Filipi
- Boa tarde, família linda! – A porta da frente se abre e todos paramos de seguir o nosso caminho até a sala de jantar e nos viramos para ver a origem daquela voz.
Um homem alto, de cabelos pretos e olhos negros caminha pelo salão principal de braços abertos, como se estivesse vindo abraçar algum de nós, mas como em todos os rostos familiares aqui presentes só vejo confusão e desconfiança, presumo que o ato seja somente parte de seu pequeno show e ele seja tão desconhecido para eles quanto é para mim. O homem é acompanhado lado a lado por mais dois, estes carregam armas grandes e intimidadoras, o que faz com que todos nós recuemos um pouco, Logo atrás dos três homens há mais quarto com pequenas pistolas nas mãos.
Todos estão bastante sérios, menos o que se comunicara conosco, esse está vestindo um enorme sorriso.
- O que vocês querem? – Pergunta tata Luiza com uma voz de ultimato. Ela ainda segura a minha mão e está a apertando cada vez mais forte.
- O que nós queremos, tata? – O homem fala quase que encenando um teatro e, pelo fato de chamá-la como se fosse da família, é perceptível que esse ato é completamente planejado e muito meticuloso, certamente derivado de um lomgo estudo de toda a família. – O que nós queremos, amigos? – O sujeito se vira para seus companheiros, mas logo retorna a olhar para nós com um sorriso ainda maior estampado no rosto – Nós queremos tomar café com vocês... Podemos? – Ele aponta para a sala de jantar à direita e para a mesa farta de doces, pães e tudo mais.
- Saia já da minha casa! – A avó de Liss diz com firmeza, o que faz com que o homem misterioso solte uma risada sínica.
- A senhora está me negando a honra de tomar um café com os Primos? – O homem faz como se estivesse realmente ofendido, de forma que passa a espantar um rosto triste, mas logo em seguida seu sorriso psicótico volta ainda mais sombrio – Então presumo que terei que pegar alguns deles para tomar café conosco...
Minha vontade é de subir as escadas o mais rápido possível e tirar a Liss de perigo, mas seria uma missão suicida com toda a certeza, e eu jamais chegaria até a metade da escada. Esses homens não aparentam ter medo de matar ou sequer parecem ter o interesse de deixarmo-nos sair vivos daqui (pelos menos não aqueles que não carreguem o status de “Primo”), já que mostram sem quaisquer preocupções seus rostos. E, apesar do medo de pegarem minha esposa, eles ainda não sabem que ela e Pietra estão lá em cima, esse grupo acha que nós, aqui presentes no salão principal, somos os únicos presentes na casa; e isso talvez de uma chance maior de ela e a Pi de saírem livres e ilesas dessa situação.
- PI, CORRE! – Beatriz grita e todas as minhas esperanças vão por água abaixo.
- A pequena está na casa? Que coisa fofa... Adoraria tomar um café com ela também... – Um dos rapazes que carregam as pistolas fala e todos os demais integrantes do grupo riem.
O homem do centro que falara com a gente por primeiro parece se divertir com a situação, mas seu sorriso aumenta, se é que possível, quando coloca seus olhos em mim.
- Olha quem mais está na casa: FILIPI! Diga-me meu caro, cadê sua belíssima esposa? – Seus olhos brilham quando fala dela, o que me dá mais vontade ainda de matar aquele cara na porrada.
- Você não ouse encostar um dedo nela... – Digo por entre os dentes e o bandido safado junta suas mãos animado.
- Quer dizer que a joia rara também está aqui? E aonde estaria? Junto com a pequena? Adoraria conhecê-las, não é mesmo rapazes? – Ele olha em volta para seus amigos e eles concordam com ele; todos muito animados e isso faz o meu sangue ferver, mas antes que eu perceba começo a ser arrastado por um dos primos, eu acho, para a sala de jantar.
Os homens começam a se movimentar assim que começamos a dar nossos primeiros paços, mas, por algum motivo, não atiram, talvez temam acertar alguma parte vital em qualquer um dos Primos.
Chegamos na sala cheia de comida e Dilan fecha as enormes portas atrás de nós. Os homens começam a esmurrar aquele único objeto que nos separa da mira de suas armas.
Bea corre até uma parede com um enorme quadro e o retira, dando origem a uma porta, a qual tata Luiza parece ter a chave.
Eu observo tudo aquilo sem saber exatamente o que está acontecendo, mas saio de meu transe com Dilan pedindo por ajuda para segurar a porta, então corro até ele faço pressão contra o objeto junto ao primo de minha esposa. A porta na parede se abre e as mulheres passam primeiro. Beatriz exita em passar pela porta e olha para nós, mas imagino que esteja na esperança de que Pietra irá aparecer pela porta a qualquer momento, mas Lucca a leva para a passagem na parede e é nesse momento que ouvimos um tiro. Olho em volta procurando algum buraco de bala ou louça estraçalhada, mas o que foi atingida foi a perna de Dilan. Ele vacila por um instante, mas volta a segurar a porta com toda a força que ainda lhe resta. Ele grita para eu ir com eles, pois uma hora ou outra aquela porta seria arrombada e aqueles monstros veriam a porta da passagem aberta. Cogito a ideia de colocar o quadro novamente no lugar e voltar para ajuda-lo, mas sei que se sair dali a porta seria posta abaixo em menos tempo do que eu conseguiria voltar, então apenas saio correndo, fecho a porta e coloco o quadro no lugar para ter certeza que eles não seriam seguidos. Dilan grita para eu sair dali logo e eu pulo pela sacada assim que a porta é arrombada.
Fico tempo suficiente para ver que dois dos homens estão estancando o sangue que sai da perna de Dilan devido ao ferimento e saio correndo em direção ao mato.
Eles deixaram bem claro que querem os Primos, então serão estes a serem mantidos vivos e se eu estiver morto não poderei ajudar Liss caso alguma coisa aconteça a ela.
Somente esse pensamento faz minha espinha enrijecer e mando uma mensagem para ela avisando da situação atual dentro da casa e que estamos todos bem, com exceção de Dilan.
Chego no mato no final da propriedade e há uma porta de chão sendo aberta e todos da família saindo por ela.
Tata Luiza pergunta por Dilan e eu fico com receio de falar, mas ela merece saber a verdade.
- Eles atiraram em sua perna e a passagem precisava ser escondida novamente, então ele gritou, quase que implorou para eu fazer o que tinha que ser feito e cuidar de vocês para que não sejam pegos, assim como ele. Quando saí da casa pela varanda os homens estavam cuidado do ferimento de Dilan.
Meu telefone vibra e vejo que é uma mensagem de Liss.
- O que tem atrás do grande quadro do terceiro andar? – Pergunto um pouco confuso.
Bea pega o telefone da minha mão e se ajoelha sorrindo um tanto aliviada.
- Graças a Deus! – Ela agarra o telefone como se fosse seu último suspiro de vida e começa a chorar. – Minha boneca vai ficar bem...
- O que tem atrás do grande quadro do terceiro andar? – Pergunto mais uma vez já que da primeira toda a atenção foi direcionada ao alívio da Bea.
- Um pequeno esconderijo para casos de emergência... – Bea diz ainda ajoelhada e segurando o meu telefone contra seu peito, mas seu olhar está focado em mim.
- E cabem as duas lá? – Digo um tanto aflito com a palavra “pequeno”.
O sorriso de Bea some de seu rosto e todos ficam mais tensos.
- Nós temos que tirá-la de lá! – Digo perdendo o controle de minha voz – AGORA! – Eu grito e sinto lágrimas começarem a escorrer por meu rosto.
Eu não posso deixar que a machuquem... Não posso deixar que a levem... Eu não posso...
Sinto meu corpo pesar e perco a força em meus joelhos, de forma que caio sobre eles e sei que não tenho mais o controle de meu corpo, e nem da situação e não posso fazer nada agora para ajudar a mulher que eu amo.
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