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História A maldição do reino. - O príncipe e o bandido.


Escrita por: pyromanic

Notas do Autor


Oii meus amores.. Como estão? Eu espero que tenham gostado do último capítulo mesmo não sendo focado no casal :/ mas enfim vamos as resolução dos Chanbaek finalmente...

Espero que estejam gostando, estou com dor no coração nessa reta final...

Obrigada lara.

Boa leitura.

Capítulo 28 - O príncipe e o bandido.


Fanfic / Fanfiction A maldição do reino. - O príncipe e o bandido.

A maldição do Reino.

Vigésimo Oitavo Capítulo. — O príncipe e o bandido.

Reino de Angelia, Palácio das Cores.

Observava o príncipe andando pela casa, enquanto bebericava uma xícara de chá bem quente que Joah havia feito após toda a confusão. O príncipe estava consideravelmente estranho, usando roupas de pano simples e cores medianas como qualquer aldeão. Seus cabelos pretos estavam puxados todos para trás em uma bagunça que ele havia tentado arrumar, mas estava consideravelmente bem praticamente sem hematomas algum sobre a sua pele e sabia que aquilo havia sido trabalho da bruxa, dificilmente qualquer pessoa diria que aquele homem havia enfrentado uma guerra dias atrás.

Contou sobre os eventos que enfrentou depois que se despediram em seu quarto, da busca pela sua irmã e de como a mulher morreu em seus braços, não fazendo ninguém economizar o choro com sua história. Também apresentou aquela outra mulher que estava sentada no sofá bastante receosa, observava a moça de relance porque cresceu ouvindo histórias terríveis sobre bruxas e precisava dizer que tinha um pouco de medo dela. Ela era linda, com seus cabelos ruivos cacheados, seu rosto tão delicado e seus olhos que eram tão familiares… eram praticamente iguais aos de Charles e Aya e olhá-los com atenção era quase impossível não se lembrar dos dois monarcas.

Ainda estava bem surpreso com o que ele havia lhe contado, aquela garota era sua irmã, uma filha que nem mesmo Jordan sabia que existia. As histórias do príncipe tão disciplinado agora estavam indo por água baixo e a sua imagem mudaria na mídia para sempre quando todos descobrissem sobre aquela mulher que foi apenas um fantasma até o momento e o fato dela exercer poderes de bruxaria deixava tudo ainda pior.

Charles não parecia estar bem com o assunto, mas ninguém poderia culpá-lo. Em pouco tempo havia enfrentado uma guerra dentro de sua própria casa, assassinado gente para que continuasse vivo, ele viu o lugar onde cresceu ser transformado em trevas e também ser manchado de sangue de pessoas que não deveriam estar naquele conflito. Ele fez de tudo para que seus familiares continuassem vivos, seus pais estavam seguros em outro reino e ele havia dado seu sangue para que Aya vivesse, mas seu esforço não foi suficiente e acabou perdendo a sua irmã. E diante de tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, ainda descobriu uma parte da vida de seu pai que ficou enterrada por anos, uma história de amor proibido carregada de intrigas e tramas, com um final mais dramático que as peças de teatros, vindo assim conhecer uma irmã que não sabia que existia. Uma mulher mais velha que jamais viu sequer seu rosto e nem conseguia sentir afeição devido a tudo que aconteceu com ele. Ela era uma estranha, mas era de sua família e a sua mente estava perturbada.

Desde o momento em que os olhares se cruzaram, seu maior desejo era passar o tempo todo com ele em seus braços. Queria afundar o rosto em seu pescoço e se deliciar do cheiro que apenas seu corpo emitia, queria sentir aqueles braços largos o contornando por inteiro, poderia passar o restante de seus dias apenas encarando aquelas duas esmeraldas cintilantes. Cédric queria passar seu tempo inteiro grudado no corpo do príncipe, para ter a certeza que não estava sonhando uma outra vez.

Mas Charles precisava de espaço para absorver tanto acontecimentos repentinos em sua vida e mesmo com tudo dentro de si gritando para puxá-lo para si, Cédric estava respeitando e  deixando-o espairecer um pouco. Afinal, ele acabava de ressurgir dos mortos e isso jamais seria algo fácil.

Porém ainda trocavam sorrisos bobos todas as vezes que se olhavam e seu coração se acelerava automaticamente quando acontecia. O amor dentro dele era imensa e descobriu que ele também não era egoísta, como Cédric poderia ser muitas vezes. Estava se contentando aqueles meros gestos de longe porque ele finalmente estava de volta.

— Maldição? — Philipe perguntou parecendo não ter compreendido aquela parte da história e Cédric também possuía diversas dúvidas.

— Minha querida bruxa por ciúmes e por não achar legal a minha conduta como príncipe, sendo que sou filho do rei Jordan resolveu que seria uma boa ideia me punir. Ela jogou uma maldição sobre mim: caso eu não conseguisse fazer um aldeão se apaixonar por mim pelo o que eu sou e não pelo o que eu tenho até a neve chegar ao solo de Angelia, eu morreria.

Phillipe puxou a sua espada e mirou na garganta da bruxa que se assustou com sua atitude e não se moveu com medo do que poderia acontecer com qualquer movimento mais brusco.

— Ela quase o matou. E estamos fazendo sala para ela?

— Acontece nas melhores famílias. — Charles disse brincando e puxando a arma da mão de seu amigo. — Depois de tudo que ela passou, merece pelo menos uma segunda chance.

— Eu sempre soube que algo tinha acarretado para acontecer os escolhidos, não poderia ser uma ideia repentina.

— E muito menos um ato benevolente meu. — Deu de ombros ainda brincando e Cédric novamente sorriu, era bom ter aquele humor ácido de volta à sua vida.

— Com certeza não. Você é egoísta demais para isso. — Dominic que até o momento estava em silêncio disse ainda olhando para o chão, enquanto Camille permanecia ao seu lado o monitorando. 

— Quer mesmo falar sobre atos egoístas? — Virou-se em direção ao garoto que ergueu a cabeça para encará-lo. — Por onde devemos começar a sua lista, Dominic? Armar para tirar Cédric do castelo? Incentivá-lo a fazer atos imprudentes porque você o queria resgatar de volta mesmo ele estando melhor? E há algo mais egoísta do que você invadir a minha casa e colocar milhares de pessoas em risco de vida?!

— Com o Cédric eu admito que eu errei e vim me desculpar por isso. — Ele disse olhando nos olhos e Cédric não conseguia desviar o olhar do seu antigo amigo. — Mas com você não. E nem com Angelia, eu fiz o que eu deveria ter feito pelo o meu povo. — Olhou para o príncipe que estava em uma distância segura dele. — Nem a sua própria irmã consegue vê-lo de modo humano, Charles. Ninguém consegue ver você sendo rei e a única pessoa que podia lhe dar apoio está morta por sua causa.

Charles sorriu para ele, mas um sorriso muito macabro que arrepiou os poros de todos que estavam presentes e em passos lentos foi em sua direção abaixando-se para ficar a sua altura.

— Espero que você apodreça nas masmorras. — Quase não foi possível escutar a frase que ele disse tão rente de seu rosto, mas todos estavam atentos às suas ações. — Tire-o daqui! — Ordenou a Camille que rapidamente o puxou para levá-lo embora, Dominic já havia feito demais.

Em um impulso levantou-se do sofá indo em sua direção quando caminhava pela saída e sem planejar deu um soco forte em seu rosto o fazendo tombar para o lado. Charles poderia não ser impulsivo e não deixar ser dominado pela raiva, mas Cédric com certeza era.

— Pela princesa. — disse quando viu o rosto do Dominic agora machucado pelo o que havia feito. Ele tentou ir para cima dele, mas Camille o puxou com força e o retirou da casa de Joah.

Olhou para Charles que agora estava sentado no sofá com os olhos cheios de lágrimas e por aquela ação jamais perdoaria aquele homem.

Sentou-se ao seu lado segurando a sua mão tentando fazer com que a sua atenção fosse direcionada a ele. Mas Charles continuava olhando para o nada, com seus olhar perdido dentro de seus pensamentos.

Cédric se amaldiçoou naquele momento por não ser bom com as palavras, por não saber o que poderia confortar seu coração e tentar fazer com que ele compartilhasse sua dor, mas jamais foi um homem sábio naquela parte, apenas sabia como engatilhar sua dor em combate, em discussões explosivas, não sabia como confortar alguém. Aquele era o papel de Aya dentro do grupo, ela era a pessoa que abraçava os outros e dizia que tudo ia ficar bem e por mais terrível que fosse o momento, bastava seu sorriso apaziguador que servia como um descanso para qualquer mente atormentada.

— Sou testemunha do que você fez pela sua irmã, Charles. — Aradia disse olhando para ele, mas o príncipe não se moveu. — A relação entre vocês era algo divino e ninguém terá mais orgulho de vê-lo como rei, se não ela, mesmo não presente fisicamente. Acredite em minhas palavras, ela está sorrindo para você agora.

O homem finalmente levantou seu rosto mirando a mulher ruiva que estava um pouco ressentida ainda pelo ambiente desconfortável onde se encontrava e ele sorriu para ela. Não foi nenhum gesto grandioso, bem distante dos sorrisos que ele costumava distribuir pelos corredores do palácio, mas aquele traço tímido em seu rosto fez a diferença porque todos se sentiram bem imediatamente bem.

Charles iria se recuperar, mas levaria tempo e todos teriam que está disposto a dar tempo para o irmão que perdeu a irmã para guerra, retornar para tomar o seu trono.

Estava sentado na bancada da cozinha de Joah, enquanto lançava olhares de relance para a mulher sentada no sofá ao longe e como era estranho a forma como ela quase não se movia. Não podia julgá-la, Philipe estava fazendo escolta e seus olhos não saíam de sua pessoa e cada movimento seu era passado por aqueles olhos treinados, enquanto ela apenas existia dentro daquele ambiente. Também compreendia porque seu amigo estava a tratando daquela forma. Ela havia sido a responsável por aquele caos dentro de Angelia, lançando uma maldição para que o Charles enxergasse o que havia tão de errado dentro de si e desde então diversos eventos aconteceram dentro do reino, alguns bons e outros nem tanto. Além de que ela era uma bruxa e toda a cultura de Angelia era voltada contra aqueles seres.

Por muito tempo, bruxos se refugiaram para dentro do reino, vivendo em pequenas vilas dentro da floresta. Não eram de se misturar com os aldeões e com certeza sua preferência era ficar longe da nobreza. Viviam dentro de sua cultura, respeitando as leis impostas pelo rei e mesmo havendo diversos conflitos eles viviam bem. Mas como todos os homens, os bruxos também haviam pessoas de má índole. Alguns começaram a praticar rituais proibidos e outros com a mente mais perversa conseguiram incluir pessoas e as coisas começaram a complicar para todas as suas espécies. Os aldeões começaram a queimar suas casas e ir atrás de bruxos inocentes por algo que a minoria havia feito, os cavaleiros não se intrometiam, era mais benéfico para a monarquia deixar a responsabilidade para os mais pobres.

Havia uma lenda sobre um bruxo terrivelmente ganancioso que — devido a sua ambição por poder — conseguiu trazer uma ruína terrível a sua família. Pensava que era apenas um dos contos antigos, mas agora conhecendo aquela mulher parecia que a história havia saltado de um livro. Talvez fosse seu avô o responsável por tanto sofrimento, mas infelizmente aquela era uma história cheia de furos e que nem o maior dos historiadores sabia a fundo.

E mesmo compadecendo de sua história, Cédric ainda sentia calafrio apenas de olhar para aquela mulher. Mesmo parecendo tão inocente e apavorada sentada naquele sofá e com Charles contando de como ela havia salvado a sua vida, ainda não conseguia confiar em sua pessoa. Cresceu ouvindo relatos sobre o que costumavam fazer e quão perigosos poderiam ser. Apenas de saber que com um estalar de dedos ela poderia colocar aquela casa abaixo devido a imensidão de seu poder, se preenchia de medo.

Precisava de algum repelente de magia, antes que ficasse completamente maluco com a possibilidade de lhe lançar um feitiço.

— Calma. Ela não vai fazer seu cabelo pegar fogo. — Assustou-se com aquela voz rouca surgindo repentinamente rente de suas costas. Virou-se rapidamente com o susto, encontrando os olhos brincalhões de Charles. — Mas talvez você precise de um novo penteado.

— Não há nada de errado com meu cabelo. — Passou as mãos sobre seus fios ofendidos com o comentário. — E como pode ter tanta certeza que ela não irá fazer nada contra nós? Principalmente contra você?

— Acredite em mim, ela teve diversas chances de me matar, mas pela sua bondade ou estupidez ainda estou vivo.

— Não fala assim. — Remexeu incomodado com o que ele havia dito sentindo o temor passar pelo seu corpo. Charles passou por ele sentando-se ao seu lado.

— Um pouco de humor fará bem a nós.

— Um que não envolva a sua morte, talvez.

— Eu sabia que sentiria minha falta, mas não sabia que seria tanta.

— Eu também não. — Admitiu buscando seus olhos e daquela vez os encontrou brilhante, cintilantes, as suas esmeraldas… elas estavam bem ali em sua frente.

— O que você sentiu quando eu desapareci?

— Meu desespero não começou quando você desapareceu, Charles. Ele é presente desde o momento em você me deixou para ir atrás de sua irmã. Não sabe o quanto eu queria puxá-lo de volta e trazê-lo para mim. Mas você se foi e cada passo que eu dava dentro daquele corredor, cada pessoa que eu salvava ou cada rebelde que eu enfrentava eu pensava em você. Eu queria passar a noite, o dia se fosse necessário a sua procura, mas eu estava ferido e casado. E mesmo quando fui embora, eu só pensava em seu bem-estar e nem mesmo durante os sonhos eu conseguia parar de pensar em você, Charles. Eu tive pesadelos horríveis… E eles só me deixavam com mais medo ainda.

— Está tudo bem agora.

— Como você sabia que eu estava bem?

— Eu sabia que meu plano daria certo. — Cédric olhou para ele com certa incredulidade. Mas entendia o motivo dele estar tão confiante, realmente havia salvado a vida de diversas pessoas, incluindo do seus pais e a sua. — E por isso o mandei para ele. Eu precisava cuidar de você.

— E quando cuidaremos um do outro?

— A partir desse exato momento.

Aproximou-se para beijá-lo e Cédric acompanhou seus movimentos até uma vaga lembrança surgir em sua mente e ele desviar do contato fazendo uma expressão confusa aparecer em seu rosto.

— Não deveria flertar comigo, enquanto é comprometido. — disse pontualmente desviando seu olhar novamente para os móveis da cozinha.

— Comprometido?

— O seu noivo me contou sobre o seu acordo.

— Joshua. — respondeu, concluindo sozinho o que Cédric estava querendo dizer, mas ao contrário do que pensou que fosse fazer, ele começou a rir exageradamente. Cédric o olhou confuso, não gostando de sua provocação ter se tornado uma piada. — O que foi? Você teria agido pior do que eu.

— Não teria…

— Não? Imagina que você entrou em uma das salas da minha casa e me encontrou beijando o Joshua depois que eu disse que ficaríamos juntos. — A imagem veio clara em sua mente. A mão do príncipe encontrava-se na cintura do rapaz baixo que estava na ponta de seus pés para alcançar seus lábios. Involuntariamente fechou a mão em punho sobre a bancada apenas de imaginar a cena. — Expulsá-lo ainda foi uma condição leve, você teria matado eu e o Joshua.

— Mas você vai desfazer isso?

— Eu irei sim, Cédric. — Puxou a sua mão e deixou um beijo sobre a sua pele causando vermelhidão em suas bochechas. — É você. Sempre será você.

Cédric desejou se inclinar para beijá-lo, estava ansiando por qualquer pequeno contato entre eles e queria muito senti-lo perto mais uma vez, mas estava receoso com o que deveria fazer e em meio a sua decisão Joah surgiu na frente dos dois parecendo contente.

Não disse nada, apenas entregou a fotografia que antes estavam olhando juntos e logo que os olhos de Charles observaram a imagem ele sorriu largamente passando seu dedo onde a sua irmã se localizava dentro dos braços do homem que ela amava. Era impossível para qualquer um não se emocionar ao olhar aquela imagem.

— E até na morte eles ficarão juntos. — Charles concluiu passando novamente sua mão sobre o retrato.

Seu olhar estava desfocado pensando no momento em que a encontrou e como a mulher estava lutando bravamente contra aquela rebelde em frente ao corpo desfalecido de seu noivo. Aya não conseguia abandoná-lo, nem mesmo depois de morto, ela conseguia deixá-lo sozinho e isso custou a sua vida, mas agora sabia que em qualquer plano em que estivessem, eles estariam juntos por toda a eternidade.

Conversaram mais um pouco com seu amigo, enquanto Philipe permaneceu o tempo todo na sala vigiando a bruxa e ninguém gostaria de se opor a ele, afinal aquele homem era treinado pela ocasião e ele parecia bem irritado devido à exaustão. Devido a isso, Joah disse que todos deveriam ir descansar, afinal já era madrugada mais uma vez e ninguém estava bem com todos os acontecimentos, mereciam um repouso.

O estilista deu um vestido assemelhando-se a uma camisola para a bruxa e depois seu companheiro a trancou dentro de um dos quartos com uma chave feita de prata circulada com pedras de safira e esmeralda, era um inibidor natural de magia e Angelia estava banhada por acessórios daquele feito, todos acharam um exagero a suas atitudes, mas outra vez ninguém se opôs a sua atitudes e mulher parecia cansada também e não disse nada.

Se despediram no corredor com Joah e Philipe entrando em um quarto, enquanto Cédric e Charles em outro.

A primeira coisa que Charles fez foi jogar-se sobre a cama de modo totalmente despreocupado, enquanto Cédric deitava nela tranquilamente encontrando o lugar ao seu lado.

— Você está melhor? — perguntou preocupado, sabia que Charles disfarçava bastante seus sentimentos e tinha aprendido isso em todo o seu tempo no castelo. Passava um tempo conversando, fazendo as pessoas rirem, distraindo todos, mas descobriu que os demônios o encontravam durante a noite sozinho em seu quarto.

— Com as circunstâncias atuais, estou. — Deu de ombros se mexendo na cama, mas abriu os seus olhos para enxergá-lo. — Mas o que aconteceu não são feridas que irão se curar, são cicatrizes que permenecerão em minha pele até os fins dos meus dias.

— Eu sinto muito. — Não sabia ao certo o que dizer, mas esperava que ele soubesse que compadecia com a sua dor.

— Eu também sinto. — suspirou fundo enquanto o olhava. — Mas você pode melhorar meu humor.

Cédric revirou os olhos deitado ao seu lado, mas sorriu, era bom ver que mesmo diante daquela situação o Charles ainda conseguia fazer suas costumeiras brincadeiras e também estava flertando como se o mundo estivesse de volta ao usual.

— Não vou te ajudar com nada.

— Você é tão ruim comigo. — Ele respondeu dramaticamente virando seu corpo na cama para olhá-lo.

Cédric automaticamente sorriu quando encontrou seus olhos, estava feliz porque ele finalmente estava ali do seu lado. Conseguia sentir seu perfume, o calor do seu corpo e os olhos verdes que tanto havia sentido falta… Tudo estava bem ao seu lado e tudo ficaria bem outra vez. Mesmo que anos precisasse se passar por isso, descobriu naquele momento, apenas olhando em seus olhos que a única coisa que importava era sua presença e mais nada. Seria capaz de tudo para ter aqueles olhos para si para sempre.

Não precisou dizer nada para Charles sentir o que passava em sua cabeça, ele puxou seu corpo pela cintura para mais perto, enquanto sua mão começou a trabalhar em seu rosto, passando por cada traço tentando os tatuar em sua mente para qualquer outro momento em que viessem se afastar novamente. Charles se aproximou e deixou um beijo molhado sobre a curva de seu pescoço e Cédric o puxou pelos cabelos para a direção certa, para o encontro de seus lábios. Seus dedos percorreram seus cabelos, enquanto as línguas finalmente se encontravam. Era um beijo desesperado, mas sem qualquer ato de luxúria, aquela agonia que estavam sentindo vinha devido a saudades que sentiam, da falta um do outro e do medo de nunca mais se encontrariam. Gostariam de se fundir em um só para que jamais fossem se separar, para que momentos como aqueles fossem eternos, mas quando se separaram e encontraram os olhos um do outro transbordando felicidade, sabiam que mesmo havendo diversos desafios no futuro, nenhum conseguiria acabar com o amor entre eles.

— A maldição se quebrou. — Charles disse quase em um sussurro passando o polegar pelo seu queixo, enquanto Cédric o mirava com admiração. — Eu não acreditei quando a Aradia me contou.

— Por que não?

— Porque não parecia realidade. — confessou com temor. — Até que eu ouvi você e o Dominic discutindo.

— Charles. — Colocou as suas duas mãos sobre o rosto dele observando a respiração dele mudar. — Eu o amo muito antes de compreender o que era esse sentimento borbulhante dentro de mim. Eu fiz e pensei coisas que jamais admitiria por causa desse amor e eu hoje poderia ser o dia mais alegre da minha vida apenas porque você voltou para os meus braços.

— Não acredito que eu estou ouvindo isso.

— Por que é tão difícil a possibilidade de eu te amar?

— Porque é você, Cédric. Eu sou tudo que você detesta.

— Detestava. — corrigiu, sorrindo novamente. — E eu também era tudo que você detestava.

— Justiceiro, achando que estava acima do bem e do mal.

— Presunçoso, achando que todos deveriam se curvar aos seus pés.

— Teimoso, não obedece uma ordem de seus superiores.

— Arrogante, julgando todos pelos bens materiais.

— Orgulhoso, jamais admitindo os próprios sentimentos.

— Rebelde, achando que ganharia alguma coisa com seus mal comportamento.

— Aldeão.

— Nobre.

— Bandido.

— Príncipe.

— Eu o amo, Cédric.

— Eu também te amo, Charles.

Charles estava ao lado do Joah que terminava de ajeitar a farda sobre o seu corpo e Cédric não conseguia evitar o sorriso bobo sobre seu rosto ao observar como ele estava finalmente voltando aos seus eixos. Estava trajado com uma farda preta com todos os detalhes em prata, como era de seu costume, mas aquelas haviam gravuras pelo seu tecido que eram sutis, mas eram pequenas espadas e combinava bastante com a história que ele deveria contar. Seus cabelos pretos estavam penteados e usava adereços também, ele era exatamente a figura da qual se lembrava: bonita e prepotente e estava feliz de vê-lo daquela forma.

Ainda não era o momento de anunciar a mídia e a todo reino a sua retornada, o príncipe precisava de mais um dia e todo mundo concordou em guardar aquele segredo e compreendia seus motivos. Mas ainda assim ele desejava voltar para o castelo, para a sua casa e jamais poderia aparecer do modo como ele surgiu na casa do Joah, precisava de um retorno revigorante, digno de sua personalidade.

Todos estavam bem vestidos, afinal iriam para o castelo para apoiar o Charles como os bons amigos que eram.

Joah usava uma blusa de mangas longas azul escuro e um casaco amarelo mostarda que estava cobrindo o restante de seu corpo, devido ao frio que estava fazendo no reino. Cédric usava uma blusa de manga longa, com um casaco enorme cobrindo o restante de seu corpo na cor marrom. Philipe estava trajado com sua farda e um casaco de pelos brancos por cima, ele também estava com uma aparência melhor, a bruxa com muita relutância do guarda cuidou de seus ferimentos e agora eles eram quase invisíveis em sua pele, como as de Charles. Ela também tratou seu ombro dolorido e agora ele apenas latejava de leve e não era mais um incômodo. Joah havia tratado de achar alguma coisa para ela se vestir, afinal ela estaria os acompanhando. E por sorte encontrou um vestido longo azul marinho que não possuía muitos detalhes, combinando com sua personalidade introspectiva e por cima ela usava um casaco branco que se fechava na frente com um fecho de prata. Ele também fez um penteado em seus cabelos, conseguindo controlar todo aquele volume em um penteado alto com duas tranças para o lado, mas com o restante solto, além de colocar uma leve maquiagem sobre sua pele. A mulher era linda, mas como sempre Joah conseguia fazer a aparência de qualquer pessoa se sobressair e ela estava perfeita, como uma princesa que passou tempo demais perdida.

Dava para notar que ela estava estranhando a sua aparência pelo modo como repetidas vezes ela se direcionou ao espelho, mas Cédric conseguia ver o sorriso singelo sobre seus lábios, quando ela passava a mão sobre seu rosto. Entendia a sua confusão, se sentiu da mesma forma, durante o primeiro baile quando Joah o ajeitou. A primeira vez que se olhou no espelho e não reconheceu a imagem, aquele homem limpo, bem vestido e charmoso não se aparentava com o aldeão de sua mente, mas depois percebeu o quão lindo estava e sentiu-se bem instantaneamente quando permitiu-se desfrutar daquela beleza.

— Você está muito bonita. — disse para a mulher que se assustou com a sua fala e pareceu incomodada. Mesmo tendo medo dela queria ajudá-la, ele sabia exatamente como era se sentir deslocado dentro daquele mundo. — É o poder do meu amigo.

— Eu estou tão diferente.

— Não, não está. É só um modo novo de se ver, um que você jamais permitiu.

— Olha só… Alguém aprendeu algo. — Joah disse depois que soltou o príncipe. — Estou muito contente com você.

— Vocês são um grupo… peculiar. — Ela comentou analisando todos e conseguindo pôr assim a sua atenção. — Parece que não se encaixam. Um príncipe arrogante, um bandido teimoso, um guarda desconfiado e um estilista de língua afiada e mesmo assim vocês se encaixam perfeitamente um no outro.

— E uma bruxa quieta, mas esperta. Você também vai encontrar o seu modo de se encaixar. — Charles disse olhando para ela que sorriu com o seu comentário. — Preparados?

— Com certeza, não. — Cédric respondeu com receio se colocando ao seu lado.

— Eu nasci pronto. — Joah afirmou parecendo animado com o retorno, para ele era um plot twist de teatro.

— Eu não tenho outra escolha. — Aradia replicou um pouco ressentida.

— Esse é o meu dever. — Philipe disse com animação.

— Eu gosto desse espírito!

Assim que desceram do carro, Cédric suspirou fundo encontrando aquele enorme portão branco a sua frente e logo os guardas da frente suspiraram de emoção ao encontrem com Charles e se curvaram diante de sua presença. Era um pouco incômodo ver as pessoas o tratarem daquela forma, mas iria se acostumar, afinal logo mais aquela comoção seria ainda maior porque a coroa de rei iria perpetuar em sua cabeça. E Charles sorriu para seus guardas, deixando até que eles o tocasse, ele era um príncipe de guerra, treinava junto com aqueles homens e agora era um sobrevivente e aqueles tinham sido seus aliados.

Por onde passavam a comoção era a mesma, os empregados eram um tanto mais exagerados, até choraram ao ver o príncipe e os guardas um pouco mais contidos, mas também ficavam tão emotivos quanto. Cédric tentava se controlar, mas ver o que Charles estava causando apenas com sua presença o deixava muito emocionado.

— Está tudo igual. — Ele comentou olhando para as paredes e passando a sua mão por algumas decorações.

Realmente tudo já havia sido refeito. As paredes estavam pintadas, os móveis reconstituídos e qualquer vestígio da guerra que havia dito naqueles corredores foi apagada, como se jamais tivesse acontecido qualquer conflito no castelo sem ser as conversas políticas. Sentiu-se mal pensando em todas as vidas que haviam sido varridas daquele chão, como se não fossem nada, esperava que cada família tivesse oportunidade de fazer um enterro digno ao seus entes queridos, mas sabia que os rebeldes seriam atirados na vala como indulgentes, quem traía a coroa não tinha direito de representatividade diante dos deuses, afinal eles que escolhiam seus governantes e não respeitá-los, era como trair as entidades.

Automaticamente pensou em Dominic, caso tivesse acontecido algo pior com ele, sua família não teria o direito de enterrá-lo com dignidade e só conseguia imaginar o rosto de sua irmãzinha, a melhor amiga de Louis, chorando sem nem poder se despedir de seu irmão e a sua mãe já de idade uma devota religiosa com certeza passaria mal com a notícia. Eles não mereciam isso e Dominic também não porque ele fez o que fez por amor a Angelia e mesmo assim seus atos o condenaram.

Pensando no amigo, dispersou-se do grupo e foi em direção a uma guarda, a mesma mulher de cabelos vermrlhos e de tamanho assustador.

— Camille. — A chamou conseguindo sua atenção. — Onde o Dominic está?

— Nas masmorras esperando o julgamento. — Noticiou parecendo sentir bastante ao lhe dar aquela informação. — Você sabe o que irá acontecer.

— Sim, eu sei. — Engoliu seco. Não poderia condená-lo mesmo com tudo que passaram, sentia que tinha uma dívida de vida com aquele rapaz. — E aquela garota como ela está?

— O nome dela é Olivia e ela está bem, graças a você. Serei eternamente grata, Cédric.

— Eu apenas fiz o que deveria ser feito.

— Mas sabe o sentimento desesperador que é quase perder alguém que ama.

— Sei sim. — Olhou para Charles que estava o olhando alheio na conversa que Philipe estava tendo junto com outros guardas.

O príncipe fez um sinal para que o seguisse, pediu licença a mulher e passou a segui-lo pelos corredores. Foram para o segundo andar e a jornada se estendeu, descobriu que mesmo passando meses dentro daquele lugar ainda havia corredores inteiros que não havia explorado devido ao seu tamanho e ficou surpreso quando entrou em um que nem sabia que tinha. Ainda era do mesmo modo, paredes brancas, decorações em dourado por toda parte, mas as salas pareciam ser mais vazias e nenhum escolhido tinha sido mandado para aquela área.

Charles parou em uma porta que estava fechada e ele demorou alguns segundos para abri-la, mas quando fez, foi de um só impulso. Adentrou pelo local e caminhou calmamente pelo recinto, estava com um pouco de receio, mas reuniu forças e o seguiu para dentro do cômodo. Quando passou pela porta a emoção tomou conta do seu coração e de modo instintivo gritou sentindo as lágrimas manchar seu rosto por completo, enquanto deitava-se sobre o chão.

O quarto de Aya.

Ninguém precisava apresentá-lo e dizer que pertencia a princesa, o cômodo fazia isso sozinho.

Como o teto do quarto de Charles, o de seu quarto também era uma pintura do céu, mas a luz do dia, com diversas nuvens pintadas e um azul claro cobrindo ele por inteiro. Todos os seus móveis eram na cor branca, assim como os vestidos rendados que ela tanto amava. A decoração do ambiente transpassava a paz, assim como a sua personalidade que era tão apaziguadora, dentro de um grupo onde todo mundo parecia tão cheio de opiniões. Em um dos cantos do quarto havia uma mesa com diversos livros que agora estavam fechados e organizados, mas ao seu lado havia diversos buquês de flores e a algumas soltas espalhadas, eram a flores que Duncan tanto amava cuidar e estudar, também era o presente favorito de Aya. Sua coroa estava em um pequeno palanque do lado esquerdo, como a Charles ficava. A da princesa era muito menos robusta que a do seu irmão, era uma tiara cheia de pedras de esmeraldas e fechando seus olhos podia enxergar as raras ocasiões em que a viu usando o adereço e de como ela ficava linda com ele. Ao lado estava uma em um aro dourado com quartzo rutilado a rodeado em três pontos estratégicos, era a coroa de seu noivo que era brilhante, totalmente ao contrário da sua, mas que combinava com ele perfeitamente.

Cédric não conseguia segurar o choro, enquanto seus olhos passavam por cada detalhe daquele ambiente que transpirava a personalidade de seus amigos. Agora tudo estava se tornando real. Iria morar no castelo, mas Aya não estaria por aquele ambiente para lhe fazer companhia. Não ouviria mais sua risada gostosa, não poderia pedir conselhos para ela, não haveria chás da tarde e nem piqueniques inesperados. Ela havia ido.

Charles também estava chorando, mas ao contrário de seu companheiro, ele era bem mais sucinto em demonstrar suas emoções. Ele não demonstrava grandiosamente a sua dor, ela era contida porque esmagava seu peito de uma forma diferente. Era tão dolorida a falta que sua irmã estava fazendo que Charles nem conseguia expressar o buraco que crescia em seu peito devido a falta que ela estava fazendo, só que pequenas lágrimas escorriam pelo seu rosto, como uma forma de aliviar um pouco daquele sofrimento.

Fechou os olhos ainda chorando passando as mãos pelo seu cabelo, culpando-se pelo o que havia acontecido. Deveria ter ido atrás de Aya junto com Charles, com eles dois batalhando lado a lado, a princesa ainda estaria viva, nenhum rebelde por mais bravo que poderia ser, seria capaz de derrotar os dois, não com a determinação eles tinham.

Passaram longos minutos daquele jeito, Cédric sentado no chão com a culpa tomando conta de seu peito e Charles passeando pelo quarto com o mesmo sentimento de culpa o afogando. Ambos estavam se culpando por algo que não poderiam fazer nada para reverter, mas mesmo assim, gostariam de voltar ao passado para impedir a situação atual. Até o momento em que príncipe sentou-se ao seu lado e Cédric abriu os olhos para encará-lo, em meio ao seu rosto vermelho havia um sutil sorriso em seus lábios e ele estava com uma tela em suas mãos que virou para que também pudesse enxergar a imagem.

Era uma pintura deles dois. Charles estava virado para um lado fardado, carregando a sua famosa espada em sua mão e uma coroa em prata cintilava em sua cabeça, Cédric estava do lado oposto o olhando para cima, usava roupas velhas e possuía uma adaga em sua mão. Poderia ser a pintura de guerra, simbolizando dois inimigos devido a postura que ambos estavam, mas o olhar que havia sido pintado era de amor, o nobre o olhava encantado, com aquele sorriso sarcástico em seus lábios, enquanto o aldeão, o mirava admirado. Aya conseguia ter captado cada elemento da personalidade dos dois, principalmente o fato deles terem ido de inimigos a amantes. No final da pintura em um canto, estava escrito:

“O príncipe e o bandido”.

Sorriu automaticamente com a frase escrita e como aquilo era a carinha da Aya fazer, olhou para Charles que ainda estava sorrindo e mesmo que tudo tivesse um caos naquele momento, tudo iria encontrar seu caminho de ficar bem.


Notas Finais


Escrever qualquer menção da Aya me corta o coração, mas eu estava amando escreve esse Chanbaek meloso e grudadinho porque nossa como nós merecemos depois de tudo não é? Essa cena do quadro me deixou mega feliz e eu espero que vocês gostem

As cenas em grupos são as que mais me destroem.

Não se esqueçam de deixar seus comentários, eles são muito importante para mim. ♥

Spoiler: o proximo capítulo é na visão da rainha e também é um dos meus favs, eu queria mostrar a vocês o que ela estava pensando de toda a situação com o marido e os filhos.

Até sábado. ♥

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playlista da fanfic https://open.spotify.com/playlist/2HkFvvXHf9jfhDCI3e7LN0


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