CAPÍTULO 14
AMEAÇA
O silêncio era absoluto na floresta naquela madrugada, ouvindo-se apenas o ruído do vento frio que soprava entre os galhos das árvores assim como ocasionais trovoadas anunciando que em breve poderia chover.
Enquanto os humanos dormiam pacificamente em suas casas, sentindo-se protegidos por suas portas trancadas ou armas de fogo em suas gavetas, nas florestas que rodeavam aquela pacata cidade que eles achavam que conheciam tão bem, havia perigos que estavam muito além de suas compreensões, perigos no qual eles pensavam que havia somente em filmes de terror... Eles nem sonhavam que enquanto dormiam naquele momento, sete vampiros estavam parados como estátuas em um ponto da floresta, vampiros nos quais eles viam todos os dias em seus locais de trabalho ou estudo.
Nunca que Lucy, uma enfermeira do hospital de Forks que nesse momento tirava uma soneca em seu plantão, poderia supor que Dr. Carlisle Cullen, um médico brilhante e homem de extrema gentileza que ela via diariamente era na verdade um vampiro com mais de trezentos anos de idade. Nunca que Jessica Stanley, atleta do vôlei e futura Rainha do Baile de Forks High School, poderia imaginar que os Cullens, os adolescentes mais esquisitos e absolutamente lindos de toda a cidade, bebiam sangue de ursos-pardos, cervos e afins no fim de semana.
Mas lá estavam eles.
Todos os sete, atentos a qualquer som ou movimento que pudesse indicar a aproximação de uma inimiga no qual eles não esperavam reencontrar – e para serem honestos, haviam esquecido de sua existência.
– Tem certeza de que foi aqui que a viu? – Carlisle perguntou a Alice.
Todos olharam para ela com diferentes tipos de expressões de apreensão.
– Sim... A qualquer momento ela chegará. – ela respondeu com plena certeza, olhando fixamente para sua frente e concentrando-se em manter sua mente focada para caso tivesse uma visão.
Edward manteve a boca fechada em uma linha fina, seu rosto com uma expressão estoica. Se a visão de Alice estivesse correta, a qualquer momento Victoria correria por aquela parte da floresta próxima ao rio Calawah, um movimento que era estranho se eles fossem analisar com cuidado.
Jasper, com vasta experiência em estratégias de lutas e batalhas, supôs duas possibilidades.
A primeira é de que Victoria estaria fazendo um reconhecimento das áreas próximas, algo comum de se fazer quando se planeja uma tática para atacar inimigos.
A segunda era de que ela estivesse querendo chamar propositalmente atenção dos Cullens para anunciar sua presença ou estivesse com o fim de atraí-los para um determinado local e surpreendê-los com um ataque de sua “tropa”. Essa segunda opção era preocupante pelo simples fato de que eles deveriam se lembrar de que havia um grupo de recém-criados liderados por ela, um exército de vampiros que estavam no auge de sua força física, mas totalmente descontrolados tal qual animais.
Enquanto esperava com impaciência, uma parte da mente de Edward se lembrava pela centésima vez das visões na qual Alice lhe mostrara – não exatamente visões de coisas que aconteceriam em uma probabilidade futura, mas sim, coisas que já ocorreram e que estavam ocorrendo.
...
Chuva.
Luzes embaçadas pela água.
Sons distantes de buzinas de carros e sirenes a quilômetros dali.
Ela estava escondida na escuridão de um beco no distrito industrial de Seattle, próximo ao píer. Em silêncio ela observava com seus olhos de caçadora uma presa em potencial, mas dessa vez com um propósito diferente.
A primeira coisa que sentiu foi o cheiro dele sendo amplificado pelo ar úmido da chuva, um cheiro que fez a boca dela encher de veneno e a garganta queimar pela sede.
Ela ignorou seu instinto. Não era para isso que ela estava lá.
Olhos humanos eram fracos demais para poderem enxergar bem naquelas condições, mas ela poderia. Ela via que ele parecia ser uma boa escolha: alto, de porte atlético, aparentemente saudável. Ele era perfeito para seus propósitos.
Ela correu tão rápida como uma flecha, empurrando o homem no chão que ficou visivelmente atordoado por ter sido atingido do nada.
“Quem está ai?” ele disse trêmulo ao olhar para os lados e não ver ninguém. Ele repetiu a pergunta ao se virar de costas, tentando ver o quê ou quem tinha feito aquilo.
Ela sorriu, correndo mais uma vez em direção a ele, dessa vez o arremessando contra uma parede, fazendo ele arfar de dor – ou pelo menos o que ele supunha ser dor...Tolinho! Logo logo ele saberia o que era dor de verdade.
Ele se levantou e correu até o píer, mas parou por um momento, apertando seus punhos e gritando em desafio contra ela, provavelmente movido por um surto de adrenalina. Ela gostou... Quase todos no qual ela caçou se comportavam de forma semelhante a ratinhos de laboratório, trêmulos e indefesos, chegando até mesmo a urinar na calça de tanto medo.
Esse não. Esse era durão.
Antes que ele pudesse dizer mais uma coisa, ela correu por detrás dele, pegando a mão e cravando seus dentes em sua pele, tudo isso em segundos. Ele caiu no chão, gritando de dor com o veneno começando a se espalhar em seu organismo.
Agora sim ele sabia o que era dor.
...
Edward movimentou sua cabeça para a direita em uma fração de segundos ao ouvir um som de um galho sendo quebrado. Antes que ele pudesse correr naquela direção, Emmett colocou a mão em seu peito, acenando com a cabeça para ele olhar com cuidado.
O vampiro de cabelos acobreados viu que era apenas um cervo, que ao vê-los, correu para longe o mais rápido que pode. Animais tinham aquela mesma reação ao encontrar um vampiro, sendo levados pelo instinto de sobrevivência de uma presa ao estar prestes a ser caçada pelo seu predador.
Ele voltou a sua posição inicial, ainda mais tenso que o normal.
...
Victoria assistia com certo desprezo e até mesmo nojo o grupo de vinte e três recém-criados brigando entre si por conta de seis humanos que olhavam aterrorizados para aquelas criaturas demoníacas de olhos vermelhos. Três de suas crias começaram a brigar entre si, o que resultou em um tendo a cabeça quebrada em estilhaços como a de uma estátua e causando gritos de horror nos humanos acorrentados.
Ótimo.
Agora ela tinha vinte e dois recém-criados em seu exército.
“Ainda não é o suficiente” ela disse modulando sua voz para que soasse melodiosa ao homem ao seu lado.
“Não acho que seja prudente... Estamos chamando atenção demais” ele respondeu.
Ela se virou para ele com um sorriso sedutor.
“Quem se importa?” ela sussurrou, colocando a mão sem eu braço sugestivamente. “Nós somos poderosos... Você é poderoso, meu querido... E precisamos de mais poder”
Eles se viraram ao ver que mais dois vampiros haviam sido desmembrados assim como o sangue dos humanos respingando pela parede e pelo chão enquanto os recém-criados se agrupavam ao redor deles, mordendo-os e sugando-os em diferentes membros como braços, pernas, mãos e até mesmo rosto.
Todos eles se assemelhando a cachorros famintos.
Victoria revirou os olhos.
“De muito mais poder”
...
- Ela está quase vindo... – Alice disse par sua família com um sussurro. – Fiquem a postos...
Edward flexionou suas pernas em resposta, sentindo um rosnado borbulhar em seu peito em antecipação.
...
Victoria estava em um galho de uma árvore, encoberta pela escuridão da noite, a centenas de metros da casa dos Cullen.
Ela observava que os vampiros pareciam dar um tipo de uma festa.
Ela rosnou baixinho, furiosa pelo fato de que eles estivessem felizes e despreocupados, celebrando algo, enquanto ela...
Victoria balançou a cabeça com uma expressão de ódio esculpindo seu belo rosto, respirando fundo e mantendo-se focada. Saltando no chão, ela correu em direção a casa, para ter uma visão detalhada, mas ainda mantendo uma distância considerável. Ela precisava saber se o clã deles havia aumentado ou diminuído de tamanho.
Ela sorriu para si, agradecendo o fato de que a casa deles possuíam aquelas amplas janelas que davam uma boa visão dos habitantes lá dentro. Olhando para dentro, ela reconheceu o loiro que era o chefe da família, dançando com sua esposa. Vasculhando rapidamente, ela viu a vampira pequena de cabelos curtos, Alice... Ela sabia o nome desta pois fora seu James que transformou Alice quando esta era uma louca de um sanatório do Mississipi. Ao lado dela, havia um rapaz loiro que tinha várias cicatrizes de mordidas em seu rosto, uma vampira loira que parecia uma Barbie em tamanho real, um vampiro alto e musculoso...
Também havia outros dois, um rapaz ruivo e uma garota de cabelos escuros.
Novas adições ao clã?
Ela logo descartou. Eram humanos.
Vasculhando novamente ela finalmente viu ele, o mais jovem dos adolescentes, o vampiro de cabelos acobreados que matou o seu amado, dançando com um garoto humano de cabelos escuros. Victoria assistiu a cena com cuidado, vendo os dois girarem ao som de uma música lenta, até que eles se beijaram.
Ela deu um sorriso cruel.
Ela já sabia o que fazer.
...
– NA SUA ESQUERDA!!! – Alice exclamou.
Em milésimos de segundos todos eles correram na direção indicada.
Edward rosnou ao já visualizar a rajada de cachos vermelhos de Victoria, que se contrastava com a escuridão da floresta como labaredas de fogo. Ela nem se deu o trabalho de virar para olhá-los e mesmo estando correndo com a velocidade sobrenatural, fazia isso de forma despreocupada.
Corria como se não houvesse sete vampiros caçando-a naquele instante.
– NÃO A DEIXEM ESCAPAR!!! – Rosalie gritou irritada pela audácia daquela nômade pé-rapada em agir de forma tão despreocupada a eles.
– NEM FODENDO!!! – Emmett respondeu para sua esposa, dando um salto e ultrapassando Edward, ficando a uma distância curta da vampira até que a segurou pelo ombro, fazendo com que ele sorrisse por sua vitória ao capturá-la. – PEGUEI!!!
A alegria de Emmett fora curta, pois Victoria o segurou pelo braço e o arremessou para o lado, fazendo ele colidir com violência no tronco de uma árvore que com um estrondo se partiu, caindo no caminho no qual os vampiros percorriam, retardando-os na perseguição. Edward rapidamente desviou para a direita e saltou no caminho que ela trilhava, seus olhos focados em não perdê-la de vista.
Ela era rápida, muito rápida, seus pés descalços mal tocando o solo enquanto corria, deslizando entre as árvores de maneira graciosa e letal tal qual uma pantera durante sua caça. Como se tivesse se divertindo com perseguição, Victoria usou o tronco das árvores como impulso para seus saltos que se tornaram próximos de algo acrobatas de um espetáculo circense. Jasper rosnou enfurecido com aquela provocação, imitando os saltos que ela fizera e ficando extremamente próximo de capturá-la em pleno ar, mas falhou por centímetros e milésimos de segundos de diferença.
– ELA VAI FUGIR!!! – Esme gritou para sua família ao ver para onde ela estava liderando o caminho.
– ELA NÃO VAI NÃO! – Edward gritou, correndo e saltando ao máximo que pode, conseguindo ficar a dois metros de distância dela, perto o suficiente para que o cheiro da vampira preenchesse seus pulmões.
Ao ouvir o barulho de água corrente, Victoria pulou para o alto, atravessando o rio corrente até pousar os pés na outra margem com um sorriso vitorioso.
– PAREM!!! – Carlisle gritou, fazendo com que todos os Cullen imediatamente ficassem imóveis na beira da margem. – Ela está em outro território!!!
Os olhos dourados de Edward estavam vítreos ao fitar Victoria enquanto esta o encarava com olhos negros cheios de perversa diversão, desprezo e um desejo sanguinolento por vingança. Edward pôde ler seus pensamentos, uma sucessão de lembranças e imagens aleatórias que mostravam a mortes de inocentes para criação de seu exército, o rosto de James, eles dois torturando e matando Bella, juntamente com imagens que eram idealizações de seus desejos sádicos.
Ela se imaginava cravando a mão no peito do garoto de cabelos pretos, Harry, que gritava em profunda agonia, arrancando seu coração ainda pulsante e sangrento enquanto largava seu corpo para que seus recém-criados se alimentassem com o sangue. Ela imaginava Edward presenciando isso tudo para depois matá-lo junto com sua família.
– Eu vou mata-lo... Lentamente... – Victoria sussurrou com um sorriso, olhando-o fixamente como se fizesse uma promessa.
Edward ergueu seu lábio superior revelando seus dentes brancos perfeitos e afiados como navalhas, sentindo seu peito tremer pelo rosnado bestial que nele crescia e escapava por sua boca preenchida pelo veneno. Ele rosnou alto, um som gutural que beirava ao demoníaco. Sua mente foi tomada pelo seu monstro interno que apenas se saciaria quando arrancasse a cabeça daquela vadia e ela estivesse queimando em uma pira até virar pó.
– EDWARD, NÃO! – Carlisle gritou desesperado ao ver seu filho mais jovem saltar sobre o rio Calawah, invadindo o território dos Quileutes e quebrando o tratado que ele mesmo fizera com o chefe da tribo a décadas passadas.
Edward não se importou ou nem mesmo ouviu o clamor de seu pai adotivo e de seus irmãos que gritavam para que ele voltasse.
Ele não iria.
Aquela parte da floresta era desconhecida, fedia terrivelmente a cachorro molhado como todos os lobos e realmente havia possibilidade de que ele estava indo direto para uma armadilha, mas Edward prosseguiu, rosnando furioso para a vampira que ria de forma descontrolada ao ver que o havia provocado daquela forma... Como aquilo iria terminar, só Deus sabia.
Ao olhar para cima, ele deu um pulo vertical, se segurando em um galho e usando isso como apoio para projetar seu corpo em um grande salto pousando seus pés no solo sem esforço e ficando muito próximo dela, esticando seu braço para agarrá-la. Mais um pouco e ele iria agarrá-la em um abraço mortal, já podendo até mesmo pressentir a sensação.
– URGH!!!
Edward foi atingido por algo vindo do seu lado direito, aterrissando no chão com violência enquanto um corpo estava em cima de si. Piscando os olhos, ainda se sentindo atordoado por aquele movimento inesperado, ele pode ver que caninos afiados do tamanho de um dedo mindinho estavam a centímetros de seu rosto, olhos castanhos dominados pela fúria e as garras tendo reduzido em retalhos a sua camisa, mas sendo ineficientes para causar danos na pele de seu peitoral.
‘TE PEGUEI SANGUESSUGA!!!’, a mente de Jacob Black proclamou em um misto de vitória e fúria enquanto rosnava em sua forma animalesca.
Edward rosnou de volta, se desvencilhando do enorme lobo que agachou suas pernas frontais em posição de ataque, os caninos afiados expostos enquanto os pelos de suas costas estavam ouriçados. O vampiro deu um rápido olhar de relance para a direção onde estava correndo... Victoria já havia desaparecido. Olhando para frente, ele viu que Jacob começava a se aproximar em passos lentos, preparados para o ataque.
– Jacob... – Edward levantou as mãos em redenção, se controlando para usar seu tom de voz mais calmo. – Eu não quero lutar... Por favor...
‘Você não vai lutar, sanguessuga, você vai morrer! Vai pagar pelo que fez!!!’
Passos rápidos acompanhados de rosnados e grunhidos foram ouvidos pelo vampiro e logo ele se viu rodeado por sete lobos de diferentes cores e tamanhos, sendo o destaque para o maior de todos, de pelos negros, de aparência madura e porte majestoso.
Sam Uley.
‘Jacob... Afaste-se!’, sua voz mental comandou.
Jacob rosnou em resposta juntamente com outra loba que se aproximou dele, de pelagem cinzenta. Edward reconheceu como Leah Clearwater, a única mulher na alcateia de Sam.
‘Ele invadiu o território, Sam... Temos todo o direito de matá-lo!’, Leah lançou seu pensamento para seu Alfa, enquanto parte dos lobos concordavam em um coro de pensamentos de apoio.
‘E causar uma guerra com a família dele? Fazer com que um de vocês...’, Sam olhou para os lobos mais jovens com exceção de Jacob, que não chegavam a ter 15 anos ‘...sejam mortos? É o que vocês querem?!’
‘O tratado diz...’, Jacob replicou.
Sam rosnou alto para Jacob e até mesmo Edward sentiu o impulso de dar um pequeno passo para traz em sinal de respeito.
‘Eu sei muito bem o que o tratado diz e não preciso que você venha me relembrar, Jacob. A função da alcateia é proteger nosso povo e não vamos conseguir isso ao procurar brigas que causarão mortes que podem ser evitadas. Pare de pensar apenas em você e sua vingança pessoal... Recue!’
‘Isso não tem nada haver com ela, Sam...’, Jacob respondeu de forma ácida, se aproximando de Edward com suas presas a mostra.
‘Jacob...’
Jacob olhou para Edward de forma irada, enquanto o vampiro fitava o próprio reflexo dele nos olhos castanhos do lobo, vendo que apesar de seu próprio rosto aparentar tranquilidade, sua mente era um absoluto caos.
‘JACOB, EU DISSE PARA RECUAR!”’, Sam usou seu comando de Alfa para Jacob, que grunhiu enquanto dava passos para trás juntamente com Leah, o restante dos lobos abaixando as cabeças em sinal de respeito pelo seu líder.
Sam se aproximou do vampiro, seus olhos castanhos escuros estreitos em desconfiança.
‘Você é o Cullen telepata, certo? Consegue me entender?’
Edward piscou atônito, balançando sua cabeça em positivo.
‘Bom... O restante de vocês está no nosso território?’
– Não. Na outra margem do rio. – Edward respondeu.
‘Hm... Certo. Espere por mim por uns instantes.’, Sam disse se virando de costas para Edward, mas olhando de relance para os outros lobos ‘Quanto a vocês, quero vê-los exatamente onde estão quando eu voltar. Entendido’
O restante da alcateia olhou entre si, seus pensamentos de pura hostilidade sendo contidos a contragosto pela ordem de seu Alfa.
‘Não pense que isso acabou Cullen’, Jacob ralhou.
Edward contraiu o maxilar e fitou o chão com uma expressão de preocupação, não pelas ameaças de Jacob Black, mas sim pela sua tentativa de captura frustrada. A essa altura Victoria já estava a vários quilômetros de distância, indo de encontro ao seu exército de recém-criados em gradual crescimento... Ele apertou os punhos ao se lembrar da ameaça que ela fizera, de sua intenção de usar Harry como vingança e a forma como ela quisera fazer aquilo... Não! Ele não iria permitir que ela encostasse a mão em um único fio do cabelo de Harry, ele não voltaria a cometer o mesmo erro em subestimar seus inimigos da mesma forma como ocorrera com Bella.
Ele iria proteger Harry a todo custo.
– Vamos?
Edward levantou a cabeça e viu que Sam estava em sua forma humana, usando uma bermuda de jeans surrada com uma camisa sem mangas enquanto segurava em uma de suas mãos um envelope pardo.
– Para onde? – Edward perguntou.
– Me leve até o seu líder. – Sam disse – O restante de vocês continuem a patrulha sob as ordens de Jared e lembrem-se... Muito cuidado!
Os lobos assentiram e correram em conjunto para uma direção, floresta a dentro, ficando Edward sozinho com Sam.
Os dois começaram a caminhar, Edward em um compasso humano para respeitar a condição no qual o Alfa quileute estava, ambos em silêncio por vintes longos minutos. Ao chegar às margens do rio, ele viu que sua família ainda estava lá, o rosto de todos esculpidos com expressões de ansiedade, medo e apreensão. Emmett foi o primeiro a vê-lo, assoviando para que sua família visse que ele chegou.
Sam dera um passo para frente, colocando suas mãos atrás das costas em uma posição semelhante a de um general.
– Quero falar com o chefe do clã Cullen. – Sam disse em um tom de voz normal pois sabia que os vampiros poderiam escutá-lo sem problemas.
Os vampiros se entreolharam desconfiados e Carlisle suspirou antes de saltar sobre o rio Calawah, sendo seguido por sua esposa e filhos.
Ao pousarem seus pés no chão, Esme lançou a Edward um olhar de preocupação maternal ao ver o estado em que a camisa dele estava, com claros sinais de garras e se perguntou se ele havia duelado contra um lobo. Edward negou com rapidamente com a cabeça, assegurando um olhar de que tudo estava bem.
– Primeiramente eu gostaria de oferecer minhas sinceras desculpas pelo comportamento irresponsável... – Carlisle disse ao olhar de forma dura para seu filho – ...no qual Edward se prestou. Não é algo que voltará a se repetir.
Edward iria dizer algo, sendo imediatamente cortado por Esme.
–Espero que esse incidente possa ser perdoado e esquecido por vocês, não queremos nenhum tipo de conflito. Nosso clã sempre respeitou e respeitará os Quileutes e o tratado que garante uma coexistência pacífica. – a matriarca disse com um sorriso gentil.
– É bom ouvir isso... – Sam disse em uma voz calma. -... mas não foi por isso que vim aqui.
Carlisle piscou incrédulo, assim como o restante do grupo.
– Não?
– Não.
Sam parou por um momento, respirando fundo enquanto segurava o envelope com as duas mãos. Edward ponderou por alguns instantes o conteúdo daquilo que o Alfa carregava com tanto cuidado.
– Há uma semana, o mais jovem de nossa alcateia, Seth, desapareceu enquanto fazia uma patrulha de rotina na praia de La Push...
Edward sentiu de imediato que aquele relato não iria acabar bem.
– ...Procuramos por quase dois dias, encontrando apenas a roupa dele próxima do litoral, mas o rastro do aroma havia sido apagado pela chuva.
– Vocês chamaram alguma autoridade? – Carlisle indagou.
– Não podíamos. Se a polícia viesse até nós, começariam a investigar sobre Seth o que acabaria por levar desconfianças sobre a alcateia. Nos tornaríamos suspeitos.
– Mas é o desaparecimento de um adolescente... Vocês deveriam ter contatado a polícia.
– Se algum dos seus... – Sam olhou com certo nojo para os cinco vampiros jovens e depois para Esme –... filhos desaparecesse, você iria para polícia?
Esme encolheu os ombros, entendendo o ponto onde ele queria chegar.
– Seja como for a polícia de Forks também passou pela reserva, pois havia desaparecido no mesmo dia três adolescentes da cidade, o carro deles na estrada, sem sinais de roubo ou violação. – Sam prosseguiu.
– Eu acho que li sobre isso no noticiário local... – Jasper se pronunciou, chamando atenção para si – Eles estudavam em Forks High School e alguns estudantes também comentaram sobre o desaparecimento deles... Foi o primeiro caso desde o filho dos Newton.
– Não se trata mais de desaparecimentos. – Sam disse em uma voz isenta de qualquer emoção.
– Um vampiro atacou eles? – Edward perguntou.
– Não... Encontramos eles em uma parte da floresta. – Sam respondeu, hesitando por um momento. Edward tentou ler os pensamentos dele, mas estes estavam conturbados por emoções fortes no qual Sam tentava domar para conseguir se expressar. Abrindo os olhos, o Alfa estendeu o envelope para Carlisle, que relutante pegou em suas mãos.
Carlisle abriu o envelope que estava preenchido por fotografias.
– Santo Cristo... – o patriarca arfou, seus olhos dourados preenchidos de terror.
Edward projetou seu poder até a mente de Carlisle, vendo através dele o que este via.
Três cadáveres em decomposição mutilados, pendurados em cruzes, com sinais de tortura e outras atrocidades, incluindo a de um, com a cabeça decapitada substituída pela de um bode. A próxima imagem mostrava Seth estirado nu na terra, seu corpo também em estado putrefação, aberto e com sinais de que a carne de suas coxas e barriga havia sido arrancadas e cortadas.
Edward se sentiu profundamente enojado, tal qual quando vira o corpo de Mike Newton, só que agora muito pior do que antes, pior do que ele poderia imaginar.
Jasper pegou as fotos das mãos de Carlisle e logo todos os Cullen viram o conteúdo das imagens, todos horrorizados, principalmente Esme, que se fosse capaz estaria aos prantos.
– Ele foi... – Sam parou por um momento – Seth foi assassinado e teve partes de seu corpo comidas... Era marca de dentes humanos, mas não como a de vocês. O veneno de vocês deixaria marcas específicas no corpo.
– Meu Deus... – Esme deu um soluço seco, enquanto era abraçada por seu marido.
Sam parou por mais uns instantes, olhando fixamente para suas mãos calejadas.
– Ele tinha acabado de fazer quinze anos... Estava sobre a minha responsabilidade. – ele sussurrou.
– Não foi culpa sua. – Carlisle sussurrou em resposta.
Sam ignorou, amargo demais para ser confortado pelas palavras de um sanguessuga.
– Depois que os encontramos, fotografei tudo e enterramos os três humanos na floresta. O funeral e enterro de Seth foi anteontem. – Sam prosseguiu. – Levei as fotos ao conselho de anciões e concordamos que diante da situação, mesmo com nossa rivalidade, deveríamos ter uma conversa... Por isso, aqui estou eu.
Sam pausou.
–Você já viu algo assim? Sabe com o quê fez isso?
Carlisle negou com a cabeça, seus olhos fixos para o vazio.
– Não... Não com essa barbárie.
– Bruxas... – Edward disse de forma inconsciente, com a testa franzida. – Bruxas fizeram isso.
Sam olhou para o vampiro de cabelos acobreados como se ele estivesse perdido a razão.
– O quê?!
– Há bruxas em Forks! – o vampiro respondeu convicto – A lua cheia é o momento em que elas... Fazem rituais para ampliarem seus poderes mágicos...
Carlisle arregalou os olhos.
– Edward, você não está sugerindo que... – seu pai disse consternado, enquanto seus irmãos começaram a olharem entre si.
– NÃO!!! – Edward protestou olhando para todos – Não... Harry nunca, nunca faria isso. Nem seus amigos... Nossos amigos, pelo amor do que é sagrado!!!
– Quem é Harry?! O que ele sabe sobre isso?! – Sam deu um passo na direção de Edward, sua voz começando a ficar mais grave.
– Harry é meu namorado. Ele, assim como seus amigos são... Bruxos.
Sam começou a rosnar, suas presas começando a crescer. Ele estava a um passo de se transformar na plenitude de sua forma lupina.
– ENTÃO SEU NAMORADINHO MATOU SETH, É ISSO QUE ESTÁ ME DIZENDO?!!! – ele rosnou, se aproximando ainda mais de Edward, que foi amparado rapidamente por seus irmãos, envolvendo-o em uma espécie de círculo protetivo.
– Nem ouse tocar nele vira-lata sarnento! – Rosalie rosnou para ele.
– Lembre-se que está em desvantagem aqui... – Jasper ameaçou enquanto Emmett estralava os dedos com um alto estalo.
– Vocês todos, parem agora! – Esme implorou, se aproximando deles com temor que aquilo resultasse em uma luta indesejada.
Os dois foram ignorados pelos outros.
– Não! – Edward prosseguiu, olhando para Sam com firmeza, mas uma parte de sua mente se arrependia de ter dito – Não foram eles, eu estava na casa de Harry na noite em que Seth foi morto! Eu estava com eles... Não poderia ter sido eles!!! Não foram eles!!!
– E você espera que eu acredite em você?! – Sam rosnou.
– Vai ter de acreditar se não quiser machucar pessoas inocentes, assim com Seth foi. – Edward disse. Ele sabia que era golpe baixo de sua parte usar Seth como argumento, mas ele queria provar seu ponto.
Sam deu um passo para trás, ainda enfurecido, mas menos do que antes, suas garras cravando na palma de sua mão até fazer o sangue pingar, sendo o cheiro desagradável o suficiente para não despertar interesse nos vampiros.
– Exijo falar com esse Harry! – Sam rosnou.
– Não! Nem pensar... Fora de cogitação!!! – Edward respondeu.
– Se não for por bem... Garanto que será por mal! – Sam ameaçou.
Edward se desvencilhou de seus irmãos, apontando seu indicador para o lobo.
– Não se atreva a chegar perto dele!!! – ele ameaçou de volta.
– Se seu “namorado”... – Sam cuspiu a palavra com nojo –... é inocente, ele não tem nada a esconder, não é?
Mais uma vez, todos olharam para Edward, esperando alguma reação de sua parte. Ele sabia que a opinião de todos, em especial a de sua família, iria depender da forma como ele reagisse quanto aos dizeres de Sam.
Edward não queria expor Harry a mais um risco desnecessário, mas agora parecia impossível. Se não bastasse Victoria, que queria arrancar seu coração, agora Harry teria que se submeter a desconfiança de um pack enfurecido de lobisomens, ou melhor, metamorfos, que acreditavam que ele era culpado sem nem ao menos tê-lo visto.
– Muito que bem. Falarei com ele para termos um encontro – Edward disse de forma resoluta. – Mas será em minha casa, comigo e minha família acompanhando tudo.
Edward deu parabéns a si mesmo por aquela ideia repentina, pois na casa dos Cullen ainda vigorava o feitiço de proteção levantado por Harry e seus amigos onde ninguém com más intenções poderia entrar lá.
‘Edward, não digo isso sempre, mas você é genial!’, Alice deu a ele um breve sorriso de satisfação.
– Está decidido então... – Carlisle se aproximou, utilizando seu velho tom pacificador – Você e sua alcateia estão convidados a virem na minha casa, para conversarmos sobre o ocorrido... Serão bem-vindos, desde que respeitem o companheiro de meu filho.
A boca de Sam ficou em uma linha fina, sua mente borbulhando de raiva enquanto via que estava em um impasse: por um lado ele não queria se sujeitar aos termos dados pelos sanguessugas, sua mente incentivando-o a ir na cidade naquele exato instante junto com os outros lobos e caçar esse Harry e seus amigos para extrair a verdade deles nem que fosse a base da força, mas por outro ele sabia que ao fazer isso, começaria uma batalha contra os Cullen, dando fim a “Guerra Fria” que existia entre os lobos e os vampiros e que garantia a paz de todos.
Ele estava à mercê deles e os odiou, ainda mais, por isso.
– Muito bem... Quando mais cedo for, melhor. – Sam disse por fim, sua mandíbula contraída.
– Fico feliz em ouvir isso Sam. – Carlisle disse de modo respeitador ao estender a mão, que foi rejeitada pelo rapaz.
– Eu... – Esme disse ao se aproximar, seu rosto marcado por uma expressão que demonstrava piedade e compaixão – Eu sinto muito, muito mesmo pelo que aconteceu com Seth e não consigo imaginar o quão vocês estão sofrendo pela perda dele.
– A morte dele não será em vão. – Sam disse, olhando para todos os vampiros – Ele será vingado.
– Tenho certeza que sim... – Carlisle disse, colocando a mão no ombro de Esme. – E todos nós, Cullen, ficaremos honrados em poder ajudar no que for preciso.
– Ótimo. – Sam disse sarcástico, começando a andar em direção a parte da floresta pertencente aos lobos, mas se virando em seguida. – Antes de ir embora... O que vocês estão fazendo aqui, pra começo de conversa?
Os vampiros olharam entre si por um momento. Mais um problema a ser resolvido.
– Você está acompanhando os noticiários de Seattle e região? – Jasper perguntou.
– Sim... Uma onda de assassinatos causadas por gangues ou algo assim... – Sam disse com certo desinteresse.
– Não... Não são gangues. – Alice disse. – São vestígios deixados por... Nossa espécie. Uma vampira, Victoria, está criando um exército de recém-criados para se vingar de nós.
– Que pena. – Sam disse com ironia – Boa sorte a vocês...
– Boa sorte para todos nós, pois ela virá com eles para cá. – Alice respondeu.
O sorriso irônico de Sam se desmanchou.
– O quê?
– Isso que você ouviu. Não sabemos quando, mas ela virá. Será apenas o inicio de uma carnificina. – Jasper complementou.
Sam parou por um momento, olhando para os lados e respirando fundo.
– Levarei isso para o conselho dos anciãos. – ele respondeu. – Se for verdade, os lobos terão de defender a cidade.
– É verdade! – Edward replicou azedo – Eu estava correndo atrás dela e quase iria capturá-la se não fosse por Jacob Black ter me atacado!
Sam olhou para Edward com incredulidade.
– Espera aí, um momento... É por isso que vocês estão aqui? É por isso que você... – Sam apontou para Edward – ...invadiu nosso território?
– Sim. – Edward respondeu. – Imaginou que fosse por qual razão?
– Você é louco... Não... Todos vocês são! – Sam disse abismado.
– Perdão? – Esme perguntou confusa.
– Não havia ninguém em nosso território! Esse doido aí... – Sam apontou novamente para Edward –... estava correndo pela floresta, rosnando e grunhindo para o nada até que Jacob o parou.
Os Cullen ficaram paralisados. Edward arregalou os olhos dourados para Sam.
– Não... Não! Ela estava lá! Eu e minha família perseguimos ela, ela saltou o rio e veio para sua parte do território! – ele argumentou.
– Não, sua sanguessuga vegetariana. Não havia ninguém! Garanto que se uma vampira estivesse por nossa área, teríamos destruído imediatamente! – Sam replicou. – Peço que voltem para seu território... E fico no aguardo para encontrar esse tal de Harry.
Edward e sua família fitaram Sam se transformar em um enorme lobo negro, desaparecendo na floresta. Como se acordasse de um transe, um a um saltaram sobre o rio, voltando a correr em direção a mansão, todos eles confusos demais para dizer algo.
Aquilo não era possível.
Eles viram ela, sentiram o cheiro dela, Emmett chegou a tocá-la fisicamente assim como fora atacado por ela, e agora Sam disse que não havia ninguém? Não fazia menor sentido... Apesar de que as coisas nos últimos meses não faziam o menor sentido... Eles pensariam isso em uma hora mais propícia.
Edward sentia sua mente ficar exausta pelo excesso de informações que teve assim como a montanha-russa de emoções no qual passara em um curto espaço de tempo... Victoria, os recém-criados, a ameaça contra a vida de Harry e o ódio que ela o incitou... Os lobos, o ressentimento de Jacob contra ele, o assassinato bárbaro de Seth e dos outros três humanos, as exigências de Sam, o fato de que havia outras bruxas em Forks que já estavam por trás daquilo, Sam ameaçando ele e sua família e dizendo que Victoria não esteve lá... E por último o fato de que Edward mentira para todos ao dizer que estava com Harry na noite em que Seth desaparecera.
Ele não estava.
Ele viu Harry apenas na noite seguinte, onde assistiu filmes de terror com ele no sofá da sala.
Edward mentiu para não levantar suspeitas infundadas contra seu namorado e novos amigos, afinal, ele mesmo já cometera esse erro antes. Não era como se Harry, Ron e Hermione tivessem algo haver com aquilo.
Eles eram inocentes.
Ele sabia disso... Não sabia?
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