Meus olhos se abrem logo após a mais uma noite mal dormida, me acostumo com a pequena claridade que adentrava meu quarto dirigindo logo em seguida a atenção de meus olhos em direção a fonte dessa pequena iluminação, dando de cara com a vista da cidade através da janela. Percebo as nuvens escondendo o sol ao mesmo tempo em que o vento podia ser notado sacudindo as folhas das árvores dos arredores, um vento nada alarmante, apenas mostrava de forma calma e leve a sua presença. Um belo dia nublado, que para opinião de muitos não possui nada de belo. Perdida em devaneios olhando lá fora, percebo o som do relógio ao meu lado avisando que era hora de levantar, mesmo que todo meu corpo dissesse que era para continuar ali, o sentia pesado, necessitava descansar.
Minha cabeça me atormentava pelas noites mal dormidas e pelo cansaço acumulado, mas não podia fazer nada quanto a isso, não agora, precisava ir até minha nova escola resolver questões que ficaram pendentes da minha transferência antes que um novo ano letivo começasse.
Abro a pequena gaveta do criado mudo retirando um comprimido de dor de cabeça da cartela, aproveito o resto da água que tinha ali em cima para logo engolir o remédio, para que finalmente pudesse começar a pensar com um pouco menos de dificuldade por conta da dor que me atormentava.
Me levanto um pouco, inclinando meu corpo para frente usando meus joelhos como apoio, ali deposito meus braços onde logo em seguida minha cabeça se encosta virada para o lado, para que pudesse novamente olhar janela afora. Sinto um leve aperto em meu peito, aquela vista era uma das poucas coisas que podia me trazer um sensação de vida, olhar a grande cidade movimentada a minha frente, com vários prédios que disputavam um com o outro qual era mais alto ou com a aparência mais graciosa aos olhos alheios, uma cidade que mostrava várias possibilidades e caminhos para um vida agitada e divertida, caminhos esses que não me são possibilitados ou vividos. Sinto uma pequena lágrima cair dos meus olhos, que logo em seguida é secada, não possuo no momento tempo pra isso, olho novamente o relógio ao meu lado e percebo que era 8:10, dez minutos haviam passado em devaneios. Dessa vez me levanto indo em direção ao meu roupeiro pegando uma peça de roupa, logo em seguida vou direto ao banheiro.
Abro o registro deixando a água esquentar, logo em seguida adentrando o boxe sentindo a água cair pelo meu corpo, retirando e levando um pouco do cansaço junto consigo. Olho para alguns hematomas que possuía, estavam doendo um pouco mas nada que fosse um super incômodo . Saio do banho e termino de me arrumar, me analiso no espelho e percebo que estava apresentável. Finalmente deixo o quarto indo em direção à cozinha, faço uma refeição rápida mesmo não possuindo fome pois não havia jantado nada e desejava não passar mal pelo caminho. Pronta para sair ,vou em direção ao meu telefone e o retiro da tomada e logo percebo que havia mensagens. Olhando a barra de notificação percebo algumas de grupos de festas, depois, havia três mensagens mais significativas, um grupo que a muito tempo pensei ter saído, mas pareço ter me enganado, uma outra de uma das pessoas que faz parte daquele grupo, parecia querer me avisar de algo, mas não dei muita importância e por último, quando meus olhos pararam pra ler de quem pertencia, senti todo meu corpo se tremer e arrepiar de raiva, não tinha intenção nenhuma de respondê-los agora ou nunca mais na minha vida, apenas o desligo e coloco dentro da bolsa e saio do apartamento.
O caminho foi tranquilo, e cinco quadras depois estava no meu destino. Desço do carro após pagar, me viro e fico um tempo observando a grande escola à minha frente. É uma instituição muito renomada, localizada no centro da cidade capital, além de ser uma das escolas mais importantes do país. Filhos de grandes empresários ou de pessoas com grande prestígio frequentam essa escola e esse era o meu caso. Depois de dar uma boa olhada na fachada da escola, me direciono a entrada, que logo foi permitido o meu acesso. Entro na escola e logo vejo a recepção, vou em sua direção para perguntar onde ficava a secretaria. Logo depois de descobrir o caminho, sigo meu rumo até o local, chegando, bato na porta e recebo a permissão para entrar.
— Com licença —digo entrando— Meu nome é Ayla Kamphorst. Vim finalizar alguns assuntos que faltaram sobre minha matrícula.
— Então é você a filha do sr. Kamphorst. Prazer em conhecê-la. Meu nome é Júlio Rogers, o diretor desta escola. Sente-se, vamos resolver os detalhes que faltam.
Alguns minutos se passaram e havíamos terminado tudo que faltava em relação a minha matrícula.
— Agora está tudo certo, seja bem-vinda a nossa escola, espero que tenha um bom ano letivo— falou enquanto me entregava algumas folhas — Nessas folhas contém as regras da escola, como também datas pré planejadas de atividades ou de feriados, mas podem haver algumas alterações quanto a isso. E nessa outra folha, possui as matérias que você terá, além da descrição de qual sala ela será dada. Você vai ficar na turma 3c, a maioria das aulas serão realizadas na mesma sala, só a algumas exceções que possuem sala própria, mas nesta folha explica mais certinho sobre isso— Falou e se dirigiu a porta. A abriu e chamou alguém para que entrasse — Essa é Emily rells, ela é líder do conselho estudantil, qualquer assunto referente aos alunos deve ser tratado com o conselho para que se necessário, seja repassado para mim. Ela irá lhe apresentar a escola agora, e já lhe mostrará a sua sala e seu armário, falando nisso, aqui está a senha do seu armário. Os uniformes já foram entregues aos alunos, mas no seu caso, tem que fazer a retirada. Emily, por favor, se não estiver muito ocupada, a leve também para que possa pegar seu uniforme— Emily apenas concordou e se retirou da sala me esperando do lado de fora— Então é isso, novamente, seja bem-vinda. Espero que se enturme bem e que tenha grandes realizações, mas não devo me preocupar com isso, já que estamos falando da filha do sr. Kamphorst— falou esticando a mão para um comprimento.
Um aperto, foi oque senti em meu peito, algo que me abalou profundamente. Não deixei transparecer e com um leve sorriso no rosto retribui o comprimento enquanto me despedia. Saio da sala e logo Emily começou a me mostrar a escola, se por fora ela já era grande, por dentro era maior ainda. Emily me mostrou as partes mais importantes e as quais eu teria mais contato, como a quadra coberta, campo, sala de aulas, refeitório, biblioteca entre outros lugares. Ela me levou também para retirar os livros didáticos e depois até meu armário para que pudesse guarda- los , e por último, fui buscar meu uniforme. Depois do pequeno passeio dentro da escola ela me levou até a entrada da escola e se despediu adentrando logo em seguida novamente. Peguei meu telefone para ver que horas era, e já eram onze horas. Havia uma mensagem da minha madrasta dizendo para a encontrá-la, haveria um jantar beneficente hoje e teríamos que nos arrumar para tal evento. Eu não queria a encontrar agora, como também não queria ir a esse evento, mas nada posso fazer sobre isso, se eu questionasse isso agora só iria sobrar pra mim mais tarde as consequência. Mandei uma mensagem concordando e me dirigi até o local de encontro, que seria num restaurante a 3 quadras da onde estou. Como ela falou que me encontraria daqui 20 minutos, resolvi ir andando até o local.
Chego no local e logo me dirijo até a recepção. O recepcionista logo nota minha presença, colocando em seu rosto um sorriso simpático.
— Srta. Kamphorst, a quanto tempo não a vejo.
— Já faz um tempinho mesmo Louis— falo colocando um sorriso em meu rosto— E já lhe falei, não precisa de toda essa formalidade comigo, me chame de Ayla. Provavelmente a Andressa tenha feito uma reserva.
— Sim, a Sra. Greys ligou reservando, ela ainda não chegou, mas lhe mostrarei a mesa de vocês. Me acompanhe por favor Ayla.
Concordo levemente com a cabeça seguindo ele pelo gracioso e renomado restaurante que minha família tem costume de frequentar até minha mesa. Depois de ver que eu já estava acomodada, Louis acenou pedindo com licença e desejando uma boa refeição.
Comecei a mexer em meu celular enquanto esperava minha "querida" companhia chegar. Olhei o chat de conversas, logo já entrando e respondendo algumas mensagens, depois as arquivando, entrei em alguns grupos de festas e saindo dos grupos, em outros deixava uma mensagem confirmando minha provável presença. Vi aquele maldito grupo ali ainda, nem entrei na conversa, apenas acessei as informações do grupo logo saindo e o excluindo sem ler nenhuma maldita mensagens dos participantes. Havia mensagem de Laila, minha melhor..., - lembranças inundaram minha mente, lembranças boas, que logo foram trocadas por acontecimentos, toda a alegria foi trocada por raiva, rancor e nojo, Laila, minha amiga? Não, claro que não, não mais.-Laila, uma antiga memória, uma antiga e ex amiga, apenas uma antiga lembrança junto com outras que tanto tento esquecer, ela é apenas uma de vários que foderam comigo. Na mensagem havia algo como " precisamos conversar, é urgente", apenas respondi com " a muito tempo deixei claro que não quero ver mais mensagens suas. Da última vez deixei claro que não temos e nunca mais vamos ter nada para conversar. Vá procurar outra pra infernizar, só fique longe da minha vista.", antes que eu tivesse tempo de qualquer coisa, logo recebi sua resposta, dizendo que tinha algo a me contar, apenas mandei ela ir se foder e bloqueie a merda daquele número, junto com todos os outros participantes daquele outro grupo, era isso ou trocar o meu número pra ver se eu conseguia esquecer eles. Sem paciência vi o número que tanto me dava raiva, ele não estava adicionado e com certeza nunca vai estar, não fazia ideia como ele tinha conseguido meu número, sem importância bloqueie, algo que já virou hábito no meu cotidiano, bloqueando pessoas que deviam ficar no passado.
Sou tirada dos meus pensamentos quando percebo alguém se aproximando, e logo escuto um " Layla, querida, cheguei". A olhei com olhar de poucos amigos, ainda havia raiva dentro de mim, e escutar ela falar isso acabou piorando a situação.
— O que eu lhe falei a muito tempo atrás? Não me chame assim. Não gosto e não quero ouvir essas palavras saindo de sua boca.
— Meu Deus, o que eu fiz agora? Não seja assim querida, não sei por que tanta raiva contida por mim.
— Tu gosta de provocar não é mesmo?— ela não parava, mesmo sabendo ela continuava, isso era uma das coisas que odiava nela— Não quero discutir contigo, principalmente em público, por que de qualquer jeito eu vou sair como a errada na percepção dos outros, não sou tão tola e nem ingênua como antigamente— Falei apoiando meus braços na mesa, me inclinado um pouco sobre ela— Não caio mais na merda desse seus joguinhos— Vi um sorrisinho sorrateiro surgir em seus lábios , como a odiava— E não se faz de sonsa, não passa nenhuma credibilidade, principalmente referente a ontem.
— Ontem? o que teve ontem?— Falou fazendo uma cara pensativa, até que colocou um leve sorriso em seu rosto— Está falando da discussão sua com seu pai? Mas isso não foi minha culpa, por que tudo que acontece tu coloca a culpa em mim?— Falou com um olhar triste. Manipuladora, era isso que ela era.
— Olha, sinceramente, não to com paciência pra isso, só decide de uma vez o que tu quer, porque quanto antes tudo isso terminar, mais rápido consigo ficar longe da sua presença, não que eu não goste dela, é apenas medo do teu veneno cair no meu copo de bebida—finalmente aquele sorrisinho tinha saído daquele rosto, vi a fúria surgindo em seus olhos. Ela estava prestes a falar alguma coisa quando o garçom chegou para fazer nossos pedidos, agora era em meu rosto onde um sorriso se habitava.
Comemos em total silêncio, só se ouvia o barulho dos talheres contra o prato. Ao terminar, pagamos a conta e na frente do restaurante estava o carro esperando para nos levar à loja para escolher nossos vestidos.
Após a escolha, fomos direto ao salão, eu odiava toda essa rotina, eu não gostava desses eventos, onde tinha em um mesmo local, um monte de pessoas arrogantes de pouca índole, junto com seus filhos que eram quase mais podre que eles, tudo que importava era mostrar o seu poder, e ter pessoas poderosas ao seu redor, era assim que esse círculo social funcionava, qualquer mínima fofoca é capaz de acabar com a carreira de qualquer um ali, julgamentos são facilmente vistos, as aparências são o básico para sobrevivência. A única coisa que acontecia ali, era cada um mostrando seu poder, e tentando aumentar ainda mais. Ao sair do salão, esperava encontrar o carro que nos trouxe até aqui, mas ao invés disso, vi meu pai ao lado de seu carro escorado olhando ao redor, ao notar nossa presença, direcionou seu olhar para nós, enquanto nós duas íamos em sua direção. Desvio meu olhar, apenas me direciono a porta traseira do carro. Quando estava adentrando, percebi um olhar caído sobre mim e logo escuto um oi, apenas o respondo de volta o cumprimentando fechando a porta, vendo de relance um vestígio de tristeza em seus olhos.
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