Sentia sua respiração contra minha nuca e seu braço por cima da minha cintura. Lógico que é a presença dele. Também senti algo pequeno e macio passando no meu rosto, parecia uma pequena mãozinha. Abri um olho e a vi agachada na minha frente, me encarando com os olhos marejados.
Ah, era apenas a Nashi.
Fechei o olho e ficha caiu na mesma hora: era minha filha. Sentei rapidamente, senti uma leve tontura pela ação rápida, e sorri nervosamente para ela, que parecia tentar entender o que estava acontecendo. Olhei para meu corpo e dei graças a Deus por ter colocado a camisola ontem antes de cair no sono. Olhei para ele e percebi que também estava vestido, apenas sem camisa. Suspirei aliviada.
— Bom dia, meu amor. – disse.
— Mamãe, 'po que você 'tá 'dumindo no chão?
— Ah… Ontem eu 'tava tão cansada e acho que dormi sem perceber.
— E 'po que o 'Nashu 'tá 'dumindo com você no chão?
Ela o chamou pelo nome.
— A-Ah, ele caiu do sofá e não acordou.
— V-Você não quer mais 'dumi comigo? – falou fazendo biquinho e fungou.
— Claro que eu quero dormir com você. Eu amo dormir junto.
— 'Juia? – passou o dorso da mão nos olhos.
— Juro! Vem aqui.
Ela me deu um abraço e apoiou a cabeça em meu ombro.
— Eu 'tava te 'pocuiando na cama. – falou descendo o rosto até meu seio e pôs a mão no outro.
— Pode tirar a cabeça daí, você não mama mais.
— Eu não 'queio 'mama.
Alguém estava carente e a culpa era minha. Droga, como eu pude dormir aqui?
— Natsu, acorda. – o sacudi. Não entendia como ele conseguia dormir assim. — Natsu! – dei um tapa no seu braço e ele acordou no susto. — Levanta, você precisa se preparar 'pro trabalho.
— Bom dia 'pra você também, Lucy. – falou sentando e eu revirei os olhos. — Oi, filha. Dormiu bem?
— Não… – aconchegou-se mais.
Ele olhou para mim e eu neguei. Pedi para ela descer do meu colo e levantei. A peguei novamente e ela deitou a cabeça no meu ombro.
— Natsu, faz café, por favor? – assentiu.
Entrei no quarto, a pus na cama e deitei de frente para ela. Passei o braço em volta do corpinho e a aproximei mais de mim.
— Eu não 'queio 'dumi.
— Nem eu, mas quero ficar agarradinha com você, posso?
— 'Xim. – colocou o bracinho em volta do meu pescoço e apertou.
Ficamos assim e ela acabou dormindo novamente. Não muito depois, Natsu entrou no quarto.
— O café 'tá pronto. Eu já vou, senão me atraso. – sussurrou.
— Já comeu?
— Sim. Não fiz nada 'pra vocês, porque não sabia se comeriam agora. O que houve?
— Ciúmes. Ela acha que eu não quero mais dormir com ela e por isso passei a noite no chão da sala.
— Ela acha que você prefere dormir comigo?
— Não, ela acha que eu prefiro dormir no chão. Você 'tava ao meu lado porque caiu do sofá. – segurei a risada e ele também.
Continuei com o cafuné.
— Espero que ela não fique estranha comigo de novo. Bom, eu já vou. – saiu do quarto, mas logo retornou e sentou na cama. — Eu não pensei que teríamos a manhã tão corrida. Depois de ontem à noite, eu queria que fosse uma manhã mais romântica, mas… – continuou baixinho e eu sorri. — Senti muitas saudades de você, Lucy e a noite passada foi muito especial 'pra mim. – passou a mão em meu rosto. — Como se fosse nossa primeira vez, de novo. Eu te amava naquela época e te amo agora. – me deu um longo selinho e saiu, sem me dar a chance de dizer algo, mas nem precisava, aquele choro deixou tudo claro.
Queria poder ficar na cama para tirar toda a sua insegurança, mas não podia. Será necessário sair mais cedo de casa. Levantei devagar e entrei no banheiro. Fiz minha higiene, voltei ao quarto e peguei a roupa. Depois de arrumada, fui à cozinha e comi. Terminei e preparei sua refeição, logo teria de acordá-la. Sentei na cama e passei os dedos por seu fios, com jeito para não puxar nada. Os olhinhos mexeram e abriram lentamente. Quando estava desperta, ela engatinhou até meu colo. Levantei e a ajudei com a higiene matinal. Depois da refeição feita e roupa vestida, saímos. Andamos tranquilamente até o ponto de ônibus. Ela tinha um lindo sorriso nos lábios e o motivo? Fiz novamente uma trança igual a dela e também usava uma blusa da mesma cor, rosa. Descemos do ônibus e nossa primeira parada era num lugar diferente do habitual. Passamos pela loja e pude ver uma expressão confusa surgindo no seu rosto.
— Mamãe, 'passo do 'tabaio.
— Eu sei, mas primeiro tenho que ir num lugar e depois a gente vai trabalhar.
— Que 'iugar?
— Aqui. – entramos na farmácia. — Não mexe em nada.
— Mamãe 'tá dodói de novo?
— Não, só vou comprar um remédio 'pra não ficar dodói depois.
Andei até o balcão vazio e esperei uma das poucas pessoas que não falava mal de mim.
— Bom dia, em que posso ajudá-la? – viu? Sempre cordial e educada.
— Bom dia, eu quero uma pílula do dia seguinte.
— Você sabe que não é 100% eficaz, né? Conhece as contra indicações e efeitos colaterais?
— Sim, sei tudo isso. – ela registrou o produto e eu paguei.
Saí da farmácia e fui direto para a loja. Ainda tinha uns bons 20 minutos antes de abrir e isso era tempo suficiente para tomar a pílula. Abri a mochila, tirei os brinquedos e o lençol de dentro. A menina foi para trás do balcão e eu à copa pegar água. Tomei o comprimido e rezei para que ele funcionasse. Tinha menos de 24 horas, então minhas chances eram maiores. Não podia engravidar, não depois de passar por tantos transtornos e dificuldades.
Enquanto esperava a hora de abrir, pensava nos últimos acontecimentos. Já que nossa relação evoluiu, era melhor procurar minha ginecologista e pedir anticoncepcional. Enquanto não volto com o remédio, o ideal era ter camisinhas na casa, mas eu não podia comprar com a menina por perto, então será responsabilidade dele.
Graças a Deus o dia passou rápido, porque eu não aguentava mais as náuseas e dores de cabeça. Com certeza eran os efeitos colaterais do remédio, fazer o quê? Fechei as portas e caminhamos até o ponto de ônibus, por sorte ele não demorou.
Entramos no apartamento e ela pegou a mochila da minha mão, arrastando até o quarto. Sentei no sofá e pensei que eu não estava em condições de cozinhar, me sentia tão cansada.
— Nashi, o que acha de comer pizza?
— 'Picha? Eu 'queio.
Peguei o celular e fiz o pedido. Enquanto a pizza não chegava, troquei nossas roupas por outras mais confortáveis. A campainha soou e eu peguei o dinheiro, mas ao abrir a porta, não era a pizza.
— Oh, Natsu?
— Oi… Posso entrar?
— Ué, pode. – dei espaço e ele entrou.
Antes de fechar a porta, vi o entregador. Paguei, peguei o troco e a pizza. Fechei a porta e Natsu estava acomodado no sofá.
— Já 'iavei as m… Oh! – parou de falar. — Papai. – correu e o abraçou.
Ele a pegou no colo e deu um beijinho na bochecha gordinha. Tudo tinha voltado ao normal.
— Senta e vamos comer.
Ela andou até seu lugarzinho próximo a mesinha e esperou. Levei a caixa à cozinha e servi alguns pedaços no pratinho de plástico.
— Você quer pizza? – perguntei.
— Não, eu quero conversar. – olhou a menina. — A sós.
Nossa, quanta seriedade. Será que ele se arrependeu? Não, não.
— 'Tá. Eu vou comer primeiro, tudo bem? – assentiu.
Me servi e sentei no sofá, observando o quão estranho ele estava. Terminei de comer e fomos conversar no quarto. Não fechei a porta, apenas deixei encostada.
— Então, o que foi? – perguntei.
— Mais cedo eu soube que minha mãe desmaiou e quando cheguei do trabalho, não aguentei e fui vê-la. Foi apenas um mal estar, nada grave. Vim direto 'pra cá, me senti tão mal por ter passado esse tempo com ela. – suspirou ao terminar.
— É isso? Você 'tava tão sério que eu achei que fosse me dizer que se arrependeu da noite.
— O quê?! De onde você tirou isso?
— Não importa. Por que você se sentiu assim? Ela foi má?
— Não, ela não disse nada sobre você ou Nashi, o que é estranho, depois de tudo o que houve. Na verdade, parecia até aquela Grandine de outros tempos.
— Não 'tô entendendo. Então por que você se sente mal?
— Por ter estado lá e passado um bom momento junto com ela, mesmo depois de tudo o que aconteceu. Senti como se tivesse te traindo.
Eu ri.
— Que besteira. Olha, eu não considero traição, então pode ficar tranquilo. Sua mãe passou mal e você foi vê-la, só isso. Se fosse ao contrário, eu também iria. – dei de ombros.
— É diferente…
— Você deu corda quando ela falou mal de mim ou da Nashi? – negou. — Então. Você nos defendeu e eu agradeço. Aliás, se eu soubesse que sua mãe passou mal e você não foi vê-la por minha causa, eu teria ficado chateada. Essa visita deve ter feito muito bem a ela. Sabe, apesar dela ter agido de forma horrível, o amor que ela sente por você é inegável. As atitudes da sua mãe foram, e são, confusas e questionáveis, mas eu sou grata a ela.
— Grata por quê?
— Hum…? – droga, falei demais.
— Eu perguntei ao que você é grata?
— Por ela ter tido você.
Desculpa pela mentira, Natsu.
— Nossa, que brega, Lucy. – disse rindo. — O que seria de mim sem você? – me deu um selinho.
— Provavelmente nada.
— Nenhum pouco convencida.
— Apenas realista. – ri e o beijei.
Subiu a mão pela minha coxa e eu a segurei.
— Nada disso. Tem gente vindo 'pra cá. – mal terminei de falar e Nashi abriu a porta.
— 'Queio mais 'picha!
— Eu também quero. – eu disse.
— Vamos ter que pedir outra, porque eu também quero. – ele riu alto.
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