NARRADOR
Nesse mesmo dia, a alguns quilômetros da loja de souvenirs…
ANGELO
— Acorda! - Willow grita.
Minha melhor amiga mora no mesmo apartamento que eu. Eu sei, é uma escolha MUITO inteligente. Tirando uma briga ou outra, a gente se dá bem dentro do mesmo telhado. No momento que ela grita, eu acordo e encaro o teto.
— Levanta essa sua bunda da cama logo, Angelo!
Eu entendo porque ela está brava: ela não quer se atrasar. Hoje nós vamos voltar a trabalhar no pântano do amor. Eu sei, o nome é terrível. Basicamente, a gente atende uns turistas desocupados. Eu realmente não quero voltar lá. Acho que eu vou ficar aqui, quem que a Willow pensa que é pra me levantar?
— Levanta logo, senão eu vou foder esse seu cu com um serrote! - ela declara, avançando na direção do meu quarto.
Ok, ela tá em lugar de fala.
— Aff, eu não quero! - reclamo enquanto levanto.
— Pergunta pra mim se eu ligo?
— Você li-
— CLARO QUE NÃO! Agora levanta. - Willow disse e parou na porta, assistindo minha pessoa levantar.
Na cozinha, o cheiro do café da manhã me faz salivar. Às vezes, eu até me esqueço de como a Willow cozinha tão bem! Sem pensar, avanço na comida.
— Bom dia pra você também, Angelo. - minha amiga resmunga e senta do meu lado.
— Ops, bom dia!
— Ok, ok. Só come rápido, por favor.
Degusto meu café da manhã, e, sem demoras, me enfio no carro. Não deu 2 minutos direitos e começamos a competir quem coloca o quê pra tocar. Willow quer The Marías, e eu quero Ariana Grande.
No fim, chegamos a uma conclusão: a minha toca na ida, e a dela na volta.
— Como você consegue ouvir essa bomba, Angelo?
— Ai Willow, cala a boca! Você escuta indie!
— Bem melhor que suas divas pop.
— Só escuta.
Depois de alguns minutos, chegamos nessa droga de pântano. Eu fui preparar as atrações, enquanto Willow cuidou da bilheteria. Basicamente, tem uma montanha russa bem bacana, um trenzinho que eu não entendi o conceito, e uns outros brinquedos. Depois de uns minutos, tudo ficou em ordem. Sem nada a fazer, espiei a Willow. Se ferrou! A fila da bilheteria está gigante. Enfim, isso é um problema absolutamente DELA. Como eu não sou burro, fingi nunca ter pisado lá, senão ela ia mendigar minha ajuda. Roubei um doce da lanchonete do parque, e sentei num banquinho, assistindo a desgraça alheia dela, bem de longe. Isso é amizade de verdade!
— Angelo! Larga essa cara de cu e vem me ajudar!
NÃO! Ela me viu!
— Aff, mas essa é a sua parte, preguiçosa! - reclamo de volta
— Eu em! Você tá apodrecendo nesse banco sem fazer nada! Larga de ser hipócrita e vem me ajudar.
Aff, ela sempre ganha nas discussões! Nova meta de vida: ganhar da Willow. Enfim, vendo que eu não tenho opção, fui no outro caixa da bilheteria ajudar ela. Duas pessoas cuidando de um parque temático SOZINHAS é um inferno. O dono quase nunca aparece e os outros funcionários foram demitidos faz um ano por causa de um escândalo sem sentido. Além disso, também temos outro trabalho: cupido. Isso mesmo. Cupido. Ao contrário de trabalhar nessa coisa aqui, ser cupido é legal! Eu posso fazer quase todo mundo se apaixonar. Já fiz muita, mas MUITA coisa com aquelas flechinhas. Hoje não é diferente. Depois daqui, eu e minha best Willow andamos por aí, atirando flechas em pessoas. Só não podemos atirar quando elas já estão comprometidas. Claro, temos que usar um mínimo de bom senso. Infelizmente, agora eu tenho que lidar com essa fila de clientes.
Graças a Deus, não demorou muito pra esvaziar a fila. Agora é manusear os equipamentos. Basicamente, duas pessoas correndo como loucos por aí, passando cintos em crianças e apertando botões. Viu, já dá para malhar no meio do trabalho!
No intervalo do almoço, eu e Willow fomos numa lanchonete por perto, a lanchonete do Bull. Não se preocupe com os clientes, os restaurantes do pântano do amor são comandados por droides. Apesar de eu achar isso preocupante, as pessoas lá adoram. Enfim, pegamos uma mesa na lanchonete e pedimos qualquer coisa para forrar o estômago. O que me alimenta mesmo são as conversas.
— Ô, em qual lugar da cidade a gente deveria “cupidar”, Angelo?
— Willow, isso ficou bem estranho.
— Você já falou coisas piores. Agora me responde.
— Sei lá, vamos no bairro das lojinhas.
— Ok, parece bom.
A comida chegou. Os pratos são significativamente grandes e baratos. Eu peguei um garfo e dei uma mordida no meu almoço.
— Que delícia!
— O prato ou o garçom? - Willow pergunta. Muito engraçada ela.
— Os dois, eu acho.
— Tá na hora de achar alguém, Angelo!
— A imunda querendo falar do mal lavado.
— Pelo menos eu tomo iniciativa.
— E você sempre é a culpada pelos pés na bunda que você leva.
— Aff… cala a boca e come o seu almoço logo.
Nossa, eu arrasei! Ganhei da Willow! Foi suficiente para melhorar o gosto da comida duas vezes. Comi o resto do almoço feliz e voltei pro pântano, seguido da Willow. O resto do dia passou rápido, até alguns minutos antes de fechar o parque. Uma senhora afirmava que sua filha queria brincar mais um pouco, logo a gente deveria deixar, afinal a menina é só uma criança. 1 hora depois, finalmente conseguimos expulsar aquela criatura e sua filha do parque. E é por isso que eu NUNCA trabalharia com recursos humanos, especialmente no setor de ouvidoria. Ouvir gente estúpida reclamar nada com nada me dá raiva. Agora, o trabalho como cupido vai começar 1 hora mais tarde, e vai terminar 1 hora depois. Ótimo.
Como combinado no almoço, fomos ao “bairro das lojinhas”, e começamos a trabalhar lá. Passamos pelo bazar da Tara, pela lojinha de souvenirs do Griff, pelo parque por perto, e por outros lugares. Já acertamos 3 casais. No caminho, vimos dois amigos andando juntos, felizes e despreocupados.
— Vamos atirar neles! Olha a química deles! - Willow declara, animada
— Apoio.
Eu miro a flecha, com o maior cuidado, e atiro na direção deles. Para meu azar, os desgraçados decidiram atravessar a rua bem na hora, e a flecha acertou a pessoa atrás deles. A pessoa acertada era um garoto meio esquisito, de cabelo, unhas e vestimenta preta. Parece que ele nunca saiu de casa direito. Quando eu virei minha cabeça para o lado, eu vi a Willow mais furiosa da face da terra.
WILLOW
Não é possível. Esse saco de bosta só tinha um trabalho, e ele falhou miseravelmente. Se ele não fosse meu melhor amigo, eu ia meter a bela duma surra nessa cara dele. Respirei fundo, tentando não explodir com o Angelo.
— Essa era a última flecha, Angelo.
Eu lembrei de uma coisa, mas eu decidi ficar quieta. 100% certeza de que esse momento vai voltar à tona no futuro. Mal posso esperar para ver a cara de tacho dele! Enfim, o garoto não pode perceber que foi atingido por uma flecha. É simples: basta tacar uma coisa nele e ele vai pensar que foi uma pedrinha! Esse é o procedimento que eu tenho que seguir. Sempre que a flecha acerta alguém, eu preciso disfarçar a percepção dele. E aí você vai perguntar “Mas e a flecha? O quê acontece depois?” A resposta é: ela se dissolve segundos depois de acertar o alvo.
— Que cara é essa, Willow?
Ops, esqueci de disfarçar.
— Nada não, vamos voltar para casa.
E assim acaba um longo dia de trabalho!
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