História (a) mar - "We're baaaaaack"

“Você não vai surtar de novo, vai?” James disse rindo notando a euforia que os olhos de Farmiga carregavam “Por favor, Vera, a Lorraine vai te achar doida” ele brincou outra vez já abrindo a porta do carro após Wilson ter estacionado ao lado da New England Society for Psychic Research.

“Deixa de ser bobo” a atriz revirou os olhos também se direcionando para fora do carro. Fechou a porta e respirou fundo, sentindo o ar gélido, embora geralmente nos períodos de julho fosse verão. O lenço ao redor de seu pescoço lhe manteria segura da gripe. Suspirou fechando os olhos, os poucos cabelos sendo balançados com o vento.

“Isso te traz paz?” o diretor perguntou observando Vera sorrir de lado “parece até que ama a natureza”

“Mas eu amo” ela disse prontamente encarando os dois homens à sua frente. Sorriu novamente retirando as mãos dos bolsos da calça “vou deixar minha bolsa no carro, não quero ter que carregar pra todo canto” comentou dando de ombros.

Os três se calaram sem ter muito o que falar, o peso do silêncio tomou conta e Wan pôde sentir a tensão que já se instalara entre Wilson e Farmiga. Revirou os olhos para os dois tentando chamar a atenção de ambos.

“Olha, seja lá o que tiver acontecido entre vocês não pode atrapalhar o nosso projeto, entenderam? Hoje é um dia muito especial para nós e pra toda equipe, então por favor, por favor, não estraguem esse momento” James disse alto notando o constrangimento nas duas faces que lhe encaravam de volta.

“Do que você tá falando? Não tem nada de errado aqui” Patrick revidou em tom ameno evitando que aquilo soasse como mentira “Eu acho que é só um dia ruim” ele encarou o par de olhos azuis que cintilavam. Notou a expressão de Farmiga, ele sabia que ela tinha entendido: o dia estava ruim sim, mas o problema era ela. Pela primeira vez desde que sentiu a atriz por perto naquele dia ele se permitiu relaxar, precisava ter dito aquilo para retirar de si toda a mágoa que ainda o perturbava. Ao menos um pouco dela.

“Ah tá bom” Wan murmurou descrente nas palavras de Wilson, mas ainda sem entender o que de fato significavam “eu não quero nenhum dos dois se lamentando hoje, sério, todo mundo tem seus dias ruins, mas hoje não pode ser um deles” o diretor falou mais alto impondo a ordem seguinte “e a primeira coisa que vocês vão fazer é melhorar esses rostos, colocar um sorriso e tirar uma foto bem ali” ele apontou para a placa do Centro de Pesquisa dos Warren estampada bem na frente.

“É melhor entrar, não acha? A gente tira a foto lá dentro” o ator sugeriu, evitando demonstrar sua preocupação com o clima estabelecido, evitando notar que a preocupação repentina não era pela sua saúde, mas sim pela dela.

“Nada disso, é só um clique e voilà” Wan retirou do seu bolso o telefone e entregou nas mãos de Patrick que o segurou firme, já caminhando rápido para o local indicado. Vera suspirou apertando o nó do lenço ao redor de seu pescoço e também se direcionou para a placa do museu. Que despropósito o seu! Julgou a si mesma quando notou que estava chateada com a situação. Ela poderia reclamar das atitudes do antigo parceiro? Não, definitivamente não. Arrumou os cabelos que estavam bagunçados e sorriu para a câmera posicionada nas mãos do ator. Clique. Uma vez. Clique. Outra vez. E então parou. Wilson manteve a câmera posicionada alguns segundos a mais, embora não estivesse tirando nenhuma outra foto. A atriz suspirou outra vez quando notou a proximidade dos corpos que estavam há cerca de alguns míseros centímetros. Ambos continuavam olhando para a tela do aparelho vendo suas imagens serem reproduzidas ali e num breve instante voltaram a trocar olhares pela câmera. Então Wilson abaixou o celular e se afastou rapidamente disposto a devolver o aparelho para o diretor que prontamente o segurou.

“Estão perfeitas” James disse entusiasmado enquanto observava a imagem dos dois atores. Vera se aproximou devagar absorta em seus pensamentos “Mas só essas? Pensei que estavam tirando pelo menos umas 9 ou 10” ele encarou os dois à sua frente notando Farmiga um tanto perdida, mas decidiu não ir a fundo. Não naquele momento. “Não tem problema, vocês tiram mais depois com a Lorraine e com o resto da equipe” guardou o telefone celular em seu bolso novamente “agora vamos entrar, sei que a Vera deve estar morrendo de ansiedade” brincou mais uma vez conseguindo trazer a atriz de volta que sorriu largo, mas ainda pensativa.

A clarividente já os aguardava em uma saleta, recebeu a todos com a forma calorosa e divertida de sempre. Farmiga, ao vê-la, tentou evitar tamanha euforia, mas não obteve êxito. Assim que voltou a abraçar a idosa se sentiu relaxar por completo e todo o carinho que tinha pela mulher retornou. Ela sentiu de imediato seu coração pulsar forte pelo reencontro, sorriu o tempo todo demonstrando sua alegria em estar ali, sua admiração. Os três passaram a conhecer o museu, visualizando distante cada peça que os Warren afirmavam terem sido usadas em rituais profanos. E a cada peça mostrada uma pergunta da equipe surgia. Lorraine as respondia com sua sabedoria de vivência e conhecimentos do próprio ramo de seu esposo, Edward Warren. Patrick, apesar de sua descrença em diversas coisas, se mostrou interessado, sempre respeitoso. Ele manteve distância da atriz também, evitando voltar a trocar olhares ou prestar atenção nela. No entanto, todas as vezes que Vera encarava Lorraine ele voltava a ver seu rosto apenas para admirar seus olhos encantados, praticamente uma garotinha de 6 anos deslumbrada com um novo brinquedo. E então se recompunha xingando em pensamento o fato de sempre ser atraído por aquela mulher.

Ao fim do dia todos estavam cansados e agradecidos pela recepção. A pouca equipe que os acompanhara se despediu da clarividente e partiu, restando apenas o trio no museu. Wan agradeceu por Lorraine ter aceitado sua proposta, por estar disposta a seguir adiante com os planos da trama, por concordar com aquilo. A idosa lhe devolveu elogios sinceros afirmando que permaneceria em contato, caso necessário. E então vieram Patrick e Vera, ambos sorrindo lado a lado. A clarividente sorriu largo diante da gratidão que demonstravam e voltou a afirmar o que dissera antes: eles eram perfeitos para representar os Warren. Por fim se despediu de todos e o trio se retirou voltando ao automóvel.

“Pode respirar agora, Vera” James disse sorrindo enquanto colocava o cinto e ouviu a atriz gargalhar alto no banco de trás, ele se virou para vê-la, a alegria destacada em seus olhos. E então encarou o rosto de Wilson para encontra-lo sorrindo de lado enquanto enxergava Farmiga pelo retrovisor “Acho que vocês precisam visitar a Lorraine mais vezes” comentou sentindo o ambiente um pouco mais leve e aguardando Wilson dar a partida.

Durante todo o percurso de volta ao estúdio o trio manteve conversa, embora Patrick ainda estivesse receoso sobre falar com Vera. Ela, por outro lado, estava um tanto mais tranquila. O fato de ter visitado Lorraine naquele dia a fez se sentir melhor. A atriz suspirou alegre, evitando concentrar seus pensamentos nos pesos das palavras ditas pela clarividente, mas sua mente lhe travou um questionamento: eles eram perfeitos para os papeis por serem artistas ou a mulher notara algo a mais? Vera afastou o que ela sabia que depois lhe perturbaria, naquele momento ela estava aproveitando. Wilson ainda estava distante, mas ela entendeu que na verdade ele estava apenas relutando com a própria vontade. Farmiga sabia que ele estivera lhe observando, ela o vira sorrir enquanto ela própria gargalhava. Apesar dos pesares ele estava voltando, aos poucos.

“Finalmente vou pra casa!” James falou alegre assim que Patrick estacionou “Vocês deixaram alguma coisa lá dentro do estúdio?” perguntou aos dois que responderam que não “Então é isso, casa!” o diretor abriu a porta e os três saíram praticamente na mesma hora.

“Tô louca pra cair em uma banheira” Vera comentou pegando sua bolsa.

“Vai relaxar, hein” James brincou malicioso com a pergunta, mas dessa vez a mulher não deu atenção e só suspirou de frente para os dois homens “Bem, a gente se vê daqui a alguns dias então, estejam preparados para as gravações” ele advertiu soando mandão, os dois atores concordaram. “Eu mando as fotos para vocês, alguém tem que postar” ele disse encarando Patrick.

“Alguém, eu no caso” Wilson disse sem relutar e concordando de prontidão.

“Quero essas fotos nas redes amanhã mesmo, vai atrair publicidade” Wan ordenou e se despediu dos dois do modo carinhoso que sempre agia com os amigos “Até logo” ele disse pegando as chaves do carro e se afastando. E finalmente os dois aotres estavam sozinhos pela primeira vez no dia.

“Eu estou indo também” Vera disse baixinho após alguns segundos de silêncio, dando de ombros ela permaneceu encarando os olhos de Patrick “até logo, Wilson” sussurrou e sorriu fraco se virando para ir para o seu carro. O ator também o fez sentindo o efeito Farmiga em seus pensamentos. Em menos de minutos ambos dirigiam de volta para seus respectivos lares.

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O trânsito estava tranquilo e Vera pôde chegar em casa em menos de 30 minutos ainda a tempo de pegar seus filhos acordados assistindo a um programa infantil com o pai. Ela depositou um beijo na cabecinha dos dois filhos e ainda ficou conversando entretida com as mãozinhas de Gytta que seguravam a sua, enquanto Fynn se recostava em seu ombro sentado no sofá. Por fim decidiu subir e que estava na hora das crianças irem dormir. Levou os dois para a cama e após velar um pouquinho do sono de cada um foi ao seu quarto com Renn ao seu lado.

“Dá pra notar o cansaço de hoje” ele comentou retirando a bolsa das mãos da esposa e lhe dando um beijo leve no ombro esquerdo.

“E nem foi dia de gravação” ela suspirou já dentro do cômodo do casal retirando os sapatos “mas foi muito bom” sorriu alegre e satisfeita “só que eu estou cansada sim, vou tomar um banho” ela disse tirando o lenço do pescoço.

“Preparei a banheira pra você” Hawkey falou sorrindo para a mulher que lhe agradeceu com um leve beijo “hoje eu vou ter ensaio mais cedo, então vou sair agora, tá bom?” ele comentou com os braços envolvidos nos quadris da esposa.

“Tudo bem, toma cuidado” ela sussurrou e depositou um selinho nos lábios do marido que depois da despedida saiu avisando que retornaria antes das 3h.

Farmiga ficou cerca de 40 minutos relaxando na banheira lotada de sais de banho, mas decidiu terminar logo para finalmente dormir. Concluiu sua higiene e vestiu uma calcinha ainda com os cabelos úmidos. Tentou não se importar porque o cansaço era definitivamente extremo. Ela apagou as luzes e deitou em sua cama puxando os lençóis para cobrir seu corpo. Notou seu telefone piscando com alguma notificação, mas não quis olhar, pensou que fosse mais algum fã em suas redes sociais e então se lembrou. A foto! Pegou o aparelho e percebeu a quantidade de comentários no tweet que Patrick havia postado. A atriz abriu a publicação atenta a todos os detalhes daquela imagem. Wilson estava com a testa franzida, ainda que de leve. Ambos sorriam fraco e olhavam visivelmente para a câmera. Farmiga sorriu admirando a legenda que Patrick havia colocado. Boba que era! Sentiu saudades, outra vez. Ela suspirou evitando se deixar mergulhar por seus sentimentos e deixou o telefone de lado, fechando os olhos e conseguindo adormecer tranquila. O dia havia sido cansativo sim e de princípio a amargura quase o dominou, mas no fim ela sentiu o fio de esperança surgindo em seu peito. Farmiga queria que durasse.