Acordei com o enjoo matinal que me consumia nos meus primeiros minutos de consciência, por alguns segundos tentei me conter, respirando fundo, até que me dei conta de que ela não estava lá, então não era necessário manter a farsa. Levantei um pouco tonta e segui para o banheiro, após meia hora eu estava restabelecida e saindo do banho. Escovar os dentes era sempre a parte mais difícil, mesmo assim eu ainda preferia fazê-lo antes de me alimentar, pelo menos não precisaria colocar para fora nada do que seria necessário para me manter forte. O dia não estava tão frio e eu não precisaria sair de casa, sentindo-me preguiçosa demais. No closet escolhi um jeans desbotado, e uma camisa vermelha de algodão e com mangas longas. Coloquei tênis e resolvi que já poderia sair para comer alguma coisa e me preparar para o possível mau humor do meu amigo, foi quando ouvi a batida leve na porta.
– Entre – gritei ainda de dentro do closet amarrando o último cadarço.
– Cos? – Scott chamou por mim, sua voz não indicava que ele estava aborrecido.
– Aqui – permaneci sentada na poltrona aguardando por ele.
– Oi – olhei para meu amigo percebendo que ele estava bastante constrangido. – Desculpe por ontem – encarei seus olhos por poucos segundos, depois sorri.
Nunca mais conseguiria guardar mágoas de Scott, não depois de tudo o que ele estava fazendo por mim e principalmente, por aguentar todos os meus dias de fúria sem perder a paciência. Ele sorriu ao perceber que eu não o censuraria e caminhou em minha direção pegando-me pelas mãos e puxando-me para um abraço.
– Cormier chegou – informou ainda me mantendo firme em seus braços.
– Ela está aqui? Por que não veio me chamar? – Scott se afastou um pouco, suspirou e devido ao meu olhar recriminatório resolveu falar.
– Não sei, Cosima! Vai ver ela ainda não superou a última briga ou os últimos acontecimentos.
– Aconteceu alguma coisa mais grave? A conversa dela com Shay ontem...
– Não, deu tudo certo! Ela está acreditando que conseguiu fazê-la recuar, só está pegando mais no pé em relação as noites com a Rachel, pelo que eu entendi ela terá que dar um tempo
nas visitas.
– Droga!
– Você conhece a Delphine, ela vai dar um jeito!
– Tomara – sem querer fiz biquinho e ele riu de mim.
– Pegue leve, tá legal? Não estou muito afim de participar de mais uma briga entre vocês duas, eu já tenho problemas demais.
– Mika?
– É! – ele mordeu os lábios e desviou os olhos. Scott ficou constrangido, sim ele ficou. Suas bochechas assumiram um tom tão vermelho que me perguntei se era ele mesmo ali. – Sabe quando você faz uma coisa errada, mas não consegue se arrepender disso?
Ok! Fiquei super chocada com o que ele dizia, não por ele estar me confessando que fez algo de errado, mas porque eu sabia, tinha certeza, que aquele problema que mexia com o meu amigo estava diretamente relacionado a sua fidelidade a MK, ou infidelidade. O que acontecia com Scott? Não consegui responder, então ainda com a boca aberta apenas balancei a cabeça concordando.
– Putz, Cosima! Eu fiz uma coisa... Eu dei um passo tão errado, inseguro, desleal, sujo, absurdo...
– Ok! Você traiu a Mika – ele me encarou assustado. Sério, pensei que Scott teria um ataque cardíaco, pois seu rosto começou a ficar ainda mais vermelho e parecia querer explodir.
– Como... Você...
– Está estampado em sua cara – ele engoliu com dificuldade. – Eu te conheço, conheço todas as suas neuras para ter esta certeza.
– Certo – olhou para o lado e sacudiu a cabeça. – Certo.
– Não vai me contar?
– Não.
– Mas, Sco...
– Não é algo de que eu me orgulhe, tá? Então não quero falar sobre isso.
– Você acabou de dizer que não se arrepende.
– É... Complicado! Deixa pra lá. Vamos? Todo mundo está esperando por você.
– Eu preciso comer – avisei enquanto ele me arrastava, literalmente, para fora do quarto.
– Cos!
– Eu preciso comer, Scott! Ou então vou enjoar muito, prometo que serei bem rápida!
– Tá, tudo bem! Seja rápida, encontro você no QG.
– Combinado!
Corri para a cozinha sem me dar ao trabalho de conferir o que havia na sala, eu sabia o que queria e não estava na mesa de café da manhã. A cozinha estava vazia, o que não era nada anormal, afinal de contas mantínhamos apenas dois funcionários de confiança que era para evitar que qualquer informação vazasse. Abri o armário, peguei uma tigela funda e a caixa de cereais, abri a geladeira e retirei de lá o leite e uma maçã. Sentei em um dos bancos altos que ficavam na bancada, minha fome não me permitiria cortar a maçã para misturá-la aos cereais, então apenas misturei com o leite e iniciei as colheradas alternando com mordidas na fruta, nem me dei conta quando ela entrou.
– Muita fome? – parei com a maçã na boca encarando a minha mulher.
Ela estava linda! Cabelos perfeitamente penteados, um cheiro magnífico de mulher, banho e perfume. Ela era toda a minha fome, mastiguei com dificuldade e engoli praticamente sem conseguir.
– Muita – admiti sentindo meu rosto corar.
– Não enjoou hoje? – oh, merda! Aquilo era perigoso demais, Delphine não me perguntaria aquilo sem uma ideia fixa.
– Não – menti sabendo que meu rosto me entregaria. – Por que eu enjoaria?
– Porque isso acontece com uma rotina maior do que você percebe – fiquei visivelmente tensa.
Os olhos dela estavam fixos em mim e para o meu desespero, brilhavam. Delphine desconfiava, não havia dúvida.
– Bobagem, normalmente acordo tensa com este inferno todo que vivemos, sem contar com o nosso próprio inferno particular, então... – dei de ombros fingindo indiferença.
Não dava para deixa-la seguir em frente então o mais correto era leva-la para outro caminho, ela manteve os olhos em mim, mas mordeu os lábios e depois sorriu. Um sorriso lindo, daqueles de tirar o fôlego.
– Onde acho um desses? – ela apontou para a minha tigela, olhei sem acreditar. – Também estou com fome e você está saboreando tanto este...
– Cereais? – ergui uma sobrancelha achando aquilo tudo muito estranho.
– Isso, cereais – ela continuou sorrindo.
Ainda sem conseguir acreditar que Delphine Cormier sentaria ao meu lado para desfrutar de
cereais com leite logo pela manhã, levantei para pegar mais uma tigela, o mundo estava mudando e eu nem percebia. Voltei, derramei uma quantidade e acrescentei o leite gelado, depois coloquei ao meu lado indicando aonde ela deveria sentar e foi o que fez. Não tive condições de continuar comendo, apenas encarei aquela mulher incrível enquanto ela olhava para sua comida sem saber ao certo se deveria mesmo comê-la. Ela colocou a colher e levou uma pequena porção a boca, fez uma cara estranha, mas continuou mastigando e quando engoliu fez uma careta terrível. Eu ri sentindo toda a tensão se dissolver.
– Isso é horrível! Como você consegue? – rimos juntas. – Não acredito que este seja o seu desejo – e então ela parou me observando, minha boca secou.
– Não é desejo, é só... Precisava ser rápida, todo mundo me aguardava então... – deixei morrer. Eu queria, do fundo do meu íntimo, que ela não me olhasse daquela forma.
– Isso é muito ruim – desconversou voltando a rir. – Onde posso colocar?
– Tá legal! Coloque aqui – indiquei a minha própria tigela. – Não vamos desperdiçar comida – ela riu com vontade.
– Eca!
Eca? Delphine Cormier estava mesmo sentada à minha frente dizendo eca? Aquilo era tão jovem, tão relaxado, tão... Meu Deus, eu a amava tanto! Sorri calorosamente.
– O que vai querer, então?
– Ah, não sei – olhou para os lados fazendo um biquinho lindo.
– Tem suco, frutas e queijo na geladeira. Acho que consigo fatias de pão em algum armário por aqui.
– Pode ser – encostou os cotovelos na bancada e apoiou o queixo, me observando.
Achei o pão no primeiro armário que abri, peguei o restante e coloquei sobre o balcão. Cortei algumas fatias finas de queijo, umas rodelas de tomate e fiz um sanduíche, servi o suco junto e
só quando entreguei a ela que percebi seus olhos em minha mão. Merda! A aliança, ou a falta dela, acabei esquecendo de coloca-la quando Scott apareceu com a sua revelação bombástica.
– Como foi ontem com Shay? – mais uma vez tentei desconversar, ela levantou o corpo, deixando a coluna ereta.
– É sempre complicado com Shay, mas, pelo menos eu sei que ela continua acreditando.
– Que bom – ela me olhou com pesar, coloquei mais algumas colheradas na boca assistindo-a comer o sanduíche em silêncio. – E Miller? Alguma notícia?
– Não, Shay não demonstrou nenhum interesse no assunto quando a questionei sobre a demissão, disse apenas que não sabia o motivo do amante e que não o via desde que desembarcaram.
– Estranho.
– Muito estranho, Cosima. – concorda. – Não quero pensar em nada do que eu posso atribuir facilmente a Shay, mas a cada dia me convenço mais desta possibilidade.
– Sinistro.
– Vocês vão demorar muito ainda? – Paul entrou na cozinha com toda a sua força e o impacto foi profundo, eu me assustei e quase derrubei minha tigela. – Nossa! Algum segredo? Conversinha promiscua de casal? Que tipo de obscenidades vocês estavam falando? Ou fazendo? Cosima? – seus olhos ficaram imensos e seu rosto divertido enquanto o meu ficava cada vez mais vermelho.
– Dá um tempo, Paul! – Delphine o advertiu com um sorriso fraterno incrível. Ai meu Deus, tudo nela era incrível, tive vontade de rir.
– Estamos só aguardando as pombinhas, eu tenho coisas importantes para resolver, então, se não for atrapalhar, gostaria de eliminar logo esta parte.
– Ok! – levantei sob o olhar atento da minha esposa, ela enrugou a testa e estreitou os olhos. –
Algum problema? – olhei rapidamente para mim sem saber o que tinha de errado.
– Não. – nega. – Tudo bem, vamos logo.
No QG tudo fluía normalmente, as pessoas conversavam e discutiam o que acontecia relacionado ao nosso plano. Mika, Art, Alison, Rachel e Scott nos aguardavam sentados à mesa. Eu, Delphine e Paul nos juntamos ao grupo ocupando as cadeiras restantes. Vários fones de ouvido estavam espalhados pela mesa chamando a minha atenção.
– Ele ainda está em casa – Art informou. – Será ótimo porque vamos ter imagens de como ele reagirá a sua ligação – indicou a tela que ficava em uma parede no extremo da mesa.
Eu sabia que eles monitoravam a vida do Ferdinand, mas descobrir que tínhamos imagens de dentro da sua casa me deixava bastante constrangida. Alison era uma das protagonistas das suas loucuras, o que me levou a nossa conversa, ela tinha todas as provas. Mordi os lábios imaginando o que seria usado como tal.
– Você vai marcar com ele neste endereço – Scott me passou um papel contendo a informação em questão, olhei o local verificando que ficava bastante afastado do centro, aliás, ficava bem distante de tudo, em uma estrada quase fora da cidade. – Nós temos tudo sob controle, não se preocupe. Todos os quartos estão reservados para a nossa equipe, eu ficarei no ao lado do seu, junto com o Art, Delphine, Mika e mais algumas pessoas do nosso time. Estaremos preparados para tudo. Lembre-se que teremos a imagem e o áudio do que vai acontecer lá dentro.
– Ok! – senti meu sangue gelando com a proximidade do encontro. – Para quando eu combino?
– Amanhã pela manhã, vai ficar mais fácil acompanhar. – explica. – Marque no local, nós vamos durante a madrugada que é para não chamar atenção para a gente, Delphine vai chegar um pouco antes porque precisa manter Shay longe disso.
– Eu vou sozinha?
– Sim, se ele resolver verificar se é seguro realmente vai ter a confirmação sabendo tudo o que você está fazendo.
– Ok!
– Vamos puxar a sua linha agora, todos vamos escutar a conversa através dos fones – ele se voltou para os demais indicando. – Fizemos uma adaptação em seu microfone para tentar limpar o máximo possível do que acontece no ambiente, tecnicamente ele ouvirá apenas o que você disser, mas não podemos abusar, então vamos manter o silêncio. Qualquer coisa que queiram falar ou alertar a Cosima deve ser escrita nestes blocos e passado para ela – distribuiu blocos de papel e canetas simples, cada um pegou uma parte e aguardou.
Busquei pelo olhar de Delphine, ela estava tão tensa quanto eu, mas segurou em minha mão e apertou me passando força. Nos encaramos por um tempo até que finalmente me senti segura, peguei o celular e aguardei pelo aval de Scott. Ele sinalizou com a cabeça e fez um gesto com a mão para que todos ficassem atentos, disquei o número ouvindo o primeiro toque. Engoli em seco enquanto ouvia o som se repetindo e então ele atendeu.
– Cosima? – havia algo debochado e doentio em sua voz, minha pele arrepiou e eu senti nojo.
– Oi, Ferdinand – tive que pigarrear para ajustar a voz, eu estava em pânico. Olhei para a tela e o vi parado em frente à porta de saída, todos encaravam a imagem atentamente.
– Pensei que você disse que nos encontraríamos quando voltasse – virou desistindo de sair e caminhou para uma sala ampla e muito bem arrumada, onde sentou sem nenhuma classe no sofá.
– Sim – ele riu e passou uma mão no meio das pernas, o que me deixou bastante desconfortável.
– Você chegou ontem – fiquei sem voz, Ferdinand estava ansioso demais e eu bem sabia o que ele pretendia. – Cosima? – ele se ajeitou no sofá prestando mais atenção a nossa conversa.
– Sim? – foi o que consegui falar, Delphine apertou minha mão que estava na sua, ela estava ainda mais tensa. Respirei fundo. – Eu tive alguns problemas.
– Eu sei, devolveu as ações, foi demitida. Shay não brinca no ponto – ele sabia.
Merda! Olhei para Scott e ele balançou a cabeça concordando, como se quisesse me dizer que continuava no controle. Seus olhos voltaram para a tela.
– Isso, Shay está tentando me destruir então tive que recuar – mais uma vez ele se recostou no sofá, sua atitude era tão doentia que eu desviei o olhar. Ferdinand se alisou, como um verdadeiro tarado.
– Devo entender que o que eu tenho para revelar passou a ter um valor ainda maior?
– Ferdinand, nós não discutimos ainda o que você quer em troca.
– Esteja hoje em meu apartamento que eu digo exatamente o que quero – Scott negou com a cabeça, não tive coragem de olhar para a imagem e saber o que aquele doente fazia, mas a mão de Delphine apertou a minha com força.
– Hoje eu não posso, vamos combinar amanhã e em um lugar neutro – ele riu. – Ouça, eu estou tendo problemas com Scott.
– Ah sim, o marido. Como foi a reação dele tão perto de Delphine?
– Foi... – olhei para Scott e ele mandou eu prosseguir me passando um papel escrito divórcio. – Péssima, as coisas não estão boas entre a gente – Ele riu com vontade.
– Eu queria estar nesta viagem, Cosima, ver a cara da idiota da Delphine com a amante gostosa e a cara do idiota do seu marido frente a frente com a sua amante.
– Ex-amante! – falei com raiva e olhei a tela, Ferdinand sorriu amplamente.
– Ex-amante – concordou. – Cormier surtaria se descobrisse que mais alguém colocou as mãos em você, não é?
– Isso não vem ao caso, o que Cormier acha ou não, não me interessa.
– Ela te descartou na primeira oportunidade. Eu não disse? Bastou Shay apertar um pouco
mais e Delphine mandou te demitir, como se você não tivesse nenhum valor profissional para a empresa – fechei os olhos e estremeci, mais uma vez senti sua mão apertando a minha.
– E eu vou dar a ela o que merece, mas para isso preciso da sua ajuda – forcei a voz para fora o que me ajudou muito, pois foi impossível conter a raiva que eu sentia.
– Se você for uma boa menina eu entregarei o pote de ouro em suas mãos, basta apenas que me deixe satisfeito.
Foi a minha vez de apertar a mão de Delphine, minha ânsia de vômito quase me fez desistir de tudo. Minha pele ficou fria e minhas mãos suadas, não me permiti pensar no que ele falava. Era doentio demais, sujo demais.
– Cosima?
Abri os olhos e encarei a tela, Ferdinand estava com a mão dentro das calças, alisando o membro e fazendo cara de quem sentia prazer. Respirei fundo desviando o olhar, mas observei Delphine que estava atenta e o maxilar tão rígido que imaginei o quanto aquilo tudo a enfurecia. Se ela pudesse colocar as mãos em Ferdinand naquele momento com certeza o mataria, eu precisava acabar logo com a situação.
– Estou aqui.
– E então?
– Eu quero esta informação, Ferdinand e vou fazer de tudo para tê-la.
– Que bom.
– Vou passar o local e horário por mensagem.
– Aguardarei, mas será amanhã, não aceito mais adiar este encontro.
– Não adiarei – rebati. – Estou ansiosa por esta informação.
Desliguei antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, a imagem continuou na tela, Ferdinand manipulando o próprio membro por dentro da calça, encarando o telefone como se ele fosse um objeto de desejo. Era nojento, Paul foi o primeiro a falar.
– O cara é muito doente! – sua voz rouca estava repleta de raiva.
Olhei para Alison que permanecia calada sem olhar para a imagem de Ferdinand se masturbando, todos na sala ainda precisavam acompanhar as reações dele. Era necessário saber se ele envolveria Shay naquilo, se tentaria armar alguma coisa ou até mesmo se o seu objetivo era apenas me fazer acreditar que tinha algo para dizer e com isso conseguir me atrair para realizar as suas fantasias. Por isso Scott continuava com os fones, ouvindo cada detalhe que ele dizia. Sim, Ferdinand se masturbava e falava algumas coisas que não fiz questão de escutar, mas que tive certeza que estava diretamente relacionado a mim, pois Delphine quase quebrou meus dedos enquanto ouvia.
– Delphine? – ela se sobressaltou quando toquei seu braço.
Neguei com a cabeça, um pedido mudo para que ela não seguisse por aquele caminho. Ela passou as mãos nos cabelos, estas tremiam.
– Cosima? – encarei seu sofrimento e senti medo. – Quando você sair daquele quarto eu vou matar Ferdinand Chevalier!
Puta merda!
***
– Você ainda pode desistir.
Delphine estava encostada na janela do meu quarto, a cabeça baixa indicava o quanto ela não gostava da situação. Algumas vezes nossos olhos se encontravam, ela me avaliava e depois voltava a baixa-los.
– Eu não vou desistir, vou até o final – devo confessar que o meu corpo tenso implorava por
algum momento de alívio.
Naqueles últimos minutos eu entendia o que Delphine afirmou sobre o sexo ser a solução para muitos problemas, assim eu a queria em meus braços, simplesmente para me fazer esquecer de todos os meus. No entanto eu sabia que as últimas imagens de Ferdinand eram péssimas e que não nos abandonariam tão cedo, por isso eu nada teria da minha mulher naquele dia. Mesmo assim, tê-la um pouco comigo me ajudaria a modificar os pensamentos.
– É só fazê-lo acreditar que terá o que quer e depois deixar por nossa conta – ela repetiu pela milésima vez naqueles últimos quinze minutos, suspirei pesadamente. – Você viu o que ele fez! – disse com raiva.
– Delphine... – tomei coragem e dei um passo em sua direção. – Ele é doente e nós vamos pegá-lo, amanhã conseguiremos saber onde aquelas malditas provas estão e vamos dar um basta neste inferno. Ferdinand e Shay terão o que merecem! – ela piscou e de repente olhou no relógio se dando conta do tempo.
– Merda! Eu estou atrasada, preciso ir.
– Não! – quase gritei em desespero. – Não vá! – implorei, ela me olhou com atenção, seus olhos estavam confusos.
– Eu tenho duas reuniões importantes, Cosima, amanhã teremos um dia cheio e não dá para adiar mais nada.
– Eu não quero que você vá! – minha voz ficou mais firme e exigente.
– Só que nem tudo pode ser como você quer!
Tenho certeza que a sua intensão era ser mais dura, incisiva, contudo, estranhamente, Delphine não me intimidava mais. Não porque eu não a temia, mas porque ela não se dava ao trabalho. Estreitei os olhos sentindo-me realmente ofendida.
– Mas hoje será – encarei minha mulher e vi seu meio sorriso incrível aparecer em seus lábios. Delphine era confusa, uma hora fervia de raiva e outra... Bom, em outra ela era apenas um bichinho acuado.
– Você quer minha presença mesmo tendo Scott?
– Sabe, Cormier, as vezes eu esqueço que aquela empresa é o seu lugar preferido. Que... – ela me calou colocando um dedo em meus lábios.
– Você é o meu lugar preferido!
Eu não devia, era demasiadamente desnecessário, afinal de contas quem estava ali a minha frente era a minha mulher e não uma desconhecida galanteadora que jogava todo o seu charme para me conquistar. Era Delphine, mesmo assim, eu corei consideravelmente e sorri como uma adolescente inexperiente e ansiosa pelo seu primeiro beijo.
– Então fique! – avancei colocando minha mão em seu pescoço.
– Cosima, ouça! Eu não tenho condições de nada hoje. Eu... – passou as mãos pelos cabelos bagunçando tudo e me deixando boquiaberta. – Ferdinand com toda a sua loucura tirou o meu chão, estou com tanta raiva que tenho medo de explodir da forma errada e com a pessoa errada, entende? – passou os dedos em meu rosto.
Fechei os olhos percebendo o quanto sentia falta dos seus toques. Sinceramente? Eu também não desejava sexo, não mais. Delphine tinha razão, as imagens dele haviam destruído a minha ideia de relação sexual naquela noite, eu desejava apenas um pouco mais da minha mulher. Ter a certeza de que meu mundo voltaria para o seu eixo e que aquele inferno teria mesmo um fim. Aquela conversa com Ferdinand também havia me tirado o chão, eu estava com medo, muito medo. Não sabia até que ponto estaria mesmo segura com ele e o que poderia acontecer até que Scott conseguisse interceder. Então, naquele momento, eu queria apenas estar ao lado de Delphine e deixar que meu coração voltasse a se sentir seguro.
– O mundo não se resume a sexo, Del! – ela voltou a sorrir, daquele jeito torto que lhe deixava ainda mais bonita.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.