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História A Little Bit In Love With You (Ryujin - ITZY) - A Questionable Start


Escrita por: Michs_

Capítulo 1 - A Questionable Start


Fanfic / Fanfiction A Little Bit In Love With You (Ryujin - ITZY) - A Questionable Start


 

  

Janeiro, 2020: 

 

  

  —Vamos logo, está muito frio para ficarmos aqui fora. 

  —Okay… 

  Ryujin afundou as mãos no bolso de seu moletom e seguiu Minji com desânimo pelas calçadas. Tudo o que menos queria era ter que deixar o conforto e o aquecedor da empresa para comprar algo para todas comerem, mas aquele era o seu dia do combinado, então não havia muito o que fazer a respeito. Bom, ao menos não estava nevando naquela tarde; como estavam na segunda metade de janeiro, o frio já não estava mais no seu pico, o que fazia de sua caminhada até a cafeteria menos torturante... mas apenas um pouco.  

  —Você sabe o que meninas querem de lá, não é? - Minji perguntou enquanto checava suas mensagens. 

  —Não, pensei que você tivesse anotado.

  Ambas se encararam em neutralidade. 

  —Como posso ter feito isso se fiquei todo o tempo te esperando na recepção? 

  —Oh, é… erro meu.  - Sacudiu os ombros e aos poucos deixou crescer em seus lábios um sorrisinho infantil, para que então voltasse a falar num tom propositalmente baixo. - Mas a manager é você, e não eu, então...

  —O que disse...? - A mulher a olhou com um ar fingido de autoridade.

  —Nada demais, vamos. - Soltou algumas risadinhas e continuou andando para simular normalidade até que Minji fizesse o mesmo, como sempre. - Vou mandar uma mensagem para a Yeji, não se preocupe. 

  —Uhum... 

  Com seus dedos tocando a tela fria de seu telefone, Ryujin começou a digitar uma breve mensagem para sua líder, dividindo a atenção entre o aparelho e a rua conforme seguiam o caminho para a cafeteria, mas após cinco ou dez segundos olhando apenas para baixo, um acontecimento um tanto quanto abrupto a impediu de terminar sua tarefa. Ela provavelmente não estava pensando a respeito de seus passos naquelas calçadas estreitas, ou quem sabe estava apenas tentando digitar o mais rápido que podia para que a ponta de seus dedos não congelassem devido ao frio extremo, mas seja lá qual fosse o motivo, sua atenção foi imediatamente roubada quando colidiu seu ombro com força em algo que, além de tê-la feito perder um pouco o equilíbrio, ainda se mostrou ser, na verdade, alguém. 

 Levemente atordoada, mas pronta para se desculpar, Ryujin não esperou muito para girar o corpo e tentar visualizar a pessoa na qual havia trombado, porém, quando de fato visualizou, nada acabou saindo de sua boca além do ar branco e esfumaçado que mais pareceu um sopro. Uma vez tendo analisado aquele rosto propriamente, as palavras simplesmente evaporaram e ela mal conseguiu se dar conta daquilo, muito menos do ardor em seu ombro, que ali pareceu já nem mais existir.

Na realidade, não era apenas uma pessoa, mas duas; mesmo assim, somente conseguiu prestar atenção em uma, na que havia de fato acertado e que estava agora retribuindo seu olhar. Seu braço estava envolvido ao redor do pescoço da outra que de certo era sua amiga, e mesmo que estivesse com o rosto virado e os olhos conectados com os de Ryujin, nem mesmo por um momento parou de andar na direção oposta. Ela claramente estava esperando pelo tal pedido de desculpas, mas logo que percebeu que ele não viria, como resposta acabou transformando sua expressão tranquila para algo mais sério e até mesmo um pouco ofendido, posteriormente passando a encarar Ryujin da cabeça aos pés de um modo tão intenso que fez a garota sentir algo queimar seu interior; de dentro para fora. 

  Ryujin não soube exatamente o que fazer; era como se seu subconsciente tivesse a noção de que ainda não havia pedido desculpas, mas ao mesmo tempo também não fazia questão de a encorajar a fazê-lo, porque pareciam existir coisas mais importantes para se preocupar. Na verdade, sua mente apenas pareceu presa demais, presa àquela garota conforme o momento se passava lentamente sobre a visão de suas íris, e isso a fez se sentir levemente envergonhada uma vez que notou aquele olhar tão profundo sobre si, especialmente porque imaginou que não havia se arrumado tão bem naquele dia. 

  A questão era que a tal garota pareceu expressivamente diferente aos seus olhos, onde a falta de traços asiáticos acabou sendo um fator a mais para que abdicasse de si própria e de sua consciência por alguns momentos. Veja, em meio a um mar de rostos coreanos, se sobressair com características ocidentais não era lá uma tarefa tão difícil, contudo, mesmo aos olhos de Ryujin, que estava acostumada com a diversidade por ser alguém que já viajou para o exterior algumas vezes, algo ali parecia ser ainda mais chamativo, por assim dizer. Ela simplesmente se viu curiosa... talvez até demais. 

  E uma vez incapaz de quebrar a conexão de íris, Ryujin mal teve noção de que prosseguiu ali, parada e estática como um poste enquanto analisava aquela face, ao mesmo tempo segurando seu celular entre as mãos como quem está proferindo uma prece do modo mais estranho possível. Claro, se tivesse essa noção, de certo se julgaria uma completa esquisita, mas não foi o que ocorreu, então assim prosseguiu a admirando sem nem ao menos saber o porquê. Seu subconsciente parecia ter total ciência disso também, mas assim como no primeiro caso, nada foi feito para que ela se desse conta de que estava num estado profundo de absorção, e por essa razão passou mais cinco, seis, quem sabe dez segundos pensando a respeito daqueles olhos castanhos esverdeados e daquele cabelo castanho que caía - charmosamente - sobre os ombros da garota. 

  De qualquer forma, ela passou a não ser mais fitada por apenas um par de olhos, já que a outra garota também se mostrou interessada em sua pessoa e passou a encará-la também, mas como parecia "normal" o bastante para se encontrar alguém parecido em qualquer esquina, Ryujin simplesmente a ignorou e continuou fixa única e exclusivamente na garota ocidental, indisposta a dividir sua atenção tão facilmente. Contudo, isso acabou mudando em questão de momentos, considerando que a garota coreana soltou algumas palavras soltas no ouvido da amiga e ambas trocaram risadinhas, deixando Ryujin ligeiramente incomodada, porque além de não ter conseguido ler os lábios delas para saber do que se tratava, também não gostou de imaginar que estava sendo o alvo de alguma gozação.

   Ela se perguntou o que era tão engraçado; teve plena certeza que de fato a piada era sobre si, mas não conseguiu pensar em nada que justificasse aqueles dois sorrisos tão explicitamente divertidos, e por decorrência disso acabou sendo consumida por um sentimento bipolar de insatisfação e encantamento. E posteriormente, não ganhando um direito a resposta e muito menos à uma reação corporal, Ryujin também assistiu as duas simplesmente se virarem para frente e seguirem o caminho em direção à empresa como se nada tivesse acontecido, a deixando sozinha no meio da calçada com um grande ponto de interrogação vazio em sua testa.  Afinal, que diabos aconteceu ali? 

  —Ei! - Vindo de trás, Minji se colocou ao lado de Ryujin e a encarou cheia de preocupação, pousando a mão em seu ombro para chamar sua atenção. - Por que parou? Eu já estava virando a esquina quando percebi que não estava mais ao meu lado... - Ao notar o mirar interessado da garota para aquela direção, ela também olhou e tentou captar o que estava se passando ali, mas obviamente não entendeu bulhufas. - Está olhando o que…? 

 Pouco a pouco retornando à realidade, Ryujin comprimiu os lábios e balançou a cabeça em negativo, enfim saindo de sua bolha graças a mulher.

  —Nada, eu tinha tropeçado e... me distraí. 

  —Ah… certo. - Assentiu desconfiada e apressadamente escondeu melhor as mãos nos bolsos de seu casaco.  - Vamos logo com isso, então. Estou prestes a congelar! 

  Ainda um pouco inerte, Ryujin concordou fraco e terminou de enviar a mensagem para Yeji depois de se virar, guardando o celular no bolso de sua calça para logo não resistir a um último olhar para trás, encontrando nada além de um movimento fraco de pessoas desconhecidas, nenhuma delas sendo o par de garotas que momentos atrás furtaram sua percepção de importância; infelizmente já haviam sumido. 

  Bufando e mais uma vez vendo o ar sair branco por sua boca, Ryujin somente prosseguiu seu caminho e percebeu que, estranhamente, há algum tempo já não estava mais sentindo tanto frio.



 

[...] 


 

  Dez dias depois:  


 

   Quarta-feira - 08:55

 

  Ryujin estava sentada preguiçosamente no sofá, encarando as letras iluminadas que formavam um grande "JYP" no teto da sala de prática e pacientemente esperando pelos tais coreógrafos que ainda não haviam chegado. As outras integrantes também estavam ali, junto a Minji e Suk (o assistente geral do grupo e, na sua visão, meio nerd e meio cara legal), todos parecendo muito mais animados do que ela jamais estaria. Yuna e Lia cochichavam entre risadinhas próximas às janelas, Chaeryeong e Yeji conversavam sobre a agenda com Minji, e Suk, como sempre muito introvertido e preso em seu próprio mundo, estava imerso à tela de seu celular enquanto recostado no batente da sala anexa onde guardavam seus pertences. Muito entusiasmante, claro...

  Estando próxima de cair no sono, Ryujin agradeceu a quem quer que estivesse nos céus quando alguém finalmente bateu na porta e por ela surgiu um homem sorridente e aparentemente empolgado por vê-los ali, de automático fazendo todos na sala se movimentarem para que pudessem se aproximar e iniciar toda aquela série de cumprimentos cheios de formalidade que casualmente faziam toda vez que alguém novo se inseria naquele meio. E assim, uma vez perto o bastante, ela se colocou ao lado de Yuna e tentou sorrir o mais simpática possível após se curvar respeitosamente, passando então a reparar na aparência do homem conforme ele se apresentava para Suk. Era bem alto e talvez musculoso demais para ser um coreógrafo, contrastando toda aquela suposta masculinidade com sua feição inocente e os cabelos negros limitados num topete que o faziam parecer ligeiramente bobo e imaturo, apesar de muito provavelmente estar próximo da casa dos trinta. De forma geral, Ryujin se sentiu animada por saber que trabalharia com alguém supostamente bem humorado, mas a animação acabou perdendo espaço dentro de si numa questão de segundos, quando mais alguém adentrou a sala.  

  O sorrisinho que antes muito bem ensaiado e que estampava seu rosto aos poucos foi morrendo até que estivesse completamente séria, transformando seu semblante num intercalado de surpresa e ceticismo que certamente ficaria visível para quem olhasse, tamanha era a sua descrença. Porque era uma garota ali; era ela. A garota ocidental que havia trombado alguns dias atrás e que lhe roubou total atenção desde então. Ela estava ali, se aproximando devagar em passos tranquilos e aquele mesmo ar charmoso a rodeando, encarando cada pessoa profundamente nos olhos em meio à tímidas reverências. E Ryujin, sentindo burburinhos incomuns e estranhos no estômago, não conseguiu expressar coisa alguma além daquelas reações primárias, já que sua cabeça repentinamente pouco pensante apenas conseguiu dá-la a ordem de se comunicar com Yuna, e foi isso o que fez. A cutucando discretamente com o cotovelo, juntou seus braços e mostrou urgência ao continuar a cutucando até que tivesse ganho total atenção da amiga.  

  —O que foi?

  Tentando ser cuidadosa, Yuna aproximou seus rostos para que pudesse sussurrar. 

  —É ela… - Respondeu entre dentes num tom sigiloso. 

  —Ela quem?  

 —A garota que te falei... aquela da calçada.

  —Mesmo?! 

  Yuna abriu um grande e empolgado sorriso logo que Ryujin assentiu em confirmação, e assim cobriu a boca com a palma da mão para que pudesse soltar risadinhas e intercalar olhares sugestivos entre a amiga e a nova garota, onde inevitavelmente acabou sendo repreendida por Minji, que não apenas notou tudo como comunicou seu desaprovo com poucas e silenciosas expressões, e que com isso barrou qualquer outra interação que as duas pudessem fazer posteriormente.

  Sendo assim, ansiosa e cheia de questionamentos, Ryujin engoliu o ar e endireitou a postura ainda mais, voltando a encarar a garota que, olhando mais atenciosamente, aparentava alternar entre ser uma mulher e uma garota ao mesmo tempo, o que a fez se questionar a respeito de sua idade. Ela claramente tinha mais de vinte anos, pois exalava uma aura madura e séria no modo pelo qual estava encarando a situação, mas em contrapartida, por trás daqueles olhos sóbrios o modo solto de agir e de se comunicar transmitiam jovialidade junto de suas roupas mais despojadas, o que certamente facilitava o ganho da simpatia dos presentes ali e também dificultava a tarefa de encaixá-la num grupo etário específico.  A mochila pendendo despreocupadamente em apenas um ombro, o sorrisinho que ela dirigiu a cada um particularmente como se quisesse demonstrar uma importância individual... de fato sua atitude ajudou para que sua imagem demonstrasse certa humildade e um apreço imediato pelas pessoas, mas no fundo, talvez mais fundo do que o próprio fundo, Ryujin terminou pensando que ela tinha de ser ao menos um pouco metida e vaidosa. Nem que fosse apenas uma pequena porcentagem, sabia que aqueles traços deveriam existir dentro da garota apenas por observar a forma como ela constantemente massageou o próprio cabelo e em certos momentos pareceu estar flertando com os olhos, mesmo que amigavelmente. 

  Contudo, Ryujin não quis que seu julgamento fosse contaminado tão precocemente, então deixou aquelas conclusões de lado e passou a se concentrar nos fatos à sua frente. Afinal, aquela era a coreógrafa com que ela e as garotas trabalhariam pelas próximas semanas? E, se sim, que diabos...? Aquela era provavelmente a mais incômoda das coincidências e ao mesmo tempo o mais agradável dos inconvenientes, fazendo toda a sua mente transbordar em mais reflexões conflitantes, porque, querendo ou não, se o desfecho transmitisse que não era o que pensando, certamente ficaria ligeiramente desapontada, e não era esse o seu desejo. Ryujin queria que ela fosse a coreógrafa, sabia que sim, e sentiu que precisava da resposta o mais rápido possível.

  —Eu sou o Namoo, caso ainda não me conheçam. Sou coreógrafo. - O homem alto enfim se apresentou a todos logo que tudo voltou a ordem, e devido a isso Ryujin o considerou familiar, já que tinha uma breve memória de vê-lo pelos corredores da empresa em eventuais ocasiões; de certo era coreógrafo dos boygroups. - E essa é a minha amiga e colega, Alexia. Ela vai estar com a gente também. 

  Uma vez que ele indicou a garota com as mãos e um orgulhoso sorriso nos lábios, Ryujin passou a repetir aquele nome em mente com o fim de memorizar e convencer a si mesma de que, sim, passaria a vê-la com mais frequência a partir dali. E em meio a isso, acabou por notar o olhar de canto que Alexia o lançou, como se estivesse incomodada com o que havia sido dito, ao mesmo tempo não conseguindo desapegar desse suposto sentimento mesmo que depois tenha tentado disfarçar ao estender a mão para cumprimentar Yeji devidamente.   

  —Me chame de Alex, por favor. - Ambas trocaram sorrisos polidos e um aperto de mãos confiante, onde logo ela passou a cumprimentar as outras da mesma forma também. - Você é…? Chaeryeong, claro, ouvi falar muito sobre você. E você é a Lia, certo?

  De repente, Yuna preencheu todo o silêncio da sala ao não conseguir evitar algumas risadinhas explicitamente audíveis, onde atraiu toda a atenção para si e consequentemente acabou corando pela vergonha de ter todos aqueles olhos curiosos procurando a razão para tal. Assim, ela olhou diretamente para Alex com uma feição medrosa e igualmente infantil, não deixando de sorrir num evidente apelo de chantagem quando a própria também sorriu e esperou por uma explicação sem parecer ter se incomodado com a interrupção. 

  —Seu sotaque é um pouco engraçado. - Esclareceu timidamente, mas pareceu ter perdido um pouco da vergonha quando Alex assentiu em entendimento e a olhou com cumplicidade.

  Ryujin pensou com seus botões que, de fato, o coreano dela nem de perto se assemelhava ao de um nativo, mas não considerou grande coisa se levando em consideração que já tinha visto piores; na verdade, sua pronúncia até mesmo a lembrou de Lia, que havia adquirido algumas manias de dicção por ter morado no Canadá no passado. 

  —Alguns dias são piores que outros, acredite. - Alex sorriu ainda mais abertamente depois de entender e, enquanto os outros riam e comentavam baixo a respeito, pela primeira vez acabou cruzando seu olhar com o de Ryujin, e assim terminou criando uma conexão forte de íris. Desse modo, aquele sorriso então passou a diminuir e uma de suas sobrancelhas se inclinou em curiosidade durante o breve processo de reconhecimento; enfim havia a enxergado ali. - Você eu conheço. - Calmamente, ela ofereceu a mão para um aperto e explorou todo o rosto de Ryujin com olhos intensos e um tom ousado na voz, parecendo interessada em enfatizar o toque assim que ambas apertaram as mãos. - É aquela garota rude e mal educada que trombou em mim e nem ao menos tentou pedir desculpas. Como está?

  Imediata, Ryujin quebrou aquele aperto e afastou sua mão da dela como quem acabou de tocar algo em chamas, atraindo toda a atenção que estava em Yuna para si, já que foi clara ao demonstrar que Alex a repeliu com aquela frase. Por que ela usou aquele tom e escolheu aqueles termos em específico para a definir em frente às suas amigas e seus colegas? 

  —Isso aconteceu? - Minji perguntou com um meio sorriso. 

  —Sim, foi próximo à empresa... creio que foi na semana passada, ou algo assim. - Respondeu ainda em meio à seção de troca de olhares intensos com Ryujin. - Mas não há problemas, pelo que percebi esse tipo de desrespeito é bem comum por aqui. - Terminando com aquela conclusão, ela colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha e voltou a abrir um sorrisinho para todos.

  —Talvez tenha sido apenas um engano, digo... - Minji tentou contestar, vez ou outra olhando para Ryujin ao tentar articular uma explicação plausível. 

  —Não, não foi.

  —Ela provavelmente não deve ter notado ou coisa parecida... a Ryujin é uma garota verdadeiramente respeitosa. 

  —Hmm… eu não diria que tenha sido por falta de notar... - Deixou o canto de seus lábios demonstrarem para Ryujin seu tom irônico, fazendo clara menção ao que havia acontecido de fato. - Mas agora já não importa mais, é passado. - Deu de ombros e rapidamente transformou sua expressão para algo mais amigável, mesmo que seu tom de voz demonstrasse o contrário; parecia provocativa. -  Na verdade só quero descobrir o seu nome. 

  —Ryujin.

  Contragosto, ela respondeu sem ânimo e com certo asco desviou o olhar para o outro canto da sala, tentando demonstrar pouco caso por mais que na verdade estivesse se sentindo constrangida por ter sido "desmascarada" em frente a todos. A partir dali, sua feição se tornou inflexível e séria, sem chance de mudanças; seu descontentamento foi tão claro que toda a sala ficou silenciosa por algumas frações de momento, onde o clima os envolveu num mútuo sentimento de embaraço. Dentro de sua consciência, Ryujin decretou que a atitude de Alex não foi a das mais simpáticas, especialmente se considerar que ela resolveu trazer a tona aquele eventual desentendimento para que os outros julgassem sem a dar a chance de se defender, o que feriu muito seu ego. Além disso, a classificar como rude e mal educada antes mesmo que pudessem terminar de se cumprimentar pareceu ser igualmente ou ainda mais desrespeitoso, e aquele era praticamente um aval para desafeto instantâneo.

  Ryujin não era boba; sabia que seu orgulho estava longe de ser o mais maduro, contudo, mesmo nessas condições, ela não considerou que aquele desagrado tivesse muito a ver com sua capacidade de estar sujeita a se sentir facilmente ofendida por simples atos. Na realidade, parecia muito coerente ter se incomodado com o que havia ouvido. Até aquele momento, apenas Yuna tinha o conhecimento do que de fato ocorreu naquele dia, e ver tudo ser revelado com aquele uso impróprio de palavras na frente de todos a irritou e a fez se sentir arrependida de cada - idealizada - palavra que deixou sair de sua boca em todas as vezes que chegou a comentar sobre isso com a mais nova. E por mero resultado, ali ela concluiu que Alex não era um bom alvo de devaneios noturnos; ao menos não mais. Agora, parecia estar mais propensa a entrar na sua lista de inimizades em potencial, e apenas isso. 

  E então, quando todos optaram por fingir que nada havia acontecido e começaram a conversar amistosamente para quebrar o gelo, Ryujin escolheu se abster de qualquer interação e preferiu também não se importar por estar visivelmente mal humorada, fazendo com que as pessoas também evitassem a convidar para se juntar à conversação. Sendo assim, após longos minutos de uma espera impaciente, Namoo e Alex enfim deram início ao trabalho e pediram para que as garotas performassem Dalla DallaIcy, justificando que queriam avaliá-las superficialmente apenas para que tivessem um norte para iniciarem o andamento da nova coreografia juntamente à correção individual de seus pontos fortes e fracos. Então elas obedeceram e as coisas começaram a fluir um pouco forçadamente. 

  —Ei… - Yeji se aproximou de Ryujin enquanto se alongavam. - Você fez mesmo isso? 

  —É, mais ou menos. - Rolou os olhos e encarou a janela ainda com a expressão ressentida. 

  —E por que não pediu desculpas? - Sorriu ao analisar aquela feição infantil. 

  —Eu não sei, me distraí ou algo assim... não foi importante o bastante para eu lembrar como aconteceu.

  Após mentir, deu de ombros e rezou internamente para que Yuna não contasse para Yeji e as outras o que de fato havia se passado, já que até então não havia pedido por segredo. 

  —Bom... ela pareceu ter se ofendido. 

  —O que não faz sentido algum! - Se aproximou num ar de sigilo e sussurrou entre dentes, tentando não deixar transparecer tanto a sua indignação. - Os ocidentais não são todos mal educados? Por que ela ligaria? 

  Rindo fraco pelo argumento estereotipado e claramente parcial, Yeji assentiu e acariciou o ombro da amiga em consolo.

  —Claro, Ryujin.... claro. 

 Depois de sorrirem uma para a outra num silencioso entendimento, ambas se apressaram para terminar o aquecimento e não delongaram muito para se juntar as outras, que já estavam prontas há algum tempo. E durante toda a prática, Ryujin teve a impressão de que o tempo estava se passando lento demais para a duração de apenas duas músicas, o que a fez ficar ainda mais ansiosa, mesmo que a princípio nem ao menos soubesse o motivo real para estar se sentindo assim. Mas conforme o desenrolar de toda a coisa, percebeu que talvez ela soubesse, sim, o motivo pelo seu incômodo: um par de olhos esverdeados que pareceram dá-la uma atenção especial em grande parte das coreografias, seguindo seus passos e movimentos numa minuciosa análise que, sem surpresas, a desconcentrou em várias ocasiões. Não sabia exatamente o que era, mas ver Alex sentada acima da mesa parecendo relaxada enquanto julgava suas habilidades foi um tanto quanto perturbador, especialmente porque ela exalava uma autoridade que Ryujin não queria reconhecer, e isso acabou piorando tudo. 

  Entretanto, graças ao inevitável fim da segunda música, ela conseguiu se aliviar daquele olhar e se acalmou conforme os dois coreógrafos passaram a dar o feedback para cada uma, onde as cinco se colocaram de frente para eles e se dispuseram a escutar com atenção. Contudo, Ryujin não estava tão interessada assim nos comentários que eles tinham a fazer, e por essa razão se contentou em observar os detalhes do chão como se fossem realmente relevantes, se perdendo em pensamentos conforme Namoo prosseguia falando sobre as incríveis habilidades de Chaeryeong ou coisa do gênero. Não era como se ela não se importasse, porque verdadeiramente se importava, mas a sua cabeça apenas estava mais concentrada em outra coisa, e não considerou que fosse sua culpa o fato de que prestou mais atenção no som da voz de Alex do que das palavras em si que ela proferia. Por mais que tentasse, foi somente naquilo que conseguiu focar... o que ela poderia fazer, então?

  —E... quanto à Ryujin. - Assim que seu nome foi pronunciado em alto e bom tom por Namoo, a garota se forçou a prestar atenção, porque bem, se era sobre si valia a pena se esforçar um pouco mais. - Você é ótima com os movimentos de torso, e seu popping é o melhor entre as garotas... gosto bastante do ângulo dos seus braços também.  

  —Hm, eu concordo. - Uma vez que Alex se pronunciou, Ryujin inconscientemente levantou o rosto e a mirou mesmo que contra sua própria vontade. - Eu gosto do movimento dos seus quadris... faz parecer que os passos são fáceis quando te olham, por mais que sejam difíceis. - Ela completou num tom mecânico, erguendo minimamente o canto dos lábios enquanto encarava uma ficha de anotações que há pouco havia sido entregue por Suk. - Mas pelo jeito você tem tendências a relaxar demais em certos momentos, isso faz parecer que os movimentos estão inacabados e preguiçosos. Precisamos trabalhar isso. 

  Ryujin a olhou vagamente, nem ao menos tentando reprimir uma risadinha desaforada e sarcástica que teve como reação imediata. 

  —Eu não faço isso... que piada. 

  Insatisfeita, cruzou os braços e soltou aquela frase na intenção de ser uma conversa consigo mesma, mas logo percebeu que talvez não tenha conseguido dosar tão bem o volume de sua voz, considerando que mais uma vez todos os olhos pairaram sobre si, inclusive os de Alex, que movimentou suas íris por cima do papel para a encarar com um sorrisinho mais aparente. 

  —Não concorda comigo? - Perguntou com calma.

  Brevemente olhando para Yeji e recebendo uma sentença de acusação daqueles olhos cortantes por ter feito o que fez, Ryujin limpou a garganta e tentou não piorar tanto a situação ao retornar o contato com Alex.

  —Bom, ninguém me disse isso antes, nem ao menos os professores nos meus tempos de trainee.

  —E isso invalida a minha opinião? 

  —Não, mas tenho o direito de discordar, certo? Até onde eu sei, isso ainda é uma democracia... 

  Alex sorriu um pouco mais ao ver a suposta seriedade de Ryujin, mesmo que ela própria estivesse tão séria quanto.

  —Sim. No entanto, se você não reconhece que há algo para arrumar, como vamos conseguir te ajudar nisso? - Levou a mão direita até a borda da mesa e fechou seus dedos ali, usando a esquerda para massagear seu cabelo ao deixar a ficha de lado, assim também descendo e subindo seus olhos por Ryujin antes de prosseguir. - Não leve para o pessoal, nós fizemos críticas a todas. Yeji faz exatamente o contrário, ela tende a colocar muita energia em movimentos que precisam de mais calma, o que faz o desempenho parecer desproporcional de modo geral, e também vamos trabalhar nisso. E não significa que seja grande coisa, porque eu disse anteriormente que vocês são ótimas, quase perfeitas. Mas você claramente não ouviu, porque estava mais preocupada com o chão do que com o que temos a dizer sobre o seu trabalho. Talvez você tenha se "distraído" de novo, quem sabe... 

  Sem mais a dizer, Alex faiscou olhares uma última vez com a garota e retornou a atividade de analisar as fichas feitas por Suk, deixando uma Ryujin totalmente incomodada e a mercê de grandes doses de frustração conforme passou a encarar todos os cantos da sala. Para ela pareceu difícil não levar para o pessoal uma vez que Alex usou uma entonação tão arbitrária por, provavelmente, também ter levado para o pessoal, e por isso acabou se sentindo ainda mais injustiçada naquele meio. E não o suficiente, também se perguntou como diabos Alex reparou em sua intromissão, já que tinha plena certeza de que estava sendo discreta o bastante. 

  De qualquer forma, sua única resposta foi um levantar de sobrancelhas irônico, que foi alvo de mais repreensões das garotas, já que o clima mais uma vez se tensionou em decorrência da atitude das duas. Internamente, ela sabia que estava sendo levemente infantil e desrespeitosa por não aceitar a crítica de uma superior, mas ela simplesmente não foi capaz de fazer diferente, e como fugia de seu controle, não se culpou por isso e muito menos sentiu remorso ou vontade de mudar algo. 

  —Eu... eu também reparei isso, na verdade. - Namoo se pronunciou ao tentar apaziguar a situação com seu tom amigável. - Mas é algo que pode ser trabalhado, não se preocupe. Você é fantástica, sei que não vai ser um problema.... - Ryujin sorriu forçadamente para o homem e assentiu sem muito ânimo. - E bom… - Ele desceu da mesa e juntou as duas mãos na frente do corpo. - Vamos começar com o trabalho. Nós ouvimos o single de vocês e a Alexia conseguiu coreografar a tempo. 

  —Alex. - Ela corrigiu baixo e também saiu de cima da mesa com a ajuda dele, que havia oferecido a mão como apoio.  

  —Isso, Alex. - Ele sorriu um pouco desconcertado e piscou para ela de modo flertivo e brincalhão, se movendo até a mesa do computador para configurar o som. - Lindo nome...

  —Okay meninas, quero vocês atrás de mim e com a Yeji no centro, por favor.

   Alex posicionou as mãos na cintura e observou Ryujin com atenção pelo reflexo do espelho, demorando a deixar de a olhar para então amarrar o cabelo e dar início ao trabalho. E Ryujin, já rendida, respirou fundo e tentou se convencer de que, ao menos, não poderia ficar pior do que já estava.  



 

[...]



 

  Já era noite quando as garotas deixaram a empresa para voltarem para casa, e ao longo do caminho, quatro delas continuaram conversando energicamente como fizeram durante todo o dia, exceto Ryujin, que sem surpresas manteve uma feição carrancuda desde as primeiras horas e estendeu até aquele momento, onde preferiu encontrar repouso silencioso no seu assento conforme desejava chegar logo ao dormitório. 

  —...e ela é de Ontário, nós temos muito o que conversar! - Lia se ajeitou no banco com uma aura relaxada e um leve sorrisinho. 

  —Vocês já conversaram muito hoje, e eu não consegui entender coisa alguma, sinceramente...

  —É verdade, vocês não deveriam interagir em inglês! 

  Cheryeong e Yuna protestaram em conjunto, considerando que ficaram de fora de muitas conversas que Alex e Lia tiveram nos intervalos para descanso.

  —Mas é útil para praticar! 

  —Não importa! - As duas exclamaram e uníssono. 

  —Ei, se acalmem! - Yeji levantou uma mão para sinalizar que deveriam conter a provável discussão que surgiria, sorrindo fraco em seguida por saber que era pura infantilidade. - Vocês duas não vão ficar excluídas, é só a Lia conversar com a Alexia quando estiverem a sós ou coisa assim, apenas não briguem por algo tão bobo.

  —É Alex, unnie... 

  Uma vez que Yuna corrigiu Yeji com um sorrisinho atrevido, Ryujin instantaneamente virou o rosto em sua direção, parecendo inconformada. 

  —Você só pode estar brincando comigo.

  —O que...? - Yuna a retribuiu em confusão.

  —Vocês realmente estão fazendo isso...? Digo... - Soltou uma risada desacreditada e negou ao também olhar as outras. - Mesmo?

  —Bom, ela prefere ser chamada assim, então... 

  —Você viu quantas vezes ela chamou a atenção do Namoo por não a chamar de Alex? - Chaeryeong comentou como se quisesse fazer segredo.

  —Que besteira... - Ryujin bufou e riu um pouco mais. - Se bem que eu faria o mesmo caso tivesse um nome tão horrível quanto esse.

  Ela não achava isso de fato, mas optou por dizer apenas porque pareceu conveniente. 

  —Eu achei um nome legal, é diferente.

  Após Chaeryeong rebater com inocência e as outras concordarem da mesma forma, Ryujin fingiu vomitar e revirou os olhos. 

  —Só estão agindo assim porque viraram um bando de puxa-sacos por ela ter comprado bebidas para vocês e lançado sorrisinhos falsos o tempo todo... Até deixou vocês a tratarem informalmente, deve se achar a própria Miss Simpatia.

  —Você não está irritada de verdade por isso, eu sei que não. - Yeji beliscou o braço dela em provocação e riu quando recebeu um tapinha na mão como resposta. - Admita!

  —Eu odeio todas vocês, francamente, que traição! Nenhuma se importou com o modo que ela me tratou!

  —Ela claramente estava brincando com você, Ryujinnie! 

  —Não estava, não!

  —É, sei...

  —Céus... - Rolou os olhos pelo teto do carro e negou com a cabeça novamente.

   —Aposto que ela vai ficar na sua mente a noite toda. - Yuna debochou e se aproveitou por estar no lado oposto do veículo para sorrir sugestivamente e cheia de imaturidade, em teoria segura de algum ataque vingativo de Ryujin. - Assim como na última semana... 

  —Te pego mais tarde, Yuna, você não perde por esperar... 

  Ryujin a ameaçou baixo e entredentes, sinalizando que deveria manter segredo através de uma linguagem de sinais que por si só demonstrava perigo. Depois, encerrando a conversa ali mesmo, voltou à sua posição inicial e recostou a cabeça na janela, contando os carros nas ruas com o fim sem sucesso de distrair sua mente. Ela estava até mesmo começando a ter dores de cabeça pela frustração de ver o envolvimento de Alex em praticamente tudo que havia sido feito naquele dia, levando em consideração que havia perdido a conta de quantas vezes foi corrigida durante os ensaios e de quantas vezes se viu irritada por isso, especialmente porque sabia que seus erros não eram evidentes ou graves o bastante para que Alex fizesse tanta questão de comentar. Na sua visão, sentiu que a atenção estava toda em sua pessoa como se fosse o centro de um grande alvo, o que considerou extremamente injusto uma vez que percebeu que as outras garotas não estavam sendo tratadas assim, até porque na maioria das vezes quem as corrigiu foi Namoo. E sendo assim, o que era aquilo, afinal? Uma espécie velada de vingança por um simples pedido de desculpas que não aconteceu?

  Não o bastante, ainda tinha de suportar as garotas falando sobre Alex e Namoo como se fossem verdadeiros anjos simplesmente porque pareciam mais legais e simpáticos que os coreógrafos com que trabalharam na era de ICY. Eles mal se conheciam direito, tampouco haviam começado a rotina de trabalho real, como podiam tirar conclusões tão precipitadas? Pareciam ingênuas demais ao seu ver. Ryujin não era do tipo que gostava de tirar conclusões precipitadas, mas por mais que ela própria tenha feito isso com Alex, imaginou que as garotas estavam duramente erradas a respeito de todo aquele encantamento, não apenas porque se convenceu a acreditar nisso, mas porque também queria provar para si mesma e justificar que estava, sim, correta ao pensar negativamente a respeito daqueles olhos esverdeados. 

  Ela não poderia estar errada, poderia?

  Não, é claro que não... definitivamente não. 

  

 

 

[...] 


 

 

  Três dias depois:

 

  09:00


 

 —Ela me olha como se eu fosse detestável toda vez que a corrijo. - Alex balançou a cabeça em negativo enquanto assinava alguns papéis no balcão da recepção. - É pura loucura, digo... - Suspirou e sorriu. - Ah, deixa pra lá. 

  —Ela não está errada, sabe. - Sunhi apoiou o cotovelo naquela superfície e a observou com um sorrisinho sugestivo nos lábios, a esperando pacientemente. Alex apenas sorriu e endireitou a postura. - Do jeito que você fala parece até implicância da sua parte. 

  —Mas não é... pelo menos não tanto assim. 

  —Você está mesmo fazendo de propósito, não é?

  Ambas sorriram cúmplices a partir do momento em que Alex devolveu os documentos e a caneta para a recepcionista, então passaram a seguir seu caminho até o elevador. 

  —O que eu posso fazer? É engraçado… E isso tem muito mais a ver com ela do que comigo. 

  —Aham, sei...

  —Estou falando sério! Ela parece não saber separar as coisas. Por mais que eu force a barra, não é como se eu tenha corrigido ela sem motivo, mas ainda sim, ela se recusa a aceitar e age como se eu estivesse a ofendendo! As outras garotas são diferentes, elas aceitam com humildade e até agora nos demos mais do que bem... enquanto isso a Ryujin segue sendo exceção. 

  —Você poderia deixar essa tarefa para o Namoo, então, não sei... pelo bem maior. 

  —É, quem sabe... de qualquer forma já estou cansando de a irritar, não quero atrapalhar o progresso.

  —E por falar no diabo…

  Mudando drasticamente de expressão, Sunhi desviou o olhar para outro lugar e esboçou toda a sua antipatia ao avistar Namoo se aproximar delas em passos desengonçados e apressados. 

  —Ei, onde você estava?! - Ele segurou no ombro de Alex enquanto extremamente ofegante. - Te procurei por toda parte!

  —Eu acabei de chegar... - O olhou de cima abaixo, estranhando seu modo de agir. - O que você tem? 

  —Eu esqueci completamente que tenho compromissos urgentes para hoje, então preciso correr se não quiser me ferrar. Você vai ficar bem estando sozinha com as garotas, certo? O Suk está lá também, ele pode te auxiliar no que precisar!

  —Ham, claro, sem problemas. - Trocou olhares com Sunhi, que até então o olhava de rabo de olho com visível desprezo. - Já fizemos isso antes mesmo... Apenas se acalme, Namoonnie. - Sorriu e deu breves batidinhas na mão dele que ainda buscava apoio em seu ombro. 

  —Céus, você é a melhor, Alexia! Digo, Alex, Alex! - Suspirou aliviado. - As bebidas de mais tarde serão por minha conta, para vocês duas! 

  —Continue sonhando. - Sunhi resmungou de mau grado, cruzando braços e o encarando diretamente dessa vez. - Aposto que vai deixá-la na mão como sempre faz, e depois vai voltar após dias sem dar sinal de vida e mostrar essa sua cara de mongolóide para pedir desculpas.

  —Não acredito que continua brava comigo, Sunhi! Quantas vezes vou precisar repetir que eu não estava flertando com a garota do restaurante?! 

  —Assim como foi com as outras garotas, não é? - Ironizou. - Me poupe, já estou farta de você!

  —Oras, não é minha culpa que você vê coisas onde não tem! 

  —Você não estava indo embora?! 

  —Não antes de esclarecer toda essa bobagem! 

  —Okay, essa é a minha deixa... - Constrangida, mas nada surpresa pelo escândalo que faziam, Alex se despediu dos dois com um curto aceno e não esperou para seguir o caminho sozinha, visando o elevador vago mais a frente. 

  Já estava acostumada com as recorrentes brigas do casal, e por saber que mais cedo ou mais tarde eles estariam novamente se atracando cheios de paixão para de novo brigarem num ciclo sem fim de amor e ódio, deixou que passassem aquela vergonha sozinhos e preferiu focar em imaginar como conduziria o treino naquele dia, principalmente por não ter Namoo ali para intermediar as contestações de Ryujin. Então, uma vez dentro da cabine, apertou o botão e tentou se convencer a não implicar com a garota para evitar tanta desordem, mas esse pensamento evaporou no mesmo segundo em que avistou, vindo em sua direção, uma mesma Ryujin apressada e certamente decidida a alcançar o elevador antes que as portas se fechassem. 

  "Que coincidência…" pensou internamente conforme acompanhava o andar marrento, mas acelerado, da garota. Assim, por ter esquecido momentaneamente de seu acordo interno para cessar as implicâncias, analisou as portas se fecharem lentamente e não ousou fazer algo a respeito para pará-las, escolhendo prosseguir encarando Ryujin enquanto a própria ainda não a notava ali. E então, na hora certa em que seus olhos enfim se reencontraram e trocaram as primeiras farpas silenciosas do dia, Alex lentamente moveu a mão e a colocou entre as portas, consequentemente fazendo o elevador reabrir para receber outras pessoas. 

  E Ryujin, que pouco a pouco desacelerou seus passos ao se colocar em frente ao elevador, encarou friamente os olhos de Alex e recebeu através deles uma mensagem clara de "você vai ter que me agradecer por isso", que sem esforço algum foi encarada no pior dos sentidos. Como esperado, ela odiou ter aquela impressão, e tão simples quanto somar dois e dois, concluiu que não entraria naquele elevador mesmo que lhe fossem oferecidos um bilhão de wons, e por essa razão acabou parando de vez de andar, erguendo o queixo e mostrando toda a sua arrogância no olhar para tentar respondê-la a altura, deixando claro que não aceitaria aquilo tão facilmente. E então, sem esperar coisa alguma, finalizou aquela interação não verbal com inúmeras maldições à sua querida coreógrafa e enfatizou o giro de seu corpo para a direita, onde seguiu andando enraivecida em direção a nada mais e nada menos que as escadas do prédio. 

 

E quanto a Alex, que assistiu a tudo com atenção e curiosidade, acompanhou os passos dela até onde pôde e, somente após as portas terem se fechado, sorriu. Sorriu abertamente para seu reflexo no espelho e ainda soltou risadinhas divertidas ao tentar adivinhar o que diabos havia se passado na mente de Ryujin para que recusasse sua "gentileza" com tanta ênfase. Depois mirou os próprios pés e prendeu o lábio inferior entre os dentes, prosseguindo pensando a respeito até que enfim estivesse andando nos corredores do terceiro andar, e ao adentrar na sala de treino e encontrar ali apenas quatro das cinco garotas se aquecendo, sorriu ainda mais por pura descrença. 

  —Apenas quatro? - Perguntou na cara dura, fingindo desentendimento. - Onde está a Ryujin?

  —Ela esqueceu o celular no carro... - Chaeryeong respondeu olhando para a porta. - Não a encontrou no caminho? 

  —Hum… Não, não encontrei. - Balançou a cabeça em negativo e se dirigiu até a mesa onde Suk já se encontrava, depositando ali seus pertences. - Eai, Suk... como está?

  —Eu estou bem, eu acho... - Sorriu envergonhado e se ajeitou melhor na cadeira. 

  —Ótimo. Sabe que seremos só nós dois hoje, certo? 

  —Seremos...?

  —Namoo não te contou?

  —Não, ele apenas... 

  Antes que pudesse terminar sua frase, o barulho da porta se abrindo e as exclamações das garotas foi o bastante para Suk se calar, já que o estrondo foi ainda maior quando Ryujin bateu a porta ao fechá-la, parecendo furiosa conforme se aproximava. E não conseguindo conter um meio sorriso ao ouvir o bufar da garota ecoar por toda a sala, Alex virou o corpo e encostou o quadril na borda da mesa para que pudesse assistir seus movimentos propriamente, onde agora ela tirava o moletom de seu corpo como quem está sentindo um calor fora do comum, além de que parecia tão ofegante quanto Namoo minutos atrás. "Você realmente subiu três lances de escadas por minha causa?" pensou com seus botões durante todo aquele processo.

  —Por que demorou tanto? - Yeji perguntou assim que esteve perto o suficiente, parecendo preocupada ao oferecê-la uma garrafa d'água. 

  —Tive um imprevisto. 

  —O que aconteceu? 

  —Nada. - Balançou a cabeça em negativo enquanto seu cenho franzido já deixava claro que não queria falar sobre. 

  —Mesmo? 

  —Sim, estou bem. 

  —Certo... 

  Alex estreitou um pouco os olhos enquanto as assistia. Ryujin parecia mesmo irritada, mas não conseguia a levar a sério; quanto mais a olhava, mais vontade sentia de rir devido à sua atitude infantil, e por mais que tenha considerado o bico em seus lábios algo fofo por natureza, acabou deixando tudo de lado para seguir os horários definidos. 

  —Okay, já que estamos todos aqui, vamos começar logo com a coreografia. Soube que vocês vão passar as próximas tardes gravando no estúdio, então precisamos nos apressar para conseguir intercalar as práticas durante a manhã e a noite. 

  —Mas a Ryujin ainda não se aqueceu…  

  Chaeryeong se pronunciou com a voz um pouco passiva, erguendo o dedo indicador no ar num ato de respeito e curiosamente medroso que Alex não apenas julgou adorável, como também se deu ao trabalho de sorrir docemente como resposta e levou as duas mãos para a borda da mesa para que parecesse menos intimidadora. 

  —Não precisa, já estou quente.

   Ryujin interrompeu o momento com sua voz cortante, onde caminhou em passos decididos na direção de Alex e jogou todas as suas coisas ao lado dos pertences das outras membros sem ter muita delicadeza, explicitando o aborrecimento no seu tom de voz. Claro que, para fazer aquilo, ela inevitavelmente precisou ficar ao lado de Alex, que inevitavelmente também não se importou em virar o rosto para a olhar sem pensar em disfarçar ou não demonstrar interesse. 

  Na verdade, Alex mostrou não ter traço algum de vergonha em sua face, especialmente ao analisar toda a anatomia de Ryujin e tirar suas conclusões a partir daquela visão tão próxima. Ryujin era mais baixa, talvez cinco centímetros ou mais, e não viu problema em concluir consigo mesma que ela também parecia verdadeiramente bonita sem maquiagem ou outro tipo de adereço, e nem mesmo sua feição enfurecida foi capaz de atrapalhar o veredito. Alex também percebeu que gostava do modo como ela se vestia, onde suas roupas, por mais casuais que fossem, marcavam bem suas proporções e a faziam parecer mais atraente. Contudo, mesmo que tivesse se esforçado para não parecer tão invasiva ou rude no modo de olhar, Alex acabou recebendo uma resposta direta e muito clara de Ryujin, que não gostou de ter sido analisada e por decorrência acabou fazendo o mesmo, hostilizando-a da cabeça aos pés com seus olhos frios e incomodados. 

  —Se você diz… - Alex desviou o olhar logo que notou aquele julgamento, mas continuou sentindo ser queimada pelas íris de Ryujin até mesmo quando a garota voltou ao meio da sala. - O que você estava dizendo...? - Tentando ignorar, tornou sua atenção novamente para Suk.

  —Oh, eu... eu estava dizendo que o Namoo hyung não me disse nada, apenas saiu correndo. Pensei que estivesse com diarreia ou algo parecido. - Alex riu fraco ao notar a normalidade dele para tocar no assunto. - Mas, de qualquer forma... - De repente parecendo ansioso para encontrar algo, o garoto começou a procurar algo em meio à sua bagunça. - Você gosta de café? Digo... café. 

  —Hum… de jeito nenhum. - Juntou as sobrancelhas em divertimento e negou fraco. - Por que? 

  —Oh. - Murchou os ombros e encarou a superfície da mesa, brincando com um copo de plástico que em sua tampa tinha a logo de uma das cafeterias próximas dali. - Eu te trouxe um da cafeteria, mas… - Soltou uma risadinha decepcionada. 

  —Mesmo? - Levantou as sobrancelhas em surpresa e esboçou uma imediata satisfação. - Então me dê. - Sorriu e estendeu uma mão. 

  —Mas, noona, você disse que não gosta. 

 —Eu não gosto, mas posso tomar. Obrigada, Suk. - Piscou galante e pegou o copo com delicadeza, assim como também pegou mais uma das fichas diárias que ele costumava fazer para que tivessem um cronograma organizado. Assim, não tardou a se aproximar das garotas enquanto tentava decifrar não apenas o hangul em si, mas a letra do garoto também. - Ham… - Passou a língua entre os lábios e sorriu para elas, desistindo em poucos segundos de encarar aquele enigma tão cedo. - Todas prontas agora?

 

 

 

[...]

 

 

 

Ryujin se sentou no chão em meio a respirações pesadas e, tateando a tampa da garrafa em mãos, olhou exclusivamente para Alex e Lia, que riam de algo relacionado à coreografia enquanto se moviam em frente ao espelho como se já fossem íntimas. “Olha só para ela, sorrindo como a Miss Simpatia que é... tão patética. Se a Lia ao menos soubesse...” resmungou em sua mente apenas para revirar os olhos em seguida. Ela simplesmente não conseguia entender como diabos as garotas tiveram a capacidade de simpatizar com Alex tão rápido, especialmente Yuna, que mesmo sabendo de toda a história ainda teve a coragem de ter passado noite anterior a bajulando para Minji durante todo o caminho para casa como se estivesse apaixonada ou coisa parecida, o que era perdidamente estranho. "Aposto que você não é nem a metade do que pensa ser... francamente." balançou a cabeça em completa infelicidade e largou a garrafa, apoiando as mãos no chão para que pudesse inclinar o corpo um pouco para trás e assim continuar analisando a dupla à sua frente.

“Engraçado como passou as últimas horas me criticando quando tudo estava perfeito e agora tem a coragem de agir como se nada tivesse acontecido, somente para ganhar minhas amigas...” respirou fundo e tentou manter a calma assim que viu Yeji se juntar à conversação. Simplesmente não estava certo! Como diabos Alex era capaz de construir uma amizade com elas e, ao mesmo tempo, incomodá-la até a morte sem nenhuma dificuldade? Não apenas isso, mas como diabos as próprias garotas não eram capazes de enxergar toda aquela injustiça escancarada? Como não conseguiam reparar naquelas implicâncias desnecessárias e nos olhares explícitos que Alex a lançava de minuto em minuto?

 “Veja como ela se acha com aquelas roupas e essa marra toda... por Deus, que metida!” subiu e desceu seus olhos várias vezes por Alex, observando com atenção cada pequeno traço de comportamento e também cada detalhe de sua aparência, não sendo capaz de evitar se sentir irritada com tudo o que via. Do par de tênis branco em seus pés até a última mecha de cabelo castanho, tudo sobre Alex a deixava inquieta e perturbada da maneira mais estranha possível. De certo modo, mesmo sabendo que definitivamente não era uma sensação boa, também não conseguiu considerar uma sensação ruim a que sentia sempre que colocava seus olhos sobre ela. Não sabia exatamente o que era, e de certo estava longe de descobrir a razão para tal, mas caso tivesse que descrever, seria algo como... um incômodo forte que fugia do significado tradicional da expressão, se é que isso existia, claro, considerando que nunca aconteceu antes. Mas por que tinha que ser assim? Ela não queria que fosse...

 Influenciada por essa linha de pensamento, inconscientemente começou a pensar a respeito do que aconteceu há duas semanas, mais precisamente sobre a forma como Alex a olhou tão intensamente sem nem mesmo saber quem era, e também no modo como se sentiu com isso quando recuperou sua total sanidade. Ali, limitada em sua própria mente, Ryujin se considerou uma boba por ter pensado que Alex parecera charmosa e atraente naquela ocasião, tal como se julgou ainda mais boba por ter confessado suas mais constrangedoras reflexões a Yuna, que num provável surto de insanidade sugeriu que talvez elas tivessem flertado, se encarando por outra perspectiva. Secretamente, também se elegeu a mais boba dos bobos por ter se sentido ligeiramente bem com aquela suposição descabida, como se por um momento fosse algo... bom. Claro, aquele era o maior dos absurdos, no entanto, seu cérebro insistia em continuar trazendo aquele assunto à tona praticamente de hora hora, e por mais que tentasse repreender a si mesma por isso, sabia que era inútil. Se mal conseguia deixar de olhar para Alex, ali, naquele momento em especifico, quem dirá evitar aquele tipo de pensamento. 

  Isso a deixava irritada, óbvio que deixava, mas como tinha ciência de seu próprio fracasso, decidiu se privar da auto crítica por alguns momentos e se permitiu continuar a espiá-la com olhos discretos, focando ainda mais em seu corpo assim como um verdadeiro psicopata faria. Enquanto escutava Yeji, Alex mantinha uma expressão gentil e paciente, olhando diretamente nos olhos dela sem nenhum desvio e com um sorrisinho permanente nos lábios como quem de fato está interessado, vez ou outra desfazendo a pose somente para arrumar o cabelo de uma forma que Ryujin não queria admitir que era atraente, mas era. Suas reações, as diferentes formas de rir dependendo da situação, os claros mal-entendidos sempre que era apresentada a novas expressões em coreano... tudo isso a fazia parecer jovial, mas se considerando o modo mais sério que adotava quando era a sua vez de falar, concluiu que ela era do tipo que procurava o meio termo para tudo.

  E o mesmo se aplicava às suas roupas; estava vestindo uma camisa de botões branca que claramente era alguns números maior do que usava, mas que acabou ficando surpreendentemente bem devido às mangas dobradas até os cotovelos e os primeiros botões abertos até o limite permitido, o que a tornava bastante elegante, mas igualmente desleixada se levando em conta o shorts jeans que era quase todo coberto pela barra da camisa, a tornando até mesmo um pouco cômica. Ryujin teve vontade de considerá-la uma idiota por usar esse tipo de roupa em pleno inverno, mas os aquecedores da empresa eram bons o suficiente para lhe dar esse privilégio, então escolheu somente continuar julgando em silêncio. Todavia, com as roupas certas ou não, a aparência de Alex ainda continuava a "incomodando" no fundo da alma, e não haveriam olhares intensos, movimento de dedos naquele cabelo castanho ou sorrisos flertivos que a fariam mudar de opinião tão cedo, então apenas ergueu o queixo e mostrou certa superioridade, visando se convencer de que os pensamentos de duas semanas atrás já não a representavam mais. Ela conseguia fazer isso, sabia que sim.

 

  —Me dá um pouco? - Se sentando preguiçosamente ao seu lado e a tirando de seus devaneios, Yuna estendeu a mão e pediu pela garrafa enquanto tentava controlar sua respiração.  

  De rabo de olho, Ryujin a assistiu beber a água enquanto também olhava distraída para as garotas, e após dez ou quinze segundos, baixou os olhos para as próprias pernas e pigarreou fraco, tentando ao máximo parecer despretensiosa na abordagem. 

  —O que está achando da coreografia? 

  —Hmmm... - Yuna comprimiu os lábios e a devolveu a garrafa, dando uma breve pausa ao parecer ponderar sobre a pergunta. - Eu gosto. A Alex disse que quis manter a tradição da pose de coroa depois de assistir nossas performances, e como ela nos deixou livre para dar sugestões, acho que tem bastante potencial. - Sorriu atrevida e baixou o tom de voz para completar. - E como ela também é legal, eu sou suspeita para falar. 

  —Qual foi o suborno que ela te comprou da cafeteria hoje? - Soltou o ar desaforadamente pela boca. 

  —Nada, ainda não está na hora do almoço. - Deu de ombros após rir fraco, mas prosseguiu com um meio sorriso ao notar que Ryujin não conseguia conter os frequente olhares para Alex, apesar de visivelmente odiar isso. - Mas e você, o que acha?

  —Se eu acho ela legal? - Parecendo ofendida por merda suposição, Ryujin encarou a mais nova com uma forte aura de autodefesa. 

  —Não, a coreografia! - Levantou uma mão no ar para também se defender, apesar de ter rido mais uma vez.  

  —Ah... - Se recompôs e tentou simular pouco caso ao dar de ombros. - Não sei, parece ter tudo para ser uma droga. 

  —Humpf… - Riu em deboche. - Tá bom. 

  —Não acredita em mim? 

  —Unnie, essa coreografia é a sua cara! E a Alex te deu vários destaques, inclusive... 

  —Não significa muito... - Começou a analisar suas unhas com o propósito de melhorar sua atuação. 

  Yuna abriu um sorrisinho mais aparente e levantou as sobrancelhas. 

  —Certo... mas e dela, o que está achando? 

  Ryujin franziu o queixo e formou um bico mimado nos lábios, voltando a apoiar as mãos no chão com preguiça. 

  —Bem mais ou menos. 

  —Por que? - Sorriu ainda mais quando recebeu um olhar significativo. - Ainda ressentida pelo que aconteceu aquele dia? 

  —Naquele dia, pff... o ressentimento é diário! - Começou a balançar as pernas a fim de aliviar sua ansiedade. - Por acaso viu a forma como ela fica me olhando? 

  —Ham, não...? - Levantou uma mão no ar como se fosse óbvio. 

  —Como não? 

  —Bom, o meu mundo não gira em torno de você, não é? Como eu poderia ter reparado? 

  Ryujin a lançou um olhar desacreditado e sério, não dando o braço a torcer mesmo quando a garota sorriu infantilmente como se quisesse ser desculpada pela forma como trouxe aquela frase à tona. 

  —Enfim… - Soltou entre dentes, simbolizando que deixaria passar daquela vez. - A tal Alexia também tem me corrigido por pura provocação, então não vejo razão para gostar dela. 

  —Mas ela corrigiu todas nós, principalmente a Lia. Não reparou? - Ryujin levantou os ombros desdenhosamente como resposta, odiando ser rebatida em tudo. - Talvez seja coisa da sua cabeça...

  —Não é, confie em mim.  

  —Quem sabe a implicância seja sua, e não dela...  

  —Eu mereço... - Revirou os olhos. - Tolice a minha, esperar ter o apoio justamente da maior puxa saco da Miss Simpatia.

  Yuna a lançou um gigantesco e divertido sorriso, não tardando a se levantar e a estender a mão para que também ficasse em pé. 

  —Você pode mentir para mim, caso queira, se é o que te faz se sentir melhor, mas não pode mentir para si mesma. Sabe disso, não sabe?

 —Visitando sites com frases de efeito de novo, Yuna? - Aceitou sua ajuda e se levantou com um pouco mais de preguiça, fazendo corpo mole enquanto se recuperava das dores nas pernas. 

  —E qual o problema? Não deixa de ser verdade... 

  Ryujin a olhou com carinho e sorriu, passando seu braço por cima dos ombros dela e a abraçando ao perceber que ainda a adorava, mesmo que tivesse o mau gosto de se encantar por alguém como a Alex. 

  

 

[…]

 

 

  19:00

 

 

  —Toc, toc.

  Adentrando a sala de ensaios e encontrando Alex e Suk assistindo a gravação das práticas em frente ao computador, Minji sorriu simpática e deu espaço para as garotas entrarem também. 

 —Oh, oi... - Alex a cumprimentou fraco e não demorou a levantar para se curvar mais respeitosamente. 

 —Venho buscar elas por volta das nove e meia, tudo bem para você? 

 —Okay, eu as libero um pouco antes. - Também sorriu para cada uma delas e retribuiu todos os cumprimentos, mas estranhou o fato de que apenas quatro haviam passado pela porta, sem sinal de que mais alguém chegaria. - Onde está a Ryujin? 

  —Ah, é. - Minji segurou na maçaneta da porta e coçou a nuca. - As gravações demoraram um pouco mais do que o esperado, ela só foi começar a gravar agora. Provavelmente não vai conseguir voltar aos ensaios hoje, sinto muito.

  —Oh… - Endireitou a postura e balançou a cabeça em positivo, ligeiramente decepcionada. - Entendi. 

  —Espero que não vá atrasar seu trabalho. 

  —Não se preocupe, está tudo bem. - Sorriu cordialmente, retribuindo o aceno de mão da mulher assim que ela fechou a porta. 

  —Ela dá conta de acompanhar. - Suk comentou baixinho, a lançando um breve olhar conforme digitava algo nas anotações do computador. - A Ryujin. 

  —É? - Alex o olhou de canto com certo interesse. 

 —Sim. Já deve ter reparado que ela uma das melhores. 

  —Sim, reparei. - Sorriu fraco sem nem ao menos perceber, erguendo os braços para se espreguiçar. - E por falar nisso… - Olhou para o horário na tela do computador. -  Também reparei que já cumpriu seu horário. Por que ainda está aqui?

  —Ham, eu não quis te deixar sozinha aqui, já que o Namoo não está... 

  Alex arrebitou o nariz e tombou a cabeça para o lado ao encarar a feição bondosa do garoto. 

  —Por que você é tão mais agradável que o outro estagiário que estava comigo antes? Não é justo... - Pousou a mão no ombro dele e riu, em seguida desligando a tela do computador para indicá-lo a mochila acima da mesa como incentivo para ir para casa. - Nos vemos amanhã? 

  —Sim. - Ele se levantou animadamente e começou a guardar seus pertences. 

 

  Assim, enquanto esperava as garotas descansarem um pouco antes de voltarem a praticar, Alex tentou procurar seu caderno de anotações em meio à bagunça que Suk deixou ali antes de se despedir, então se concentrou em arrumar tudo para que, minutos depois, enfim encontrasse o que queria. 

  —Até que enfim… - Murmurou baixinho e em inglês, lendo superficialmente as observações mais importantes e se concentrando a registrar a nova expressão que ouviu de Yeji mais cedo.

  —A propósito… - Alex desviou a atenção do papel quando Minji surgiu mais uma vez na porta, dessa vez adotando uma expressão de lamento. - Esqueci de te avisar, mas o Dongsun pediu para que você o entregue um relatório de progresso ainda hoje. 

  —Oh… - Alex murchou os ombros e tornou seus olhos vagos, lamentando a partida de Suk minutos atrás. 

  —Mas ele já foi embora, acho que isso te dá um pouco mais de tempo. - Sorriu ao tentar amenizar a situação.  

  —Tudo bem, acho que consigo entregar.

  —Eu deveria ter te avisado pela manhã, mas esqueci completamente, me desculpe. 

  —Não tem problema, mesmo. - Balançou as mãos no ar e aliviou sua expressão ao sorrir solícita. 

  —Ótimo. - Minji sorriu de volta e se despediu mais uma vez com um breve aceno.

   Suspirando forte conforme assistia a porta de vidro ser fechada, Alex olhou desanimada para as garotas e não tardou a rir de sua própria condenação ao notar os olhos divertidos e apreensivos delas. 

  —Já descansaram o suficiente? - Rendida, amarrou seus cabelos descuidadamente num rabo e esperou todas responderem positivamente. - Então vamos logo com isso. - Se dirigiu até o computador para controlar a música, tentando não se contaminar por aquele imprevisto. - Vou fazer as partes da Ryujin para que não se confundam, tudo bem? Inclusive...  vocês já comeram hoje? 

 

 

[...]

 

 

22:00


 

 

 —Onde está você…?

Agora sozinha e sem ninguém para a animar, Alex resmungou consigo mesma enquanto procurava pelo seu carregador na sala anexa. Abaixada e com as mãos perdidas em sua mochila, cogitou desistir da busca mesmo que tivesse seu celular descarregado ao seu lado no chão, mas por sorte, depois de espalhar todas as suas coisas ao redor, conseguiu enfim colocar as mãos no tão desejado cabo que estava escondido no fundo da bolsa. Assim, sorriu vitoriosa e voltou a se sentir mais empolgada conforme guardava tudo de volta, porém não teve muito tempo para comemorar, já que os barulhos suspeitos vindos da sala principal se tornaram altos demais para que não roubassem sua atenção. Então, depois de socar apressadamente todas as coisas restantes de volta na bolsa, pegou somente o que precisava e se dirigiu para a porta com calma, não deixando de arrumar seu cabelo antes de realmente sair dali.

  Para a sua surpresa, quem tinha a autoria dos barulhos era Ryujin, que estava distraída demais checando suas mensagens no meio da sala para notar sua presença. Desse modo, ainda em silêncio recostou o braço no batente da porta e se resumiu a observá-la com toda a paciência do mundo, enrolando e desenrolando o fio do carregador entre os dedos conforme pensava sobre ela. Depois, baixou o olhar para suas mãos, se entretendo com aquela atividade enquanto se questionava o porquê de ela estar ali num horário daquele. E por fim, quando levantou seu olhar novamente após algumas frações de minuto, notou que a garota agora já parecia ter ciência de que não estava sozinha. Num primeiro momento, Ryujin e Alex se encararam profundamente num completo e constrangedor silêncio por longos segundos, ambas com diferentes níveis de desânimo exposto em suas íris, mas uma vez se dando por satisfeita, Alex somente se desencostou do batente da porta e se dirigiu até a mesa, calmamente plugando seu carregador na tomada. 

  —Não era para ter ido embora meia hora atrás? - Perguntou com um tom de voz contido e relativamente baixo, sabendo que era o bastante para que fosse ouvida.   

  Ryujin pousou ambas as mãos em sua cintura, propositalmente demorando um pouco para a responder. 

  —Sim, mas preferi ficar um pouco mais para decorar melhor a coreografia, não quero atrapalhar o progresso das meninas.   

  —Hum. - Foi tudo o que respondeu, agora se sentando na cadeira e dando atenção para os papéis que tinha que preencher antes de ir embora. 

  Confusa e sendo tomada por aquele mesmo sentimento de injustiça, Ryujin se manteve parada por mais um tempo e se perguntou se Alex iria dizer algo mais ou pelo menos reconhecer seu esforço, mas não, tudo que a viu fazer foi começar a preencher um pequeno empilhado de papéis como se ela sequer fizesse questão de sua presença, e isso a ofendeu um pouco, tanto que resolveu pronunciar seu desconforto de alguma maneira. 

  —Você vai ficar aqui? - Perguntou com frieza e pouco caso.

  Demorada, Alex levou cerca de cinco segundos para assentir fraco a cabeça, parecendo mais preocupada com sua tarefa para a dar o mínimo de atenção.

  —Sim. - Foi tudo o que disse, nada mais. 

  Sendo abalada por uma forte frustração, Ryujin se remexeu num visível ato de insatisfação ao perceber que, ao contrário do que havia feito, Alex não a deu sequer uma explicação que justificasse sua permanência ali, muito menos demonstrou algo além de indiferença, e por essa razão se viu ainda mais insatisfeita. Ela queria saber o porquê, queria que houvesse uma razão plausível para que tivessem que dividir aquele espaço uma vez que não simpatizavam com a outra, mas a resposta não veio de primeira, e como sabia que estava fora de cogitação fazer um questionamento mais específico, se viu obrigada a engolir em seco aquela situação e seguiu com seu plano de qualquer forma. Sendo assim, irritada pela pouca atenção recebida, ela tratou de se mover em passos pesados até o computador ao lado de Alex e iniciou a música depois de tê-la lançado um olhar mortal (que também não foi percebido). 

  Mas, bem... Ryujin acabou descobrindo da pior forma que, mais aborrecedor que não receber atenção, era justamente ganhar total dedicação dos olhos de Alex. Nos primeiros dez minutos, onde se sentiu praticamente sozinha enquanto realizava seus movimentos com perfeição, se pegou olhando para Alex várias vezes como se estivesse esperando por algo vindo dela, e não mais estranho que isso, também se pegou pensando demais sobre ela, curiosa a respeito do que tanto escrevia nos papéis e até mesmo se perguntando se ela não estava cansada por estar há tanto tempo no trabalho. Apenas isso foi o suficiente para cogitar estar fora de si, mas sendo isso verdade ou não, acabou se arrependendo profundamente de ter reclamado por atenção quando Alex resolveu dar uma pausa na escrita e passou a assisti-la pelo reflexo do espelho. 

Tudo estaria ruim se tivesse continuado assim, mas Alex resolveu piorar a situação toda de uma vez logo que virou o rosto e parcialmente o corpo para a analisar com ainda mais empenho, fazendo Ryujin perder parcialmente a concentração quando se sentiu pressionada por aquelas íris castanho esverdeadas, onde não apenas esqueceu alguns passos como também acabou perdendo o controle sobre sua respiração, a fazendo agir como se estivesse nervosa ou coisa do tipo. Consequentemente percebendo isso, Alex levou a caneta até sua boca e, brincando com a tampa entre os dentes, focou exclusivamente em seu corpo como quem está pensando muito a respeito de algo. Obviamente Ryujin se sentiu ainda mais afetada por decorrência daquele olhar tão explícito, especialmente por não saber do que se tratava, então resolveu colocar um ponto final naquilo também.

—Precisa de algo? - Parou no meio da música, deixando seus ombros subirem e descerem com força para controlar a entrada e a saída do ar. -  Está me desconcentrando.

  —Hum?  

  Tirando a caneta da boca e enfim voltando a subir o olhar, Alex a olhou um pouco confusa.

  —Está me olhando desse jeito. - Juntou as sobrancelhas e, assim como em todas as vezes, deixou evidente em sua voz o aborrecimento. 

  Calmamente, Alex pausou a música e apoiou o cotovelo na cadeira, pousando o queixo na mão para que pudesse responder com sua entonação baixa e pouco afetada. 

  —Está incomodada? 

  —Estou!

 —Como pode se incomodar com um único olhar se você se apresenta para plateias com milhares de pessoas? - Sorriu fraco, mais uma vez a analisando de cima abaixo.

  —É diferente… nos palcos eu tenho fãs, aqui só tem uma chata. - Encarou o teto com preguiça, cruzando os braços após bufar rendida.  

  —Sabe que é meu trabalho fazer isso, não sabe? 

  —Olhar para o meu corpo? 

  —Se você está dançando com ele, sim. 

  —Hm. 

  —Eu não estava te olhando dessa forma, se é o que está pensando. 

  —Eu não estou. - Negou de imediato, parecendo interessada em esclarecer o mais rápido possível. 

  —Certo... 

  Alex sorriu mais uma vez e ligou a música de volta após alguns momentos a mais de troca de olhares, obrigando Ryujin a dar leves pulinhos para extravasar aquele recente estresse antes de prosseguir praticando. Ela havia se sentido levemente constrangida por ter escutado Alex dar a entender que sabia o que de fato havia pensado por uma fração de segundo, mas na realidade se sentiu confusa por não conseguir distinguir se o seu constrangimento era mesmo pelo que pensou ou se era por ter sido contestada a respeito disso, e essa coisa acabou sendo desenrolada várias e várias vezes em seu interior durante as suas repetições, até que fosse mais uma vez interrompida. 

 

  —Hum, isso. - Alex estalou os dedos no ar. - Repete o movimento dos ombros, por favor. 

  Olhando lentamente de um lado para o outro, Ryujin passou as mãos pelo cabelo ao assisti-la pausar a música de novo.

  —Do começo…? 

  —Uhum. - Afundou as costas na cadeira e adotou um olhar sério. Ryujin então, com muita força de vontade, repetiu o movimento olhando diretamente para ela. - Agora entendi.

  Vendo Alex se levantar e calmamente andar em sua direção, Ryujin engoliu em seco e não conseguiu fazer nada além de apenas observar até que ela estivesse ao seu lado esquerdo, a retribuindo o olhar pelo reflexo dessa vez. 

  —O que? - Perguntou baixo, mas ainda sim com seu tom atritante.  

  —Sabe quando faz isso? - Fez o mesmo movimento. - Se você fica com o rosto abaixado não parece ter o mesmo efeito. 

  —Hum. - Murmurou com paciência o suficiente. 

  —Então, tente fazer assim. - Ryujin não conseguiu esboçar muita reação quando Alex se virou para si e se aproximou o bastante para ficarem a menos de trinta centímetros de distância uma da outra. - Endireite a postura. - A tocou delicadamente com a ponta dos dedos no meio de suas costas. - E levante o queixo. - Ergueu sua mão esquerda e também usou a ponta dos dedos para ajudá-la a manter o queixo inclinado. - Fique assim enquanto suas mãos estiverem na cintura, e quando seus braços estiverem estendidos você abaixa o queixo, certo?  Agora tente. 

  Ryujin se manteve parada, intercalando seu olhar entre Alex e sua mão, sabendo que seu músculos estavam tensionados e seu corpo prosseguia num leve estado de alerta por causa daqueles toques.

  —...com você aqui, assim? 

  —Sim. - Assentiu com simplicidade, então a garota logo levou as mãos para a cintura e com cuidado fez o que lhe havia sido dito, se esforçando para fazer bem para que, quem sabe, aquelas mãos se afastassem logo e a libertassem daquele estranho estado. - Faça lento primeiro. Um, dois… três. Queixo para baixo, dois, três. Levanta de novo… 

  Ryujin, apesar de estar prestando atenção no auxílio que estava recebendo, sabia que estava alheia o bastante para focar em outros sentidos que não os essenciais para aquela ocasião, e uma vez notando um perfume que não o seu, toda a sua atenção foi transferida para a fragrância vinda de Alex. E assim, ouvindo a voz calma, baixa e ritmada dela lhe dando instruções a segundo plano, quase que por impulso deixou de olhar para si mesma no espelho e gradativamente moveu os olhos até que estivesse encarando a região do pescoço e clavícula dela, que estavam expostas pelos botões abertos da camisa e que exalavam aquele cheiro doce e feminino que, infelizmente, era bom. Tamanha fora a sua desconcentração, mal percebeu que Alex estava também acompanhando tudo pelo reflexo, o que logo a fez virar o rosto para que pudesse a encarar de frente. 

  —Por que parou? - Perguntou em tom de sigilo, sorrindo de canto assim que Ryujin retornou à realidade e fez de tudo para fazer parecer que nada de diferente havia acontecido. 

  —Me distraí. - Explicou com pressa, endireitando ainda mais a postura para voltar a realizar os movimentos com calma e precisão, desacelerando a velocidade para tentar se acostumar. 

  —Você faz muito disso, não é? - Ao invés de também seguir o roteiro e voltar a encarar o espelho, Alex preferiu continuar olhando para o perfil de Ryujin, passeando com suas íris por cada traço de sua face. - Foi o que aconteceu no dia que trombou em mim? 

  —Não importa. - Fechou os olhos por um momento, tentando manter a calma.

  —Eu posso te desculpar caso diga que sim. 

  —E quem disse que estou pedindo por perdão? - Negou fraco com a cabeça.

  Alex sorriu diferente dessa vez, com certa doçura e divertimento, coisa que a garota viu pelo espelho e teve que virar o rosto para olhar diretamente e confirmar o que era de fato, então o fez discretamente, logo passando a encarar aqueles olhos mais perto do que jamais havia estado, e isso a amedrontou um pouco. 

  —Está perfeito agora. - Visivelmente desinteressada em prosseguir com aquela suposta tensão, Alex respeitosamente desfez todo o contato entre elas e se afastou em dois passos para trás, virando o corpo novamente para o espelho, dessa vez por definitivo. - Tente fazer sozinha.

  Em completo silêncio, Ryujin obedeceu sem nenhum traço de má vontade, como havia costumado fazer em cada pedido nos últimos dias, impondo seu ritmo e personalidade para tentar ganhar mais alguns pontos. 

  —O que achou? - Cruzou os braços após terminar, se fechando dentro de si mesma ao encarar o chão e esperar por mais uma daquelas críticas ácidas. 

  —Está ficando ótimo, bom trabalho. - Balançou a cabeça timidamente e também encarou o chão, distraída ao parecer pensar. - Continue praticando. - Sorriu fraco novamente e, sem esperar uma resposta, fez seu caminho de volta para a mesa. 

 

  Ryujin acompanhou os passos dela com olhos confusos, e se manteve assim mesmo quando ela voltou a escrever em seus papéis. Não estava entendendo ao certo como deveria reagir aquele feedback positivo, e por isso a única coisa que lhe veio em mente enquanto ainda a analisava era que, ali, enquanto escrevia com olhos brilhantes e centrados ao mesmo tempo que massageava a nuca com a mão livre,  Alex magicamente já não parecia mais tão irritante assim. Uma mecha de cabelo caindo sobre seu rosto, seus lábios se mexendo pouco ao repetir silenciosamente as palavras que desenhava, sua expressão um pouco incerta provavelmente por não ter certeza se estava escrevendo da maneira correta… parecia até… um pouco bonitinha.

 Fechou os olhos por dois segundos e sacudiu a cabeça no intuito de desviar sua atenção para outra coisa. Mas antes de o fazer, mirou a mulher por mais alguns demorados segundos.

  —Precisa de algo? Está me desconcentrando.

  Quebrando todo o encanto e a trazendo de volta para a irritante realidade, Alex repetiu a fala que a própria Ryujin havia dito, usando um tom sarcástico e provocativo que de longe não se assemelhava ao que usou segundos atrás para a elogiar, mantendo os olhos no relatório para também explicitar sua indiferença. Então, Ryujin travou o maxilar e fechou sua expressão por completo, voltando a sentir com ainda mais força aquela mesma raiva e indignação dos dias anteriores, onde desviou o olhar no mesmo momento e se julgou uma tola por ter pensado que existia alguém decente por trás daqueles olhos ridículos.

 

  —Idiota. 




 



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