, no tempo infinito, reduz-se a nada.


                                 


Notas Finais


Esse capítulo foi curto? Foi.
Mas foi porque nele descreve bem como está sendo para a Camila depois de ajudar a matar a Dakota.


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