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História (a) mar - Ego ferido?


Escrita por: fofarmigac

Capítulo 25 - Ego ferido?


            Vera abriu os olhos lentamente sentindo a cabeça latejar, resmungou da dor se remexendo na cama e encarou o relógio, ainda era cedo, eles tinham tempo para se arrumar. Apesar do desconforto devido ao excesso de taças de vinho tomadas durante a madrugada não pôde evitar sorrir; uma alegria imensa invadiu seu peito assim que pôs os olhos sob a figura de Patrick que permanecia dormindo, parecendo estar completamente relaxado. Ela encarou a expressão tranquila do parceiro, os traços da face que fora tão bem desenhada; notou que mesmo adormecido o ator mantinha seu aperto frouxo no corpo da atriz permitindo que a pele de ambos não deixasse de se tocar, um gesto tão singelo e ainda assim dizia tanto. Proteção. Apego. Saudade. Era o que ela via e sentia quando era abraçada por Wilson. A morena suspirou de amor, nunca em todos os seus 41 anos de existência havia parado para enxergar o verdadeiro significado daquilo. Ela o amava, definitivamente era isso. E obviamente tal sentimento explorado por cerca de 2 anos quando ambos eram mais jovens ajudou a criar essa ponte que ela sabia que existia entre os dois, só que agora ela podia ver que eles tinham muito mais do que apenas um caminho compartilhado, anos de convivência, experiências sexuais, amizade, a relação fortificada se dava por um fato ainda mais forte e até assustador: eles sempre eram atraídos um para o outro, ainda que quisessem manter distância, ainda que no fundo de suas almas soubessem que o melhor a ser feito era não ouvir a voz do coração. Melhor pra quem? Farmiga bufou consigo mesma pela primeira vez notando que o que acabara de dizer beneficiava a todos, menos a eles. Mas afinal, aquilo era o certo, não?

A atriz abaixou o olhar evitando observar Patrick, seus pensamentos se concentrando nos filhos pela primeira vez desde que chegara à Inglaterra. Respirou fundo. Quando foi a última vez que eu mandei mensagem de boa noite? Perguntou a si mesma de repente sentindo uma enorme tristeza por estar ausente na rotina das crianças. Sem fazer nenhum barulho Vera se soltou dos braços de Wilson e se levantou da cama pegando a camisa do ator e vestindo-a junto com sua calcinha. Procurou por seu telefone e a passos lentos se dirigiu ao banheiro fechando a porta sem emitir nenhum som. Lá dentro buscou pelo contato do marido no aplicativo de mensagens. Fez a conta de cabeça para lembrar o horário de Nova Iorque, são 2h da manhã refletiu sozinha. Cedo demais para mandar mensagem? Não, de forma alguma. Renn entenderia a ausência, ela sabia que sim. Ele saberia compreendê-la. Mas e ela? Ela entendia a si mesma? Ela era capaz de enxergar dentro de si um ponto de tranquilidade? Sentada na privada com a tampa abaixada a atriz suspirou fundo sentindo todo o peso retornando à consciência. Ela estava enganando o marido, enganando a quem sempre lhe fez bem e aquilo não era de agora, pois Renn não sabia de seu passado com Wilson, não sabia do relacionamento que eles tiveram antes da entrada de Farmiga às telas. A atriz envolveu o corpo com os próprios braços num enlace apertado tentando encontrar alguma coisa boa que a fizesse se sentir menos pior. Enquanto abraçava a si mesma sentiu o aroma da camisa de Wilson alcançar suas narinas e inconscientemente inspirou forte aquele cheiro. Era algo que fazia sempre, como se o seu sistema neurológico tomasse a decisão antes dela própria se dar conta. Vera sorriu triste confirmando sua tese formulada há minutos atrás: eles sempre eram atraídos um para o outro.

A morena respirou fundo evitando concentrar seus pensamentos naquela parte sombria, não queria nem podia estragar o momento. No fim das contas ela entendia que poderia evitar a todo custo, mas nunca seria o suficiente para de fato manter-se afastada por tanto tempo, Wilson era seu néctar sempre perto o bastante para voltar a chamar sua atenção mesmo que ele por muito tempo tivesse se mostrado indisposto a tal atitude. Mas no final das contas ela sempre retomava o rumo que a levava até ele, sempre. Voltou a inspirar fundo movendo a cabeça de um lado para o outro como se estivesse enviando os pensamentos para longe de si. Ela lidaria com eles mais tarde. Desbloqueou o telefone e enviou uma mensagem para Renn perguntando sobre as crianças e sobre o que os três estavam fazendo, terminou dizendo que os amava e pedindo desculpas pela ausência. Levantou e foi escovar os dentes não se demorando muito e logo em seguida saindo do banheiro.

“Meu Deus, você tá linda” ouviu a voz de Patrick enquanto ele a observava ainda meio sonolento com um sorriso estampado, Vera sorriu de volta sentindo seu coraçãozinho amolecer com o elogio repentino, mas carregado de sinceridade.

“Bom dia, Wilson” ela disse caminhando para a cama.

“Hmmmm” ele abriu ainda mais os olhos ao vê-la desfilar em sua direção com as pernas à mostra “bom dia” sorriu outra vez assim que a morena deitou novamente ao seu lado “dormiu bem?” perguntou enquanto ela repousava a cabeça em seu braço.

“Relativamente porque ainda estou cansada e pra piorar de ressaca” Farmiga sorriu sem mostrar os dentes tamborilando os dedos na testa.

“Mais um dia de reclamações de James Wan” o ator disse fingindo tédio e revirando os olhos, fazendo com que ambos dessem risada.

“Preciso de um analgésico ou de um suco de laranja” ela apertou os olhos rapidamente como se tal gesto pudesse diminuir as dores na cabeça.

“A gente pode pedir aqui” Patrick comentou dando um beijinho na têmpora da mulher que se aconchegou debaixo do enorme cobertor do hotel. Ele ouviu ela murmurar algo como “daqui a pouco” e suspirar fundo enfiando o nariz em seu peitoral. Sorriu a abraçando. Por longos minutos eles ficaram daquele jeitinho mantendo um silêncio gostoso que só era assim quando estavam juntos, mas a rotina do trabalho fez com que os dois levantassem para assumirem suas responsabilidades enquanto profissionais. Tomaram banho juntos, ele esfregando a costa dela e vice-versa; naquela manhã eles fizeram amor por gestos e carinhos apenas, ainda assim, amor.

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As cenas do dia seriam externas, por isso Patrick e Vera não demoraram no set ao qual estavam acostumados, inclusive a passagem por ele só lhes trouxe alguns olhares maliciosos e divertidos de James.

“Ele sabe, não é?” a morena perguntou a Wilson enquanto a maquiadora concluía seu trabalho no camarim improvisado e aberto.

“Pois é” o ator disse mantendo a conversa em código.

“Ele viu?” Farmiga questionou elevando seu olhar para enxergar o reflexo de Patrick sentado em uma poltrona atrás dela. O homem deu de ombros.

“Ele só deve ter notado alguns detalhes em comum” sorriu de lado encarando o franzir na testa da atriz e logo depois o olhar desconfiado que ela depositara sob ele. Quando a maquiadora terminou de produzi-la, Wilson sabia o que estava por vir.

“Por que você contou?” ela disse em tom acusador “era pra ser um segredo, se alguém além de mim e você fica sabendo deixa de ser segredo” levantou da cadeira que estava em frente ao espelho para virar de frente para o homem.

“Olha, ele já sabia, ficou me dizendo coisas como ‘vocês se atrasaram e chegaram no mesmo horário’ ou ‘para de babar por ela’, tudo o que eu fiz foi pedir que ele não contasse a mais ninguém” o ator falou com as mãos unidas como num gesto de súplica, mas até a atriz sabia que aquilo era pra trazer um ar cômico, tentar alterar o rumo de seu humor para que ela não ficasse mais irritada. Ela suspirou impaciente.

“Wilson, isso não pode se espalhar, é algo nosso, você não vê?” disse em tom baixo para que ninguém que estivesse por perto pudesse ouvi-los.

“Não vai se espalhar, prometo” Patrick falou sincero, mas com um fio de decepção em sua voz. Ele continuou sentado observando a morena em pé à sua frente; tentou não dar ouvido para as coisas tristes que lhe tomavam a mente, evitando a todo custo as reflexões que insistiam em moldar seus questionamentos. Suspirou de frustração.

“Wilson” Vera o chamou com a voz baixa descruzando os braços e se aproximando do parceiro, mantendo uma distância máxima de 8 ou 10 cm, já que havia parado bem de frente à poltrona que ele estava sentado; ela tentou não se importar com os olhares que agora estavam voltados sobre eles enquanto tocava nos ombros do ator “Vamos deixar isso de lado, tá bom? Temos que nos concentrar para as gravações e daqui a pouco tudo vai ficar bem” a atriz disse dando um sorriso de empatia para o homem mudo, mas que logo concordou com o que ela dissera. Patrick a encarou por cima dos cílios, suas mãos automaticamente repousaram nos quadris da morena e por um breve instante ele próprio se esqueceu de onde estavam enquanto seus polegares massageavam levemente a região, só foi se dar conta depois que um funcionário passou ao lado deles e subitamente Farmiga se afastou de suas mãos virando-se para o espelho e arrumando o penteado. Novamente sabia o que aquilo significava, mas preferiu por tentar deixar de lado como a atriz recomendara.

“Você tomou seu analgésico? Melhorou da dor de cabeça?” perguntou para Vera preocupado com o bem estar da morena, mas claramente incomodado com o que acabara de ocorrer. Ela fez que sim com a cabeça voltando o olhar para Wan que os chamava para darem início às gravações do dia e tirarem algumas poucas fotos.

“Pra manter a divulgação e publicidade” o diretor disse levantando as duas sobrancelhas em tom divertido e franzindo os lábios guardando o telefone no bolso traseiro.

“Tem que se esforçar mais” Wilson falou rindo com os membros do elenco e equipe em geral.

“Vamos gravar!” James sorriu eufórico e correu para trás das câmeras.

Eles estavam em um centro movimentado de Enfield e só precisavam fingir chegarem a cidade londrina, a cena seguinte seria os Warren indo conhecer os Hodgson na suposta casa mal assombrada e daí em diante a sequência seria um misto de cenas de Lorraine conversando só com Janete e Ed falando com Maurice e Peggy. Quando ambas foram finalizadas James gritou “corta” rindo de alguns erros cometidos pelo elenco.

“Quando a Frances fechou a porta antes do Patrick ter saído e bateu bem na cara dele” o diretor disse gargalhando alto e dando alguns tapinhas nas costas do ator “você tá bem? Precisa de um descanso? Porque aquilo deve ter doído pra caralho” ele voltou a rir alto debochando do amigo.

“Aquilo doeu pra caralho” Wilson afirmou fazendo careta e se desvencilhando dos braços de Wan, fingindo estar chateado.

“Foi muito bom, cara, ainda bem que a gente gravou tudo porque é uma coisa que merece ser revista” James bateu palmas completamente eufórico com a situação e gargalhando novamente, todo o resto do elenco deu risada com ele, algumas exageradas, outras mais baixas, mas todas às custas do jeito desastroso de O’Connor que pareceu não se importar com elas.

“Eu juro que não foi minha intenção, Wilson” Frances disse rindo de si mesma e se aproximando do ator ficando ao lado dele “nunca que eu ia te machucar, Deus me livre” ela falou tocando no braço direito do ator e apertando a região com alguns dedos.

“Fica tranquila, Frances, isso acontece” Patrick sorriu dando um tapinha na mão da colega.

“De qualquer forma, peço desculpas pelo mau jeito, prometo me comportar melhor” O’Connor falou dando um sorrisinho de lado e mantendo o olhar sob o homem ao seu lado.

As conversas fluíram normalmente durante o intervalo de almoço e todos pareciam confortáveis uns com os outros, confortáveis demais pensou Farmiga observando como Frances encarava Wilson, como ele devolvia os olhares tendo-a tão perto de si parecendo não se importar em como ela se aproximava cada vez mais dele. Vera revirou os olhos quando O’Connor fingiu imitar a pequena Madison caindo e se segurando nos braços de Patrick, inspirou fundo tomando um pouco de água evitando a todo custo olhar os dois naquela conversa, mas detestando o fato de não conseguir, todas as vezes que virava o rosto para comentar sobre as gravações com qualquer outra pessoa sentia-se fadigada das informações trocadas, das piadas contínuas e voltava a prestar atenção nos dois à sua frente. Inúmeras e incontáveis vezes a atriz descruzou as pernas, remexeu nos cabelos, tossiu alto fingindo estar com a garganta dolorida. E quando começou a prestar atenção em si mesma tentou parar de agir daquela maneira, sentindo-se inconformada em como o seu humor havia se modificado tão rapidamente, em como ela – que sempre fazia brincadeiras com os colegas de cena – não estava disposta a dar algumas risadas. Bufou irritada odiando o que estava vendo, odiando internamente seus próprios pensamentos e odiando ainda mais o fato de que Patrick sequer parecia notar.

Vera mordeu o lábio inferior reprimindo as palavras que queriam sair de sua boca, sentindo o gosto de sangue logo em seguida, tamanha a raiva dentro de si. Bufou outra vez tomando mais um gole de água e se levantou sem ao menos ter terminado de comer o seu almoço. Com a desculpa de estar limpando o figurino ela se demorou de pé tentando atrair os olhares da equipe, tentando atrair especificamente um deles, mas tudo o que conseguiu foi uma rápida olhadela de Frances que sorriu para ela e logo depois voltou a conversar com Patrick. Vá se foder gritou em seu pensamento e suspirou fundo antes que pudesse dizer aquilo em alto e claro tom.

A atriz percebeu que voltariam a gravar logo e para não ficar ainda mais irritada decidiu se afastar e ir escovar os dentes, mas antes que se retirasse por completo ouviu de longe outra história sendo contada por Frances e logo depois a risada de Wilson ecoar por aquela roda em que estavam. Wilson, foi como O’Connor também o chamara. Vera sentiu a fúria dentro de si aumentar ainda mais, só ela o chamava pelo sobrenome, não era? Resistiu ao impulso de dizer aquilo na cara da outra mulher e depois de longos suspiros ela ainda não havia se controlado, mas precisava. A morena escovou os dentes apressada e ansiosa para que aquele dia chegasse ao fim, não demorou muito para que Wan anunciasse o “ação” e todos se posicionassem. E apesar de toda a raiva que estava sentindo a atriz manteve a pose e realizou seu trabalho perfeitamente, tentando provar a si mesma que aquilo não voltaria a dominá-la; no fim do dia eles tinham um ótimo material para ser incluso na trama. Farmiga foi a primeira a pedir licença e dizer que já estava indo embora, apesar da insistência de alguns colegas convidando-a para um drink noturno. Ela agradeceu a gentileza de todos e saiu sem sequer olhar para trás, pensando em como aquele dia tinha começado e como parecia terminar. Revirou os olhos sozinha no carro; antes que o motorista perguntasse sobre Patrick ela exigiu que ele acelerasse e a cada minuto pôde perceber o quanto as ações a tinham afetado. Murmurou irritada. Idiota


Notas Finais


pai amado, como é difícil passar uma cena dessas pela escrita.


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