Severus Snape
-OLIVIA!
A chacoalhei.
-OLIVIA!
Hagrid segurou-me pelos braços, afastando-me de Olivia, morta na margem do lago.
Tentava desvencilhar-me do meio gigante que apertava meus braços que se movimentavam bruscamente.
Poppy estava inclinada, praticamente em cima de Olivia e atirava na mulher morta vários feitiços. Luzes espalhavam-se pelo seu corpo e nenhuma reação era obtida.
Minerva ajoelhou e soluçou ao lado da ex aluna.
-OLIVIAAAA! - Berrava desesperadamente até a voz sumir- OLIVIA, POR FAVOR...
Sentia uma dor que nunca havia sentido antes.
Quando Lilly morreu, estávamos há muito tempo sem nos falar, o meu amor por ela não mudara, mas a intensidade da convivência e a realidade que sucedia-se, era tênue.
A dor da perda de Lilly acarretava mágoa, pesar, arrependimento e muitas outras coisas.
Perder Olivia era diferente...
Olivia era a luz que iluminava meus caminhos depois da escuridão em qual a guerra me deixara. Olivia era o último fio de esperança para o cuidado e ternura em minha mais soturna solidão.
-OLIVIAAAA!
Poppy enxugava as próprias lágrimas entre os movimentos coordenados da varinha.
Respirei fundo e puxei meu braço com o máximo de força que obtive.
Desvencilhei-me de Hagrid e aproximei-me de Poppy.
-Não da mais, Severus... Fizemos tudo o que podíamos...- Pomfrey disse tentando acalmar-me.
-NÃO!!!!!
Empurrei a medibruxa, ajoelhei-me ao lado da professora de poções, apoiei as duas mãos em cima do osso de seu peito.
A mão esquerda posicionei sobre a direita e enlacei os próprios dedos uns aos outros.
Estiquei os braços por completo e comecei a massagem cardíaca.
Os fios molhados pendiam, cobrindo meu rosto amedrontado. As vestes encharcadas faziam o vento parecer ainda mais gélido e cortante.
A vida nunca ficara tão sombria e assustadora.
-1, 2, 3,4,5...- Com as compressões, as gotas de água que gotejavam de meus cabelos molhavam o rosto azulado e sem vida de Olivia. -6, 7, 8, 9...
-Meu querido...- Minerva tentou se aproximar- Ela já se foi...
-13, 14, 15... VAMOS OLIVIA!!!!!!! 16, 17, 18... VOLTA PRA MIM!!!! 19, 20...
-Deixa ele, diretora!- Sussurrou Hagrid.
-27, 28, 29, 30.
Soltei seu peito, levei a mão direita ao seu nariz e o tapei, com dois dedos da mão esquerda, elevei seu queixo quadrado e extremamente frio. Coloquei meus lábios em torno de sua boca, inspirei o ar pelo nariz e assoprei o ar para dentro dela por um segundo, fazendo seu peito elevar.
Voltei em seguida com as compressões.
-1, 2, 3, 4, VAMOOS!!! 5, 6...
-Chega Severus...- Poppy sussurrou ao tentar segurar-me pelo braço.
-NÃO!!!!!!!! 18, 19 , 20...
-Não adianta mais, meu querido...
-27, 28, 29, 30.- Fiz mais uma vez a respiração boca a boca e voltei à massagem cardíaca.- 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7...
Subitamente o tronco de Olivia levantou-se. Seu rosto inclinou para um dos lado e de sua boca saiu toda a água que estava dentro de seu corpo.
Olivia tossiu enquanto a cor de seu rosto voltava.
Minerva, Poppy e Hagrid gritaram aliviados e levantaram-se para acudi-la.
-Poppy, minha capa!
A medibruxa estendeu minha capa preta, a única peça, além de meus sapatos, a não ter sido molhada, e cobriu a professora com a mesma.
Peguei Olivia cuidadosamente no colo e junto dos outros, corremos até a enfermaria.
Seu corpo pesava com as roupas molhadas. Os pés descalços, vermelhos pelo frio. O longo cabelo pendia de meu braços.
Ela continuava desacordada e sua respiração apontava perigo.
-SAIAM DA FRENTE!- Não sabia como conseguia falar, pois lágrimas escorriam pelo meu rosto e eu podia ouvir meus próprios soluços.
Os alunos olhavam aterrorizados, os monitores das casas tiveram que se impor para conter a histeria.
O professor que fora projetado para não ter sentimentos, chorava sem controle e a doce professora de poções parecia morta em seus braços. Ou seja, mais uma visão para suas aterrorizantes pilhas de lembranças.
A enfermaria parecia nublada pelas lágrimas que deixava-me a visão turva.
Mãos e pés dormentes presenciavam a falta de sensibilidade e tato.
Coloquei Olivia na maca mais próxima e aproximei-me de seu rosto.
Passei a mão em sua testa e beijei a mesma. Segurei sua mão na minha e rezei de olhos fechados para que qualquer entidade a trouxesse de volta para mim.
Meus músculos doíam pelos espasmos dos soluços e eu só pensava em como viveria sem ela.
-Por favor, por favor...- Sussurrava.
Poppy cortou sua blusa e Hagrid agarrou-me pelo braço, tirando-me de lá.
A curtininha foi fechada para que Poppy e Olivia tivessem privacidade.
-Oliviaaaa...
Minerva empurrou-me até a maca as minhas costas, fechou a cortina verde-água e tirou minhas vestes.
O desconsolo era de tamanha intensidade que eu não tinha condições de reagir.
Com vários feitiços, secou meu corpo e cabelo.
Foi quando percebi que também tremia violentamente por causa do frio. Alguns espasmos musculares e calafrios também acompanhavam-me.
A diretora deitou-me na maca e vestiu-me com vestes secas. Cobriu-me com vários cobertores.
Uma xícara de chá morno apareceu no pequeno móvel branco que ficava ao lado da cama.
Pingou no mesmo algumas gotas de poções e levou a bebida até minha boca.
-Beba!
-Não, eu preciso ficar acordado!
-Vamos Severus...
Ela empurrou a xícara contra meus lábios e senti o líquido escorrer pela minha garganta.
O teto da ala hospitalar ficou cada vez mais escuro e eu adormeci.
__.__
Olivia White
Com um grito abafado e o corpo tenso por causa dos habituais pesadelos, acordei e vi-me sentada na maca da enfermaria.
Minha cabeça parecia querer explodir, sentia minhas pernas enfraquecidas e o peito extremamente dolorido, até mesmo respirar era penoso.
Olhei para minha mão e vi uma outra a segurando.
Snape estava sentado na cadeira ao lado de onde eu estava, segurando minha mão com extrema gentileza e cuidado e fitando-me com afeição.
Com seu zelo pude perceber a profundidade do carinho que aquele homem poderia ter.
Seu rosto era iluminado pela cor amarelada da lâmpada do abajur no criado-mudo.
O céu lá fora estava escuro e sem nenhuma estrela. A enfermaria estava quieta e vazia.
-Bem-vinda de volta! - Sua voz grave saudou-me.
Naquele momento, as imagens dos últimos acontecimentos atingiram-me com ímpeto.
Umbridge, as memórias da guerra, a aluna Faye, Lilith, Snape, Bicuço, o Lago Negro, a revelação da criança em ser uma alucinação e então as algas prendendo-me embaixo d’água.
Soltei a mão de Snape para colocá-la a frente da boca, na tentativa de conter o choro e o desespero.
-Não! Não! Não!- O professor levantou e se sentou na maca- Eu não estou louca! Eu não posso voltar para St Mungus. Por favor, me ajuda!
Severus abraçou-me imediatamente, acariciando meus cabelos com seus dedos.
-Você não está louca e não vai voltar para a Ala Psiquiátrica... Calma. Shhh... Shhh...
Em seus braços senti-me segura, o medo parecia ser esmagado pela sua brandura.
Ele esperou pacientemente até as lágrimas sessarem, embalando-me em seu peito.
Quando o silêncio nos envolveu, afastou-me de seu corpo para olhar-me.
-Como sabe que eu não estou louca?- Perguntei, recompondo-me.
-Seus exames apontaram que na última semana sua dose de antidepressivo triplicou...
-Mas eu...
-Não. Terminei. De. Falar.
Sorri levemente com sua seriedade.
-e encontramos resquícios de beladona em seu organismo.
-O QUE?
-As mudanças de comportamento e humor foram justificadas pela discrepância de dosagem. A Beladona é responsável pelas alucinações.
-Snape, eu não mudei a dosagem do meu antidepressivo e nem usei Beladona, você tem que acreditar em mim!
-Eu acredito!
Soltei o ar aliviada, fazendo uma careta com a dor que senti no peito.
-Por que Meu corpo está tão dolorido?
-Eu te explico mais tarde, mas primeiro devo lhe contar uma coisa.
-O que?
-Depois de um dia de interrogatórios e pesquisas, descobrimos que a dosagem de seu medicamento fora trocada ainda na enfermaria e a Beladona fora colocada no suco de abóbora que você toma toda a manhã.
-Mas...
-Os Elfos são muito atentos... Apenas uma pessoa aparecia regularmente na cozinha toda a manhã, no mesmo horário...
-Quem?
-Dolores Umbridge!
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