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História A Lei do Casamento - Dramione - Capítulo 22


Escrita por: Silver-Shades

Notas do Autor


Bom dia, amores! Capítulo novoooo!
Já agradeci no insta, mas agradeço de novo: muito obrigada a todos que favoritaram e comentaram. Chegamos aos 300 favoritos e eu tô muito feliz, assim como a fic tá no ranking das mais votadas do spirit. Eu me emocionei muito quando vi.

Um agradecimento para todo mundo que comentou no último capítulo: @atenaizauchiha, @Amandinha_MO, @Molin, @kia_hatake, @julianavieiram, @Marangelsantos, @val2030, @IRLOUREIRO, @SweetSnowWhite, @Flamelissa, @Tais6d, @cobra_platinada80, @Maia1373, @MaluLibanio, @Zurii, @IPotter2020, @Laom, @Vivisoldi, @MayzaRodrigues, @gabs95, @JuliaRN24, @Jessssy, @camilagomes94, @sailorbi, @hjjgujki, @PrinsHel

Boa leitura! <3

Capítulo 23 - Capítulo 22


Draco acordou com os braços ao redor do corpo de Hermione. A bruxa dormia profundamente, sua respiração calma e serena, enquanto ele despertava de uma noite de sono razoavelmente tranquila. Alguns sonhos estranhos ocuparam sua mente durante a madrugada, fazendo-o acordar várias vezes com o peito apertado.

Em um deles, Draco vira uma criança loira, praticamente uma cópia sua, correndo por um gramado. Em outro, Hermione chorava e estava distante dele. Havia aqueles em que sua mulher estava com uma protuberância na barriga, evidenciando uma gravidez, e nesses momentos ele acordava com a mão espalmada no abdômen plano dela.

Sonhos estranhos e perturbadores, ele pensou.

Draco decidiu se desvencilhar da mulher e olhar para o teto, refletindo sobre sua situação. Não havia dúvidas de que os dois precisavam conversar. Falar sobre tudo, até mesmo sobre as situações mais atormentadoras. O relacionamento chegou a um nível delicado, o qual ele sentia que poderia tomar duas direções diferentes: eles acertariam as pendências ou ficaria explícito que o Ministério errou; Draco e Hermione jamais funcionariam como um casal.

Não iria mentir que o pensamento embrulhava seu estômago. Realmente queria que as coisas dessem certo com Hermione, mas era como se um tsunami começasse a se formar entre os dois, pronto para engoli-los. Uma linha frágil os ligava nesse momento, pronta para estourar.

Mas ele não queria isso. Queria que ficassem juntos e passassem por tudo juntos.

Quando Hermione lhe pediu para sair de seu quarto ontem e depois fora almoçar com Pansy, o que soube por Dipsy, ele resolveu passar o tempo analisando a situação deles, na companhia de uma garrafa de whisky de fogo. Havia muitas questões em aberto, coisas que ela não sabia sobre ele e vice-versa, e expectativas mal resolvidas. Também havia Theo. Foi só quando a bebida estava na metade que assumiu para si mesmo que sentia medo. E ciúmes. Tinha medo de perder Hermione para seu amigo mais antigo, por isso não conseguia conversar com ele, nem mesmo olhar para o homem. Só que ela jamais deixaria de trabalhar com Theo, muito menos de ser amiga. Hermione tinha um coração bom demais para seu próprio bem. Bendita Grifinória.

Estava óbvio que precisavam sentar e colocar todas as cartas na mesa. Até queria pedir para que ela ficasse em casa hoje, com ele, e assim poderiam conversar. Mas qual era a chance de Hermione Granger faltar ao trabalho? Nem se estivesse doente.

Draco sorriu com a observação silenciosa e olhou para sua mulher ainda adormecida. Seus cachos castanhos estavam espalhados no travesseiro, o corpo, subindo e descendo lentamente no ritmo da respiração. O lençol branco abraçava seus quadris, deixando a blusa lilás do pijama à mostra. Ele tentou se conter, mas quando percebeu, já estava aninhado com ela novamente, os dedos longos e pálidos fazendo uma carícia em seu braço que estava apoiado no colchão e o rosto enterrado em seu cabelo, inalando seu cheiro de jasmim que ele tanto amava.

Colocou um beijo no ombro dela e fechou os olhos, deixando seus pensamentos ocuparem sua mente, mais uma vez. Não devia, apesar, porque tudo o que podia pensar era o dia no qual Dipsy aparecera no escritório, em prantos, enquanto ele conversava com Narcisa. Seu coração quase parou quando descobriu que Hermione estava ferida, mas nada se comparava ao sentimento que irradiou seu peito quando soube que ela estava grávida, mas que tinha abortado. Ele queria consolar a mulher e quebrar o hospital com chutes, ao mesmo tempo. A sensação que tinha era que nada que fazia era digno, além de seu trabalho.

Tudo o que ele tocava e fazia estragava-se em pouco tempo; seu relacionamento com Pansy em Hogwarts. Seus amigos, que só o suportavam pelo nome que carregava. A missão suicida que recebera no sexto ano. Era questão de tempo até que algo em sua exportadora desse errado. Ele quase afastou sua mãe após a divulgação da lei. Demorara meses para conseguir ter uma conversa semi-civilizada com Hermione, e estava prestes a voltar à estaca zero, talvez para sempre.

Draco se sentia inútil todas as vezes? Sim. Era normal ficar frustrado com o fracasso, ainda mais ele, que tinha muitos acumulados.

Mas nada, nada, se comparava ao dia em que perdeu seu filho. O filho que nem sabia que existia. Não era por menos que havia confrontado Hermione sobre a gravidez, depois do Natal. Ele não conseguia nem pensar em passar pela situação de novo, por mais que a imagem de um bebê gorducho e loiro infiltrasse seus pensamentos e o atormentasse mais do que queria admitir. Suas palavras saíram mais duras do que o esperado, quando ele só queria navegar pelo terreno, saber mais sobre ela e o que queria. O resultado: uma semana longe da esposa. Tudo que Draco Malfoy toca, estraga. É apenas uma questão de tempo, realmente.

Um suspiro interrompeu sua linha de pensamentos angustiante. Ele abriu os olhos e viu Hermione se mexendo em seus braços, despertando de seu sono.

━ O que você está fazendo? ━ ela murmurou, sonolenta. Draco franziu a testa em confusão e ergueu o pescoço do travesseiro, tentando notar alguma coisa diferente. Quando seus olhos passaram pelo corpo dela, entendeu automaticamente do que ela estava falando. Seus dedos, antes em seu braço, agora estavam em sua barriga novamente, fazendo círculos na pele por baixo da blusa do pijama. Seu coração errou as batidas com o entendimento e ele interrompeu o contato, sentindo falta do calor dela ao mesmo tempo.

━ Desculpe ━ ele falou com a voz rouca. Virou-se de costas novamente e cobriu os olhos com o braço, evitando contato visual.

━ O que você estava pensando? ━ ela perguntou.

━ Nada, Hermione ━ ele gemeu.

━ Draco… 

━ Não estava pensando em nada ━ respondeu com falsa convicção, depois de alguns segundos em silêncio. Ela não precisava saber. Não agora.

Ele ouviu o farfalhar do lençol, sabendo que Hermione o encarava nesse momento. 

━ Nós precisamos conversar… sobre tudo… ━ ela falou lentamente.

━ Eu sei ━ resmungou. ━ Mas você tem que trabalhar, certo? Não conseguiremos fazer isso hoje.

Hermione não respondeu, e a ansiedade por uma resposta o fez olhar para ela.

━ Hum… ━ Ele a viu morder o lábio. ━ Se eu ficar, podemos conversar?

━ Desde quando você falta ao trabalho?

Ela encolheu os ombros.

━ Posso mandar uma carta para Rose, avisando que tive um imprevisto. Todos os meus afazeres estão adiantados, de qualquer forma.

━ Faça isso, então. Dispy despacha para você. ━ Ela assentiu com a cabeça e se levantou em seguida, deixando-o na cama.

Por onde diabos eles iriam começar, dada a história conturbada que tinham?

E por que ele não conseguia controlar sua rispidez quando estava ansioso e estressado?

Draco passou os dedos pelos fios de cabelo, suspirou e levantou o tronco da cama, ficando na posição sentada, com as pernas levemente dobradas em sua frente. 

Eles deveriam conversar aqui mesmo? Seria bem mais confortável do que no escritório, parecendo uma discussão sobre negócios. Ele devia pedir a Dipsy que trouxesse um café da manhã para os dois?

Os passos de Hermione sinalizando que estava voltando para o quarto interromperam sua linha de raciocínio.

Era agora ou nunca.

━ Tudo certo? ━ ele perguntou, enquanto ela se sentava perto de suas pernas, e a viu assentir mais uma vez. Ela mastigava o lábio inferior, nervosa. Draco abriu as pernas e a puxou pelo pulso, para que se acomodasse no peito dele. Sem contato visual para não deixá-lo ainda mais nervoso, mas próximo o suficiente para tê-la em seus braços, enquanto davam um passo importante.

━ Conte-me sobre seu passado, Draco. Desde o início.

Enquanto avaliava a bruxa que estava de costas para ele, as palavras começaram a sair de sua boca como se estivesse sob Veritaserum:

━ Em Hogwarts, eu te odiava. Fui condicionado a te odiar. Tudo devido à sua herança familiar e quem eram seus amigos. Ser tão inteligente e ter a atenção de todos os professores me deixava ainda mais irritado.

Ele fez uma pausa e ouviu Hermione suspirar. Ela queria a história toda, não é? Não era algo bonito, realmente. 

Sem saber o que fazer com as mãos, ele colocou uma próxima do braço dela, traçando padrões circulares em sua pele.

━  Eu queria que as pessoas me dessem a mesma atenção. Como eu era um Malfoy, esperava que não fosse preciso querer que me notassem, seria algo natural. Mas não tinha como competir com você ━ ele riu nasalado ao final.

━ Os insultos vieram com muita facilidade. Seu cabelo, seus dentes, sua mania de leitura e seus amigos idiotas. A cada ano, minhas palavras ficavam mais rudes, seguindo meus sentimentos. Foi tão fácil te chamar de sangue-ruim, ensinamento exclusivo do meu pai, a propósito.

━ No terceiro ano, você quebrou meu nariz. Acho que nunca senti tanta dor em minha vida. Não pela fratura, Pomfrey curou em minutos, mas pelo meu ego. Você me socou, na frente dos meus amigos e dos seus, por uma razão pela qual você defendia ━ Bicuço ━ e eu fui humilhado. Ouvi inúmeras grosserias de meu pai naquelas férias, dizendo como fui fraco e indigno de ser um Malfoy por deixar uma escória como a amiga de Harry Potter me humilhar daquela forma.

“E então, chegamos ao quarto ano. Foi a primeira vez que notei você com outros olhos, enquanto estava lendo em um vagão de trem, sozinha. Me peguei pensando em você várias vezes, na verdade, depois da partida da Copa Mundial de Quadribol e o ocorrido com os Comensais no estádio. Eu tinha ficado… preocupado, e demorei muito tempo para descobrir o que tinha sentido. Em Hogwarts não foi diferente, fosse nos corredores ou nas salas de aula, eu estava te olhando, acompanhando. Mas os alunos das outras escolas chegaram para o Torneio Tribruxo, e eu finalmente ganhei a atenção que queria. Era um bom contador de histórias e conquistei vários alunos da Durmstrang com algumas falas pretensiosas sobre meu pai e o nome Malfoy. Krum era um bom cara, o que mais conversava comigo, e de repente, percebi que ele já não estava tão presente nas rodas de conversas da sonserina, a não ser durante as refeições. E então veio o Baile de Inverno, e eu não consegui tirar os olhos de você, mas também entendi porque Krum havia me deixado de lado; por sua causa.

Nesse momento, Hermione tentou se virar, pronta para falar alguma coisa, mas ele a abraçou com o braço que estava livre, mantendo-a no lugar. Só havia conseguido ser tão franco porque ela não estava interrompendo ou o fitando com seus olhos castanhos desconcertantes. Ele precisava manter sua linha de raciocínio.

━ Depois, por favor. ━ Draco murmurou antes de continuar: ━ As férias daquele ano estavam mais conturbadas do que as do ano anterior. Alguns boatos de que ele havia voltado rondavam pela Mansão, principalmente após as afirmações de Potter e a morte de Diggory, e eu desconfiava que meu pai estava envolvido, mesmo quando dizia o contrário. No quinto ano, senti-me tão importante trabalhando para a Umbridge que não medi esforços para desmascarar o que vocês estavam fazendo. Eu sabia que usavam a Sala Precisa para treinar feitiços, e hoje reconheço que meu fracasso foi a melhor coisa que poderia ter acontecido. Só que meu pai foi preso por causa de vocês e a maldita luta no Ministério, e nunca senti tanta raiva, porque… 

Draco parou e fechou os olhos. Essas memórias estavam enterradas em sua mente, mas ela precisava saber. Hermione tinha que conhecê-lo.

Provavelmente já sabendo onde queria chegar, ela pegou sua mão e entrelaçou seus dedos, e ele agradeceu internamente pelo contato.

━ Eu queria morrer naquele ano, depois do que me foi ordenado. Em que mundo Draco Malfoy poderia ser capaz de matar o maior bruxo que existia? ━ perguntou, retórico e com sarcasmo. ━ Vi minha mãe ser torturada, eu fui torturado, a pressão que senti era sufocante, e tudo o que eu queria era que acabasse logo. Quando Potter me acertou no banheiro, antes de Snape chegar, finalmente achei que era meu último suspiro. Estava aliviado por aquilo. Mas não era. ━ Seus olhos cinzas estavam marejados, mas ele engoliu em seco e segurou todas as lágrimas. Não iria chorar por causa de um maníaco morto e todo o sofrimento que ele trouxe para sua família.

━ Não voltei para Hogwarts durante a guerra, mas sabia o que estava acontecendo dentro do castelo; as torturas nos alunos, as maldades dos irmãos Carrow. A família Malfoy fazia parte do círculo íntimo dele, e meu pai achava que éramos deuses por isso. Até aquele dia que os sequestradores trouxeram vocês três. Eu sabia quem eram, nós passamos seis anos estudando juntos, não tinha como não reconhecê-los. Mas eu estava cansado. Cansado da guerra, do sofrimento, de tantas mortes ao meu redor. Qual era a pior coisa que poderia acontecer comigo caso vocês escapassem? Eu morreria, mas o sofrimento teria acabado para mim. Então neguei que era Potter. Mas… ━ Ele suspirou e abaixou a cabeça, encostando os lábios no ombro de Hermione e sentindo-a estremecer. ━ Mas ela te pegou ━ sussurrou. ━ E eu assisti, eu tive que assistir ela te torturando até que ficasse inconsciente. Ela estava tão absorta no que estava fazendo que não me notou chorar. Merlin, se tivesse percebido, talvez eu estivesse morto agora. E eu também sabia que deveria ter feito algo, impedido-a ou sei lá. 

━ Depois que vocês fugiram, ele veio até a Mansão. Meu pai se jogou aos pés daquele louco, pedindo perdão por nossa família. Mas como castigo, mandou-o escolher quem iria torturar. Belatrix torturou minha mãe ━ sua própria irmã ━ e meu pai me torturou. Crucio no início, porém não era o suficiente por ter deixado Potter fugir. Minha mãe ficou inconsciente por uma semana e nós dois ficamos presos nas masmorras por alguns dias, privados de luz, som e comida. Meu pai teve seu próprio castigo depois. Outro semi-morto pela mão do Lorde das Trevas. Eu não aguentava mais, Hermione ━ Draco sussurrou. Ambos ficaram em silêncio por alguns minutos. As memórias eram vívidas demais.

“Até o final da guerra, poucas coisas aconteceram. Ele nos manteve na Mansão, como se fosse um cativeiro, até a Batalha de Hogwarts, e eu fugi com minha mãe depois que Potter se declarou não-morto. Demorou menos de um mês para que os Aurores batessem em nossa porta e nos levassem para Azkaban. Sabíamos que era questão de tempo. O discurso de vocês no Wizengamot livrou minha mãe e eu da prisão, mas não meu pai, e ele morreu depois de um tempo”.

Draco respirou fundo como se um peso saísse de seus ombros. Poucas pessoas sabiam o que havia acontecido com ele durante os anos de Hogwarts e a guerra, mas sabia que Hermione entendia o que ele sentia. Talvez fosse por isso que fora tão fácil contar tudo a ela.

Depois de alguns minutos em silêncio, Hermione falou pela primeira vez, mas a pergunta era de longe a qual ele esperava que ela fizesse primeiro.

━ O que você fez durante a prisão domiciliar? ━ Suas mãos ainda estavam entrelaçadas e ele ainda acariciava seu braço.

━ Terminei o que meu pai não devia nem ter começado. Encerrei todos os investimentos questionáveis e doei todo o ouro para a reconstrução de Hogwarts e Hogsmeade, além do Beco Diagonal. Minha sentença tinha a duração de um ano, e quando fiquei livre, completei meus N.I.E.M.s a distância e abri a exportadora de poções. Não queria negócios em Londres, sabendo muito bem da reputação que tínhamos, então foquei na Itália, ao mesmo tempo que Blásio abriu sua vinícola. Minha amizade com ele, Pansy, Theo e Daphne acabou se fortalecendo, por mais que apenas o pai de Theo tenha sido um Comensal. Nós tínhamos muito em comum; os renegados pela sociedade, reclusos em suas mansões e heranças exorbitantes. Se a população bruxa soubesse que nenhum ouro do mundo pagaria tudo o que passamos… 

━ Eu sinto muito ━ Hermione murmurou. ━ E você gosta do que faz? Quero dizer, a exportadora de poções. 

━ Sim, muito. Antes do nosso casamento e toda a proposta da América aparecer, eu já pensava em expandir o negócio.

Mais alguns minutos de silêncio se passaram entre eles. Era confortável, sem dúvidas, mas ainda havia muito a conversar.

━ Você se arrepende? ━ ela perguntou em um sussurro.

━ Do que você está falando?

━ Nós. Eu. A lei.

Draco respirou fundo, organizando seus pensamentos. A verdade era que ele não sabia definir tudo o que sentira, mas precisava exteriorizar de alguma forma.

━ Não me arrependo ━ ele falou, firme. ━ Mas foram muitas emoções, não sei se gostaria de revivê-las. Fiquei muito perturbado quando o Profeta anunciou a lei. Eu estava trabalhando, analisando toda minha vivência e todo o preconceito imposto durante a infância, mas ainda não estava livre dele. Não é algo que você deleta da sua vida da noite para o dia. E eu também não queria me casar, mas seria obrigado a tal. Foi confuso e feio, para ser sincero. Não sei como minha mãe não me expulsou de casa devido ao meu comportamento.

━ Você queria que fosse outra pessoa?

━ Não queria me casar com ninguém, independente do sangue. Mas… ser você me deixou um pouco mais irritado. Por que pergunta?

━ Eu queria que tivesse sido Theo, no início ━ ela falou com sinceridade. Draco tentou ignorar a pontada em seu coração, porque sabia que eles precisavam falar tudo. Entretanto, a frase foi dolorosa. ━ Mas não me arrependo que tenha sido você, no final das contas.

Hermione se desvencilhou dos braços dele para se virar, ficando de frente para ele. Seus olhos castanhos estavam vermelhos, provavelmente devido a algumas lágrimas que escaparam durante sua história, mas ainda havia um brilho em seu rosto que o iluminava. Até aqui, ela não parecia odiá-lo.

━ Eu não menti quando disse que gostava de você e queria conhecê-lo melhor ━ ela falou. ━ Obrigada por se abrir comigo.

Draco assentiu.

━ O que você, Potter e Weasley fizeram naquele ano, antes da Batalha? Todos os jornais bruxos decretaram seu sumiço, e o Ministério ofereceu uma quantia exorbitante de galeões por suas cabeças.

Hermione franziu os lábios. A troca de assunto fora repentina, mas era hora dela contar para ele a parte da guerra que não sabia.

━ Você já ouviu falar sobre Horcruxes?

Ele estranhou o termo, mas se recordou de ter ouvido alguns boatos sobre a existência desse objeto. Só não fazia ideia do que significava.

Sua careta confusa deve ter sido o suficiente para Hermione entender sua falta de conhecimento no assunto, pois ela respirou fundo e começou a falar:

━ Uma Horcrux é um objeto das trevas. Pode ser qualquer objeto; um livro, um anel, uma taça. Mas o que as difere dos objetos comuns é a presença da parte da alma da pessoa que a criou.

Draco arregalou os olhos com a explicação.

━ Alma? Como se coloca um pedaço da alma dentro de um objeto?

━ Qual é a consequência de usar a maldição da morte, para um bruxo? ━ Hermione perguntou.

━ Acontece uma ruptura do núcleo mágico “puro”. É como se… ━ ele franziu a testa, o entendimento o atingindo. ━ É como se fragmentasse sua alma. Vocês estavam procurando horcruxes, então? Mas por quê?

━ Porque ele havia criado oito delas ━ a bruxa murmurou, sombria. Draco sabia de quem ela estava falando. ━ Enquanto não fossem destruídas, Voldemort jamais poderia ser morto. Nós fugimos após a morte de Scrimgeour e a queda do Ministério, procurando por todas elas na Grã-Bretanha.

━ E como acharam? Quais eram? ━ Draco perguntou, exasperado. Acreditava que nenhum membro do círculo íntimo do Lorde das Trevas sabia desse segredo, nem mesmo sua tia louca. Essas informações eram totalmente novas e queria saber o que acontecera.

━ Harry destruiu a primeira no nosso segundo ano, quando a Câmara Secreta fora aberta; era o diário de Tom Riddle, nome real de Voldemort. Dumbledore destruiu um anel, pertencente à Família Gaunt. A terceira horcrux era o medalhão da sonserina, que nós três roubamos da Umbridge quando nos infiltramos no Ministério, naquele ano, após sabermos que o que tínhamos era uma cópia falsa. Harry e Dumbledore a pegaram naquela noite, no nosso sexto ano, e tudo aconteceu… erm, na torre de astronomia. Depois, ficamos algum tempo sem ter ideia de qual era a próxima, e nesse ínterim, os sequestradores nos trouxeram até aqui.

Hermione fez uma pausa, e Draco notou algumas lágrimas se formando em seus olhos.

━ Eu também quis morrer naquele dia ━ ela sussurrou, a voz quase inexistente. Seu olhar desviou para seu braço, sua cicatriz, praticamente apagada, apenas finas linhas esbranquiçadas onde a pele cresceu adequadamente. Poções de cura, com toda certeza. Hermione passou o polegar por cima da pele e uma lágrima caiu bem ali. Draco segurou seu pulso levemente e a ouviu suspirar. Ela voltou seu olhar para ele e falou com um brilho nos olhos:

━ Não precisa escondê-la de mim. ━ O polegar de Hermione estava na pele inalterada do braço de Draco, onde a Marca Negra deveria estar. Ele a escondia com magia. ━ Finite Encantatem ━ sussurrou e o desenho apareceu, em cor mais clara do que no auge da guerra, mas ainda estava lá.

Draco engoliu em seco, sem saber o que fazer. Seu coração martelava no peito. Como a bruxa podia ser tão condescendente?

━ Quando… ela me questionou e torturou inúmeras vezes por causa da espada e o cofre, eu percebi que algo não fazia sentido ━ ela continuou. ━ Assim que Dobby nos resgatou e nos levou até uma casa segura, onde o irmão de Rony e sua mulher, Fleur, moravam, nós interrogamos o duende. Aparentemente, Belatrix guardava uma cópia da mesma espada em seu cofre, sem saber que era falsa, mas não justificava a ira dela. Então sabíamos. Uma horcrux estava escondida lá.

━ Vocês invadiram Gringotes? ━ Draco perguntou, totalmente pasmo.

━ Sim, e fugimos em cima de um dragão. ━ Ela conteve um sorriso ao lembrar da coragem e estupidez que tiveram. Foi suficiente para salvar suas vidas.

━ Qual era a Horcrux? 

━ A Taça da Lufa-lufa.

━ É impressão minha ou há um padrão de objetos pertencentes aos fundadores de Hogwarts?

━ Dez pontos para a Sonserina ━ Hermione falou. ━ A outra era o diadema de Rowena Ravenclaw, que estava escondida na Sala dos Objetos Perdidos.

━ Era por isso que vocês estavam lá? No dia da Batalha?

━ Sim. O fogo maldito a destruiu.

━ Assim como matou Crabbe ━ Draco falou com desgosto.

Hermione mordeu o lábio.

━ Sinto muito por ele.

━ Não sinta. Ele fez aquilo consigo mesmo, e quase nos matou no processo. Como as outras foram destruídas?

━ Veneno de Basilisco, que estava impregnado na espada, além das presas. Já deve imaginar que as conseguimos na Câmara Secreta. ━ Draco assentiu com a cabeça.

━ Você só citou seis até agora. E as outras duas?

━ Nagini e Harry ━ Hermione suspirou. ━ Neville matou a cobra com a espada e Voldemort tentou matar Harry na floresta, mas na verdade, apenas destruiu a Horcrux que estava dentro dele. Ela foi criada quando ele matou seus pais. Por isso Harry era o escolhido.

━ Porra ━ ele murmurou. Era demais. Como ela conseguiu suportar todo esse peso e responsabilidade?

Hermione sorriu fracamente para ele.

━ E depois?

━ Nós ficamos de luto. Perdemos inúmeros membros da Ordem naquele dia; Fred, Tonks, Lupin, Snape… Fora todos os alunos de Hogwarts e as famílias devastadas durante todo o período da guerra.

━ Espere um momento! ━ Draco interrompeu. ━ Snape era membro da ordem? Mas ele era um Comensal da Morte!

━ Ele estava do nosso lado. Na verdade, trocou de lado quando Voldemort matou a mãe de Harry.

━ Por que diabos ele se importaria com ela?

━ Snape estava apaixonado por Lílian desde seus onze anos.

━ Merlin… ━ Draco suspirou. ━ É muito para absorver.

━ Eu sei. Ele era infiltrado no círculo de Voldemort, mas nunca soubemos de verdade sobre a lealdade dele até sua morte, por mais que Dumbledore confiasse nele. Snape deu suas memórias para Harry, e então tudo foi descoberto. Foi nesse momento que ele percebeu que era uma Horcrux, mas eu já desconfiava, só não queria acreditar.

━ E então tudo aconteceu… 

━ Sim ━ Hermione fungou. ━ Alguns meses após a guerra, viramos celebridades, praticamente. Concedemos inúmeras entrevistas para todos os jornais possíveis, nós três fomos presenteados com uma Ordem de Merlin, um fundo milionário em nosso nome e uma fama que jamais vai nos abandonar, mesmo que queiramos. 

Um silêncio se estabeleceu entre eles. Draco sentia que havia mais na história pós-guerra. Onde estavam os pais de Hermione? 

Como se lesse seus pensamentos, ela sanou sua dúvida:

━ Você sabia que eu apaguei as memórias dos meus pais e os enviei para a Austrália? Era questão de tempo até os Comensais os encontrarem e torturá-los por respostas. Não podia arriscar perdê-los.

━ Não os encontrou?

━ Oh, sim, eu encontrei. Eles estão bem e felizes. Só não consegui restaurar suas memórias. Então os perdi da mesma forma que evitei fazer.

O olhar quebrado que Hermione tinha no rosto mexeu em algo dentro de Draco. Ele podia ver, com clareza, que era um assunto doloroso para ela, mas escolheu não deixá-lo no escuro. Sua mulher era muito corajosa, e tudo que podia sentir era orgulho por todas as coisas que ela havia enfrentado.

Draco a puxou para um abraço caloroso, colocando nele tudo o que não conseguia dizer com as palavras. As lágrimas dela molharam seu ombro, mas não importava. Ele jamais poderia entender a dor que ela sentia.

Mas Hermione tinha razão. Era questão de tempo até que os Comensais achassem seus pais.

━ Eles foram até sua casa ━ Draco murmurou em seu ouvido, não afrouxando o aperto em torno dela. ━ Eles teriam encontrado seus pais se não fosse por você, Hermione. Fez o que era certo, nunca duvide disso.

E então ela chorou mais, seus soluços estrangulados audíveis o suficiente. Ele levou uma mão até o cabelo dela, fornecendo toda a segurança que podia com seus toques.

Sinto muito. Me desculpe. Me perdoe. A culpa sempre foi minha.

Eles ficaram nessa posição por incontáveis minutos, o choro de Hermione diminuindo gradativamente. Ele estava grato por ela ter se acalmado, uma vez que se sentia impotente, sem saber como confortá-la.

Mesmo após tudo o que conversaram e desabafaram com o outro, ainda havia uma pergunta que coçava na ponta de sua língua. Uma que queria fazer há tempos, mas nunca conseguira pela falta de coragem. Ele não desejava trazer as emoções pertencentes a ela, mesmo que fosse necessário.

Mas ele precisava. Então arrancou o band-aid de uma vez.

━ Você é feliz? Aqui? Comigo? 

Hermione fungou e levantou o rosto, focando em seus olhos. Seu rosto estava vermelho e ele se conteve para não embalar as mãos em suas bochechas e interromper qualquer que fosse sua resposta. Era possível perceber um leve tremor nas mãos dela, e demorou um tempo para respondê-lo:

━ Eu gosto de morar aqui, apesar do passado. Gosto da companhia da sua mãe, e gosto de estar com você. Mas…  ━ ela engasgou com um soluço inoportuno ━, me sinto incompleta.

Ele fitou seu rosto, os olhos castanhos brilhando; ela estava segurando as lágrimas. Draco até podia se perguntar por quê ela não se sentia totalmente feliz, mas não precisava. Ele não era tão ingênuo.

A dor era sua também, mesmo que ninguém soubesse.

Levou sua mão até a bochecha dela, acariciando a pele sedosa de seu rosto, e tentou sorrir.

━ Nós perdemos um filho ━ ele sussurrou, e o som de sua voz foi como a ruptura de uma corda. As lágrimas de Hermione começaram a cair novamente, escorrendo por seu rosto e caindo no lençol e em sua calça. A visão foi o suficiente para deixá-lo tão emocionado quanto, mas ele não se preocupou em secar suas próprias lágrimas.

Draco se acomodou na cama e se deitou de costas, puxando Hermione e se agarrando a ela como uma tábua de salvação. Perdeu a conta de quantos minutos ficaram nessa posição, apenas sentindo o outro, deixando que as lágrimas lavassem a tristeza pela perda, ainda mais intensa em Hermione do que nele.

━ Eu… eu não… ━ ela soluçou. ━ Eu não sabia que estava grávida. Não… prestei atenção.

━ Não foi culpa sua, Hermione. ━ Ele segurou sua nuca, fazendo com que ela olhasse para ele. ━ Está tudo bem, amor. Não foi sua culpa.

Ela enterrou o rosto da curva do seu pescoço e chorou mais. Draco apenas deixou ela ter seu momento. Jamais poderia sentir o que ela estava sentindo, mas havia um peso em seu peito que ameaçava sufocá-lo. As lágrimas já embaçavam sua vista novamente, mas tentou segurá-las.

━ Nós mal conversávamos ━ Draco começou ━, eu estava tão distante que não prestei atenção por um minuto sequer, apenas para perceber o que estava acontecendo com você. Se eu tivesse… tivesse… ━ ele gaguejou, perdendo-se nas palavras ao mesmo tempo em que o tsunami em seu coração sugava todo o seu ar.

━ Não foi culpa sua, Draco. ━ Escutou Hermione murmurar, próxima de seu ouvido, e ele se deixou afogar. Suas lágrimas saiam em velocidade recorde, e agarrou ainda mais a esposa com os braços, procurando segurança no calor do seu corpo.

Eles perderam um filho.

E a dor era insuportável.

Draco buscou o corpo de Hermione com as mãos e a puxou para ficar sentada em seu colo. Ele levantou ao mesmo tempo, enredando suas mãos ásperas nos cachos dela, e colou seus lábios.

━ Me perdoe ━ murmurou na boca dela e a beijou mais uma vez. Suas emoções estavam em um redemoinho, como se sentisse todas elas ao mesmo tempo. A adoração pela mulher que tinha ultrapassava os limites de seu entendimento, e tudo o que ele queria fazer era sugar toda a tristeza dela. Era culpa dele. Culpa de seu orgulho. Culpa da sua arrogância. 

Naquele momento, Draco precisava sentir algo além do que o turbilhão de memórias entre eles lhe causava.

━ Me perdoa ━ repetiu e suas mãos se arrastaram até a barra da regata de Hermione. Ele puxou o tecido calmamente e colou seus corpos mais uma vez. Ela correspondia seus toques, retribuindo o beijo com tanta emoção quanto ele. Não era sensual, não havia luxúria entre eles como todas as outras vezes. Era quente, doloroso, mas ao mesmo tempo, um bálsamo. 

Era esmagador.

Peça por peça foi retirada por eles, antes que Draco se perdesse dentro dela. Ele queria fundir seus corpos e nunca mais se separar de Hermione. Não conseguiria ficar longe, não mais. Não depois de hoje. Depois de compartilhar sua dor com ela, de ter sido acolhido, de saber mais sobre sua esposa e chorar em seus braços.

Ninguém entendia a dor que compartilhavam.

Seus movimentos eram lentos. Ele podia sentir a pressão se construir em seu baixo abdômen. Uma pequena gota de suor escorria por sua clavícula, enquanto ele dava tudo de si para ela. Por ela.

━ Não me abandone, Hermione, por favor ━ ele implorou entre suspiros. Sua mente parecia embriagada. As palavras saiam com tamanha facilidade que não conseguia controlar. ━ Estou apaixonado por você. Não me abandone ━ sussurrou em seus lábios, e eles chegaram ao clímax juntos, praticamente em sincronia. Draco engoliu todos os suspiros de Hermione, sua mente em névoa após liberar dentro dela.

Ele não precisava de um momento de calma e sobriedade para saber o que tinha feito, mas não se arrependia. 

Draco a queria, e sabia que Hermione também o queria. Da maneira certa, agora.

Esse momento, sua bruxa em seus braços, suas respirações acalmando após o momento íntimo que tiveram, preenchido por mais emoções que ele podia entender, era o suficiente.

Tê-la, aqui com ele, era suficiente.

Era tudo o que ele precisava.


Notas Finais


Espero que esse capítulo tenha superado as expectativas de vocês, confesso que foi o mais difícil de escrever até agora. Tomara que tenha trazido a emoção que eu quis colocar nas palavras.
Enfim, a conversa deles! Já era hora, né?

O que acharam? Me contem tudo, tô curiosa!

Até sábado, a espera vai valer a pena...
Beijos <3

OBS: A @julia_abreu_ acabou de postar uma fic nova, com enredo original e muito cativante. Vão lá conferir o primeiro capítulo! <3


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