— Se você sente tanto sono, deveria ir dormir na sua casa.
— Não foi você que disse que sentiu saudade de mim? — Franzi a sobrancelha e Hinata corou, virando-se de costas imediatamente.
— Você bebe quase todos os dias e dorme tarde demais.
— Você é que dorme cedo.
— Eu trabalho. Eu gosto de meditar de manhã, também. E é um ótimo horário para ler livros.
— É que o meu estilo de vida é rock and roll. — Ele riu.
— Eu não gosto do estilo rock and roll de viver.
— Bem, e eu não gosto de viver sóbrio nessa cidade.
— Por que não volta pra Tóquio, então? — A resposta era simples: você. Agora que tinha voltado, não queria ficar distante nem por um segundo de Hinata e aquilo era torturante. Eu nunca me dei conta de que era tão apaixonado e esse sentimento nunca se aflorou dentro de mim de uma forma tão forte quanto agora. Justo agora, que ele estava namorando. Maldita lerdeza dos infernos!
— Você quer que eu volte? — Perguntei em tom de brincadeira, mas o encarei intensamente. Eu queria que ele me respondesse. Shouyou, no entanto, só deu de ombros.
— O que você fica fazendo pra ir dormir tão tarde?
— Tocando guitarra. — A verdade é que nem eu sabia direito. O tempo simplesmente passava e quando eu percebia já era quatro da manhã. Eu não me lembro quando deixei o tempo fluir tão naturalmente e quando esqueci que ele existia. Não sei, a madrugada para mim era outra dimensão.
Ele saiu do balcão e se sentou ao meu lado. Um raio de sol entrava pela porta de vidro que rangia e esquentava parte da minha coxa coberta pela calça negra. Já na cadeira, ele esticou os pés de tênis amarelos até encontrar o sol. Suspirou e fechou os olhos. Hinata ficou ali, pensando em mil coisas, e eu fiquei ao seu lado, pensando nele.
— Quer sair?
— Você não tem que trabalhar?
— É quarta. Dez da manhã. Ninguém vai vir em um sebo agora, eu acho.
— Eles vão vir se sairmos. Lei de Murphy. — Hinata riu de um jeito infantil e animado. Dei de ombros.
Quando percebi, nós estávamos descalços na orla da praia. Ventava. Era fim de outono, a minha estação favorita porque me lembrava dos cabelos de Hinata. Abracei o meu próprio corpo, não era muito resistente ao frio e ao vento, e me distanciei da água. Shouyou correu até mim e nós começamos a caminhar lado a lado na beirada.
— O mar certamente tem muitas memórias.
— Você também. — Comentei casualmente olhando para o horizonte. Imenso, cara, imenso. Ainda me surpreendia com isso. Aquele mesmo mar que matou o meu pai e fez minha mãe sofrer. Ainda sim, não dava para odiá-lo. Imenso… — Todos nós.
— A resposta é não. Não quero que você vá embora. — Eu o encarei. Os cabelos arrepiados balançavam e balançavam, seu rosto sorridente estava uma bagunça. Meu coração se apertou.
— Eu gosto de ficar o máximo de tempo que eu posso junto com você. É por isso que eu acordo todos os dias cedo, mesmo que eu fique dormindo no balcão.
Ele riu. Novamente, a risada infantil que eu adorava. Me lembrava da infância e de quando eu não era tão bagunçado como os cabelos ruivos de Hinata.
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