História A Lei do Casamento - Dramione - Capítulo 4

O resto da manhã e a tarde foram tranquilas. Hermione continuou suas anotações sobre os dados que ela e Theo recolheram na visita aos centauros. Como previsto, o grupo não era tão grande, porém não menos necessitado. Ronan, o antigo centauro que vivera em Hogwarts, era o novo líder do grupo após a morte de Firenze na Batalha Final. Ele apresentou os integrantes, informou onde viviam e falou sobre o medo que sentiam de serem atacados novamente. Alguns centauros ficaram ariscos com a visita, mas colaboraram com informações. Todos os suprimentos e poções que eles levaram se esgotaram rapidamente, e Theo prometeu conseguir mais para reserva.

Às cinco da tarde, Hermione estava finalizando seu expediente.

Hora da verdade.

Recolheu seus relatórios e os guardou em sua pasta. Pegou sua bolsa no cabide, trancou a sala e se dirigiu até o saguão principal, como tinha combinado mais cedo com Theo. Mal conseguia esconder o nervosismo que sentia, não sabendo o que esperar dessa primeira consulta inicial.

Theo não demorou a chegar, entrando praticamente no mesmo momento que ela. Ela o recebeu com um sorriso tenso, e ele pegou sua mão, tentando confortá-la.

— Vai ficar tudo bem, ok? É só uma consulta inicial — ele disse calmamente, acariciando os nós dos dedos de sua mão direita.

Hermione fechou os olhos por um momento, respirando fundo para acalmar as batidas de seu coração, e agradecendo silenciosamente à presença de uma pessoa que a entendia. Ela assentiu com a cabeça e recolheu a mão, acenando para seguirem até a ala designada.

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Sentada na sala de espera escolhida para as funcionárias do Ministério, ela esperava ser chamada. Viu de relance Lilá Brown e Alícia Spinnet conversando no corredor adjacente, e acenou com a cabeça em reconhecimento para as antigas colegas de Hogwarts. Merlin a protegesse para que ninguém viesse puxar assunto. Não sabia se conseguiria articular alguma frase que fizesse sentido.

Dez minutos se passaram e a porta da sala médica se abriu, revelando uma mulher um pouco mais velha que Hermione. Assim que passou por ela, cumprimentou-a com um aceno e foi embora. A curandeira parada na porta da sala chamou a atenção da bruxa.

━ Hermione Granger, queira me seguir, por favor.

Ela se levantou da cadeira, passou as mãos pelas vestes, e acomodou a bolsa no ombro, indo em direção à sala. A curandeira estava na casa dos cinquenta anos, e se sentou em sua cadeira, acenando para que Hermione se sentasse do outro lado da mesa. Cruzando as mãos no colo e respirando fundo mais uma vez, ela começou:

━ Boa tarde, curandeira. Como vai?

━ Muito bem, menina. Fique à vontade. Hoje iremos dar andamento à primeira fase da Lei do Casamento, como acredito que já saiba. ━ Hermione assentiu.

━ Primeiramente, irei te explicar passo a passo o que será pedido da senhorita, depois podemos conversar sobre suas eventuais dúvidas e receios. Então irei realizar uma consulta médica, e você vai me contar sobre seu histórico, para que eu possa anexar tudo no seu formulário. O questionário de personalidade que respondeu e entregou hoje à tarde também está aqui. Para finalizar, vamos às assinaturas, e a senhorita estará liberada. Concorda com o procedimento?

━ Concordo.

━ Vamos lá, então. Conheço sua fama da mulher mais inteligente da sua era e não duvido que tenha feito suas próprias pesquisas. Sabemos que essa Lei já existiu uma vez, e basicamente será da mesma forma, mas adaptamos a análise de compatibilidade com um novo feitiço combinado com runas, criado pelo Departamento de Mistérios, para dar maior porcentagem de sucesso entre os casais. A intenção é evitar o divórcio, mesmo que haja a geração de um ou mais herdeiros.

Suas suposições estavam corretas. Um novo feitiço estava envolvido na coisa toda. 

━ O foco principal do Ministério é a re-população bruxa, uma vez que o número de sobreviventes é menor, comparado ao número da Primeira Guerra. A ideia de parear puro-sangues e nascidos-trouxas surgiu com o objetivo de começar um processo de erradicação dos ideais puristas, e se Merlin permitir, evitar novos conflitos ou até mesmo o surgimento de um novo bruxo das trevas.

Um arrepio passou por Hermione só de ouvir a sugestão da curandeira.

━ Como já havia dito, hoje recolherei todas as suas informações e histórico, anexarei no questionário, assinado pela senhorita ao final da consulta. Todos os documentos serão combinados com os dos pretendentes puro-sangues, e então, o feitiço será colocado sobre os papéis, separando os casais que têm compatibilidade igual ou maior a 90%. Uma segunda análise será feita, indicando o melhor, então os formulários serão anexados juntos e o Ministério enviará uma carta para cada um. Esperamos que esse processo demore até três meses. Quanto à questão do relacionamento em si, o Ministério decidiu não se envolver demais, deixando que o casal escolha o que fazer. A única condição é que vocês dois morem juntos. A cerimônia oficial poderá ser feita aqui mesmo, fica a critério do casal, assim como convidar a família ou não. Caso queira, também podem dar uma festa ou comemoração, após finalizar a união mágica.

Hermione abriu a boca pela primeira vez desde que a curandeira começou a falar, interrompendo-a.

━ Me desculpe, a senhora disse união mágica? Além de estarmos submetidos a um casamento forçado, teremos que responder um ao outro, com compartilhamento de emoções e horários? ━ Ela estava se segurando para não ser rude, mas era demais.

━ Acalme-se, Srta. Granger. Quase isso ━ a curandeira respondeu. ━ Não, essa foi outra alteração feita. A união mágica só servirá para vincular os dois como um casal, e vale até a geração do herdeiro. Se for o desejo do casal, podem pedir o divórcio e a união será anulada. Há também um feitiço de rastreamento embutido, então caso um de vocês tente fugir, o Ministério poderá tomar as rédeas. Nenhum nível de sua privacidade será violado, e seu marido não terá nenhum controle mágico sobre você. Suas tarefas poderão ser realizadas normalmente. Podem comparecer ao trabalho, saírem juntos ou separados, até dormir em camas diferentes.

Hermione franziu os lábios, analisando a resposta da curandeira, não satisfeita pela situação no geral; no entanto, um pouco mais conformada. Pelo menos ela poderia seguir sua carreira, em vez de virar uma lady da sociedade puro-sangue, com a obrigação de anfitriar bailes e chás da tarde com lanchinhos para outras mulheres.

━ E quanto aos herd… filhos. Como funciona? ━ Hermione perguntou.

━ O casal terá um prazo de dois anos para a primeira gravidez, e não exigimos um limite, mas deverão ter, no mínimo, um filho por casal. Também não faremos distinção quanto ao sexo, mas sei que algumas famílias puro-sangues têm regras e até encantamentos para que o primeiro seja um filho homem, porém, caberá apenas a senhorita conversar com seu marido sobre isso. O Ministério dará todo o suporte necessário, caso não queira um médico particular para te acompanhar.

Hermione assentiu.

━ Acredito que, em um primeiro momento, seja isso. A senhorita tem mais alguma dúvida? Caso negativo, peço por favor que se sente na maca, e iremos começar sua avaliação médica.

Ela balançou a cabeça em negação, e se levantou, indo em direção à maca. A curandeira pegou um pergaminho com várias perguntas e uma pena branca.

━ Primeiramente, apenas confirme para mim, por favor. Seu nome é Hermione Jean Granger, 21 anos, trabalha como assistente da chefia do Departamento de Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas. É solteira, sem filhos e mora sozinha. Essas são as informações que estão no seu contrato de trabalho do Ministério, e automaticamente foram anexadas aqui.

━ Tudo correto ━ Hermione respondeu tranquilamente.

━ Ok, então. Quanto à sua saúde, algum caso de internação no St. Mungus ou hospital trouxa, cirurgias ou feitiços que deram errado?

Hermione respirou fundo antes de responder.

━ Aos cinco anos, fui operada no Royal London Hospital, o caso era apendicite e a cicatriz fica perto da minha cintura. Quanto às outras coisas… durante a guerra eu fui atacada por alguns feitiços, mas acredito que o mais invasivo tenha sido a Maldição Cruciatus. ━ Hermione suspirou. ━  Bela… Belatriz Lestrange me torturou com ela inúmeras vezes no mesmo dia, mas nunca notei nenhuma sequela.

A curandeira anotou todas as informações e se levantou para lançar um feitiço de diagnóstico na bruxa, a fim de buscar possíveis complicações. Alguns raios roxos e vermelhos saíram do corpo de Hermione, e a mulher anotou todos os resultados.

━ Seus níveis estão bons, sem danos em nenhum órgão, mas a senhorita possui um nível leve a moderado de ansiedade, que pode vir a piorar com essa situação. Nesse caso, posso prescrever algumas poções calmantes, mas ansiolíticos trouxas também funcionam, caso esteja mais confortável em usá-los. Não vejo nenhuma sequela da maldição, mas você possui uma cicatriz mágica próxima a costela. Se nunca sentiu nada nessa região até agora, acredito que seja apenas uma assinatura mágica que seu corpo absorveu, e há uma poção que a retirará. Algum gatilho, combate ou até ser atingida pelo mesmo feitiço pode te machucar futuramente, então é melhor prevenir, certo?

Hermione concordou. O feitiço fora lançado por Dolohov, durante a batalha no Departamento de Mistérios, quando estava no quinto ano. Ela se lembrava de ter ficado desacordada por um tempo, mas Madame Pomfrey nunca achou nenhum resquício em seu corpo.

━ Fora isso, acho que está tudo em ordem com seu histórico médico. Obrigada pelas informações. Há mais alguma coisa que queira me falar?

━ Não, acho que é apenas isso.

Hermione desceu da maca e voltou para a mesa, enquanto a curandeira continuava preenchendo os formulários.

Voltando para sua cadeira, ela estendeu todos os papéis para Hermione, juntamente com uma nova pena roxa para assiná-los.

━ Por favor, leia tudo e assine no final de cada página. Esses são os formulários que serão enviados logo após sua consulta, para a análise de compatibilidade.  ━ Hermione assentiu e conferiu os dados, assinou e os devolveu para a curandeira.

━ Se não há mais nada, encerramos por hoje. Aqui está sua receita das poções calmantes e a posologia. Novamente, a resposta virá apenas daqui dois ou três meses, mas estarei disponível a qualquer momento, caso queira conversar ou tiver alguma dúvida. Foi um prazer, Srta. Granger. Feche a porta ao sair, sim?

Hermione guardou o papel, levantou-se e estendeu a mão para cumprimentar a curandeira. Ao sair da sala e fechar a porta como pedido, o ar pareceu voltar aos seus pulmões e ela respirou fundo, armazenando todas as informações para mais tarde. Pelo menos, ela teria até três meses para se preparar e acostumar com a ideia de se casar, ter filhos, morar com um homem sem a garantia de que daria certo, e mudar sua vida totalmente.

Ela começou a andar sem rumo, tentando voltar para o saguão principal e voltar de flu para casa, quando trombou com alguém. Ela segurou os braços da pessoa para se firmar e não cair de bunda no chão, e logo murmurou um pedido de desculpas.

━ Não olha para onde anda? Qual é o seu problema? ━ Ela ouviu uma voz ácida e familiar. Torcendo para estar enganada, levantou os olhos, olhando para o homem à sua frente.

Draco Malfoy.

━ Ora, ora, se não é a sangue-ruim ━ ele zombou, olhando-a com nojo. ━ Da próxima vez, não encoste em mim, de jeito nenhum. Não quero ter que me desinfetar de sua sujeira ao voltar para casa. 

Hermione fechou os olhos e apertou a ponte do nariz, respirando fundo.

━ Não te vi, Malfoy. Se contente que não te tocaria de jeito nenhum, caso soubesse quem era. ━ Ela deu um passo ao lado para seguir seu caminho, mas Malfoy a seguiu, bloqueando a passagem.

━ Estava na consulta com a curandeira, falando sobre seu futuro casamento? Eu também estava. Ela anotou as inúmeras doenças de seu corpo no histórico médico para poupar os bruxos do nojo? Pelo menos, assim você seria pareada com o único que te aguentou esse tempo todo, o Weasley.

Hermione revirou os olhos, levantando as paredes emocionais para não deixar o cansaço transparecer para o homem.

━ Não que seja da sua conta. ━ Ela tentou desviar, novamente sem sucesso. ━ Deixe-me passar, Malfoy. Quero ir embora.

Antes mesmo que ele retrucasse, ouviram passos se aproximando, e eles se viraram para encontrar Theo Nott vindo em sua direção, com um olhar hostil.

━ Draco, deixe ela em paz! ━ ele avisou, estendendo a mão para a bruxa. ━ Venha, Hermione. Vamos embora. 

Ela conseguiu se desviar, pegando a mão de Theo e ajustando a bolsa em seu ombro. Mas Draco não perdeu a oportunidade de importuná-la pela última vez.

━ Ei, sangue-ruim. Até que você daria certo com o Theozinho aí. ━ Ele riu sarcasticamente antes de continuar: ━ Corrigindo o que eu disse, fora o Weasley, acho que ele é o único idiota o suficiente que conseguirá te aguentar, e ter filhos mestiços com você.

Theo deu o olhar mais gelado que conseguia para Draco, puxando a mão de Hermione em direção a saída, sem se dar ao favor de responder o insulto. Ele conseguia sentir a tensão emanando do corpo dela, a respiração curta, totalmente fora de si enquanto praticamente corria até o flu mais próximo.

Longe o suficiente da visão de Draco, que não havia os seguido até ali, se virou de frente para ela, colocando um cacho atrás da orelha, ainda segurando sua mão.

━ Você está bem?

━ Não, Theo! Nem um pouco bem. Como se não bastasse toda a pressão de hoje, ainda tive que escutar besteiras do Malfoy. Não esperaria nada diferente vindo dele, mas não significa que não tenha me atingido. 

Ela suspirou pesadamente, os olhos brilhando com lágrimas que não caíram.

━ Sinto muito por isso. Não achei que ele estaria aqui nesse horário. Quer ir para o Caldeirão, tomar alguma coisa? Pode te ajudar a relaxar, e se quiser conversar, sou todo ouvidos. 

Hermione ponderou o convite. Se fosse com ele, voltaria ainda mais cansada para a casa. Mas ir embora também não a agradava, e se imaginava tendo que fazer um chá, com algumas gotas de poção calmante, para conseguir ter uma noite de sono razoável.

━ Tudo bem, podemos ir. Mas apenas uma cerveja. Não pretendo ficar bêbada hoje.

Theo riu e entrou no flu, pegando um pouco do pó mágico. 

━ Te vejo em um instante então. 

As chamas verdes o levaram embora em um segundo, e Hermione entrou, captando o olhar de Malfoy a alguns metros de distância, sorrindo ironicamente. Ela suspirou, sabendo que ele vira a interação dela com seu amigo, e sem saber porquê, isso a incomodou demais. Jogando o pó na lareira, chamou pelo destino, logo sumindo com as chamas.

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O Caldeirão Furado estava lotado e ela teve dificuldade para enxergar Theo. Passando pelos bruxos, ela o avistou, sentado no bar e tomando uma caneca de cerveja amanteigada. Ela se aproximou e colocou sua bolsa sobre o balcão, sentando no banco alto e tomando um gole da cerveja que ele havia pedido para ela.

━ Obrigada, Theo.

━ Estou ao seu dispor, senhorita. Quer conversar sobre sua consulta? 

━ Se for para ser sincera, gostaria que você falasse primeiro. Se quiser, é claro.

━ Bom ━ Theo começou, olhando para ela. ━ Acredito que não tenha sido muito diferente da sua. O curandeiro me informou sobre toda a intenção da lei e tudo mais, me colocou na maca, perguntou meu histórico médico, e logo me deu os formulários para assinar. Foi bem tranquilo, na verdade. Nada muito além do que eu já havia imaginado. E você?

━ Sim, foi bem parecido mesmo. Mas, aparentemente, eu tenho um caso de leve a moderado de ansiedade e uma assinatura mágica de um feitiço que me atingiu no quinto ano. Ela me passou uma poção para o feitiço e me receitou poções calmantes ou remédios trouxas. ━ Ela revirou os olhos enquanto falava, mas sabia que teria que seguir as recomendações.

Theo arregalou os olhos com a declaração de Hermione, sem saber direito o que fazer.

━ Não se preocupe, não precisa dizer nada sobre isso ━ ela disse, encolhendo os ombros, antes que ele respondesse, tomando metade da caneca em um gole só. ━ Não é nada demais.

━ Ei, claro que não. É sua saúde, Hermione. ━ Colocou a mão em seu ombro, acariciando levemente. ━ Se precisar de mim para alguma coisa, me fale, está bem?

Hermione assentiu, e logo pediu outra caneca de cerveja amanteigada para ela, vendo a de Theo ainda cheia.

━ Já tem alguma ideia de uma futura pretendente que queira? ━ ela perguntou.

━ Bom, não vou mentir que ser pareado com você seria bem mais fácil, mas não vou criar nenhuma esperança. ━ Theo riu nervosamente, tirando um sorriso um pouco mais largo de Hermione.

━ Pois é, seria bem mais fácil, né? Já nos conhecemos, trabalhamos juntos e nos damos bem. Mas você tem razão, melhor não criarmos esperanças. ━ Ela tomou um gole da nova caneca de cerveja e colocou as mãos sobre o balcão, cutucando a cutícula da unha.

Trocando de assunto rapidamente, Hermione perguntou sobre o único que Theo não gostaria de falar:

━ Por que você estava nervoso hoje de manhã quando chegou na sala da chefe? Tive a impressão que não tinha nada a ver com formulários de contratação. ━ Arqueou a sobrancelha em questionamento.

━ Tem razão, não tinha a ver com os formulários, mas acho que já encontrei uma solução. Não precisa se preocupar. 

Ele sabia que não conseguiria mentir por muito tempo, mas também não tinha a intenção de jorrar a verdade sobre a mulher enquanto não tivesse a resposta de Narcisa.

━ Tem absoluta certeza de que não vai me contar? Tudo bem então.

━ Hermione, por favor. Prometo que te informarei sobre tudo quando chegar a hora. Não quero que se preocupe com mais nada. ━ Ele sorriu, tentando confortá-la.

━ Ok, então. ━ Assentiu, terminando rapidamente sua cerveja. ━ Acho que está na minha hora.

━ Hermione, por favor. Não precisa ficar assim. ━ Theo tentou impedi-la, mas sabia que seria em vão.

━ Acho que preciso ficar sozinha por um tempo. O dia foi bem cheio. ━ Ela colocou um pouco de dinheiro no balcão para cobrir sua parte e se despediu de Theo com um beijo na bochecha, indo rapidamente em direção ao flu.

Ele passou a mão pelo cabelo, bagunçando os fios. Estava em um dilema: não queria brigar ou mentir para Hermione, mas sabia que a verdade apenas a deixaria desesperada por uma solução, e havia uma chance de resolver tudo sem envolvê-la. Terminando sua bebida e colocando o dinheiro junto ao de Hermione, se levantou para ir à Mansão Nott. 

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Assim que Hermione chegou em casa, foi direto para um banho de banheira, com a intenção de relaxar os músculos antes de dormir. As informações do dia continuavam correndo por seus pensamentos, deixando-a cada vez mais estressada. Além da consulta e a mentira de Theo, que ela sentia ser leve (mas odiava ser enganada ou deixada de fora, principalmente de um projeto extremamente importante para sua carreira), as palavras de Malfoy ainda a atormentavam. 

Ela não o havia visto durante dois anos, e não sabia qual caminho ele tomara após a guerra. Mas com a interação de hoje, percebeu que ele ainda era aquela criança mimada e preconceituosa de Hogwarts. Há tanto tempo não escutava mais o insulto sobre seu sangue. Não que ela se deixasse levar por uma ofensa como essa, mas depois de tanto tempo, não era esperado que ficasse totalmente bem.

Theo tinha razão, se fossem pareados juntos, muitos problemas seriam eliminados. Mas não era justo com ela ou com ele que se agarrasse a essa ideia. Afinal, Theo não era o único puro-sangue disponível, seu encontro com Malfoy havia lembrado-a desse fato. O único pedido é que não fosse combinada com certo loiro, ou nenhum outro que tivesse ideais parecidos. Jamais seria capaz de passar por tudo isso sem sofrer. E entre colocar uma criança no meio disso ou ficar para sempre com a pessoa, entre brigas e infidelidades, ela não sabia qual situação era pior.

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Pouco antes de dormir, uma coruja real bateu na janela de seu quarto. Theo a abriu rapidamente, retirando a carta e oferecendo uma guloseima para a ave. Leu com alívio o que estava escrito:

Caro Theo,

Ficarei extremamente feliz em ajudá-lo com o projeto. Como havia dito no jantar, conte comigo. Sugiro que marquemos um chá para decidirmos os detalhes da doação. E antes que proteste, sei que ela permitirá que vocês avancem mais rápido. Convide a Srta. Granger, ficarei honrada em vê-la.

Espero seu contato.

Narcisa Malfoy.

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Após a primeira consulta com a curandeira sobre a Lei do Casamento, Hermione fez todo o possível para ocupar sua cabeça com o trabalho, tentando não se desesperar antes da hora. Theo estava tão ocupado quanto ela, correndo atrás de papeladas e novos suprimentos para os centauros.

A incógnita sobre o leve desespero de alguns dias atrás perdurava. Curiosa como sempre fora, o fato de Theo estar escondendo algo em parceria com a chefe, a deixara com a pulga atrás da orelha. A única coisa que a confortava era nenhum problema ter surgido até agora, o que poderia ser um sinal de que o projeto estava indo a todo vapor, sem nenhum empecilho no caminho.

Tirando-a de seus devaneios, uma batida soou na porta, revelando Theo logo em seguida. Ele não demorou a entrar e se sentar na cadeira em sua frente, cruzando as mãos na mesa. Já haviam criado certa intimidade em entrar no escritório do outro quando necessário, poupando os anúncios e formalidades dentro do ambiente de trabalho.

— Bom dia, Hermione! Como está? Lembra daquele assunto… os papéis que você me viu carregando, que aleguei ser apenas burocracia da contratação? Bom, não era... — Ele tentou um sorriso forçado, rezando aos céus que Hermione não entrasse em pânico.

— Theo, o que você fez?

— Calma, calma. Não era nada demais, e aparentemente, já achei uma solução definitiva. Acabei de informar Rose sobre isso, e ela me deu o aval. 

— Se a solução é tão boa, por que está aqui, me informando? — Hermione questionou, um pouco mais alterada do que o normal.

— Porque sei que você gosta de saber sobre tudo, além de ter o controle da situação. Só não quis te preocupar antes da hora, principalmente com a lei chegando e tudo mais… Além disso, vou precisar de sua presença. A “ajuda” quer te conhecer…

Hermione franziu a testa por um momento, perguntando-se por que diabos alguém gostaria de conhecê-la, quando Theo, aparentemente, resolvera tudo sozinho.

— Hum, tudo bem… eu acho. — Ela assentiu.

— Consegue me acompanhar para um chá, e te explico tudo no caminho? — Theo perguntou.

— Claro. Acredito que tenho um tempo livre depois das três da tarde. Nos encontramos no saguão?

Theo concordou, saindo da sala de Hermione logo em seguida.

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As três em ponto, saiu de sua sala, seguindo em direção ao saguão principal do Ministério para encontrar com Theo. Suas barreiras estavam levantadas, preparando-se para o encontro que teria sabe-se lá com quem.

Ajustando a bolsa em seu ombro, mal percebeu quando Theo chegou, chamando-a pelo nome. Saindo de seus devaneios, acenou com a mão e se aproximou dele.

— Onde estamos indo? — Hermione perguntou com curiosidade.

— Uma nova boutique de chá no Beco Diagonal. Espero que goste! — Sorriu em sua direção, entrando no flu e ela logo em seguida, sendo direcionados para um salão requintado. 

O local não estava cheio, perfeito para uma reunião. O aroma do chá era leve, mas não enjoativo. Havia um balcão com várias guloseimas expostas, como bolinhos, crepes e sanduíches salgados.

Theo foi até uma mesa mais afastada, no canto do salão, com Hermione em seu encalço. A outra pessoa já estava acomodada na mesa, com as mãos sob o colo, vestes escuras com um chapéu combinando. Mesmo dois anos após a guerra, Hermione reconheceria o tom de cabelo há quilômetros de distância. Narcisa Malfoy.

Assim que a mulher mais velha captou seus movimentos, ela se levantou, dando um abraço caloroso em Theo, e um sorriso leve para Hermione, estendendo a mão em cumprimento. Em pouco tempo, os três já estavam acomodados na mesa quadrangular, esperando que uma atendente viesse fazer os pedidos.

Theo quebrou o silêncio.

— Boa tarde, Sra. Malfoy. Não posso expressar como estou contente e aliviado pela senhora ter se oferecido.

Narcisa sorriu, demonstrando claramente seu contentamento com a situação. Hermione ainda estava um pouco perdida.

— Não seja bobo, Theodore. Eu lhe disse que estaria disponível se precisassem de mim. Estou muito feliz que tenha me contatado. — Ela fez uma pausa antes de continuar: — Meus cumprimentos, Srta. Granger. Theo falou muito bem de você e do projeto que estão trabalhando juntos.

— Obrigada, Sra. Malfoy. — Acenou em reconhecimento. — Mas acredito não estar a par do que aconteceu para que sua presença fosse requisitada. Theo não me deu todos os detalhes.

— Eu disse que ela gostava de manter tudo sob controle, não é? — Theo confidenciou a Narcissa, ganhando um revirar de olhos por parte de Hermione. — Mas não vou te enrolar mais. Só não surte antes da hora, não é mais necessário.

Antes que ele pudesse começar a explicação, uma atendente chegou para anotar os pedidos. Os três pediram chá inglês, um pouco de leite e açúcar e alguns bolinhos doces para acompanhar. Assim que ela saiu, Theo continuou:

— Mês passado, pouco tempo depois que fomos visitar os centauros, Rose veio até mim para contar que, de alguma forma, o financiamento do projeto havia sido bloqueado. Não sabemos como ou porquê, talvez aconteceu algum desentendimento entre os departamentos. Resumindo, nesse ponto a Sra. Malfoy entra na história. Em um jantar na Mansão, contei tudo sobre meu novo trabalho e nossa parceria, e vi que ela havia se interessado muito.

Narcissa assentiu solenemente, confirmando a história.

— Com isso, logo após Rose me informar, escrevi uma carta contando o que aconteceu, apenas pedindo algum conselho ou uma ajuda mais informal para que pudéssemos arrecadar o dinheiro e dar andamento ao projeto. Mas ela foi tão generosa que se ofereceu para fazer uma doação, uma vez que eu não poderia, nem mesmo você ou ninguém diretamente ligado com o projeto. E aqui estamos — Theo finalizou.

Hermione estava absorvendo tudo rapidamente, entendendo o nervosismo de Theo naquele dia. Realmente, sua cabeça estava inteiramente voltada para a Lei do Casamento. Ela entenderia a situação em dois minutos se estivesse mais concentrada no trabalho.

— Srta. Granger, espero que não tenhamos ultrapassado os limites. Quando Theodore me contou, fiquei maravilhada com o que estavam fazendo. O projeto é extremamente necessário, e trará justiça às Criaturas Mágicas, o que deveria ter sido feito há muito tempo atrás.

Hermione arregalou os olhos com a confissão de Narcisa, não acreditando que a mesma mulher fora esposa de um comensal da morte, mãe de um filho preconceituoso, que abrigara Voldemort em pessoa dentro de sua casa.

A mais velha entendeu o receio e logo se prontificou em explicar a situação.

— Quando o Sr. Potter, você e seu amigo Weasley nos defenderam durante o julgamento, eu e Draco fomos absolvidos, apenas cumprindo pena domiciliar. Lucius, por outro lado, foi direto para Azkaban, morrendo pouco tempo depois. Esse período que fiquei em casa foi necessário para me fazer acordar. As atrocidades que aconteceram nesse mundo, com você… em minha casa. Jamais conseguirei me redimir o suficiente com a senhorita. Mas espero que esse ato mostre minha boa vontade de mudar cada dia mais, e te mostre que não sou a mesma pessoa — Narcisa finalizou, tomando um pequeno gole de seu chá que chegara enquanto falava com Hermione.

Ela estava em choque. Jamais imaginaria que estaria cara a cara com Narcisa Malfoy, recebendo um pedido de desculpas tão sincero, e praticamente uma bênção sobre o trabalho que estava realizando com Theo. Gina estava certa, as pessoas ainda podiam se redimir com o mundo, assim como Percy fizera. 

Mesmo estando um pouco abalada com tudo o que escutara, ela estendeu a mão para Narcisa, assustando-a levemente.

— Obrigada — Hermione declarou, com um pouco de emoção em sua voz. — É muito importante ouvir tudo isso. E sinto muito pelo seu marido.

Narcisa assentiu, os olhos brilhando. O sorriso que ela dera a Hermione valeu toda a pena.

— Bom, sem delongas então. Theo, de quanto precisam? Pode me fazer o cheque e irei diretamente a Gringotes para me encarregar da transferência.

Theo riu descontraidamente da mudança de assunto. Narcisa Malfoy não perdia o decoro em nenhum minuto.