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História A Lenda de Dunstad - Engenharia de guerra, o interlúdio do destino decisivo


Escrita por: random_guy68

Capítulo 26 - Engenharia de guerra, o interlúdio do destino decisivo


Fanfic / Fanfiction A Lenda de Dunstad - Engenharia de guerra, o interlúdio do destino decisivo

A lua já iluminava o ponto exato do topo da torre, nos confins das nuvens, fazendo parecer que o próprio bastião élfico a sustentava sobre si. Os soldados, nervosos, balançavam seus braços na tentativa de aliviar a tensão que precedia o momento decisivo.
— Eles ainda não fazem ideia de que estamos aqui? — Tarso perguntara a Aydahar, já posicionado em fileiras de batalha, apreensivo — O elfo respondeu com uma simples expressão facial que abnegava o uso de palavras.
— E os guardas do portão, Aydahar? — Esses não são problema. Quando passei pelos portões, deixei dois frascos de veneno silenciador em seus bolsos.
— Certo — Tarso movimentou as pernas entre os estribos do cavalo, de um lado para o outro. O frio da noite era evidente, mas todos suavam. Como um último acontecimento para quebrar as tensões que eram de se esperar, esgueirando-se das últimas tropas até Tarso, aproximou-se Magnus, ofegante. Pôs a mão no dorso do cavalo ligeiramente antes de falar, sem nenhuma cerimônia:
— O novo Keshan me enviou uma mensagem, Tarso.
— Eles irradiam magia a cada passo, era de se esperar que pudessem fazer algo parecido com seus feitiços. O que ele te disse, caro Magnus?
— "O massacre será longo e doloroso"; "O fim de sua incursão está próximo"; entre outras ameaças. Mas o que me chamou mesmo a atenção, foi a frase que citou no fim da mensagem, se me permite:
"Nihj loparh hay liy trustyna Qanariin shawlly prewveyow. Nyarthrinios kajyia lantryas, ni eiasy liy Qanariin sujyia mortyh. Quarnas grenas prewveyow."; Traduzindo para a nossa língua, algo mais ou menos como:
"Só aqueles com a verdadeira Qanariin prevalecerão. Levantar-vos-ei contra nós, e eide que a Qanariin vos elimine. Sabedoria ancestral prevalecerá."; eu não faço ideia do que poderia ser "Qanariin", Tarso. Melhor tomarmos bastante cuidado.
Aydahar aproximou-se e pediu que Magnus repetisse a frase em élfico. Ao fazê-lo, Aydahar pensou por uns segundos:
— Qanariin é a fonte de magia ancestral que nasce com todo elfo. Todos temos a Qanariin dentro de nós. Ela é a essência da vida, de tudo. Quase todos os conjuradores fazem uso da Qanariin, inconscientemente ou não.
— Vejo o esforço que fez para traduzir o conceito, Aydahar — Magnus continuou, sabiamente — Mas que vantagem teremos se não sabendo de quais formas ela — a Qanariin — será aplicada? Apesar da comunicação rebuscada de Magnus, Aydahar respondeu o que pensava ser do gosto do mago nórdico ouvir:
— Existe, em cada bastião élfico, uma fonte mágica antiga acessada apenas pelos sumo sacerdotes e magos de mais alto nível da região. É nela que fica toda a fonte de Qanariin ancestral, de onde vem a fonte de poder de todos os elfos dali. Vocês podem querer ter acesso a fonte, mas saibam que estarão entrando em contato com magia ancestral. Pode ser bastante perigoso. Uma grande mão coberta por uma luva de peles e placas batidas de ferro repousara sobre o ombro de Aydahar naquele momento. Era Ynntgrad, que então começara a falar:
— E você sabe onde fica a fonte de Vallynost? Tenho certeza de que se nós a destruirmos enfraqueceremos bastante as forças do Keshan.
— Sim. Fica no subsolo, atrás de uma grande porta de ébano trancada por cinco chaves, que só podem ser abertas com a presença dos três sacerdotes e dos dois arquimagos da torre. Mas vá com calma.
— Não se preocupe com isso. Não existe porta que a força não possa abrir, mesmo sem chave.
— Eu não confiaria tanto na força bruta se fosse você. A porta é selada por magia.
— Faz sentido... Magnus. Você vem comigo. Vamos destruir a Qanariin deles. — Bem — Magnus respondeu, baixando a viseira do capacete de aço que repousava em sua cabeça — Não era exatamente o que eu esperava fazer, mas será uma ótima oportunidade de estudar a natureza mágica daqui.
— Está mais para um passo a frente nas nossas chances de derrotar os elfos — Ynntgrad retrucou, fervente — Mal posso esperar para passá-los no fio da espada, esses elfos!
— Vocês esqueceram de um detalhe — Tarso indagou — como pretendem ir até o subsolo sem chamar a atenção de dezenas de elfos furiosos?
— Faremos nosso caminho à espada! Em seguida...
— Seguiremos furtivos, para evitar maiores problemas — Magnus interrompeu o furioso grandalhão — e conseguiremos chegar até lá sem chamar nenhuma atenção, não é?
— Também pode ser — Ynntgrad respondeu, cabisbaixo.
— Não é hora para essas jocosidades — Tarso bradou — Assim que tiverem a oportunidade, penetrarão em Vallynost e irão até o subsolo. Se possível, encontrarão também as cinco chaves necessárias. É uma ordem. Magnus abotoou os cinco botões de sua túnica revestida, endireitou as pesadas ombreiras de aço e reajustou os braceletes. Empunhou com determinação o cajado que pendia em sua mochila, fitando fixamente a gema de cristal que brilhava em sua ponta. A palavra Qanariin não saia de sua cabeça. Que relação essa suposta magia ancestral teria com sua própria magia, ou pior, seria ela uma fonte poderosa e inesgotável de magia exclusivamente élfica?
— Tarso — Ynntgrad subitamente invocou, olhando ao vento — Sei que não é bem hora mas, se lembra do homem do sul?
— Sim, o homem do sul — Tarso respondeu como se soubesse exatamente do que Ynntgrad estava falando, e ele de fato sabia.
— Soube que ele esteve no acampamento nos primeiros dias de nossa chegada, quando os bandidos elfos nos atacavam constantemente. Passou a maior parte do tempo com os irmãos engenheiros, Svend e Skarde, supostamente trocando conhecimentos a respeito das matemáticas de engenharia.
— O maldito realmente nos seguiu até aqui, e sobreviveu? — Tarso lembrou a si mesmo, com esta frase, dos fatos que ocorreram muito antes da chegada à costa élfica; das desventuras do porto de Sovntuld, a passagem pela ilha de Vahriin e a grande tempestade que a companhia havia enfrentado já em alto mar; mais especificamente das desventuras do porto, onde encontrou um homem singular, como nenhum outro. Falava uma língua totalmente compreensível aos nórdicos, mas de tamanha estranheza ao declamar as palavras que mesmo parecia ser uma língua selvagem; vestia-se bem, com uma bela túnica de linho tingido e carregava uma grande mochila de couro que trespassava do ombro aos quadris seu enorme conteúdo, este sempre composto — e bem lotado — por inúmeros pergaminhos e papéis que dizia ser projetos de engenharia. Ostentava ainda, no topo da cabeça, uma diferenciada peça de vestimenta; era uma espécie de chapéu chato, de copa redonda e sem pala, feito de tecido de lã, sem costuras, ao qual chamava de "boina". Sua compleição facial também era muito diferente de quaisquer outros humanos que já houvesse visto. Não chegava a assemelhar-se em feiura a um goblin ou troll das mais remotas cavernas da tundra, e nem também apresentava a distinguível tez pálida da majoritariedade dos nórdicos de Dunstad; tinha o queixo largo, como um elfo, e o nariz pontudo e recurvado, também como um. Por sorte, suas orelhas eram de tamanho normal, e seus olhos, esverdeados tão monotonamente quanto qualquer homem do norte. O que importava mesmo, nas lembranças distantes, pensava Tarso, era o que esse homem carregava consigo. Inúmeros pergaminhos com conhecimentos variados das complexas matemáticas de engenharia, desde a manufatura de um aríete de tamanho médio que os nórdicos bem conheciam, até projetos de construção para aquedutos inteiros. O problema, ecoava na cabeça de Tarso, era que o homem sabia demais. Seu conhecimento avançado poderia colocar ideias demais na cabeça de homens que estavam sendo pagos simplesmente para lutarem, e a última coisa que queria era que o treinamento de seus soldados fosse interrompido para uma sessão de análise de equações. Poderia, claro, comportar o homem em seu navio como engenheiro de guerra, dar-lhe um quarto reservado e consultar-lhe apenas para assuntos de natureza matemática, de fato, mas mesmo assim recusou veementemente os pedidos do engenheiro de se juntar à companhia. Lembrava do resto da história de quando a companhia partiu, cedo da manhã, do porto gelado de Sovntuld, quando soube que o engenheiro, não obstante com a recusa de Tarso, havia alugado um drakkar e uma junta de mercenários para seguir a companhia até o continente élfico. Várias vezes durante o percurso foi avistado o navio do homem sempre ao horizonte, realmente a seguir a embarcação da companhia. Foi durante uma forte tempestade, Tarso pensou, que havia se livrado do engenheiro maníaco; o drakkar no horizonte finalmente sumira até a chegada em Kraggstad.
— Sim — Ynntgrad continuou — Ele chegou até aqui, e conseguiu o que queria.
— Valha-me, Deus-Sol! — ecoou Tarso — E o que ele queria? É bom que seja importante, caro Ynntgrad — Tarso apontou para a torre élfica, indicando a importância de concentrar-se nos acontecimentos atuais.
— Compartilhar seus conhecimentos, simplesmente.
— Mesmo? Não é de meu gosto ser rude com um amigo próximo, mas de que vai servir essa informação, bem aqui e agora?
— Ora — bocejou Ynntgrad — Pergunte àqueles engenheiros, Svend e Skarde. Não a mim.
— Muito interessante, agora para as preparações, os elfos podem aparecer a qualquer momento e... — Comandante Tarso! — Uma voz jovial ecoou por entre os pelotões — Comandante Tarso! — Mais uma vez, mais perto, até que uma sentinela mal equipada aproximou-se do cavalo do comandante, e ofegante, quase resvalando, disparou as seguintes palavras numa única rajada: — Os irmãos Svend e Skarde desejam avisar ao senhor que as armas de cerco estão preparadas.
— Armas de cerco? Não me lembro de termos material para construir armas de cerco, não para atacar uma torre... Naquele momento, Tarso virou seu pescoço um centímetro para trás, suficientemente para enxergar uma grande sombra geométrica aproximando-se; era uma grande torre de madeira, coberta por extensas tiras de couro que sustentavam uma imensa ponte suspensa verticalmente, com três grandes rodas em seus dois lados, sendo empurrada por uma dúzia de homens.
— Aí está a torre de cerco, senhor — A sentinela afirmou, afastando-se com respeito.
— Eles realmente fizeram... — Tarso perdeu-se nas palavras que desejava falar.
— Então, Tarso. O que eu vinha lhe dizendo, fazendo-o lembrar de tão desegradáveis acontecimentos, tinha um ótimo motivo, e aí está ele: quatro metros e meio de madeira e homens bem equipados preparados para atacar as varandas da torre. O aríete do interior também pode servir para derrubarmos os pesados portões platinados da entrada térrea. Só existe um único problema.
— Qual seria ele? — Tarso mal podia acreditar que havia ali um problema, pois só a chegada da torre garantia uma gigantesca vantagem aos nórdicos na batalha.
— Não temos mais acampamento.
— Não me diga que usaram toda a madeira das paliçadas e passarelas para a construção da torre.
— Sim. E os suprimentos de lenha também, além das peças de madeira para a manufatura de escudos que estavam no convés do navio.
— A torre nos dá uma grande vantagem de fato, Ynntgrad — Tarso puxou a própria barba do queixo de cima para baixo — Porém, agora é tudo ou nada. Se perdermos aqui, nem sequer teremos o acampamento para nos refugiarmos, e só o que nos sobrará será o navio. Isso se sobrevivermos.
— Nós até tinhamos chances de perder, Tarso. Mas olhe para isso; acha que os elfos vão resistir a isso?



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