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História A Lullaby For Gods, Interativa - ACT 1, ACT 4 - Dead shuffle


Escrita por: schntgai e sporedrive

Capítulo 9 - ACT 1, ACT 4 - Dead shuffle


Lee

…não se sabe ainda quais são as vítimas, mas pela geografia do bairro exclusivo de Beverly Hills, se presume que a família Kardashian, o herdeiro da família Richter, Klaus Richter, e o músico Harry Styles estejam entre as baixas. 

Lee continuou encarando a tela da televisão pequena que tinha em seu apartamento também pequeno em Glasgow. Se fosse parar para prestar atenção, provavelmente escutaria outras televisões ligadas em canais diferentes, mas na mesma notícia. O mundo não podia acreditar que as Kardashians, de todas as pessoas, tinham morrido. Ninguém sabia de onde havia vindo o meteoro, e a NASA estava tão surpresa quanto o resto. Tinham havido mais situações com meteoros do que o comum nos últimos tempos, desde meteoros pequenos que só causavam estragos leves a pedregulhos enormes que matavam celebridades.

Certamente devia ter uma explicação lógica para aquilo. Talvez algum tipo de interferência no equipamento da NASA, que talvez, por sua vez, fosse causada pela mesma coisa que estava causando a chuva de meteoros. Ou talvez o mundo estivesse acabando mesmo, ele pensou consigo mesmo, rindo pelo nariz.

Lee enfiou a mão no pacote de carne seca que tinha aberto, e ficou frustrado de encontrá-lo vazio. O problema de ter um porquinho da índia era que eles eram vegetarianos e portanto, ele nem podia culpá-lo pelo desaparecimento súbito de sua carne seca.

Ele não iria dizer que nada estava acontecendo, porque alguma coisa estava, mas aquela coisa provavelmente era só um cometa se esfarelando perto demais da Terra ou coisa do tipo. O servidor era só trabalho de desocupado indo torrar a paciência dele. Cansado de ouvir sobre o assunto, ele agarrou o controle remoto, enfiado em uma fresta do sofá, ao seu lado, e desligou a televisão. Tinha um gancho do Homem Aranha para acabar.

Lee colocou sua cafeteira para funcionar. Queria acabar aquele negócio até o final da semana, mas nunca ia continuar naquela janela de tempo se não conseguisse uma caneca de café e trabalhasse naquilo pelo resto da noite. E para a sua absoluta felicidade, a energia caiu por alguns segundos. Quando voltou, sua cafeteira não ligava.

Felicíssimo com a novidade, Lee chutou a parede mais próxima, que não fez nada além de machucar seu pé. Mas que porcaria. Monster iria ter de servir, mas com a sua sorte naquela noite, era bem possível não ter sobrado nenhuma lata na geladeira.

E não tinha. Só tinha Monster quente no armário. Mas que bela noite. Lee agarrou uma latinha de Coca-Cola que felizmente estava na geladeira, mas não só ela não estava gelada o suficiente, quanto espirrou na sua camiseta inteira quando a abriu. Fabuloso.

Atirando muito frustrado a latinha na pia e indo trocar de camiseta — o que era uma tragédia, pois era uma camiseta BRANCA —, Lee ouviu o barulho de uma notificação advindo de seu celular. Decidindo que não precisava ouvir mais más notícias em um espaço tão curto de tempo, ele continuou em direção ao quarto para pegar outra camiseta antes de ir ver o que era.

“Dia duit,” dizia uma mensagem de um usuário que não estava em sua lista de contatos. Ele vivia em Glasgow por tempo o suficiente para ter escutado algumas variações daquele cumprimento, então o reconhecia. Mas não o suficiente para responder. Imaginou que fosse alguém de sua faculdade, ou que assistia seus vídeos reconstruindo máquinas de filmes de ficção científica. Eles eram relativamente populares.

“Eu não falo gaélico, mas boa noite pra você também,” respondeu.

A resposta demorou alguns minutos para vir.

“Mas Glasgow, sim?”

“Sim.”

“Então dia duit.” E o usuário ficou offline.

Aquela tinha sido uma interação nada estranha e super normal, pensou, com um suspiro. Será que era tarde demais para ir comprar uma lata de Coca-Cola no mercado mais próximo? Possivelmente três? Aquele estava sendo um dia estranho, celebridades tinham morrido, certamente tinha gente fazendo protesto por causa disso. Lee decidiu que merecia uma Coca-Cola.

Ele vestiu a camiseta, enfiou os pés no sapato mais próximo e agarrou sua carteira e as chaves. Do lado de fora, a rua estava parcialmente vazia. Não era um bairro com muita atividade noturna, então as pessoas estavam ou em suas casas ou voltando para elas. O mercadinho de esquina mais próximo estava do mesmo jeito, com poucas pessoas fazendo compras. Lee abriu a geladeira mais próxima e puxou algumas latinhas geladas de Coca-Cola para seu cesto, completou com dois pacotes de carne seca e uma lasanha congelada. Eventualmente, iria ter de comer comida de verdade, e se conhecia o suficiente para saber que quando a hora chegasse, não iria querer cozinhar.

Depois de pagar, ele abriu uma das latinhas, dando golinhos enquanto fazia seu caminho para casa. Uma estrela cadente riscou o céu, e embora ele quisesse pensar em coisas otimistas como “faça um desejo”, não era capaz de se desviar do fato de que o meteoro que caíra em Beverly Hills já não era o primeiro. Talvez o primeiro desocupado a mandar mensagens vagas estranhas para os membros do servidor não estivesse errado, por mais estranho que isso fosse. As estrelas cadentes não estavam sendo uma boa notícia até então.

 

Lucia

Lucia odiava estar certa, e odiava mais ainda estar cercada de sapos.

Tinha começado mais cedo no dia, quando ainda estava claro e ela estava saindo de casa para seu emprego como bartender em um bar que tocava rock. Lucia quase pisou em um sapo ao sair do prédio. Quase pisou em um sapo ao virar a esquina para entrar no metrô, e a escada para o metrô estava lotada deles. Quase pisou em um sapo dentro do metrô, e quase pisou em um sapo saindo do metrô. Tinha certeza de que, àquele ponto, encontraria um sapo dentro de um copo no bar, o que seria bem inconveniente e pouco sanitário.

E, de fato, encontrou. O maldito anfíbio verde estava encarando do fundo do copo como se não soubesse mais do que Lucia o que estava fazendo ali. É claro que não sabia. Quando é que alguém tinha respostas sobre as coisas que aconteciam com ela em uma base diária?

— Ei, Lu, eu não consigo achar a chave da sala de estoque, você viu ela por aí? — perguntou um de seus colegas, alheio aos dilemas gosmentos de Lucia.

Lucia não tinha visto a chave.

— Está debaixo da mesa do canto do bar — ela apontou, sem nem pensar muito sobre o assunto.

— Valeu!

Seu colega se abaixou ao lado da mesa indicada e, para a surpresa de ninguém a esse ponto, nem mesmo de Lucia, tirou de lá o chaveiro da sala de estoque. Ela suspirou. O que é que ia fazer com aquele sapo?

Ultimamente, tudo vinha estando pior do que de costume. Os sonhos estavam muito irritantes. As coisas flutuantes no céu do lugar roxo com que sonhava desde pequena estavam mais insistentes do que o comum, reclamando da tal “rata”, quem quer que fosse. Agora, tinha mais o bot possuído do servidor, e os meteoros caindo em lugares importantes para se preocupar. Honestamente, Lucia já estava meio que querendo que o próximo meteoro caísse em cima dela, se significasse não ter de ver mais nenhum sapo.

O resto da noite não foi nenhuma novidade. Lucia deu conselhos crípticos que nem ela entendeu a estranhos — e para eles, pareceu fazer diferença, então que fosse — e preparou bebidas, encontrando um sapo diferente toda vez que ia ao banheiro.

Ela se preocupava, apesar de não se importar de um meteoro cair em sua cabeça em breve, com o rumo que a situação ia tomando. Coisas bobas e sem maiores consequências tinham começado a se acumular a ponto de não poderem mais ser ignoradas. E se Lucia era a única que acreditava que o universo estava tirando com a sua cara, então que fosse, mas não deixava de ser verdade. Ter um assento na janela do carro de palhaços nunca fez ninguém menos palhaço, de todo modo.

No lugar roxo com o qual ela sonhava não haviam sapos, Lucia suspirou, vendo com o canto do olho um sapo se aproximar de seu pé no chão, vindo de… sabe-se deus aonde. Na verdade, as pessoinhas com carapaça escura que populavam o lugar roxo pareciam detestar sapos tanto que ela quase levou uma facada quando perguntou sobre. Não que facadas fossem novidade. As pessoinhas de carapaça escura eram bem agressivas.

Lucia não precisava nem se perguntar se sonharia com o lugar roxo de novo quando fosse dormir, mais tarde. Era uma constante. Ele sempre estava lá esperando por ela. No começo, ela estava em uma torre, mas ficou entediada da torre e pulou pela janela. No lugar roxo, Lucia podia voar, o que não era tão surpreendente, ela estava sonhando, mesmo. E sua torre não era a única. Haviam mais quatro, mas ela nunca tinha ido espiá-las. Algo lhe dizia que não iria gostar de saber o que estava lá.

As coisas no céu diziam que tudo estava com os dias contados, mas elas não respondiam perguntas, e Lucia nunca ficou sabendo o quão tudo aquele tudo iria ser. Qualquer fosse a contagem, não tinham achado que ela precisava saber. 

Quando saía daquele turno, não havia nenhum ônibus nem metrô, então o bar pagava o uber de volta. Lucia sempre carregava cristais na bolsa, mas mais porque queria ter uma pedra para bater na cara de alguém se necessário do que para propósitos curativos ou energéticos. Ao sair do carro…

…Lucia quase pisou em outro sapo.

Qual era a daqueles bichos? Estavam em um complô contra ela. Ela nunca ficava confortável em volta deles. Era como se soubessem de algo que ela não sabia, de alguma verdade universal que ela nunca iria entender.

Lucia entrou em seu apartamento pequeno e foi recebida por Manchas, seu gato que tinha manchas. Manchas era um vira-lata branco com manchas pretas, e passou, se esfregando pelo meio de seus pés, como gatos costumam fazer, e ela quase tropeçou por cima dele. Apenas então, aparentemente satisfeito em fazê-la quase cair, Manchas se sentou ao lado de sua vasilha de comida e miou, furioso. Lucia não se surpreendeu nem um pouco em achar um sapo lá dentro, apesar de se perguntar como ele tinha chegado lá.

Depois de se livrar do anfíbio, ela se sentou na frente de seu computador e digitou “infestação de sapos em Roma” no google. Não achou nada além de notícias velhas sobre infestações de sapo-cururu no Brasil. Bem na hora em que estava se sentindo prestes a dar uma cabeçada no teclado, uma notificação do Discord apareceu no canto da tela. “Dá uma chance pro jogo gente,” vindo de Taylor, a menina que tinha ido atrás de rodar os programas que o bot tinha enviado no servidor.

Talvez estivesse certa, no fim. Talvez devessem dar uma chance pro tal do jogo. Qual era o pior que podia acontecer? O mundo acabar?

— O que você acha, Manchas? Eu devo jogar o jogo?

Manchas respondeu com um miado alto. Lucia suspirou. Lá ia ela.

Mandou uma mensagem no grupo que tinha com Lee e Cupim, sabendo que poderia receber reações negativas. “Esse pessoal rodou o programa e o computador deles não explodiu. Não deve dar nada se a gente decidir jogar.” Nenhum deles estava acordado, ou pelo menos, online. Supunha que receberia a resposta pela manhã.

Depois de enviar a mensagem, ela sentiu como se um peso tivesse sido tirado de seus ombros. Como se fosse aquilo que deveria fazer. Cansada daquela vida de saber das coisas, Lucia chutou os sapatos de seus pés e se atirou na cama.

 

Araceli

Araceli se considerava uma pessoa muito sortuda, considerando que, diferente das Kardashians, não tinha morrido para um meteoro, mas ficar sem treino porque um meteoro tinha caído em cima do ginásio não parecia muito sortudo. Nem era um meteoro grande, era um pedregulho aleatório, mas tinha caído do céu, então o estrago era enorme. Até que a prefeitura encontrasse um local novo para os treinos do time profissional júnior de vôlei, Araceli iria ficar sem treino, mesmo. Era uma passagem de ônibus desperdiçada.

Naqueles últimos dias, ela vinha evitando as redes sociais. Toda vez que abria, era um novo festival de teorias da conspiração e histórias de coisas possuídas, e para ela, era não, obrigada. Só de pensar no assunto já sentiu necessidade de fazer um sinal da cruz para afastar as coisas ruins. Felizmente, ela não era a única, e Ben vinha lhe fazendo companhia desde então. Infelizmente, não podia contar com Taylor, e sabia isso antes de saber de que lado ela estava. Taylor sempre entrava correndo no trenzinho da conspiração, dos alienígenas, e do que quer que fosse. Tanto que tinha sido a primeira a ir jogar o tal jogo.

E falando no diabo…

“EI EI EI CELI,” recebeu. “Eu tava lá vendo o que tavam mandando né e falaram do meteoro que caiu em manila e aí eu pensei eu moro em manila né daí eu fui ver na internet e vi o prédio que caiu mas isso é triste porque agora eu não posso mais voltar pra casa porque era minha casa que caiu.”

…pera, quê?

“O prédio que caiu um meteoro em cima era o seu prédio????”

“Era sim! Tinha até o hidrante na frente, igualzinho.”

E Taylor ainda estava viva? Santa Maria mãe de Deus.

“Você estava no prédio quando caiu e caiu um meteoro???”

“Que? Não minha casa foi transportada pra um mundo rosa com a CIA como eu disse antes e Klaus a casa dele também caiu um meteoro mas ele tá vivo e tá bem e tal mas ele ta em outro lugar ele não tá comigo”

Araceli mordeu o lábio, ainda parada frente ao ginásio destruído. Devia ir para casa. Parecia um lugar aberto demais, público demais para estar recebendo aquele tipo de informação — e por mais que Taylor fosse sua amiga, ela não sabia até onde acreditava na veracidade dela. Se Taylor estivesse dizendo a verdade, haviam várias implicações. Alguém sabia onde todos eles moravam — possível, graças aos GPS embutidos nos celulares. Alguém estava deliberadamente mandando meteoros para cair na casa de cada um deles — meio impossível, a menos que tivessem conquistado o ódio de um grupo de alienígenas bem mesquinho. Ou improvável. Havia quem acreditasse na existência de alienígenas, e o Papa até tinha oferecido a catequese a eles.

Ela não queria que Taylor estivesse dizendo a verdade. Queria que fosse mais um dos inúmeros enganos que ela cometia de tempos em tempos, como a vez em que achou que o dirigível da Goodyear fosse uma nave alienígena. Ela ainda achava que o dirigível era uma nave alienígena. Mas Araceli sentia uma pontada na boca do estômago, alguma espécie de nervosismo, como se a informação recebida fizesse sentido demais — e achava aquilo absurdo, porque não fazia. Nada do que Taylor estava dizendo fazia o menor sentido.

Dentro do ônibus de volta, ela abriu a conversa que estava logo abaixo da de Taylor, Mister Yoda. Ben lhe daria uma segunda perspectiva sobre o assunto, apesar de saber que, mesmo não sendo católico, ele já devia estar rezando um pai nosso toda vez que o assunto de AIs assassinas e stalkers aparecia. Naquele horário, ele devia estar acordado ainda.

“Taylor diz que o prédio que desabou e logo depois caiu um meteoro em cima era o dela. Diz que sobreviveu porque antes disso o jogo transportou a casa dela pra um mundo cor de rosa, e que o meteoro de Beverly Hills caiu na casa daquele outro cara, o mortepesteguerra.j, e que ele escapou da mesma maneira, mas foi parar em outro lugar.”

“E você acredita nela?,” ele respondeu.

“Eu não sei. Se for verdade, alguma coisa tá acontecendo. A gente devia jogar.”

Ben não respondeu. Araceli não o culpava. Soava maluco para qualquer um com dois neurônios funcionantes, e se fosse o contrário, talvez não soubesse o que responder também. Mas seu ginásio tinha acabado de ser destruído por um cascalho espacial, estava mais inclinada em aceitar que o fim era iminente, pelo menos para ela. Mas que porcaria, hein.

Ela tentou se confortar pensando nas últimas vitórias que seu time de vôlei tinha tido, e por algum tempo, isso funcionou. Chegar em casa era um lembrete de seu talento esportivo e de tudo que tinha conseguido graças a ele — uma bolsa e, por mais estranho que soasse, uma família. Seus tutores legais, necessários ainda por mais alguns anos graças à sua participação no time de vôlei, eram pessoas boas, que cuidavam dela e de outras crianças com todo cuidado, e para uma menina que crescera em um abrigo, cuidada por freiras que tinham trabalho demais para fazer e sempre precisava dividir seu espaço e suas posses, aquilo nunca deixaria de ser uma novidade. Aquela casa era uma prova de que Araceli era uma pessoa abençoada.

Mas sua distração não durou muito. Deveria haver alguma maneira de tirar a teima. Ela tinha certeza disso. Afobada, sentou frente a seu computador, que era de um modelo mais velho, e portanto, meio lento. Quando o navegador abriu, procurou as notícias sobre o meteoro em Manila. Já havia se passado tempo o suficiente para que os moradores mortos tivessem sido identificados. Ela rolou para baixo, atrás dos nomes e fotos das vítimas.

Araceli sentia o nervosismo na boca do estômago. Não queria que fosse verdade. Se fosse verdade… Mas lá estava. Taylor Reyes DeLa Cruz. Uma foto sorridente de Taylor em seus tempos de escola. Ela já tinha participado de chamadas de vídeo com Taylor, visto sua conta no Instagram. Aquela era ela. Taylor deveria estar morta. E ainda assim, estava ali, conversando com ela fazia pouco tempo.

Depois disso, foi a vez do cara de Beverly Hills. A notícia mostrava, além das Kardashians e de Harry Styles, que Deus os tivesse, o herdeiro da família Richter, que era dona de multinacionais da indústria alimentícia. Klaus Richter. Havia uma foto de um homem negro de vinte e poucos anos usando um terno bem cortado, óculos de sol, e trancinhas brancas presas em um penteado complexo no topo de sua cabeça.

Filho da falecida atriz ganhadora do Oscar, Lilian Richter, e do empresário Elliot Richter, Klaus Richter foi uma vítima infeliz de uma queda de meteoro em Beverly Hills, dizia o artigo. Pelo sim pelo não, porque Araceli achava o cara da foto bem bonito e qualquer um iria querer dizer “sim, esse sou eu”, ela copiou a foto e enviou no servidor, marcando @mortepesteguerra.j.

“Esse é você?”

A resposta demorou, e no meio tempo, Araceli foi alimentar seus Neopets, rindo de nervoso, mas depois de algum tempo, ela veio.

“Eu não acredito que estão distribuindo essa foto por aí depois de eu proibir ela de ficar em circulação.”

Era isso. O mundo ia acabar. Ela ia morrer para um meteoro. Era hora de começar a pedir perdão por seus pecados para encontrar Deus de consciência limpa.

Em meio ao seu drama existencial, ela recebeu outra mensagem de Ben.

“Celi? Eu jogo com você. Mas eu vou primeiro.”
 

Stella

Margriet Langbroek estava em seu consultório de pediatria quando a notícia chegou a ela. Era bem irônico que o universo tivesse decidido que Harry Styles iria morrer para um meteoro caindo em sua cabeça, especialmente porque sua filha, Diantha… digo, Stella, era apaixonada pelo tal do músico. Por uns cinco segundos, Margriet se arrependeu de todas as vezes em que rezou para que um meteoro matasse o One Direction só para parar de ouvir sobre eles de Stella, mas depois que esses cinco segundos passaram, ela se lembrou de que iria ter de trancar portas, janelas, e facas quando chegasse em casa, e não sentiu mais tanta pena assim do Harry Styles.

Chegando em casa, não se surpreendeu nem um pouco ao ver Stella deitada no chão, os cabelos ruivos espalhados pelo tapete e a cara parecendo que tinha saído de algum filme de terror, com a maquiagem completamente derretida e espalhada pela cara. O palhaço do IT era impecável perto da cara de Stella naquele momento. Margriet achava que ela estava inclusive manchando o tapete com aquela lambança.

Isso sem falar na barulheira. A casa parecia tremer com o som de cinco caras aleatórios berrando suas músicas, cortesia de Stella, que berrava junto e já estava rouca também.

— YOU DON’T KNOOOOOOW — ela gritava junto.

— STELLA, DESLIGA ISSO — sua mãe berrou de volta, e não foi escutada, portanto, arrancou o sistema de som da tomada. — O que você está tentando fazer, ressuscitar o Harry Styles com esse barulho?!

— Se for isso que custar… — ela resmungou.

Levou muita insistência para que ela se levantasse dali e fosse beber um copo de água. Mas depois, ela subiu as escadas de volta ao seu quarto, onde se deitou no chão e ficou lá mesmo.

O quarto de Stella era um monumento a um deus morto. A uma vida que tinha acabado. Um mausoléu para uma religião que se apagava como aquela porcaria que Akhenaton tentou fazer com o Egito. Harry Styles estava morto, e a vida de Stella estava lentamente deixando seus ossos. Ou talvez fosse falta de circulação por estar deitada na mesma posição no chão faziam três horas.

Por pior que a reação de Stella estivesse sendo, o consenso geral era que ela estava aceitando tudo muito bem para alguém que tinha legalmente mudado seu sobrenome para Styles. Mas apenas por precaução, sua mãe tinha trancado as portas e as janelas da casa. Cuidado nunca era de menos.

Ela ouvia as notificações no celular vindo periodicamente. Provavelmente eram Addie ou Xiao Lian, ou possivelmente os dois, tentando verificar se ela já tinha bebido cloro ou algo igualmente ruim. Dessa vez, não havia escapatória. O One Direction tinha acabado de vez. Não havia One Direction sem Harry. O grande amor de sua vida estava morto. Ela sempre tivera esperanças de que eles fossem se reunir novamente depois de Zayn decidir seguir uma carreira solo, mas depois dessa…

Se deus existisse, ele lhe devia desculpas por ter atirado um meteoro em Harry Styles. Quer dizer, com tanta gente pra matar, o Trump, o Bezos, o presidente Bolsolixo, como Cupim chamava, o meteoro tinha de cair LOGO EM CIMA do Harry Styles? Tudo bem, tinha caído em cima das Kardashians e de um outro rico aleatório também, mas o importante era que tinha caído NELE.

Depois de umas boas horas desidratando tudo que tinha para chorar no corpo, Stella decidiu finalmente dar sinais de vida na internet. Estava sendo difícil e iria continuar sendo difícil por muito, muito tempo.

Stella tinha acompanhado o One Direction desde o momento em que tinham brotado no rádio. Eram sua banda favorita, e ela faria quase qualquer coisa por eles. Tinha perseguido uma de suas turnês pela Europa anos antes, e voltando dela, tinha mudado seu nome, antes Diantha Stella Langbroek, para Stella Langbroek Styles. Ela nunca tinha gostado de Diantha, que era o nome de sua avó, uma velha chata cujo nome ela recebera por causa de uma promessa, e já ia mudar seu nome mesmo. Por que não adicionar um sobrenome também, sobretudo um que denotava seu amor pelo integrante da banda que tinha acabado de perseguir?

Ela nunca tinha se arrependido da mudança de nome. Era parte dela, agora, tal como todas as outras coisas em sua vida. Mas era um lembrete de que o mundo estava caindo bem em cima dela. 

“Vai ficar tudo bem,” Addie tinha enviado a ela. “Você vai aprender a sobreviver sem o Harry.” Stella não sabia se concordava. Sentia um buraco no peito onde antes estava seu coração, sangrando, nojento, e saindo pus. “Harry não iria querer ver você assim por causa dele,” ela adicionou, talvez tentando convencer Stella a pelo menos levantar dali e ir comer duas bolachas e tomar um copo de leite, já que passar horas e horas chorando no chão não devia fazer muito bem pra glicose de ninguém. 

E funcionou. Stella virava um bicho quando alguém falava mal de One Direction, e seus amigos tinham aprendido a usar daquilo para o melhor interesse de Stella, de vez em quando. Harry iria querer que ela fosse tomar banho e comer um sanduíche. 

Tentando se distrair enquanto mastigava um pão com coisas demais dentro, ela voltou para o servidor para ler as mensagens.

“Addie, que negócio é esse de meteoro estar perseguindo a gente?”



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