A noite já caía lá fora e o vento continuava a balançar as árvores, mas agora, possuía a lua como sua acompanhante. Termino de me arrumar e vou em direção ao espelho para ver se tudo está correto. Nos meus cabelos possuíam algumas tranças laterais, deixando o resto solto com os cachos bem definidos, maquiagem bem feita mais nada exuberante, e um vestido bordo, comprido que ia até o chão, mas possuía uma bela fenda do lado esquerdo da perna e um leve decote na parte superior. Saio do meu quarto e me direciono a sala sentando no sofá enquanto os aguardava para ir para o evento. Minha mente gritava para ficar em casa, mas essa não era uma opção, então quanto mais cedo fôssemos, mais cedo terminamos com esse showzinho de sempre, fazendo nosso papel no evento e mais cedo encontraria o caminho para minha cama para me desligar de tudo. Esperava sobreviver a essa noite, e para isso, contavam com minha paciência e os remédios escondidos dentro da bolsa.
Chegamos no local e logo meu pai deixou as chaves do carro com o manobrista. Direciono meu olhar para o prédio. Era um lugar muito bonito e chique, possuía 30 andares, e no último possuía o salão onde ocorreria a tal festa. Ficava localizado bem no centro da cidade, e do topo podia se ver toda a vista da região, assim, poderia se apreciar todo tipo de paisagens diversas disponibilizadas. Descendo meu olhar do topo do prédio, olhei para a fachada onde possuía vários fotógrafos e repórteres se amontoando para conseguir várias imagens e assuntos para os jornais do dia seguinte. Me sinto um pouco ansiosa, por vários motivos cansei de aparecer em jornais e sites de fofoca, chega um momento onde você se cansa de ver pessoas que acham que te conhecem contando sobre sua vida e te julgando como bem entendem, mesmo que os assuntos sejam delicados pra você, ali naquelas fofocas não existe seu consentimento. Junto meu braço ao do meu pai e do outro lado minha "madrasta" fazia o mesmo. Mesmo que eu não esteja tão confortável a estar tão perto do meu pai, é necessário, para as fotos que serão tiradas passassem a imagem de uma família perfeita e feliz, e para meu conforto para tal situação.
Família feliz, isso parecia uma piada em minha mente, a muito tempo deixou de ser, mas como falei, esse meio era feito de aparências, e nosso papel era esse, sempre foi e sempre será.
Mas por que era necessário isso? Veja bem, essa é uma resposta muito simples. Meu pai era um dos homens mais respeitados e bem sucedidos desse país, mesmo possuindo seus 37 anos. Sei que perguntaria como alguém tão jovem conseguiu tal fato, mas essa era outra pergunta simples de conseguir uma resposta, mesmo que na prática seja algo difícil de conquistar. A família do meu pai vem de uma linhagem renomada, possuindo fama dentro do mundo dos negócios e publicidades, possuir essa linhagem é como carregar uma grande responsabilidade por possuir o sangue de gerações muito bem sucedidas que aumentavam cada vez mais o legado e história da família. Mas mesmo possuindo vários nomes muito renomados pelo mundo na minha família, sem dúvidas nenhumas meu pai é um dos mais importantes carregando o peso do legado de gerações. Mesmo jovem, ao seus 20 anos, já possuía dois filhos, e mesmo com tal fato, fez o que várias pessoas desse meio queriam. Minha avó foi a escolhida entre três irmãos para continuar o legado da família, meu pai, nascido dentro deste meio, foi ensinado desde pequeno a como se portar para todas as situações, e aos seus 24 anos, como primogênito, teve o poder da família passado para suas mãos, assim possuindo o controle de todas as ações e empresas que nosso sobrenome possui, e aos seus 30 anos conseguiu crescer ainda mais nosso legado, e triplicando nosso poder no país e pelo mundo, ninguém podia negar o quão bom ele era nisso, muitos possuíam inveja, e não é nada surpreendente.
Minha família possui negócios em vários meios possíveis, e esse evento era um dos nossos mais novos projetos. Em conjunto com outras famílias, abrimos o mais novo hospital da região, nossa família possuía 45% das ações, sendo assim, éramos oque mais possuía controle por ele. E esse jantar seria a comemoração de mais um projeto bem sucedido, e haveria um momento onde haveria doações para hospitais que necessitavam de dinheiro para continuar atuando, então era um evento comemorativo e beneficente e minha família era um dos focos da noite.
Meu pai se pôs a caminhar, sendo assim, acompanhando por nós duas. A cada passo que dávamos, notava aumentar a quantidade de flash's em nossa direção e sentia cada vez mais meu coração se agitar. Paramos quase na porta, onde havia um local para tirar fotos, e logo depois nos direcionamos ao elevador para subir até o último andar.
Logo quando passamos a porta do salão, fomos direcionados a nossa mesa. A cada passo que dávamos, mais gente se aproximava de nós, cumprimentando, elogiando e desejando sucesso ao novo projeto, que naquele dia estava sendo oficialmente inaugurado. Na nossa mesa estavam os outros colaboradores do projeto, onde cada um ali havia uma porcentagem e direito sobre tal.
Após um longo tempo sentada naquela mesa ouvindo cada vez mais e mais conversas paralelas, mas todas com o tema principal e referente a meu pai. Cansada de todo aquele burburinho superficial, me levantei de maneira discreta conseguindo passar despercebida por todos, obviamente todos menos meu pai, que reparei me acompanhar com o canto dos olhos me distanciar enquanto mantinha uma conversa com um dos colaboradores do projeto.
Seguia passando entre as mesas até chegar na gigantesca sacada, que adornava toda lateral do prédio, cheia de cadeiras. Me escorei no parapeito sentido a brisa balançar meu cabelos, aos poucos sentia o frio , mas não possuía nenhuma vontade de voltar ou a pequena preocupação de ficar doente. Totalmente alheia a tudo à minha volta, só sinto uma presença ao meu lado quando é depositado um casaco sobre meus ombros, levo um pequeno susto, mas me acalmo novamente quando percebo a companhia ao meu lado.
-Vai acabar doente dessa maneira pirralha.
- É bom te ver de novo tio.- me viro em sua direção e logo vejo discretamente os braços sendo abertos, sem pensar duas vezes me aproximo me aconchegando naquelas braços torneados que tanto me lembram casa, um sentimento que não sinto a tempos.
Droga! Sinto lágrimas escorrem aos poucos, tento me separar do abraço mas ao contrário do meu objetivo só sinto os braços cada vez me apertarem mais e um leve carinho ser feito no topo da minha cabeça. Sem me perguntar, sem nenhuma palavra, apenas era o meu tio desajeitado em demonstrar sentimentos me confortando de sua maneira tão única e suficiente naquele momento. Após um tempo naquele carinho, escuto a voz do meu tio soar novamente.
-Acho que precisamos conversar. Fiquei fora por um tempo, e parece que as coisas desandaram novamente.
-Não há nada a dizer, a tua presença é mais que suficiente, isto já me basta.
-Pirralha, posso ter ficado um tempo fora, mas não sou cego, você sabe que só quero seu melhor.
-Eu sei, mas por favor, agora não- digo me afastando do abraço tentando me acalmar- hoje não, eu prometo, outra hora.
-Essa conversa ainda não acabou- disse limpando os restos de lágrimas, logo em seguida dando um pequeno selar em minha testa- mas podemos deixar para mais tarde. Vem vamos entrar, está frio aqui fora.- disse indo em direção a porta em passos calmos. Me viro uma última vez para o horizonte, e respiro fundo me recompondo. Por algum motivo sinto uma presença ao longe e me viro na direção, vendo um garoto sentando em uma cadeira.- Vem Ayla, os velhotes estão nos esperando lá dentro.- tirada dos meus pensamentos me viro em direção ao meu tio, onde estendeu o braço para mim, junto o meu ao dele e assim entramos novamente.
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