Stiles e Scott desceram do jipe, caminhando pela calçada em direção à entrada da Beacon Hills High School. Apreciaram a luz fraca do sol da manhã que subiu no céu limpo, quietos já que haviam tagarelado, como de costume, durante todo o trajeto. Entretanto, McCall não conseguiu conter o acesso de curiosidade que estava rondando-o desde que viu o amigo naquela manhã.
– Onde você estava ontem?
Stilinski ajeitou distraído as mangas da flanela verde, puxando-as para cima. Forçou-se a conseguir uma resposta breve que não aguçasse o lado agitado do melhor amigo, embora soubesse que fosse quase impossível. Não existiam segredos entre ele e McCall e o amigo era uma verdade bomba ambulante de inquietação quando estava curioso.
Evitou os olhos em seu rosto e suspirou baixinho, arranhando a garganta.
– Dormindo, em casa.
Scott examinou os olhos de Stiles, vendo-o lamber a boca fina e se concentrar nos próprios pés. Um instante seguiu até McCall soltar uma risada áspera, balançando a cabeça, atraindo a atenção do melhor amigo que, com o semblante moldado em confusão, o fez perguntas em meio ao silêncio.
– Esquece. – Scott murmurou com um sorriso grande. – Já sei o que você estava fazendo.
– Eu estava dormindo. – Tornou a afirmar, quase irritado com os olhos brilhantes do melhor amigo. Eles subiram os degraus e adentraram os corredores barulhentos do colégio. – Não estava trepando.
– Então o que você estava fazendo? – Insistiu, e o humor minou por completo, tornando sua expressão tediosa. Encarou Stiles com olhos acusadores. – Você não estava em casa, eu passei lá para te ver. Era quinta.
Stilinski o encarou de volta, confuso, mas logo seu rosto amoleceu e um traço de rubor cobriu as bochechas com a compreensão súbita.
– Cacete. – Reprimiu ele. – Nosso trabalho de história... Desculpa, Scott. Eu esqueci.
– Se você estava, como nós chamávamos aos doze, “Descobrindo sobre mulheres”, eu desculpo.
Subiram um novo lance de escadas e seguiram para a sala da primeira aula do dia. Stiles engoliu um respirar fundo, revirando os olhos. Ele achava impressionante como McCall sempre foi mais malicioso em tudo do que ele e, ainda, como tinha uma pré-disposição para persuadir o sexo feminino desde muito cedo. Ele não se surpreendia que ele conectasse tudo a sexo. Acostumado com o jeito do melhor amigo, Stilinski o afrontou com um uma parcela de estresse na voz.
– Se você quer perguntar se eu estava com a Malia diga isso logo.
– Não estou dizendo nada. – Defendeu-se, mas o sorriso na boca do McCall contradisse a seriedade em seu semblante. – Mas posso estar insinuando.
Stiles gemeu.
– Você sempre foi um pervertido do caralho. – Debochou, e dessa vez seus lábios também sorriram com falta de doçura.
Eles entraram na sala, seguindo para o fim das filas onde costumavam sentar.
– Posso te contar se isso fizer você calar a boca. – Disse por fim.
– Você sabe que vai.
Quando ergueu os olhos, Stiles se chocou com o verde curioso e intenso de Lydia. Ela estava no lugar habitual, brincando com uma mecha de cabelo enquanto, o corpo pequeno relaxado na cadeira, mascando um chiclete de pernas cruzadas. Varreu os músculos magros de cima abaixo com algum interesse contido e o ignorou de rompante, se concentrando em Allison ao ouvi-la falar.
Ele continuou andando, atravessando a sala com o melhor amigo. Ao passarem pelas duas, Scott murmurou baixinho para Allison:
– Oi, linda.
A morena baixou os olhos, sorrindo, corando com as palavras doces e quase tímidas. Já Stiles se esforçou para ignorar Lydia, indisposto a lidar com os hormônios e o estardalhaço eufórico que seu coração transformava-se quando estava perto dela. Havia passado a tarde toda com a menina no dia anterior, ajudando-a com a limpeza dos banheiros depois da festa.
Apesar de um pouco distante, Stiles não podia negar que tinham passado um ótimo tempo juntos e que ela – inegavelmente –, estava começando a se tornar leve perto dele, ainda que não contivesse seus pequenos acessos raivosos quando se via dominada por estresse. Eles eram como duas peças diferentes de um quebra-cabeça, mas Stilinski sabia que mesmo assim funcionavam juntos. Talvez se completassem, pensou ele.
Quando sentou ao lado do amigo no final do corredor, Stiles examinou a cabeleira ruiva lá na frente por um instante, quase como se quisesse confirmar que ela ainda estava ali. McCall jogou sem interesse a mochila no chão e se inclinou na mesa, drenando toda a energia nas orelhas, esquecendo-se completamente da aula.
– Certo. – Começou Stiles, baixinho. Focou os olhos na professora que cumprimentou a turma e começou a aula, mas a ignorou da mesma forma. – Eu estava com a Lydia, nós...
– O quê?!
– Ssshhhh!
– Stilinski?
Os dois voltaram-se para a professora, e alguns curiosos e escancarados rostos da sala os examinaram. McCall arqueou uma sobrancelha quase com deboche, como quem reclamava por ser interrompido enquanto Stiles ardeu na própria vergonha, mas lutou contra o instinto, franzindo a testa e fingindo surpresa mesmo diante das bochechas rosadas.
Percebeu no caminho da visão com a professora os olhos bem humorados da Martin estavam seu rosto, por cima do ombro, e ela exibia um discreto e bem humorado sorriso para um lado do rosto.
– Sim, professora? – Perguntou ele, arranhando a garganta.
A mulher loira conteve um suspiro e o resquício de um sorriso passou pelos lábios.
– O que eu estava dizendo sobre Romeu e Julieta?
Scott e Stiles trocaram olhares difusos, e um instante de silêncio correu na sala. Stilinski arranhou a garganta outra vez e balbuciou, incapaz de organizar uma linha de pensamento. Algumas risadas contidas surgiram e ao virar-se para frente, Lydia não conseguiu conter o balançar de ombros enquanto gargalhava por dentro. Ao lado dela, Allison também tinha um sorriso largo no rosto.
– Foi o que eu pensei. – Poupou a professora, quase tediosa. – Sem conversas paralelas.
– Desculpe. – Scott pediu, o semblante ausente de genuíno arrependimento.
Assim que a professora tornou a falar ele se voltou para o amigo, abrindo a boca outra vez. Entretanto, Stiles o reprimiu com um negar de cabeça.
– No almoço. – Sussurrou.
McCall revirou os olhos e afundou na cadeira, se forçando a prestar atenção na professora. Entediado com a aula que mal tinha começado, Stilinski pescou o celular no bolso, tentando encontrar uma distração em alguma rede social. Entretanto, a distração perfeita já estava caída na barra de notificação.
Ele abriu a mensagem, escutando a voz de Lydia enquanto lia:
“Boa resposta, Bilinski. Foi uma excelente diversão.”
Stiles lançou um olhar bem humorado para a cabeleira ruiva, digitando:
“Aposto que sim, ruiva. Você sempre se diverte comigo.”
Apesar de estar no meio da sala, Lydia apoiou o celular nas coxas, tentando escondê-lo da professora. Lançou um olhar por cima do ombro enquanto se mexia, encontrando os olhos de Stiles nos seus. Sorriu e voltou-se para a frente, largando o celular em cima da mesa, deixando perceber que não o responderia mais.
A mensagem da garota caiu um segundo depois.
“Talvez esteja certo. Não é uma ideia tão ruim limpar banheiros imundos com você.”
Stiles sorriu para o celular.
**
– E daí ela vomitou no meu pé.
Scott, que até aquele momento devorava cada palavra do melhor amigo com seriedade, soltou uma gargalhada com a frase. Estirou-se para trás na cadeira ainda rindo, imaginando a cena, sem se importar com o revirar de olhos do melhor amigo.
– Ah, cara... – Gemeu o McCall, em meio as gargalhadas. Stiles deu um mero olhar ao redor do refeitório, incomodado com a possibilidade de alguém estar reparando neles. – Você passou anos apaixonado por ela e quando conseguem conversar ela vomita no seu pé?
– Certo, eu sou um azarado.
Scott enfiou as mãos na boca e se esforçou para conter o acesso de humor, limpando lágrimas dos olhos um instante depois. Ele pescou o suquinho na mesa e bebericou o canudinho, vendo Stiles lamber ansioso a boca e cobrá-lo.
– Posso continuar?
McCall conteve um novo riso e acenou.
– Enfim... – Retomou ele, baixinho, cruzando os dedos em cima da mesa. – Ela me pediu desculpas, mas daí Hannah me chamou para ir até lá.
– Hannah? – Scott se alarmou, aproximando da mesa. Enxergou abismado o amigo assentir com decepção. – A mesma Hannah que quase chupou o seu pau por acidente?
– Que acidente, exatamente?
– Você disse que estava bêbado.
– Todo mundo estava bêbado e só para você saber eu não dei nenhum tipo de indício sobre isso. – Citou ele, erguendo um dedo opositor. – Ela me imprensou no banheiro com toda aquela vodca no cérebro e...
– Quase chupou o seu pau.
– Sim.
McCall avaliou a conversa por um segundo, quieto.
– E então, você foi até lá?
– Sim. – Afirmou, coçando o queixo. Scott tornou a bebericar o suco. – Passei a tarde limpando vômito enquanto você pensou que eu estava metendo.
Scott riu maldoso. Stilinski se calou, os pensamentos voando para longe enquanto encarava os próprios dedos em cima da mesa.
– Achei que não gostasse mais dela depois de anos... – Confessou Stiles, baixinho. – Mas estava errado. Quando vi ela sozinha...
– Sh!
– Tipo, eu não teria tido coragem normalmente, mas...
– Shhh! – Chiou mais alto, arregalando os olhos. – Troque o assunto, agora. – Advetiu o amigo, a voz apertada em mero desespero.
Ele se remexeu na cadeira e os olhos confusos de Stiles giraram em torno deles. Pegou o vislumbre Allison e Lydia andando em direção a eles. Stilinski arranhou a garganta e se espremeu na cadeira, engolindo os olhos ansiosos de Scott que ocupou a boca no canudo do suco, disposto a não conversar.
– Bobby... Bobby adiou o treino para mais cedo.
– Oi. – Cumprimentou a Argent, assim que se aproximaram. Ela olhou para o McCall em específico, o oferecendo um sorriso gentil.
O moreno franziu a testa com algum olhar bobo e retirou a boca do canudinho, se recompondo com um sorriso confiante. Stiles arqueou uma sobrancelha, estranhando o comportamento, ao mesmo tempo que se considerava habituado aos picos de humores do amigo.
– Oi, linda. – Disse ele. – E oi, Lydia.
A ruiva sorriu, apesar de visivelmente incomodada. Olhou para os lados atordoada enquanto Allison se aproximava de Scott, conversando com ele ainda em pé, e quando seus olhos captaram Jackson atravessando a porta do refeitório ela rolou sem permissão para o colo de Stiles, sem se dar conta do que fazia, guiada por impulso e rancor e talvez, algum desejo adormecido.
Abriu um sorriso largo – e quase tenso – para ele, ignorando o choque ávido que cortou a expressão antes tranquila, passando uma mão pelo pescoço do garoto. Stiles engoliu seco, levando os olhos arregalados até Allison e Scott em busca de respostas, mas os dois também olhavam a cena com confusão.
– O que você está fazendo?! – Perguntou ele, incomodado com a ideia de que algo além de sua inconsciência ficasse animado com o contato direto.
Lydia se remexeu, ajeitando-se no colo masculino, sentada de lado, e tornou a sorrir depois de lamber a boca.
– Consegue só fingir que está feliz comigo?
Stilinski balançou a cabeça atordoado, lançando um novo olhar aos amigos. Lydia deslizou a mão para a nuca dele, roçou os dedos no cabelo escuro em uma carícia e puxou uma mão do garoto para cima de sua coxa nua, exposta em uma saia curta. Enquanto o corpo gritava por dentro, por fora Stiles atingia um novo nível de confusão e êxtase.
– Lydia...
– Se você não ficar quieto eu vou te beijar.
– Lydia... – A voz perdida veio de Allison, igualmente confusa, mas ela foi ignorada.
Ao lado da morena, Scott assobiou e abriu um sorriso imenso, desfrutando da cena enquanto se encostava na cadeira. Argent o cutucou com uma cotovela e um olhar repreensivo, tornando a expressão do jovem tensa.
– O quê?
Martin devorou os olhos perspicazes de Stiles, contente por vê-lo perdido mas ainda mais realizada ao sentir os dedos quentes se arrastarem em sua coxa e subirem, a segurando. Buscando todo o auto controle que a situação exigia, tentou soprar as dúvidas da cabeça para obedecê-la, relaxando na cadeira.
Os olhos de Lydia brilharam.
– Obrigada. – Sussurrou ela, um sorriso genuíno cobrindo sua boca.
Stilinski congelou a mão por cima da saia e procurou a direção que os olhos verdes se fixaram, encontrando Jackson cumprimentando um grupo de meninos do time de Lacrosse com um sorriso acolhedor. Instantes depois o capitão do time lançou-os um olhar e algum brilho debochado acenou em seus olhos.
Lydia respirou fundo, apertou os dentes e tornou a se mexer no colo macio, acendendo faíscas no corpo do jovem. Stiles encarou o rosto bonito por um instante, e um traço de chateação cobriu os traços de seu rosto.
– Me diga que você não está fazendo o que estou pensando.
A ruiva arrastou a mão para o rosto dele e Stilinski disfarçou como tremeu sob o toque. Ela acariciou a bochecha masculina, impressionada em perceber que os rastros de uma barba raspada pinicaram nos dedos. Manteve-se em silêncio, decidindo o que fazer mesmo quando a resposta era apenas uma.
**
– Lydia.
– Meu Deus, Bilinski! – Rangeu ela, apertando as mãos em punho, dando-o um olhar feroz. – Você gosta tanto assim do meu nome?
– Eu quero que você me responda.
– Eu... – Ela parou no meio do gramado, olhando nos olhos atordoados por um instante, intimidada pelo açoite de emoções que a atravessou. O garoto parou também, pousando as mãos ansiosas na cintura. – Não foi nada demais.
E retomou os passos rumo ao carro, ouvindo-o a seguir. Stiles segurou uma risada ácida, apressando-se em acompanhá-la.
– Você pulou no meu colo, Lydia. Se é assim que você faz amizades, talvez você devesse avisar antes.
– Você odiou, não é? – Ironizou ela, vendo-o bufar. – Desculpe se estraguei algum lance seu, pode dizer que não foi nada demais. Ou se quiser eu mesma digo.
– Não é por isso.
– Então esqueça o assunto.
– Não, não vou fazer isso. Não custa nada você me explicar. Eu deixei você vomitar em mim e...
– Nos seus tênis! – Citou ela, apressando os passos.
– Faz diferença? Continua a mesma situação. Se você não me contar eu...
– Está bem, Stiles! – Explodiu ela, irritada.
Parou e virou-se para ele, segurando-o nos braços. Percebeu pela primeira vez que ele não parecia irritado ou chateado, apenas verdadeiramente confuso e, ainda, frustrado. Um choque de consciência fez seu coração se apertar. Lydia não podia julgá-lo e mesmo que soubesse disso, ainda queria, de alguma forma, fugir de seu real problema.
Ela abaixou os olhos com alguma vergonha, respirou ansiosa, buscou por palavras mesmo quando a cabeça estava vazia. Ele esperou, batendo um pé no gramado, a ansiedade esticando suas veias.
– Sobre o que eu estava fazendo... – Começou ela, baixinho. – Sim, você estava certo se pensou que...
Lydia parou de falar, de repente sentindo-se estúpida demais por ver a situação em que tinha enfiado os dois para tentar se vingar de Jackson. Ela se acuou ao bater os cílios e morder a língua, ardendo em vergonha e culpa.
O garoto estudou o rosto bonito e tudo o que há instantes lhe parecia importante demais, pareceu evaporar. Pescou o queixo bem desenhado, a fez erguer os olhos e examiná-lo. Ele nunca a tinha visto vulnerável antes.
– Você ainda está chateada com ele. – Concluiu, vendo-a mexer a garganta ao engolir e com as bochechas coradas concordar em um aceno suave. Stilinski balançou a cabeça atordoado, contendo um riso ácido. – Jackson é um imbecil. Ele nunca vai ter com Lauren o que poderia ter com você.
Lydia engoliu um suspiro, chocada com as palavras tão doces e cruas de verdade. O analisou atônita, sentindo formigamentos nascerem na pele enquanto absorvia os olhos castanhos nos seus. Stiles exalava uma sinceridade e exposição tão transparente que Martin poderia se quebrar perto dele.
– O que você fez? – Perguntou ele, baixinho, livre de raiva. – O que você disse sobre nós?
A garota lamentou quando ele finalmente recolheu os dedos de seu rosto, e ela se coçou de vontade de abraçá-lo, sem negar o instinto de querê-lo mais perto. Lydia relutou, desviando os olhos pelo gramado, mexendo na barra da saia.
– Lydia.
– É a oitava vez que você fala o meu nome só hoje.
– Seu nome é bonito. – Admitiu, dando de ombros. – É diferente.
– Existem poucas Lydias por aí.
– E nenhum Stilinski, eu sou único. Por isso você deveria parar de errar meu sobrenome.
– Eu tenho tesão em te chamar de Bilinski.
Antes que pudesse sequer corar pela fala maliciosa e bem humorada, ele pendeu os lábios depois de um instante demorado.
– Você está mudando de assunto! – Acusou. – Foco na minha pergunta, por favor.
– Quase funcionou...
– Esqueça isso. – Reprimiu e cruzou os braços, olhando-a. – O que você disse?
– Disse que eu estava com você. – Despejou ela, de rompante, com algum estresse. – Disse que estava com você na mesma época que ele estava com Lauren, ou seja, antes da festa. Disse que gostava de você e já ficávamos a algum tempo. Satisfeito, Bilinski?
O rosto de Stiles perdeu a cor. Ele permaneceu imóvel por alguns segundos, uma expressão indecifrável marcando o rosto nublado. Lydia abaixou os olhos com vergonha, esperando por uma reação, sem pressa para cobrá-lo sobre. Stiles respirou fundo e trouxe uma mão aos olhos, esfregando-os como quem desejava acordar de um sonho. Massageou as têmporas, a língua vazia de palavras ao mesmo tempo que seu coração pesou com o excesso de sentimentos.
– Ah, minha nossa... – Sussurrou ele, extasiado. – Preciso de água.
Ele começou a caminhar, mas Lydia o segurou pelo braço em um lapso de impulso e confusão.
– Você está fugindo?
– Estou com a boca seca, namorada.
– Stiles...
– O quê? – Perguntou, frustrado. Lydia admirou que não existia grosseria na voz masculina. – Você disse mais alguma coisa?
Stilinski foi domado por uma onda intensa de desespero. Imaginar-se como um namorado falso dela quando tudo que ele fantasiou no começo da adolescência foi um relacionamento real, fez seu corpo congestionar.
Suplicante, os olhos verdes se tornaram manhosos.
– Você precisa me ajudar, por favor. – Ela pediu, e corou de vergonha. – Eu sei que errei, mas eu não quero dar o gostinho ao Jackson de que estou mal.
– E então você quer me usar para provocá-lo quando você na verdade está péssima?
Sim. Pensou ela, o que a fez corar ainda mais. Sustentou os olhos chateados – e indignados –, tentando convencê-lo de que a ideia não era de todo ruim mesmo quando sabia que mentia para si mesma.
– Você só precisa fingir que está comigo por pelo menos uma semana. Só... você só tem que passar a mão na minha cintura em lugares públicos e me chamar de amor em alto em bom som.
– Ah é? E isso que estamos fazendo aqui, agora, no meio da escola é uma deerrê? – Provocou, a dando um sorriso debochado.
– Você pode chamar do que quiser, só quero... – Ela respirou fundo, repentinamente cansada. – Que pense sobre, por favor.
– O que passou pela sua cabeça? – Perguntou ele, baixinho. – Por que eu?
A paixão reservada de Stiles se expandiu em suas veias com a questão, e suas orelhas formigaram de ansiedade. Imaginou se existia alguma pré-disposição para a escolha, e a ideia mínima o fez conter um pular nos calcanhares. Ele captou o olhar da garota cair de novo, tomando coragem para falar.
– Você estava lá em casa ontem.
– Por isso você me chamou de amor! Eu sabia que tinha algo errado.
– Sim, amor, tinha algo errado. – Ironizou ela. – Eu tinha acabado de selar nosso namoro sem você saber porque sou estúpida e Jackson tinha terminado comigo por telefone.
– Porque ele é um imbecil, eu já disse. E você não é estúpida.
Ela assentiu, chateada, incapaz de acreditar nas palavras dele. Sentiu-se o pior dos seres humanos. Imatura, impulsiva, estúpida e abandonada. Massageou as têmporas por um instante e pensou mais uma vez na confusão que tinha entrado.
Stilinski soltou um suspiro profundo e se remexeu, passando uma mão no cabelo. Cogitou se existia alguma forma de fazer o plano mirabolante funcionar sem aflorar os sentimentos oprimidos, ou simplesmente a dizer que não tinha estômago para atuar algo que queria tanto que fosse verdade.
Ela enfiou as mãos no rosto e gemeu baixinho, exausta de sentir-se idiota. Ele ergueu os olhos, se enrijeceu por um momento e o impulso misturado a algum desespero fizeram-no agir.
– Olha, Stiles...
– Ssshhh... – Sussurrou ele. Mãos quentes puxaram-na para perto, e ele sorriu doce, sem receio. – Talvez a gente termine amanhã, mas ainda namoramos hoje, não é?
A garota uniu as sobrancelhas, perdida em confusão, mas acabou por assentir. Stiles deslizou o toque para baixo, tocando na bunda feminina apertada na saia.
– Jackson está tentando fazer meu pau cair por telepatia agora. – Informou, e ao vê-la se mexer para procurá-lo, segurou-a pelo queixo, firmando os olhos verdes nos deles. – Pare de prestar atenção nele, é por mim que você está apaixonada.
Lydia engoliu um bolo de ar, repentinamente percebendo que ele estava coberto de razão. Enrolou o pescoço do jovem com os braços e se viu por um momento, presa nas emoções genuínas que Stiles provocava nela. Suas mãos suavam com algum nervoso, o coração palpitava forte e apesar do remorso pelo o que tinha feito, algo dentro dela estremeceu de felicidade por conhecer a sensação de tê-lo tão perto.
– Ah, que filho da puta... – Gemeu ele, baixinho.
– O quê?
– Só fique agarrada em mim e sorria.
– Já estamos fazendo isso.
– Puxe algum assunto antes que nossa única comunicação como casal seja minha mão na sua bunda.
Martin afogou uma risada, abaixando o rosto. Tentou pensar em algo, relaxando contra o garoto, reconhecendo o perfume bom que vinha da camisa dele.
– Ei, Lydia.
Ela olhou por cima do ombro, encontrando os olhos azuis de Jackson em meio a um sorriso largo na boca, exibindo os malditos dentes perfeitos. Ele segurava relaxado a alça da bolsa no ombro, intercalando o olhar entre o casal quase com cinismo.
Enquanto por dentro Lydia se desmanchava em estresse, por fora ela acatou a proposta de Stiles, sorrindo. Desprendeu-se do corpo dele apenas para se virar e encostar-se de novo, se pressionando contra o quadril do jovem, de costas. Ele passou as mãos pela cintura dela, mantendo a expressão relaxada enquanto absorvia o deboche introverso de Whitemore.
– Oi, Jackson. – Ela cumprimentou, soando simpática em meio a um mero sorriso. – Você está bem?
– Estou. – Deu de ombros, também sorrindo tons mais frios de antipatia. – E você?
– Sim. – Lydia reforçou a afirmação ao sorrir para Stiles, por cima do ombro. – Estamos bem.
Stilinski – apesar de irritado pelo garoto não se dirigir a ele – ficou contente por não precisar dizer nada, já se sentia irritado o suficiente só por precisar olhar para Jackson.
Eles se olharam outra vez, respirando o clima áspero, até Jackson suspirar e se agitar em uma passada de mão pelo cabelo. Em contradição, orgulho e algum afeto esmagaram o peito de Lydia.
– Então, Stiles... – O garoto franziu a testa, fingindo interesse ao ouvir o capitão do time. – Você já sabe da festa do Isaac, não é?
– Claro.
– Por que vocês dois não vêm?
Stiles balbuciou por um único segundo, inventando uma mentira ao lembrar do convite que recebeu de Isaac, no começo da semana.
– Lydia me disse que queria companhia para ficar em casa. – Deu de ombros, de leve. – Eu achei que tivesse dito no treino que não iria. É sexta de noite... ver um filme e relaxar é sempre o melhor programa.
Martin segurou um novo sorriso, seu peito repentinamente enchendo-se de orgulho precoce pela voz firme e doce e confiante de Stiles. Sentiu que as mãos em sua cintura não a deixariam cair no chão caso não se aguentasse nas próprias pernas.
O semblante de Jackson vacilou, caindo para um tom chateado. Ele nublou o sentimento com um sorriso amargo, e Lydia jurou poder sentir arrependimento atravessá-lo.
– Bom... – Murmurou Whitemore. – Vocês quem sabem. Mas vamos comemorar o jogo vencido na terça, Stiles.
– Eu sei. – Respondeu, contendo a chateação embora Lydia tenha percebido. Ela apertou a mão sob a dele em uma tentativa de confortá-lo.
– Tudo bem. Bom filme, vejo vocês por aí.
Jackson os deu as costas e se afastou. Quando estava longe o suficiente Lydia soltou o ar que prendia, relaxando contra o corpo – que julgava tão magro, agora forte – de Stiles, apoiando a cabeça no peito de menino, ainda de costas.
– Que imbecil de merda... – Stiles murmurou, irritado. – Quem faz esse tipo de coisa?
– Está irritado, eu consegui fazer isso.
– Ótimo, não era isso que você queria?
Lydia poderia rir da expressão que analisou sobre os cílios. Eles se olharam no mesmo instante e então a realidade tornou a atingi-los.
A garota tomou coragem para se desvencilhar do toque e virar-se de frente, olhando nos olhos bonitos e leves do Stilinski.
– Obrigada. – Disse ela. – Por isso.
Ele respirou fundo e acenou, passando distraído uma mão pela flanela no meio de um dos braços. Ajeitou o tecido enquanto pensava, quieto, tentando drenar toda a ansiedade e seus sentimentos ensurdecedores pela garota.
– Você precisa ir.
– O quê? – Ele ergueu os olhos curiosos.
– Não vou deixar você perder uma festa do time.
– Não é nada demais.
– Eu sei que é, Stiles. – Insistiu, baixo e convicta. – Não precisamos ir namorando.
– Mas ele acabou de nos ver.
– Você sustentou a mentira sem eu pedir.
– Na verdade...
Ele balançou a cabeça, convencido, mas se deu um momento. Por fim, se deu conta de que ela estava certa. Coçou o queixo em um momento pensativo, filtrado pelos olhos verdes.
– Nós podemos ir namorando e se a gente chegar em um acordo, podemos... fazer funcionar. – Ele deu de ombros, meio incerto.
– Acordo? – Debochou ela, contendo um riso. – Você tropeça nos próprios pés, Stiles. Que acordo você quer ter um relacionamento falso?
– Pare de menosprezar o seu namorado.
Lydia revirou os olhos e cruzou os braços, contendo o acesso de desespero ao pensar em como as coisas poderiam ser do ponto de vista dele. Stiles se divertiu com o estresse genuíno da garota, segurando uma gargalhada.
Bastou um segundo de silêncio para as palavras ainda entonando nos ouvidos tomarem real sentido.
– E eu não tropeço nos meus pés, não me chame de desengonçado. Eu sou bom pra caralho em lacrosse.
– Você é ala, Stiles.
– Alas são fundamentais para o jogo. – Argumentou ele, sério, ofendido. – Precisamos de agilidade e flexibilidade para movimentar os pivôs.
– Você, flexível? – Ela riu, áspera, cruzando os braços.
– Eu sou, e pra caralho. – Ele apoiou as mãos na cintura com rancor.
Lydia soltou uma risada ácida.
– Tudo bem. – Concordou por fim, mas o humor em seu rosto contradizia a aceitação.
Stiles revirou os olhos e bufou exasperado.
– Você nem gosta de lacrosse, por que estamos discutindo? – Sussurrou para si mesmo.
Lydia travou a mandíbula, olhando-o com estresse mesmo quando algo dentro dela estava apreciando a mera e conturbada comunicação entre eles.
– Então... – Começou ele. – O que vamos fazer?
– Não sei. – Disse ela, baixinho. Uma nova decepção cortou seus olhos. – Só..., desculpa.
Martin não suportou mais sentir-se estúpida perto dele. Deu as costas e se afastou em passos largos.
– Lydia. – Stiles chamou com preocupação, carinhoso, mas ela ergueu uma mão vacilante para ele e o deu um sorriso triste.
– Conversamos depois.
Stilinski cogitou ir atrás dela, seus pés estavam quase agindo por conta própria quando ela o olhou outra vez.
– Acho que você precisa pensar também. – Disse ela, virando-se de vez e afastando-se, derrubando as precoces insistências de Stiles.
Confuso com os próprios sentimentos, ele encheu os pulmões de ar e desabou em um respirar exausto.
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