História A Magic Path - Capítulo Único: A Magic Path

Há pouco tempo, uma aldeia de elfos foi atacada por orcs horrendos a procura de comida. Mal sabiam que esses seres mágicos eram tão rápidos e bons em batalha, tanto que derrotaram todo o grupo que surgiu. O problema era que aquele era o quinto ataque em tão pouco tempo que residiam ali e mesmo que eles fossem bons em se defender, os ataques ainda eram uma ameaça aos mais novos que ainda não tinham experiência.

A pequena aldeia decidiu então se mudar, andaram entre montanhas, atravessaram rios e durante seu caminho foram encontrando criaturas que tentaram os devorar, usufruir de seus poderes e, talvez, até comercializá-los. Após um longo período, a aldeia estava enfrentando problemas com as mortes. O número de elfos havia diminuído consideravelmente em função das lutas, eram seres quase imortais... Não envelheciam e tampouco contraiam doenças, sua única forma de morte, eram as causas externas.

Certo dia, encontraram uma floresta mágica. Tinham árvores altas, onde poderiam construir suas casas provisórias, diversas árvores frutíferas, um clima ameno e agradável, além do espaço favorável para os treinamentos de guerra. Estava tudo perfeito a não ser por uma alcateia que também residia a floresta.

Quando chegaram à floresta, os lobos rodearam os elfos que logo trataram de subir nas árvores a fim de evitar novos conflitos. Após alguns minutos, o líder dos lobos transformou-se em um humano e pôs-se a conversar com o outro líder. Claro, que teriam que pagar um preço para ficarem por ali e o preço seria o poder da cura que alguns dos elfos tinham, como os lobos saíam para caçar, a maioria voltava machucado e as vezes acabavam por falecer em função disso. Os elfos concordaram, sem muitas discussões, afinal estavam todos cansados de procurar algum lugar para ficarem por um tempo, além de não terem vantagem contra os lobos, mais perdas acarretaria em mais tempo para chegarem em Valinor, a cidade dos elfos.

A convivência até poderia dar certo, enquanto uns moravam no alto das árvores, os outros ocupavam o chão, uns eram vegetarianos, os outros eram carnívoros. Mas também poderia dar muito errado caso os lobos resolvessem atacá-los, além de serem raças diferentes, sempre há um ou outro membro que acaba não concordando e se caso reunisse mais seguidores, motins não seriam bem vistos.

Taemin era um jovem elfo ruivo com os olhos esverdeados que foi abençoado com os poderes medicinais. Apesar de preferir ir para à luta e explorar os locais, os mais velhos preferiam deixá-lo na aldeia para que ele não corresse riscos, já que os elfos que possuíam esse dom, eram mais raros.

Como não poderia ir contra as palavras de seus líderes, o jovem elfo saía às escondidas quando não era necessitado, o que se tornou difícil após o acordo com os lobos. De início teve medo de ajudá-los, para si eram criaturas irracionais que agiam por instinto e mesmo que fosse bom em luta, os lobos tinham o dobro de sua altura e força, só escaparia se tivesse uma árvore para escalar por perto. Mas com o tempo acostumou-se, ainda que alguns o ameaçaram, tinha que pensar em sua aldeia.

Certa vez, o ruivo conseguiu finalmente dar uma escapada no meio da floresta. Ele corria pelos galhos das árvores e sentia-se livre, como se fosse uma outra pessoa, sorria para o nada, só aproveitando a brisa que batia contra seu corpo. Conforme ia explorando, anotou mentalmente cada lugar, cada árvore diferente, cada fruta que gostaria de provar para que depois pudesse voltar mais tranquilo.

Em meio sua trilha, observou abaixo de si algumas cabanas que julgou ser dos lobos, já que alguns andavam pelo local, não queria cruzar seu caminho com aquelas criaturas e assim continuou sua jornada em sentido contrário, distanciando-se de sua aldeia e a dos lobos, caso seu líder soubesse o que estava fazendo, provavelmente seria banido de sair de sua casa por um bom tempo.

Taemin avistou mais a frente uma neblina que não o deixava enxergar um palmo à sua frente, o garoto era teimoso e continuou seguindo em frente, mas com uma postura defensiva. Andou o suficiente até começar a sentir-se zonzo, ele não sentia vida em nada a sua volta, não sabia o que estava acontecendo com seu corpo, sentia-se leve demais. Talvez aquela neblina que havia encontrado não deveria ser exatamente uma neblina. O ruivo sentou em um dos galhos tão fraco quanto ele e pôs a esperar que seus poderes medicinais o tirassem daquela tontura agoniante. Mas não parecia resolver.  Ao tentar voltar, seu pé pisou em falso e caiu da árvore em que estava, depois disso tudo escureceu.

Ao acordar, viu que estava dentro de uma cabana, era aconchegante e quente. Não havia muita luz, talvez uma vela ou outra e conseguia ver através dos panos da cabana que o sol já havia se posto. Estava encrencado. Um pouco mais no fundo havia um lobo grande de pelagem castanha escura aninhado, dormindo tranquilamente. Taemin se assustou e impulsionou seu corpo para trás acordando o lobo com o mínimo barulho dos panos. Os olhos negros e grandes logo o encontraram e o encarava profundamente. Estava sem reação e com medo.

O lobo levantou-se e pôs a transformar-se em um humano. Com a pele morena, olhos grandes que lembravam muito bem o lobo e o cabelo castanho escuro, que lembravam a pelagem.

— Quem é você? — A voz rouca e então desconhecida foi direcionada a si.

Taemin não moveu nenhum músculo e também não conseguia falar nada. Sem resposta, o lobo tornou a perguntar:

— Quem é você? E essa é a última vez que eu lhe pergunto.

— Taemin, me chamo Taemin — respondeu-lhe mais firme do que imaginara.

— O que veio fazer nas minhas redondezas?

— Eu não vim de propósito, eu estava apenas explorando o local, mas caí de uma árvore.

Sem mais perguntas, o ambiente ficou silencioso, o lobo o encarava de cima a baixo o analisando. Talvez estava querendo detectar se sua carne era boa para ser devorada, isso lhe causou um certo calafrio. E o ruivo estava completamente desconfortável visto que o lobo estava completamente nu.

— Eu posso ir agora?

— Mesmo que você fosse, não aguentaria o veneno e tornaria a desmaiar e dessa vez eu não iria o socorrer.

— Como?

— Essa neblina que está lá fora é veneno. Uma bruxa rogou essa praga em minha alcateia enquanto dormíamos, alguns morreram, mas boa parte conseguiu atravessar o veneno e possivelmente você deve os ter encontrado.

— Nós estamos presos aqui?

O elfo se desesperou, ele precisava voltar e ter a sorte de ninguém ter dado sua falta.

— Sim, até nós acharmos uma forma de atravessar o veneno sem acabar morrendo.

Novamente houve um breve silêncio sendo cortado pelo elfo.

— E você como se chama?

— Minho.

— Por que uma bruxa jogou uma praga em vocês?

— Acho que ela queria nossas peles para comercializa-las. Ou talvez nossa carne, não sei direito.

— Entendo.

O ruivo para desviar da nudez do homem-lobo encarava tudo a sua volta apesar de não ter muitas coisas, além da cabana ser pequena.

— Você poderia... bem, se cobrir? — Taemin perguntou timidamente, talvez um pouco rubro demais por tê-lo encarado na hora.

— Desculpe, mas não costumo usar roupas.

— Certo — tornou seu olhar para o chão.

O ruivo não sabia mais o que falar, ele só queria ir embora para poder se explicar a seu líder que o daria tantas broncas que o menino já estava com dores de cabeça antecipadamente. Ele não queria poder curar, queria lutar, explorar, sair para conhecer o mundo, mas o destino ironicamente lhe deu esse dom.

Após um certo tempo o lobo tornou a dormir em sua verdadeira forma. Taemin o observou enquanto se perdia em seus pensamentos. Sentia-se triste, frustrado e preso àquele mundo que não era dele. Se ele realmente sumisse, sua aldeia sentiria tanta falta quanto diziam? Ou era apenas seus poderes que importavam e nada a mais? Afinal, ele não tinha amigos e tampouco familiares naquela aldeia, ele nem sequer sabia de onde tinha vindo, ninguém nunca o contara nada.

Será que em Valinor ele encontraria suas respostas?

Será que em Valinor ele finalmente encontraria seu lugar?  

Taemin levantou-se cuidadosamente para não acordar o lobo e saiu da cabana. Sua visão estava embaçada, mas podia notar que tudo a sua volta estava morto. Todas as árvores sem uma única folha, aquilo era assustador, não conseguia acreditar que alguém pudesse fazer tamanha maldade com a mãe natureza, todas suas crenças diante da natureza estavam mortas naquele ambiente. Ele não sentia-se bem, sentiu seus olhos encherem de lágrimas e correu entre algumas árvores a fim de alguma vida, mas nada... As folhas secas faziam barulho conforme andava, mas parecia que aquele era o único som além de sua respiração descompassada. Estava ficando zonzo novamente, dessa vez parecia que nenhum ar passava para os seus pulmões, sentia sua garganta fechar e aos poucos foi deitando no chão sem forças para lutar contra sua morte.

Quando acordou levantou o seu tronco do chão de supetão sentindo o ar entrar novamente em seus pulmões. Era uma dor dilacerante respirar novamente, sentiu sua garganta voltar ao normal e dessa vez sentia a vida a sua volta, estava amanhecendo e conseguia ver as árvores cheias de folhas e frutos, com certeza não estava no mesmo local em que desmaiara.

— Você está bem? — ouviu a voz rouca do lobo conhecido atrás de si.

Taemin se virou o vendo na forma humana, ele estava com alguns machucados recentes, mas o olhava com curiosidade. O ruivo avançou sobre Minho o abraçando, sentia-se agradecido por estar vivo e precisava ainda mais saber se o outro estava vivo ou se não era apenas uma alucinação.

— Como eu estou vivo? — perguntou com a voz embargada de choro.

— Não vou mentir que você quase nos matou. Eu ouvi seus passos no meio da floresta e fui atrás, afinal nós estávamos no meio do veneno.

Agora lembrava de sua visão embaçada assim que saiu da cabana, lembrava de como era sufocante respirar, lembrava de como quase morreu.

— Por isso estava tudo morto?

O ruivo deixou algumas lágrimas escaparem molhando o ombro nu do outro que mantinha seus braços em volta de seu corpo em um singelo abraço.

— Sim, e agora a pouco você também quase estava, como sobreviveu?

— Eu tenho dom da cura.

Taemin saiu do abraço repentino que dera e olhou novamente o corpo de Minho cheio de hematomas e arranhões.

— Como fez isso? — perguntou tocando levemente em um dos machucados.

— Eu tive que correr muito com você para que eu não desmaiasse no meio do veneno. Sorte foi a minha ter saído logo dessa nuvem, senão, estaríamos os dois mortos.

— Obrigado. — Taemin sorriu.

O sorriso era verdadeiro, era raro quando o fazia. A última vez que se lembrava sorrindo assim, era quando estava sozinho correndo em meio às árvores, fazendo aquilo que mais amava. Uma sensação calorosa passou pelo corpo do elfo quando fez a breve comparação.

— Posso curá-lo? — perguntou timidamente.

Minho estendeu o braço em que o ruivo passava a mão anteriormente. Observou o mesmo tirar uma faca pequena de sua cintura e cortar a própria mão.

— Por que fez isso? — O lobo perguntou assustado.

— É com meu sangue que consigo curar. Mas não se preocupe comigo.

Taemin deixou com que três gotas caíssem em sua pele e logo o sangue foi absorvido fazendo com que seus machucados, um por um, fossem fechando lentamente.

— Incrível.

O lobo sorriu em agradecimento e as bochechas do elfo ficaram rubras com o sorriso e a proximidade que estavam.

— Para onde nós vamos agora? Sua cabana ficou no meio da floresta.

— Vamos andando até eu encontrar um cheiro familiar.

Naquela manhã ambos foram conversando o caminho todo. Minho havia perguntado o porquê do ruivo ter saído da cabana já que o havia alertado sobre o veneno. Taemin alegou que estava com medo do lobo e que queria conseguir sair sozinho.

— E então quase nos matou. Se eu fosse sem coração, você estaria morto. — Minho disse em um tom falso bravo.

— Desculpe e obrigado novamente por ter me salvado.

O elfo encarou o lobo sorrindo timidamente. Ambos desviaram os olhares envergonhados até prosseguirem com o assunto. Taemin revelou suas inseguranças em relação à sua aldeia para o outro, tudo aquilo que rondava sua cabeça na noite passada. O lobo não soube o que falar muito pois com os lobos era totalmente diferente a forma com que se tratavam, ele apenas ouviu atentamente o ruivo desabafar.

Quando a fome surgiu, Minho estava pronto para se transformar e atacar uma lebre que passava por ali, mas o elfo se prontificou em defender a pobre lebre.

— Ele é um filho da mãe natureza, você não pode matá-lo.

— Taemin, nossos costumes são diferentes, entenda que eu preciso disso.

— Tente mudar, olhe as frutas por exemplo.

O elfo escalou uma das árvores rapidamente sendo observado pelo lobo que ficou no chão. Ele recolheu três tipos de frutas e retornou entregando-as ao outro.

— Olha, essas são as amoras. Elas são um pouquinho azedas no começo, mas tem um gosto fascinante.

Minho pegou um dos cachos cheio de bolinhas roxas e as colocou na boca.

— São boas, mas continuo preferindo carne.

O elfo bufou e bateu o pé no chão, mas não iria desistir, afinal era tão teimoso que tentou até enfrentar a morte.

— Pois bem, essas são as maçãs, elas são bem doces, além de terem bastante suco.

O lobo mordeu uma e acabou babando um pouco o que fez o elfo rir de si.

— Essa é melhor — disse apreciando a fruta.

Taemin sorriu minimamente com a resposta positiva a uma fruta.

— Então, essa é goiaba. Ela também é doce e um pouquinho só azeda.

Minho experimentou a última, mas logo após fez uma careta.

— Não é muito boa não, ainda prefiro comer a minha carne.

— Ok, ok. Mas eu ainda vou te fazer comer muitas frutas até achar uma que faça você parar de matar seres inocentes.

Minho sorriu com a pequena bronca do outro, voltou a ser um lobo e foi caçar a lebre de antes. Taemin escalou as árvores a procura de outras frutas para si.

— Taemin — gritou Minho do chão.

O elfo ouviu o chamado e desceu correndo com medo que algo tivesse acontecido.

— O que houve?

— Eu senti o cheiro de um lobo da minha alcateia, parece estar perto, vamos prosseguir por enquanto.

Não muito tempo depois, os dois acharam a alcateia de Minho.

— Minho!

Um dos lobos que estavam em forma de homem gritou assim que o viu. Eles se abraçaram e logo depois outros lobos foram se aproximando para recebê-lo. Taemin permaneceu em seu lugar, não queria voltar para sua aldeia sem antes se despedir de Minho ou algo parecido, apesar de por agora, serem vizinhos. Alguns lobos que passavam por si, o encaravam como se não quisessem que estivesse ali, ele realmente não queria estar senão fosse por Minho.

O lobo após cumprimentar a todos viu que Taemin permanecia no lugar em que o deixara.

— Obrigado por ter me ajudado a sair de lá, Taemin.

— Imagina — sorriu tímido desviando o olhar.

Nenhum dos dois se moveram depois das palavras trocadas. Taemin sentiu uma sensação tão boa perto do lobo que não queria voltar àquele lugar que sentia-se preso, sufocado. Só queria ficar ali com ele, talvez até voltar quando estavam perdidos na floresta para reviver os momentos que sorriam verdadeiramente um para o outro.

Infelizmente o dever o chamou assim que avistou seu líder ao longe o encarando incrédulo. Afinal ele havia sumido por um dia inteiro, para de repente aparecer na alcateia.

— Eu preciso ir — disse com pesar.

Minho o encarou triste.

— Vou poder vê-lo novamente?

— Espero que sim.

Taemin virou-se para seguir seu caminho até seu líder, mas antes, precisava fazer o que seu coração mandava. Ele rotacionou seu corpo e deixou um breve selar nos lábios do outro.

Ambos sorriram envergonhados, afinal o sentimento era mútuo e proibido. Eram de raças diferentes, costumes diferentes. Assim como aquela convivência entre lobos e elfos, aquele amor tinha tudo para dar errado, mas poderia dar muito certo.