Capítulo 1, um brilho azul.
E então eu olhei para a água, e vi no escuro do
oceano, um brilho azul tão lindo que me fez sorrir.
— Jungkook acorda!
O moreno ignorou o chamado por, quem sabe, a milésima vez e se encolheu na cama forçando os olhos. Ninguém merecia ter um melhor amigo, responsável, que o acordaria em pleno domingo às oito da manhã puxando seus cobertores quentinhos e estapeando sua bunda com tanta força que acreditou precisar ir ao médico.
— O que é isso Taehyung, quer me fazer parar de andar? Quase perdi meus glúteos aqui! — Jungkook gritou acariciando a carne, agora, quente por conta do tapa forte que levara.
— A culpa disso foi toda sua, estou te gritando há horas! — o moreno nada respondeu apenas observou que o melhor amigo se encontrava muito bem vestido e com as malas prontas. — Anda Jeon, não quero chegar atrasado ao embarque!
— Aish!
— Nada de resmungar, essa viagem foi ideia sua!
E realmente foi. Jungkook sempre quis ir às ilhas do Caribe, era um sonho de consumo se aventurar por lá, sempre se imaginava andando pela areia quentinha e estrangeira. Demorou, mas ele junto com seu melhor amigo Kim Taehyung, conseguiram juntar dinheiro suficiente para ir e com grande estilo. Trabalharam muito para chegar até lá, isso desde os dezesseis anos, e quando Jungkook começou a trabalhar Kim já tinha dois anos de economias guardadas. Foi difícil, chegaram a trabalhar em três empregos, dois durante a semana junto com faculdade, mais um durante a final de semana como bar tênder em boates de Gangnam. Às vezes, nas férias se arriscavam como flanelinhas em frente a cinemas e boates.
Demorou muito, Taehyung se formou em biologia marinha dois anos antes de Jungkook e conseguiu um bom emprego em uma organização de pesquisas marinhas em Busan mesmo, que era onde moravam. Já Jungkook, se formou há um ano, em arqueologia e agora estava na equipe de pesquisas de artefatos raros para museus da PNU. Essas seriam as primeiras férias que realmente curtiriam. Agora tinham dinheiro o suficiente para alugar uma suíte maravilhosa no melhor hotel de lá. Estavam feitos nessas férias que tinham de tudo para serem maravilhosas.
— Estou pronto! — anunciou verificando a última mala pra ver se não estava se esquecendo de nada.
— Então vamos, nosso voo está marcado para sair às dez horas, mas pode ocorrer alguma mudança no horário. — Taehyung falou verificando mais uma vez o serviço online do aeroporto de Seul onde estavam hospedados desde a noite anterior.
— Tae, não precisa se preocupar tanto, a probabilidade de um voo atrasar é bem mais alta do que dele adiantar.
E foi exatamente o que aconteceu, quase duas horas de atraso. O voo foi longo, os dois conversaram e jogaram, assistiram Dramas e filmes, dormiram e comeram. Desembarcaram em República Dominicana e de lá embarcaram em outro avião, agora, para Srt. Martins, o destino final deles. A viagem foi cansativa, mas a visão que tiveram de uma praia pouco distante do aeroporto, já foi única. Esticaram os músculos e então seguiram como os outros passageiros, saindo aos poucos da aeronave um pouco menor do que a estavam até chegar à República Dominicana.
— Finalmente! — Taehyung gritou fazendo Jungkook rir por causa das pessoas que ficaram encarando o outro como se ele fosse de outro mundo.
— Tae, não chegue aos lugares já passando vergonha, por favor!
Os dois gargalharam alto e desceram a escada e os levava finalmente a solo caribenho. Passaram pela imigração francesa, já que a parte em que estavam pertencia a França e a outra era holandesa. Conseguiram um táxi assim que saíram do aeroporto, Tae usou seu inglês enferrujado, mas que foi bem útil. Não demorou muito e tinham chego ao hotel. E que hotel, Jungkook ficou sem ar com tanta beleza. Era enorme, e na verdade, era um conjunto de casas lindas, todas enormes e bem decoradas.
Um homem e uma mulher, mais alta que ele, se aproximaram pegando suas malas indicando que deviam passar na recepção. De lá, foram conduzidos direto para a casa em que ficariam e mais uma vez Jungkook não disfarçou o sorriso bobo ou a satisfação de saber que aquilo tinha sido fruto de seus esforços.
A casa era toda branca, por dentro e por fora, mas isso não era muito dado ao fato de que ela era praticamente só trabalhada nos vidros. Eram duas suítes, mas uma delas tinha visão para montanhas e outra para o mar. Jungkook escolheu a que tinha visão para o mar já que Tae ficou apaixonado por uns gatinhos que avistou de sua sacada. Eles decidiram por descansar, para que depois pudessem aproveitar de verdade a viagem. Por sorte era quase noite quando chegaram, então passariam a noite toda descansando e começaram suas férias oficialmente no dia seguinte.
(...)
— Estou faminto! — Jeon gritou quando chegaram das compras, que na verdade não eram para existir. A ideia era: passear um pouco, conhecer as lojas e ver os restaurantes onde poderiam comer. Aconteceu que: passearam por alguns pontos históricos, beberam algumas bebidas que não conheciam e em cada loja que entravam saíam com duas, ou até mais sacolas.
Gastaram principalmente com coisas decorativas e Jungkook foi quem disse que era hora de parar. Os dois visitariam a praia logo após o almoço, então trataram de deixar tudo em suas camas para descerem até o restaurante local, esse que ficava sobre a água. Sim, sobre a água. Jungkook quase surtou ao descobrir isso, mesmo antes de viajarem. Ao que indicava, eram algumas tendas espalhadas pelo mar, bem próximo à praia. Elas foram construídas em suportes de madeiras bem resistentes, por mais que algumas pudessem ser destruídas por tornados quando os mesmos passavam por lá.
Teriam que ir de barco até lá mesmo que não fosse muito longe da praia, algumas eram tão perto que a água não cobriria seu corpo se fosse até lá nadando ou até mesmo andando.
O moreno tomou um pouco de água e seguiu Tae que estava tão afoito quanto ele. Os dois pararam ao chegarem em frente a praia e Jungkook riu quando amigo saltitou pela areia como se não morasse em Busan. Eles se aproximaram de um guia que conduziria o bote e entraram no mesmo com certo auxílio. O mais velho ali já estava mais do que acostumado a lidar com a água, mas Jungkook não, e esse último vibrava por dentro de tanta emoção. Ele parecia uma criança vendo tudo pela primeira vez.
— Podemos visitar alguma praia pequena pela manhã, ouvi dizer que tem umas mais desertas, ótimas pra relaxar, no seu caso, surtar sem passar vergonha.
Jungkook riu vendo o guia rir também, por mais que os dois estivessem falando em coreano. Não demorou três minutos e já estavam em uma tenda, aquele restaurante tinha algo ainda mais especial. Ele era privado, sim, as tendas não eram para vários clientes e sim para um casal, alguém sozinho, ou até mesmo um grupo de amigos e familiares. Eles olhariam o cardápio e então o guia traria seus pedidos.
Os dois pediram por algo que estava na recomendação, Jungkook era mais fã de comida apimentada e então testou seu inglês enferrujado para pedir que colocassem em alguma parte do prato típico do local. A tenda sobre a água era quadricular, tinha um enorme guarda-sol coberto por folhas secas, que julgou comumente por serem de coqueiros, era inteiramente de madeira e tinha uma mesa no centro, com dois bancos retangulares: um de cada lado.
O pedido não demorou a chegar e Jungkook pode soltar um longo suspiro ao ver sentir o cheiro delicioso vindo da refeição. Taehyung foi o primeiro a atacar a mesa e Jungkook riu, já que o garçom nem mesmo havia deixado o local em seu bote.
— Isso é fofo! — Taehyung exclamou enquanto comiam.
— O quê? — Jungkook virou na mesma direção a qual o amigo fitava vendo o garçom se aproximar de outra tenda. — O bote?
— Chama de barquinho, é mais fofo. — Tae desviou o olhar do amigo e voltou a comer.
— Você é estranho. — Jungkook comentou sorrindo atoa.
Os dois ficaram conversando sobre vários assuntos aleatórios, chegaram a terminar suas refeições e pedirem umas bebidas de frutas, curtidas com álcool. Depois de um garçom se afastar após lhes entregar as bebidas e sair de suas comodidades. Taehyung o chamou para deitar em algumas almofadas que tinham no chão.
Os dois ficaram com os cabelos colados uns nos outros, os dois corpos ligados em uma linha, de uma extremidade até outra da base de madeira. Taehyung riu chamando a atenção de Jungkook quando esfregou a cabeça de um lado para o outro na do mais novo, fazendo com que sua cabeleira morena se descabelasse.
— Você viu o que tinha desenhado na roupa daquele garçom? — Tae puxou assunto depois de algum tempo. — Era uma sereia, digo, um sereio.
— Taehyung não começa. — Jungkook revirou os olhos mesmo que o amigo não pudesse ver, ele achava esse papo todo “muito baboseira” para alguém acreditar.
— Você como arqueólogo e trabalhando com ambientes marinhos, devia se questionar sobre isso também. — Jeon bufou fechando os olhos. — Sereios podem estar em qualquer lugar. Eu acredito.
— Primeiro de tudo, Sereios? Essa palavra nem deve existir, segundo, isso não tem relevância dado ao fato de que tritões tem o mesmo grau de existência de que a palavra “Sereios”.
— Aish, não seja tão chato Jungkookie!
— Só estou deixando os fatos claros.
— Alguns chamam isso de ignorância. — Taehyung retrucou.
— E alguns de racionalidade.
Jungkook não era ignorante, ele só via a existência de sereias e tritões sendo tão verdadeira como a do Papai Noel. Ele se lembrava de amar histórias de sereias quando era pequeno, mas o que dizer… Jungkook apenas havia crescido e perdido a crença, pode-se dizer que ele foi como um garotinho descobrindo que o verdadeiro Papai Noel que deixava os presentes em sua cama era seu pai, ou mãe, se a sua fosse viva. Mas no caso, isso aconteceu com sua crença em sereias.
— Quanto tempo será que podemos ficar aqui? — Jungkook perguntou mudando de assunto depois de um bom tempo de silêncio entre os dois, mas seu amigo não respondeu o que lhe deu a constatar que o mesmo havia pegado no sono.
Virou de lado para tirar um cochilo também, quando notou algo estranho na água. Próximo a um barco havia uma movimentação bem suspeita, levantou ficando ainda sentado e tentou ver melhor o que acontecia. Era como se alguém estivesse se afogando, mas não tinham nadadores por ali. Foi então que suas suspeitas se confirmaram, ele viu braços e ao que parecia uma cabeleira rosa de manifestando.
Notou também uma rede, o que o deixou apavorado. Provavelmente alguém havia ido nadar e se enroscou em uma rede, era isso. Olhou em volta aflito, esperando que mais alguém tivesse percebido aquilo. Cutucou Taehyung, mas nada. Chamou pelos garçons, mas demoraria demais e a pessoa já teria morrido afogada dado a toda aquela agitação na superfície.
— Não se preocupe Jungkook, alguém vai ajudar essa pessoa, não banque nenhum herói seu idiota! — repreendeu a si mesmo quando a ideia de fazer algo por si mesmo lhe veio a mente.
O desespero o tomou conta de si, não queria ir lá, mas ao mesmo tempo se aquela pessoa morresse sem ajuda alguma quando tinha visto que algo estava errado a tempo de salvá-la… Ah, Jungkook não se perdoaria.
E foi oi se xingando alto que Jungkook pulou na água, sim, ele pulou. Nadou rápido e desajeitado, o que fora muito difícil já que como dito antes, esse não era seu maior forte, mas por sorte ele teve que fazer natação ao menos um pouco para se sentir mais a vontade trabalhando com as pesquisas de artefatos marinhos. Eram metros, mas logo estava próximo o suficiente para mergulhar.
E então assim que puxou o ar e submergiu o corpo, quase se afogou. Soltou a respiração debaixo d’água com a imagem impossível que presenciou:
A longa cauda azul, as escamas brilhantes que chegavam além do limite da cauda... Em seu pescoço também. Os olhos verdes… Oh céus. Não, aquilo não podia ser real!
Emergiu o corpo rapidamente buscando ar. Algumas ondas fracas batiam contra seu corpo e por isso fechava a boca de imediato, ouviu a voz de Taehyung o gritando ao longe, mas não deu atenção. Sua mente estava conturbada demais para isso.
Ele tinha visto, foi com seus próprios olhos. Era um tritão. Visível, tocável… Impossível. Tentava entender o que estava acontecendo e era como se ignorasse totalmente onde estava no momento, todo o mundo pareceu parar para que Jungkook pensasse. Ele tinha visto algo que julgava não existir. Uma mistura de medo e realização o preenchia. Medo do desconhecido, realização dos dejetos infantis que tinha guardado dentro de si.
Mas então ele despertou para a realidade. O tritão estava preso e ainda se debatendo, Jungkook queria fugir dali, mas seu corpo agiu diferente quando mais uma vez mergulhou já indo direto para a rede tentando rasgá-la. O ser desconhecido ficou agitado ainda mais depois de ver Jungkook, arranhando ele quando o mesmo agarrou a rede a puxando.
Jeon estava evitando olhar para o ser a sua frente, mas quando recebeu o arranhão forte, não teve como não fazê-lo. Os cabelos rosados estavam esparramados como se a água os conduzisse para cima, baixo e lados. Jungkook se perdeu um pouco naqueles olhos verdes tão lindos, mas então o ar lhe faltou novamente e teve que voltar a superfície para recuperar-se.
A voz de Taehyung era alta, mas agora estava acompanhada de outras mais. O moreno ignorou aquilo voltando para dentro d’água. O tritão ainda tentava se soltar e ainda repelia a ajuda de Jungkook que não acreditava que estava tentando salvar uma criatura que nem devia existir, ao menos era o que pensava. Queria gritar o outro e dizer para parar de arranhá-lo por que só estava tentando ajudar, mas não conseguia por estar dentro da água então apenas aguentava aquilo.
Não conseguia, por mais que puxasse, arrebentar a rede e mais uma vez precisou emergir. A voz do melhor amigo estava mais próxima, mas ainda sim Jungkook ignorou isso. Principalmente por que algo lhe veio à mente. Ele estava com o chaveiro do hotel e nele havia um cortador de unha grande…
Jungkook não esperou nem mais um segundo para mergulhar mais uma vez mostrando o cortador ao tritão desespero e assustado que recuou um pouco, mas assim que viu Jeon começar a picar aos poucos a rede, começou a ajudá-lo puxando a mesma para lados diferentes, ajudando o corte a abrir mais. Jungkook já estava quase sem ar quando finalmente rasgou uma boa parte da rede vendo o ser lindo sair pelo espaço pequeno, mas suficiente.
O tritão, por impulso ao sair, ficou de frente para si o fitando. Jungkook por um momento esqueceu que precisava respirar e retribui o olhar um pouco embaçado já, por permanecer tanto tempo de olhos abertos embaixo da água. Todavia aquilo de fato não importa a agora, o que era respirar perto de uma descoberta daquelas. As malditas sereias, e tritões eram reais, e tão lindas quanto imaginou desde criança. Jungkook teve vontade de tocar as escamas no pescoço alheio e foi exatamente isso o que fez. Sentiu a textura áspera das escamas azuis brilhantes e sorriu soltando o ar debaixo da água. E então algo que não esperava aconteceu. Um beijo em seu queixo, não foi um selinho, não, Jungkook conseguiu sentir a língua alheia alisar seu queixo. Aquilo foi real.
Jungkook piscou e então viu o tritão fugindo, nadando rápido só deixando bolhas pelo caminho, também viu duas pessoas de vermelho entrando na água agarrando seu corpo.
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