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História A Linha Das 6:30 • Cellps - • Onde foram todos? •


Escrita por: Lesbicaniando

Capítulo 1 - • Onde foram todos? •


Eu estava sozinho, apenas eu e o espelho. Os estilhaços de vidro pelo chão refletiam o azul em meus olhos frios, sem vida, molhados por lágrimas solitárias. Solitárias como eu.

Em meio aos soluços desavisados e a raiva em tentar controlar meu choro, ouço o sangue escorrer de minha mão perfurada pelo vidro e pingar na pia. Que era branca, mas o vermelho logo tomou conta do mármore.

Ardia. O líquido quente criava um barulho ensurdecedor quando caia. O tempo parava, o sangue pingava, minha respiração era a única coisa na qual eu tentava controlar para não infartar ali.

-Rafael, aconteceu alguma coisa? - a doce senhora perguntava do outro lado da porta trancada, jazia preocupação em sua voz.

-Não mãe, tranquilo - menti, a mentira dói, como sou insignificante a ponto de mentir para minha própria mãe, a que de longe, vinha me acolher do inferno, me tirar um pouco do sofrimento dessa porra de planeta, esse lugar imundo, com pessoas inúteis, cheias de merda na cabeça.

-Certo então meu amor, se precisar de alguma coisa, estou lá embaixo, tenho louça pra lavar - ela riu fraco.

Minha fonte da pouca alegria que tenho descia as escadas.

Peguei minha mochila do chão, abri a porta, relutante, sentindo minha mente vagar por outros cantos do universo e minha vista se apagar aos poucos.

Senti meu corpo pesar, e me sentei na cama, limpando o sangue na blusa vermelha. Respirei fundo e me controlei, ou ao menos tentei.

Fui para baixo, a TV estava ligada enquanto minha mãe fazia tarefas.

-Mãe, estou indo - afaguei os cabelos da mesma e depositei um demorado beijo em sua testa.

-Boa aula filho - ela retribuiu o gesto, me largando em seguida.

Boas aulas, tudo que eu mais queria. Não são as aulas, são os alunos, lixo, estúpidos, delinquentes, homofóbicos.

Sai pela porta, meu corpo recebia pingos de chuva. Seria bom, minhas lágrimas passariam despercebidas.

A rua se enchia de água, as enchurradas logo pareciam cascatas d'agua, meu celular pareceu reclamar em meu bolso.

O colégio surgia no meio da neblina, esse lugar patético pareceu rir de mim no momento em que meus olhos se encontraram na estrutura. Risos. Risos. Risos. Odiava sorrir. Odiava receber sorrisos. Odiava a felicidade. A felicidade dos outros. Eles parecem felizes em me machucar, em me agredir, tanto verbalmente quanto fisicamente. Os hematomas em meu corpo respondiam com pontadas de dor todas as noites. Minhas horas de sono interrompidas por fortes incômodos em várias partes do peito.

Não havia um filho da puta no pátio. Todos foram para suas classes, como vacas sendo divididas nos currais. A água caia do telhado. Eu me molhava ainda mais, ficando ali, desejando não entrar.

Subi as escadas, arrumei o material no armário, pixado, esfolado, riscado, arrombado e queimado. O único da fileira de muitos outros armários que estavam limpos, brilhantes.

Ouvi o barulho da maçaneta do portal pro submundo ser aberta, e logo me encontrei dentro da classe. O silêncio prevalecia. E, lentamente, andei até meu lugar, recebendo olhares, cotoveladas, chutes, que passaram despercebidos no olhar do professor que tremia de frio na cadeira. O velho bebum que sentava aquela bunda na cadeira, cuspia seus problemas e descontava sua raiva na classe.

-Que cheiro de cachorro molhado - um ruivo ria, atraindo risadas.

Acertaram na parte de trás do meu joelho, fazendo minha perna esquerda paralizar, enquanto a direita ainda se movia. Cai no chão, meus cadernos se esparramaram. Foram pisados, cuspidos, rabiscados em fração de segundos até serem getilmente entregues para minhas mãos.

Com a perna ainda leza, levantei com dificuldade e manquei até minha carteira. Eles riam.

As aulas se passavam. Eternidades se iniciavam quando o sinal da próxima aula se apresentava. Bolinhas de papel, borrachas, até pedras e coisas desconhecidas eram arremessadas o tempo todo. Acertavam em mim. Eles faziam de propósito.

Fiz algo que não devia fazer? Falei algo que não devia falar? Vi algo que não devia ver?

Desde que pûs meus pés aqui, o mundo se revelou o pior lugar pra se viver.

Me isolaram, me ameaçaram, cortaram, machucaram, humilharam, amarraram e todas as ações ridículas nas quais pode imaginar.

O sinal para o intervalo soou.

Me senti a pior pessoa aqui. Haveriam mais três aulas após o tempo livre de meia hora.


Notas Finais


HEY, espero que tenham gostado, tentei focar ao máximo em escrever, inicialmente, o que se passa na mente do Rafa. Qual o passado desse garoto?

Foi curto, eu sei. Serão assim mesmo.


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