História A Magia dos Trinta - Eu quero viver assim para sempre, Wanyin.

•──────── [9] ────────•

Eu não sei onde estava com a porra da cabeça quando aceitei aquela merda de ideia.

Quem em perfeito juízo achava que era boa ideia juntar duas crianças endiabradas, esperando que elas fossem as melhores amigas e tivessem momentos fofos juntas? Só mesmo o engomadinho do Lan Xichen, aquele idiota iludido. E mais idiota sou eu por ir nas ideias dele. O meu eu do passado estaria envergonhado com a pessoa que sou hoje.

Resumindo a situação deprimente em que me encontrava agora: Estava eu e Lan Xichen, sentados na mesa de uma sorvetaria, dois adultos idiotas, solteiros e sem filhos cuidando dos filhos dos outros. Tudo bem que foi opção minha trazer o Jin Ling para conhecer e brincar com Lan Jingyi, o primo pequeno e encapetado do engomadinho, mas puta que pariu! Maldita a hora!

Agora ali estavam os dois pirralhos, brigando e se batendo no parque infantil, me fazendo passar vergonha e me irritando mais do que eu já era por natureza.

— Lan Xichen, pelo amor de Deus, vá lá você porque se eu for... — nem terminei de falar, pois acho que deixei claro que se eu fosse até àqueles pirralhos eu quebraria as pernas deles.

O engomadinho soltou uma risada, achando muita piada ao facto de eu estar com raiva daqueles filhos do Satanás. Porra, se a minha A-Jie ouvisse isto... a minha irmã é um anjo, pena que o filho tenha saído ao pavão do pai. Embora eu ache que a parte endiabrada ele tenha herdado foi do idiota do Wei Wuxian.

— Meninos, se não pararem de brigar não comem o sorvete. — ameaçou Lan Xichen, com uma voz mansa demais para sequer dar medo a uma mosca. É muito frouxo esse idiota. Tem sorte que é bonito...

— Mas pimo, ele ta biliscando o meu baço. — defendeu-se o endiabrado número 1.

— Mintira! Ele biliscou pimeiro! — gritou o endiabrado número 2, escandaloso como sempre.

— Jingyi não biliscou não, tu é mintiroso! — o endiabrado 1 deu um pontapé na perna do endiabrado 2 e como é óbvio, sendo ele meu sobrinho e muito bem ensinado, não se ficou.

Jin Ling pulou para cima de Lan Jingyi e começou a puxar os cabelos dele sem dó nem piedade. O outro endiabrado que não era nada idiota e era bem rebelde e cheio de atitude, ao contrário dos restantes Lan, não se deixou ficar e retribuiu os puxões de cabelo. Estava ali um autentico circo.

— Essa é a porra do motivo pela qual não quero ter filhos. — suspirei, tentando buscar a calma e paciência que não existiam dentro de mim. Obviamente que não ia dar certo. Lan Xichen percebeu e já se levantava para separar e repreender os pirralhos, mas eu fui mais rápido. — Senta! Eu resolvo.

Lan Xichen muito bem mandado, sentou-se, mas pelo olhar dele consegui ver o desespero. Talvez ele estivesse temendo pela vida daqueles pirralhos, porque ao contrário dele, não sou um frouxo não, então eu ia mostrar para eles quem mandava ali.

Cheguei naquela briga de pintinhos endiabrados e os separei sem grandes dificuldades. Eles estavam prontos para se lançarem novamente um ao outro mas eu fui mais rápido, segurei cada um deles pelas calças, um em cada mão, parecendo dois aviõezinhos suspensos no ar.

— Acabou a palhaçada!

Caminhei de novo para a mesa com os dois pirralhos parecendo dois sacos de batatas. Eles pareceram gostar da viagem porque pararam de se espernear e tentar alcançar os cabelos um do outro, além de que soltaram algumas risadas em conjunto. Quem também pareceu gostar daquela imagem foi o engomadinho do Lan Xichen que estava com os cotovelos pousados na mesa, a palma das duas mãos abertas e o queixo pousado sobre elas. E no rosto tinha um sorriso mais idiota do que o normal. Começava a ficar com medo dele e daquele sorriso...

— Está olhando o quê, idiota? — resmunguei quando cheguei à mesa e sentei os pirralhos nas cadeiras, uma bem longe da outra.

— Nada, só achei fofo ver você com essa carranca a caminhar com duas crianças suspensas no ar. — ele respondeu, ainda com aquela postura que o deixava estranhamente adorável. Que ódio, porque ele parecia um cachorrinho gigante, fofo e amável? Eu gosto tanto de cachorros...

— Idiota. — murmurei, sentindo o meu rosto queimar não só pelo comentário dele como também pelos pensamentos que estava tendo olhando para ele.

Os dois pirralhos estavam estranhamente calados, apenas movendo as suas cabecinhas de um lado para o outro, acompanhando a nossa pequena conversa. Quando eu falava, as suas cabecinhas se moviam para mim e ficavam me olhando. Quando o Xichen falava, as suas cabecinhas se moviam para ele e ficavam o olhando. Quem os visse naquele momento não acharia que eles eram dois endiabrados e que segundos atrás estavam se matando no parquinho infantil a troco de nada.

— Estão olhando o quê? Não acham que já aprontaram demais hoje não? — questionei olhando ameaçador na direção dos dois, contudo eles não pareciam ter noção do perigoso porque olharam um para o outro, muito cúmplices, e desataram a gargalhar. — Estão rindo do quê, pirralhos?

— O namolado do Jiujiu dexou ele colado.

— Jin Ling! — repreendi, mas ele realmente não me respeitava nem um pouco porque continuava rindo na cara do perigo. E como se não bastasse, o seu até então inimigo, parecia estar se tornando cúmplice dele. — Quantas vezes já lhe disse que não somos namorados?

— Mas boces palecem namolados. — o outro endiabrado falou. O que eu disse? Agora estavam unidos para me humilhar. — E o pimo Chen gota do pitachu roxo.

Eu até ignorei o facto dele saber e dizer que o primo engomadinho dele gosta de mim, porque esse facto eu já o sabia, o que me incomodou foi outra coisa...

Como assim pikachu roxo? Espera, espera... aquele pirralho acabou de me chamar pikachu roxo? Ah não, eu não acredito que estou sendo humilhado e ofendido por uma criança de três anos.

— Pi... Pikachu Roxo? Quem é o pikachu roxo aqui pirralho?

— Tu.

Curto, simples e direto. Esse garoto tinha atitude e futuro, porém não aceito que ele use isso comigo!

— Lan Xichen... — respirei fundo e olhei na direção dele que, se espantem, estava rindo e achando muita piada àquela palhaçada. — Por algum acaso o Jingyi já teve contacto com o idiota do Wuxian?

— Sim, ainda ontem ele e o Wangji foram lá a casa e o Jingyi estava comigo. Eles dão-se muito bem, inclusive, o Jingyi gosta muito do jovem Wei. Mas porquê?

Estava explicado de onde vinha aquele pikachu roxo.

— Aquele filho da puta...

— Filo da tuta! — as duas pestes gritaram juntas, gargalhando e achando muita piada enquanto as pessoas olhavam para nós como se fossemos uns péssimos pais que não sabem educar os filhos.

Eu comecei a tremer, pronto para quebrar as pernas daqueles capetas, mas felizmente o engomadinho idiota apercebeu-se e agiu antes que eu explodisse.

Lan Xichen repreendeu-os e explicou com muita paciência e cuidado que era errado dizer aquelas coisas, pedindo para que eles nunca mais repetissem, o que foi estranhamente muito bem aceite pelos dois pirralhos. Contrariamente a mim, eles pareciam ouvir o engomadinho e pareciam respeitar ele... Que porra, agora me sinto ofendido! O que ele tem que eu não tenho? Porque eles respeitam aquele frouxo e não a mim? Talvez eu não tenha nascido para ser pai mesmo, ao contrário do Xichen, que ficava ainda mais atraente com aquela postura mais paternal...

Puta que pariu, o que eu estou pensando? Para de pensar merda, Jiang Cheng! Estava tão imerso nesses pensamentos idiotas que perdi maior parte do sermão que Xichen deu aos pirralhos.

— Então, prometem nunca mais falar palavrão? — os pirralhos acenaram. — Prometem também nunca mais brigarem um com o outro? — mais uma vez eles acenaram. — Muito bem, agora vamos comer os sorvetes que eles já estão vindo.

Lan Xichen deu um sorriso caloroso e afagou rapidamente os cabelos dos dois pirralhos, este que pareciam até uns anjos sorrindo agradados com o carinho. Por momentos senti uma leve inveja...

Os sorvetes chegaram finalmente à mesa e os pirralhos logo os atacaram, felizes.

— Wanyin, aqui o seu sorvete. — a voz de Xichen chamou-me de volta para a realidade e quando olhei na sua direção, ali estava ele sorrindo feito idiota como sempre, estendendo o sorvete na minha direção.

Senti os cantos dos meus lábios se curvarem para cima e nesse momento o meu lado racional e o meu lado emotivo começaram uma discussão caótica dentro da minha cabeça. Eu obviamente estava do lado do meu racional e queria obedecer aos seus comandos, contudo, como tem acontecido com bastante frequência ultimamente, eu obedeci ao filho da puta do emocional e acabei sorrindo. Mesmo que fosse muito pequeno, eu sorri porra!

Fui pegar o meu sorvete e as nossas mãos se tocaram.

“Quero um dia poder chamá-lo de meu marido. Desejo também ter uma família com você. Com você, eu sonho em fazer qualquer coisa porque com você do meu lado tudo faz sentido e eu me transformo no homem mais apaixonado e feliz do mundo.”

Eu paralisei. Eu simplesmente paralisei.

Deveria estar acostumado com os pensamentos tão pessoais e profundos dele? Com certeza, mas a cada dia que passava se tornava mais difícil de ler os seus pensamentos e guardar dentro de mim as coisas que eu tenho para lhe responder.

Será que algum dia ele vai falar o que sente?

“Eu quero viver assim para sempre, Wanyin.”

•──────── [X] ────────•