A lavanda fez meus sentidos adormecerem em um sono profundo e relaxante, de novo. Eu não queria dormir, mas meu corpo reagiu ao odor doce e agradeceu por isso, como se eu não tivesse dormido por anos.
Por um lado, era de fácil entendimento se tratando de uma pessoa que passou metade da vida estudando e lendo livros sem dar espaço para o sono. Os efeitos surgiram e não há o que fazer. Minha saúde fragilizada pelos problemas precisava do relaxamento.
Havia muitos problemas que teriam de ser resolvidos por mim, essa história cansativa não terminou por aqui, me sentia com arrependimentos, a causa deles era a minha mãe. Fazia meses que não conversava com a pessoa que me deu a vida, o meu rancor, o ódio e orgulho não permitiu que fizesse.
Os motivos óbvios me impedia de ir até a minha casa e pedir desculpas, não conseguia aceitar, mas eu deveria manter a minha mente aberta e ser pelo menos um pouco compreensível. A Deusa do amor era a pivô de tudo, e muito menos ela eu não consegui perdoar.
Não era apenas isso, teve uma morte, uma morte que estava me matando por dentro de tanta tristeza, não pude sequer impedir que acontecesse, simplesmente saí correndo de medo pensando que essa vida tão boa não seria extinta.
Ela acabou sendo.
Eu estava na cama do causador, com o meu corpo grudado ao seu, sentindo seu cheiro, seu abraço, seus beijos, o acariciando, simplesmente porque não consigo escapar das correntes que nos une. Se eu tivesse uma chance de desaparecer com Aurora, provavelmente faria e não me arrependeria, mas o amor maldito me prendeu, não sobrando escapatória para o meu desejo.
Era uma maldição…
Tendo despertado, eu admirava o seu rosto adormecido de frente ao meu, como se fosse a primeira vez que estava observando a sua magnífica beleza divina. Um homem belíssimo, feito nos mais detalhados detalhes, concebido do ventre de uma mulher titã que provavelmente seria bonita, mas que era tomado pela ruindade e frieza como do seu pai. Um Deus tomado pela insensibilidade e pecados.
Seus irmãos, por mais bonitos que fossem, não chegavam aos seus pés, eram humilhados pela beleza de Hades, ninguém, nenhum homem chegava aos pés da beleza de Hades aos meus olhos. Não havia Deus que o superava.
Escorregava os dedos pela sua pele pálida e sem a vermelhidão do sangue nas bochechas, a procura de possíveis defeitos, possíveis cicatrizes, algum defeito que me fizesse parecida a ele, não encontrando nenhum no ato a não ser a figura dos nossos corpos serem parecidas, sem anomalias.
Era como se fosse um humano, uma pessoa normal, sem o dom concedido pelos seus antepassados, mas era uma divindade, um Deus…
Sua pele era tão macia, tão perfeita, que meus dedos escorregaram por ela, fazendo carinhos delicados e amorosos. Era inexplicável quando tocava no rosto de Hades, talvez seria a mesma coisa de se tocar no rosto de uma outra divindade.
Agora eu compreendia a sua intensa raiva de ter tido o seu belo corpo ferido em batalhas pelo seu algoz, o cavaleiro de Pegasus.
Meu lábio se curvou em um sorriso quando cutuquei seu nariz, e me aproximei mais do necessário, deixando um beijo enfraquecido no canto dos seus lábios hidratados e macios.
Quando fiz menção de cutucar novamente seu nariz, fui surpreendida pela gravidade da sua voz.
– Continue. – Pediu. Seus olhos se abriram lentamente pelo sono. – Estou gostando.
Imediatamente afastei minha mão, o susto fez meu sangue congelar.
– Estava acordado todo esse tempo? – Perguntei em busca de explicações por ter sido pega em flagrante.
– Eu acordei quando você cutucou meu nariz. – Sua fisionomia demonstrou neutralidade, tendo não se importado.
– M-Me desculpa. Eu não resisti, você é bonito. – Me distancio envergonhada.
– Admirando a minha beleza enquanto durmo? – Seu tom era zombeteiro.
– Ela deveria ser admirada! É errado? – Apoiei meus braços no colchão, deixando o lençol escorrer dos meus bustos.
– Não. – Observou minha nudez. Seus olhos brilharam. – Porque eu acharia errado se também admiro o que está na minha frente?
– Está tentando elevar a minha autoestima?
– Deveria ter a mínima noção da beleza que tem. – Deu um meio sorriso e se sentou na cama de costas para mim. Hades demonstrou estar pensativo. – Quando ver Apolo algum dia, a sua opinião sobre a minha beleza não será a mesma.
Me coloquei de joelhos no colchão e abracei seu pescoço por trás, encostando o rosto na curvatura do seu pescoço, inalando seu cheiro masculino. Hades estava estranho, não sabia nem mesmo explicar o porquê dele estar agindo daquele modo.
– A minha opinião será a mesma, ela não vai mudar. – Acariciei seus longos cabelos negros. – Nunca! – Dei a minha palavra.
– Espero que não. – Virou o rosto, se encontrando com o meu.
– Dormimos por muito tempo? Aqui deveria ter um relógio. Ainda não me acostumei com o tempo dos dois mundos. – Procurei com os olhos um possível relógio no quarto, não encontrando nada.
– Está a noite no mundo dos humanos.
– A lavanda é mais poderosa do que imaginei!
Resolvemos nos levantar e nos banhar. Eu tinha dormido o suficiente para ficar horas acordada aproveitando o Campos Elíseos e o templo de Hades. A noite não atingia o lugar, o que era bom, o tempo era alegre e feliz, transmitindo uma energia renovadora para a alma.
A mesa de jantar nos aguardava à nossa espera, e Hades permanecia em silêncio, não iniciando diálogos comigo como costumava fazer com frequência, mesmo que fosse diálogos curtos e de pouca duração. Eu era a que mais falava, assunto não era o que faltava no meu vocabulário.
Ele não tirava seus olhos bonitos de mim enquanto eu aproveitava as farturas oferecidas normalmente. Estava no aguardo de um possível pronunciamento seu, mas não veio e seria inútil perguntar o que realmente estava acontecendo para uma pessoa fria e calada.
Sua mão segurou a garrafa de vinho e despejou o líquido escuro avermelhado na taça de cor negra diferenciada. Meu olhar indescritível repreendeu aquela ação maluca, não podendo acreditar e nem mesmo aceitar.
Quando fez menção de levá-la a sua boca, eu me pronunciei.
– Hades. – Suspirei, não querendo que aquilo se repetisse.
Ele me encarou neutro, ainda com a taça em mãos.
– Você não irá beber novamente! – Fui firme nas palavras, como se eu tivesse autoridade em um Deus.
– Como? – Não pôde crer.
– Não permito.
– Estou com vontade, S/N.
– Porque não dá uma chance para a água? Ela trás ótimos benefícios para a saúde. – Reprimo os lábios, com vontade de rir da sua situação.
– Eu não estou com sede. Se estivesse com sede iria tomar. – Estava sem acreditar que eu não deixei o mesmo apreciar a sua bebida favorita. – Meu corpo necessita do álcool.
– Não, ele não necessita do álcool. – Segurei a sua taça.
– Não vou ficar bêbado, meu corpo divino é imune a qualquer substância.
– Se fosse realmente imune, não teria ficado bêbado e vomitado a sala inteira. O tanto de bebidas que você tomou foram o suficientes para fazer seu corpo ser afetado. – Os flashbacks do ocorrido atordoam a minha mente.
– Eu me descontrolei e… – Não deixei ele se explicar.
– Não, Hades. Ainda não. Não quero que você fique bêbado e passe mal outra vez. – Retirei a taça da sua mão à força, e a coloquei do meu lado.
O líquido avermelhado chamou a minha atenção, demonstrou ser saboroso e delicioso, apenas o cheiro me fez salivar de vontade. Meus instintos pediam para experimentar pelo menos uma única vez. Eu nunca senti o gosto do álcool nos meus 20 anos de vida, e aquela seria a chance de provar sem pensar nas consequências.
– Mas eu posso. – Eu segurei a taça de cor negra que era gélida.
– S/N… – Balançou a cabeça em negação.
Aproximei o objeto da boca, engolindo a saliva para provar de uma só vez aquele líquido delicioso. Minha língua chegou a tocá-lo e eu me estremeci com a temperatura e o gosto. Quando fui tomar o impulso de finalmente colocá-lo por inteiro na boca e engolir, Hades segurou meu pulso fortemente.
– Larga essa taça, S/N! – Mandou.
– Por que? – Meus olhos estreitaram-se.
– Você sabe bem o porquê, ou quer que eu explique? – Seu olhar repreendia a minha ação.
– Eu estou com vontade! Não faça essa desfeita comigo! Se você não pode eu posso, sei bem como me controlar e não irei morrer. – Tentei puxar o meu pulso, mas ele continuou me segurando.
– Sabe bem das consequências, e não quero que você prove o que pode causar mal a você e Aurora.
– Isso é uma hipocrisia, sabe disso, não sabe? – Revirei os olhos. – Não poderia negar o meu desejo de experimentar um pouco. – Tentei novamente puxar meu pulso.
– Nem eu e muito menos você vamos beber. Assim é melhor. – Fez a taça desaparecer.
– Por Deus. Não creio que fez isso comigo. – Não aceitei.
– Fiz pelo seu bem, o que eu mais quero é que tenha saúde e uma vida saudável. Os seres humanos são frágeis. – Expressou a sua preocupação.
– Está bem. – Desisto de repreendê-lo. – Você está certo, somos frágeis e insignificantes. – Concordo ironicamente.
– Em vez de ser uma bebida alcoólica, não é preferível uma outra, saudável? – Colocou na minha frente uma bebida sem álcool.
Nosso diálogo deu início ao fim, era o que eu pensava, por enquanto não sabia mais o que dizer, ainda. Eu realmente queria dizer muitas coisas, insistir no que nunca iria acontecer, e avisar que gostaria de ver a minha mãe para me desculpar.
Mas uma coisa estava atiçando a minha curiosidade, e eu iria saber mesmo que lutasse pelo impossível pra arrancar todo o passado dele da sua boca. Aquela história além de ser confusa, estava afetando Hades, mesmo que aparentemente escondesse bem os seus sentimentos no seu coração de pedra.
– S/N. – Me chamou.
– Hum? – Murmurei, mastigando o alimento.
Seus punhos cerraram na mesa, e sua expressão fechada indicava insatisfação, ódio e raiva.
– Eu desisti da guerra santa. – Enunciou.
Diante da sua revelação inesperada, o garfo e a faca escorregaram de minhas mãos e atingiram o prato, causando forte barulho na mesa de jantar.
A atmosfera com o ar puro ficou densa e sufocante, meu coração desconcertado com o inesperado da sua boca, gelou. A perplexidade me fez transpirar o ar que faltou e soltar com esforço pela boca seca. Minhas mãos tremiam e suavam. Os meus olhos secos sem piscar, arderam.
Nos poucos segundos da revelação, meu cérebro não pôde acreditar e concluiu rapidamente ser uma mentira, mas o olhar daquele que me comunicou me fez crer que era a verdade sincera.
– Não vou tomar a terra das mãos de Athena. Essa é a decisão que tomei. – Assegurou.
Era mesmo real?
– É difícil de acreditar vindo de uma pessoa como você. – Lágrimas encheram os meus olhos. – Eu fico… tão feliz em ouvir isso. – Peguei a sua mão, entrelaçando com a minha.
– Entenda uma coisa, eu não faço isso pelo bem dos seres humanos, eu faço pelo bem de você e de Aurora. As duas mulheres mais importantes que tenho e valorizo como Deus. – Alegou. – Iriam ser feridas, e não poderia permitir que acontecesse.
– Teve tantas mortes, Hades… tantas mortes. – Minha expressão endurecida pela dor dos inocentes envolvidos destacou minha reação. – Já estava na hora de desistir, mas você demorou demais. – Forcei um sorriso.
– Eu agradeço por ter insistido, sou grato pela sua força, é digna do meu reconhecimento. – Beijou meus punhos. – Meu descontentamento pelos seres humanos não desapareceu, não sinto compaixão por eles, mas você me ensinou e ensina lições que nunca tive na minha vida.
– Vou ensinar muitas se me permitir, como também quero que me ensine. Vamos aprender juntos! – Sorri com grande alívio. – Comunicou Athena? – Perguntei.
– Sim, ela já sabe, assim como os meus espectros que permanecem fiéis.
Iríamos ter finalmente a gloriosa paz?
– Eles sentem medo de você. Não vão ousar discordar da sua decisão.
– Me desculpar pelo que causei não vai adiantar, correto?
– Não. – Neguei. – Já aconteceu. – O ódio estava instalado na minha alma. Hades me transformou em uma pessoa amarga com ele mesmo.
– Eu imaginei, mas mesmo diante da sua raiva, peço desculpas por ter agido de uma maneira desagradável no começo. Pela pulseira enfeitiçada, por ter dito o que disse no jantar do meu irmão maldito. – Beijou outra vez os meus punhos.
– Eu também devo desculpas. – Relembrei os ocorridos no começo de tudo. – Me desculpe por ter cuspido em seu rosto. – Um rubor de vergonha subiu pelo meu rosto.
Hades pela primeira vez gargalhou, uma gargalhada perfeita e linda, deixando à mostra seus dentes brancos e bem alinhados. Era apaixonante ver a raridade daquela gargalhada.
– Nunca fui cuspido por um humano. – A sua boca se contorceu pelo sorriso que tentava esconder.
– Me desculpe Hades, não me orgulho do que fiz. Mas acho que você foi merecedor. – Suspirei, deixando a sinceridade falar.
– Foi humilhante. – Suspirou, passando os dedos pelo rosto bonito.
– Pensei que iria me matar naquele momento. Por quê não o fez? – Perguntei intrigada.
– Eu não iria te matar, não teria como eu fazer isso com os nossos corpos, em outras palavras, almas, estando ligadas. Se eu fizesse, sairia prejudicado ou talvez, morto também, como você. – Esclareceu o que era de se esperar. – Senti ódio da sua audácia absurda, e mesmo se eu quisesse te matar naquele momento, eu não iria conseguir por conta do que Afrodite fez.
Hades teria colocado um fim em minha vida se não fosse a maldição de Afrodite, de algum jeito ela me salvou de todas as atrocidades que ele poderia fazer comigo.
– Fiquei aliviada quando não me matou. – Mordi o lábio inferior.
– Sente medo de mim?
Aquela pergunta feita para mim era uma confirmação, ele sabia, mas gostaria de saber pela minha boca.
– Sou inferior a você, não tenho a sua força, não tenho poderes, e nem mesmo uma espada e armadura para poder dizer que "sou forte". – Fiz aspas. – Acho que você sabe bem.
– Eu sei. – Sussurrou, piscando três vezes seguidas. – Asseguro que não farei mal a você.
Eu sorri, apertando sua mão.
– Agora deixe-me perguntar outra coisa que notei. – O seu olhar profundo não desviava do meu.
– O que seria? – Fiz careta, em estado de confusão.
– Se machucava com frequência na infância?
– Por que essa pergunta? – Estranhei, sorrindo.
– Quando Afrodite apareceu na sala do meu trono, farta do meu ódio contra os seres humanos e citando a maldição, bem antes dela vir, anos atrás quando eu estava em meu hospedeiro, eu sentia dores com frequência, dores que um Deus não sentiria. – Segurou o meu braço que estava com os arranhões dos galhos e o observou. – Cortes apareceram nos meus braços, juntamente de hematomas. Eu me perguntava diariamente o que seria. Em todos os séculos que eu me apossei de receptáculos nunca havia me acontecido qualquer tipo de rejeição ou machucados.
– Você está querendo dizer…
– Nós já estávamos ligados.
– Afrodite e minha mãe explicaram sobre tudo, e isso aconteceu quando eu estava no ventre dela. – Engoli em seco, aquela história ainda me afetava. – E o meu colar escondeu a minha localização de você durante anos. – Coloquei a mão no pescoço, não sentindo o objeto.
Era visível o ódio e descontentamento de Hades, ele como eu não aceitava o que as duas fizeram conosco, mesmo que fosse por um bem maior.
– Sobre a minha infância, eu realmente me machucava com frequência. A bicicleta era a principal causa.
– Você é frágil, deveria se cuidar mais. – Sorriu novamente, e entregou o meu amado colar que estava consigo. – Teve uma infância alegre, não teve? Isso é aceitável.
– Sim, eu tive. – Concordei. – Como foi a sua? – Me arrisquei a perguntar, dando um passo a frente. – Como era aquele tempo?
Hades soltou o ar pela boca, e acariciou o meu pulso.
– A minha infância foi… – Sua fala parou nos instantes que eu iria finalmente saber, e ele enrijeceu as feições, atento a alguma coisa.
– Hades? – O chamei, observando seu estado de concentração. – Amor? – Estava começando a me preocupar.
– Eu não acredito! – Arregalou os olhos.
– Hades, você está me assustando. O que foi? – Perguntei outra vez.
– Preciso ir para o submundo. – Se levantou rapidamente, arrastando a cadeira no piso. – Os três juízes estão brigando.
– Brigando? – Me surpreendi, também me levantando. – Por que?
– Eu não sei. Pandora me comunicou pelo cosmo avisando, e não conseguiu separá-los. – Suspirou. – Esses garotos…
– Deixe-me ir com você! – Pedi.
– Tem certeza, S/N? Eu volto em minutos, não vou demorar.
– Não quero ficar sozinha aqui! – Insisto.
– Então vamos. – Nos teletransportou para o castelo.
Nossas mãos se juntaram romanticamente, e um arrepio se passou por mim com a temperatura gelada de sua mão. A segurei com firmeza, o esquentando com a minha temperatura quente.
Com os passos apressados, caminhamos até uma sala específica bem afastada, e eu pude sentir o clima pesado daquele lugar que logo foi possível ouvir estrondos atrás de estrondos, muito fortes e assustadores.
– Meu Deus… – Apertei a mão de Hades, apreensiva com os barulhos.
– É melhor aguardar aqui. – Parou de andar.
– Eu já disse… – Fui interrompida com os gritos de Pandora.
– JÁ CHEGA, AIACOS E RADAMANTHYS! PAREM AGORA COM ESSA BADERNA!!! O IMPERADOR HADES VAI MATAR VOCÊS TRÊS!!!
Eu e Hades arregalamos os olhos com a sua voz alterada, a situação era tão grave que Pandora continuou aos gritos, mandando os três pararem e ambos não pareciam ouvi-la já que os estrondos permaneceram mais fortes que nunca.
Nos dirigimos para a sala, e nos deparamos com sangue pelo chão e parede, tudo estava destruído! Mas o que era assustador, era os três rapazes brigando, um atacando o outro com poderes intimidadores.
Radamanthys, o espectro que me capturou na casa de gêmeos, se encontrava atacando os outros dois restantes que eu não conhecia e que revidavam com facilidade a sua força extrema.
Pandora estava assustada e desesperada, ela gritava, pedindo para pararem.
– PAREM VOCÊS TRÊS!!! – Gritou novamente. – PAREM!!!
Hades assistia a briga com feições nada boas, que me deu calafrios. Ele se mantinha com os braços cruzados, fuzilando os três, como se fosse possível matar ambos apenas com o seu olhar ameaçador.
– Parem, agora!!! – Com a voz grave de Hades no ambiente e sua postura autoritária de um grande líder, fez todos os presentes olhar em sua direção.
Sua mão se levantou e os três juízes de olhos arregalados foram jogados contra a parede, batendo as costas no material que os fizeram cuspir sangue, e ficarem mais ainda machucados.
Me escondi por detrás de suas costas e apertei seu antebraço, me sentindo indefesa naquela situação.
– O que pensam que estão fazendo? – Fez uma pergunta com autoridade, fazendo eu mesma sentir medo do seu tom elevado. – Estão deixando a imperatriz de vocês assustada!
Seu antebraço era apertado pelos meus dedos, como se estivesse sendo esmagado pela força que eu colocava nele. Me tremia da cabeça aos pés, enquanto observava aqueles três seres intimidadores.
– Eu necessito de uma bela explicação dos três! – Permanecia com a sua postura imponente, digna de um imperador.
Um deles abriu a boca para responder, mas uma outra presença surgiu na sala.
– IMPERADOR!! – Um espectro de cabelos brancos adentrou.
Ele demonstrava desespero, estava pálido feito papel e entrou na frente dos três que estavam tentando se levantar, mas não conseguiam pelos enormes ferimentos e a força de Hades colocada.
– Lune? – Hades perguntou surpreso com a presença do espectro.
– D-Deixe-me explicar com detalhes! E-Eu sei o que houve!! – Disse assustado.
– Então, diga. – Hades mandou, curioso sobre a possível história da causa.
O espectro começou a contar sobre tudo, deixando todos surpresos, inclusive eu com o que se tratava. Os três juízes estavam se relacionando com uma garota como a mim, pelas explicações um tanto confusas de Lune. O que fizeram foi de extrema covardia, foram capazes de machucá-la com palavras e ações.
– A irresponsabilidade dos três me causa repulsa. – Demonstrou desapontamento. – AIACOS E MINOS! – Gritou com dois deles que abaixaram a cabeça. Pareciam o pivô da causa.
Pandora também abaixou a cabeça com a fúria de Hades.
Eles encaravam Radamanthys com ódio que também devolvia os olhares, queriam discutir e brigar, mesmo sendo na presença do seu senhor, e foi o que exatamente aconteceu.
– Na próxima vez que me der lição de moral, Radamanthys… Eu juro que te mato! Seu filho da puta! – O moreno xingou o loiro que cerrou os punhos, afetado, e eu arregalei os olhos. – Seu hipócrita do caralho!
– Você e Minos são dois desgraçados! A culpa é de vocês! Devem deixar de serem moleques e assumir o que fizeram!
– Faça-me o favor, seu merda! – O platinado riu irônico. – Deveria assumir o que também fez no passado!
– Seu… !!! – Radamanthys elevou seu cosmo, raivoso.
Pandora iria assumir a situação com o seu tridente, mas Hades colocou o braço na sua frente, impedindo o avanço da garota.
Um deles tentou se explicar detalhadamente, parecia envolver um cavaleiro de Athena que Lune resolveu não citar, provavelmente para não ter mais confusão, já que Hades odiava os seguidores fiéis de Athena.
Eu fiquei curiosa com a história, gostaria de ouvir mais, mas Hades preferiu não se importar, e tomou uma atitude surpreendente e drástica, que surpreendeu a todos da sala, inclusive Pandora.
Ele retirou os poderes de cada um, menos de Radamanthys, e suas sapuris brilharam com o ato, indicando a retirada dos seus poderes. Aquela energia intimidadora já não estava mais ali, simplesmente desapareceu.
Era uma lição para aprenderam a não fazerem o que não deveriam, eles pareceram entender bem sobre, não ousaram se pronunciar e questionar Hades, apenas abaixaram as suas cabeças com olhares derrotados.
Hades, antes de deixar a sala, deu broncas, os tratando como crianças travessas que fizeram o errado, era o que eu enxerguei.
Se eu não tivesse conhecido Hades, ele provavelmente sequer se importaria com o ocorrido e não retiraria os seus poderes sabendo que a causa era por mulher. Suas mudanças eram significativas...
Encarei os causadores com olhares tristes, de profunda pena e misericórdia. Queria ajuda-los a resolver, mas não conseguiria e não era da minha conta. Só esperava que tudo se resolvesse e que a garota machucada ficasse bem.
Eu sabia a sensação de ser profundamente machucada…
Deixamos Lune e Pandora com os três, e saímos finalmente do local. Eu suspirei fundo em alívio.
– Como são irresponsáveis. – Aparentava estar cansado.
– Achei justo o que fez. – Concordei com ele pela primeira vez. – Um verdadeiro Deus é assim. Justo e bom.
– Não deveria ter presenciado. O sangue poderia te deixar enojada.
– Não há problema. Eu estou bem. Vi coisas piores, você sabe! – Citei o seu lado bêbado.
– Analisando bem, é verdade. – Segurou meus quadris, quando nos afastamos o suficiente da sala.
– Gostei da sua atitude. – Aproximei meu rosto, roçando nossos lábios. – Quero ver mais do seu lado justo, Hades. – Senti uma queimação no meu dedo esquerdo.
– Eu sou justo. – Desceu suas mãos para as minhas nádegas e eu gemi com a pressão colocada.
– Nem sempre. – Suspirei. – Meu dedo está queimando... – Comentei, me afastando.
Lá estava o anel de tantas recordações que eu simplesmente joguei no riacho colocado no meu dedo, com a sua beleza perfeita, e o seu brilho precioso. Não escondi o sorriso em vê-lo. Eu gostava dele, gostava do seu significado.
Hades segurou minha delicada mão, e a beijou, em seu dedo também estava um anel, par do meu. O nosso contato fez ambos brilharam em vermelho.
Era a nossa relação, estávamos comprometidos para todas as pessoas verem sem precisarmos dizer, e ligados como um fio vermelho.
– Eu te amo. – Afagou meu rosto, transmitindo a sua paixão e carinho.
– Eu também.
– Não diga "Eu também", está concordando comigo. – Enroscou os dedos nas minhas madeixas.
– Eu te amo. – Segurei sua nuca. – Eu te amo. – Murmurei, encarando seus lábios.
– Desse modo. – Murmurou de volta, satisfazendo seus lábios nos meus. Eu retribuí, beijar Hades era bom, eu sentia vontade de beijá-lo a cada minuto, cada segundo e hora sem descanso, e ele sentia o mesmo sobre mim.
– Eu preciso conversar com minha mãe. – Nos afastamos. – Eu preciso fazer isso.
– Tem o meu apoio para isso. Vá. – Beijou minha testa. – Não tenha ressentimentos de sua mãe, devemos valorizar o que temos enquanto não é tarde. – Ele mostrou um sorriso esforçado, com muita tristeza, e eu soube o seu significado.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.