Nashi ainda suspirava e fungava. Lucy é tão má. Como ela teve coragem de fazer aquilo com uma criança?
— Papai, você sabia que meu 'anivesáio é no Natal?
— Eu sei.
— E o Natal 'tá chegando.
— Você sabe quando é?
— 'Xim! Mamãe me disse. É dia 25 de 'dezembo. É o dia do 'anivesáio do Jesus também.
— É verdade.
— O 'anivesáio da mamãe é antes. Eu 'dumo no 'deia e aí 'acodo no meu. – soltou uma risadinha. — Você sabia disso?
— Sim.
— Você vai 'vim no meu 'anivesáio? – seus olhos estavam cheios de expectativas.
— Claro que sim! Não perderei por nada! – ela abriu um sorriso enorme.
— E no 'anivesáio da mamãe?
— Também.
— Obaaaa! 'Eia vai 'fica muito 'feiz! Você vai dá 'pesente?
— É segredo. – fez bico.
Ai meu Deus, que fofura.
— Eu 'sempe dou 'pesente 'pa mamãe.
— Qual presente você dá?
— É 'segedo. – soltou uma risadinha.
Vou morrer com toda essa fofura.
— Esse ano seremos nós três. – assentiu novamente, mas então negou.
— Você deve 'enconta o tio. – colocou a almofada no colo. — 'Eie deve 'vim dá o 'pesente 'deia e meu.
— Gray?
— Não, um 'outo tio. Como é o nome 'deie? É difícil. Hum… – pôs o dedo no queixo e olhou para cima. — Eu esqueci, mas 'eie veio e deu um 'pesente 'pa mamãe e um 'pa mim. 'Eia ficou tão 'feiz e 'abaçou 'eie assim. – abraçou forte a almofada e começou a rir. — E 'eia caiu em cima 'deie.
Oh, porra.
— Como caiu?
— Caindo, né, papai? – ela levantou com a almofada. — 'Eia 'abaçou assim e 'eie caiu 'pa 'tás. – se jogou e riu. — Mamãe caiu em cima 'deie.
— E o que mais?
— Hum… Depois 'eies 'ievantaiam 'indo e 'eia deu um beijo na bochecha 'deie e 'eie deu um beijo na testa 'deia. Foi tão 'engaçado! – não parava de rir.
Eu não estou vendo graça nenhuma. Quem era esse cara?
— Verdade, muito engraçado.
Ela cansou de conversar e pegou alguns brinquedos para brincar e enquanto isso, eu continuava remoendo o que ouvi. Quem era esse cara? Se ele caiu para trás, tenho duas opções: o homem é fraco ou Lucy se jogou com tudo nele. A segunda me desagrada tanto. Uma coisa que eu sei é que se ela o recebeu em casa, o abraçou e beijou na frente de Nashi, ele é especial de alguma forma. Quem era esse cara?
A tarde estava passando tranquilamente e eu evitei ao máximo pensar sobre o que Nashi me contou. Meu celular tocou e era Lucy avisando que estava chegando.
— Nashi?
— O quê?
— Vamos à pracinha? Eu quero tomar sorvete.
— 'XIIM! – começou a pular.
A ajudei no banheiro, troquei sua roupa e peguei alguns brinquedos.
Ao chegarmos lá, não estava tão cheio quanto imaginei. Nashi saiu correndo e subiu no escorrega. Ela ficou brincando ali e eu apenas observando. Vi quando a menina sorriu e acenou, olhei o destino e era aquele menino. Minha pequena escorregou e correu até ele. Eles eram só sorrisos um para o outro.
Aproximei-me e o menino assustou-se quando parei atrás dela.
— Quem é esse, Nashi? É seu amiguinho?
— 'Xim! – ela envolveu o braço na cintura do moleque. Acho que meu coração até parou. — O nome 'deie é 'Iomeu.
— Romeu? – assentiu. — Oi.
— O-Olá, tio. – o garoto estava tão corado e não parava de olhar em volta. — A tia Lushi não veio? – brincou com a barra da camisa.
— Não, mamãe foi ao 'mecado.
— Ah… – desanimou na hora.
O que é isso?
— Você 'queia 'faia com 'eia? – Nashi perguntou.
— Meu papai 'queiia.
— Seu papai pode 'faia com o meu papai.
Ele cruzou os braços e fez bico.
— Acho que é só com a tia Lushi. Eu ouvi 'eie 'faia que 'eia é 'iegal, bonita e gosta muiiiiiito de 'faia com 'eia. Papai até disse que ia se 'aiuma mais 'cando a gente viesse aqui.
Hum… Que merda, hein. Eu não tenho um minuto de paz.
— Mamãe é 'iegal mesmo! E bonita também!
— 'Eia é mesmo! Eu 'queia que 'eia fosse 'miia mamãe. – sorriu.
Que pegadinha é essa?
— Não pode! 'Miia mamãe é só 'miia! Você tem que 'tê a sua mamãe.
— Eu não 'teio mamãe.
— Ah… Hum… 'Agoia não sei. – cruzou os braços.
— ROMEU, VAMOS! – um homem o chamou.
— JÁ VOU, PAPAI! 'Chau, Nashi. 'Chau, tio. – se abraçaram e meu coração pulou uma batida, que ousadia desse moleque.
Olhei novamente para o pai de Romeu. Francamente, um homem daquela idade e ainda arrastando asa para Lucy. Esses velhos…
— Nashi, v… – olhei para baixo e ela não estava mais ali.
Me virei rapidamente e vi que Nashi estava brincando… na lama. Ontem choveu e o que mais tem aqui agora são poças. Fiquei aliviado por ela estar ali, mas desesperado pela sujeira. Com tantos brinquedos, ela tinha que brincar na lama?
— Nashi, não saia mais de perto de mim, ok?! – assentiu. — Você vai brincar aí?
— Papai, você 'qué 'faze 'casteiio de 'iama comigo?
— Castelinho de lama? – assentiu. — Minha mão 'tá doendo. – desanimou, mas logo sorriu. — Vou sentar ali no banco e te ver. Sei que será um castelo muito bonito. – assentiu sorrindo.
Nashi que me desculpe, mas não quero brincar na lama e me sujar.
Olhei em volta e havia uma menina parada perto dos balanços. Aquela garotinha me chamou atenção, pois parecia estar sozinha e ela me era familiar.
— Papai! – correu até mim. — 'Oia, fiz 'boio de 'chocoiate. – sorriu e me mostrou uma bolinho de lama.
— Nossa, você tem talento e parece muito gostoso. – assentiu e voltou ao lugar anterior.
Meu Pai, Nashi está toda suja, até na testa tem lama. Suspirei ao imaginar o trabalho que terei para tirar essa sujeira de seu cabelo.
Voltei minha atenção a outra menina e eu vi que tinha razão, ela estava sozinha. A garotinha parecia ter uns 4 ou 5 anos. Levantei e aproximei-me dela.
— Oi.
— Oi.
— Você 'tá sozinha? – assentiu. — Cadê seus pais?
— E-Eu não sei. – fungou. – Me 'pedi da mamãe.
Baguncei seus fios brancos e pensei um pouco.
— Quer brincar no balanço? Eu te empurro e daqui a pouco seus pais estarão aqui. – ela me olhou e assentiu. Olhei para trás e Nashi nos olhava, sorri. — Qual é seu nome, princesa?
— Angel.
— Anjo? – sorriu e assentiu. — Uma princesa e também um anjo. Que fofo. – corou.
Senti um leve impacto na perna e quando olhei, era Nashi a abraçando.
Angel sentou no balanço e eu a empurrei.
— Oh, Nashi. Terminou o castelo?
— 'Xim. – me encarou. — Eu 'queio 'coio.
— Agora? – assentiu. — Mas você não 'tava brincando? – novamente.
— 'Xim, mas 'agoia eu 'queio 'coio.
Ela segurou minha mão livre e tentou me puxar. Eu não queria me sujar de lama e agora estou sujo. Continuava empurrando Angel de vez em quando, enquanto Nashi puxava minha mão.
— O que foi?
— 'Binca comigo na 'iama.
— Mas você não terminou?
— Não, eu 'queio 'binca 'iá com você. – seus olhos encheram e eu não entendi nada. — 'Q-Queio 'faze 'boio junto.
— ANGEL!
— MAMÃE!
Segurei o balanço, a menina desceu e correu até a mulher. Agora está explicado o porquê de eu achar a menina tão familiar. É filha de uma ex-namorada minha, Lisanna. Ela aproximou-se e sorriu.
— Natsu! Muito tempo que não te vejo. – disse sorrindo. — Tudo bem? – assenti. — Muito obrigada! Essa menina ainda vai me deixar sem cabelos. – riu.
— Eu 'tô ótimo e você? Sei bem como são essas meninas! – ri. — E não precisa agradecer.
Conversamos um pouquinho e ela se foi. Angel ficou acenando durante um bom tempo e eu acenava de volta.
Me virei sorridente para Nashi e ela tinha um bico enorme nos lábios. Me deu as costas e seguiu para onde brincava antes, mas parou no meio do caminho. Abaixou e abraçou os joelhos. Aproximei-me vi que a menina chorava.
— O que foi?
— M-Meu 'casteiio caiu! – apontou e não havia nada ali.
— Pox…
— Eu 'queio 'i 'emboia! – começou a chorar alto. — E-Eu 'queio 'miia mamãe!
Fui pego de surpresa por esse pedido.
— Quer tomar um sorvete? – fungou e negou. — Nem de chocolate? – fungou e assentiu.
Tomamos o sorvete, mas mesmo assim, Nashi continuou emburrada e pedindo por Lucy. Poxa, esse castelinho era realmente importante para ela.
Voltamos ao apartamento e a loira ainda não havia chegado. Que estranho, ela disse que estava próxima e por isso mesmo saí. Será que está tudo bem?
— Mamãe ainda não voltou do 'mecado? – assenti. — 'iga 'pa 'eia. – fingi ligar e disse que não atendeu. — 'Queio 'toma 'baio.
Foi difícil tirar toda aquela lama do cabelo, mas depois de uma luta, consegui. A sequei, vesti e penteei seus fios.
— Quer ver desenho?
— Não, eu vou 'domi na cama. – simplesmente disse e entrou no quarto.
Que coisa estranha.
Depois de alguns minutos, entrei no cômodo e ela estava mesmo dormindo.
Assistia televisão quando ouvi o barulho da porta. Lucy entrou e passou direto para a cozinha, colocando as bolsas nos armários.
— Cadê minha filha? – perguntou.
— Dormindo.
— A tarde deve ter sido agitada. – disse rindo e assenti.
— Você disse que 'tava chegando. Fiquei preocupado. – falei.
— Eu fui à farmácia do outro lado e por isso demorei.
Sentou ao meu lado e eu segurei seu rosto, nariz e olhos vermelhos.
— Você chorou?
— Não.
— Do outro lado… Encontrou meus pais?
Ela abriu a boca para falar, mas foi interrompida.
— Mamãe... – Nashi veio arrastando os pés e coçando os olhinhos.
Lucy pegou a menina e a trouxe para seu colo. Nashi me olhou, fez bico e desviou o olhar, apertando mais o abraço na mãe. Ué?
— E como foi na praça, filha?
— 'Iegal… – ué?
— Aconteceu alguma coisa?
— Não… – ué?
Lucy me olhou interrogativa e eu dei de ombros, realmente não estava entendendo aquela atitude. Duas coisas para me preocupar: Lucy chorando e Nashi estranha.
— Já que 'tá tudo certo, vou tomar banho. – ela sabia que não estava certo.
Sentou a menina no sofá e levantou, indo em direção ao banheiro. Luce está muito enganada se pensa que vou esquecer desse assunto que foi interrompido.
— Você 'tá com fome? – perguntei.
— Não…
Ainda não sei lidar com Nashi quando ela fica assim. É bem filha da Lucy mesmo, se fecha e eu preciso adivinhar o que aconteceu.
O silêncio tomou conta do local e não importava o que eu falasse, ela era monossilábica nas respostas. Depois de alguns minutos, a menina me olhou e desceu do sofá, indo em direção ao banheiro. Esperei um tempinho e fui atrás. Precisava descobrir o que estava acontecendo e obviamente, ouvi escondido. Elas estavam no quarto e para minha sorte, a porta estava entreaberta.
—… e então 'eie disse que a mão 'deie 'tava machucada e não podia 'binca comigo, mas aí 'eie foi 'iá e 'bincou com 'eia.
É sobre isso?
— Ele não brincou com você?
— Não.
— Vai ver que a mão dele 'tava doendo muito.
— A mão 'deie não 'tava doendo 'pa 'binca com 'eia.
Ah, que burro. Eu nem me liguei na hora.
— Vai ver que melhorou.
— E 'eie ainda chamou 'eia de "'pincesa" e "anjo". Eu ouvi!
— Tem certeza?
— 'Xim! Cheguei 'peto e ouvi. E depois 'eie me chamou de "Nashi". Só 'eia é "'pincesa" e "anjo"… 'Aqueia boba! Boba!
Oh, é a primeira vez que a vejo se referir assim a alguém.
— Quem era?
— A Angel! – afinou a voz.
Eu quase ri.
— Agora 'tá explicado.
O que está explicado?
— Mamãe, 'po que eu não sou mais uma 'pincesa?
— Claro que você é uma princesa. A mais linda desse universo. – a menina riu.
— Aí a mamãe 'deia chegou e 'eie nem 'igou mais 'pa mim. Ficou muito tempo 'faiando com 'eia e nem me 'oiou.
— Não te olhou e ficou conversando?
Por favor, filha.
— 'Xim!
Poxa, filha.
— Huum… A mãe dela, é? Huuum…
— Aí meu 'casteiio caiu. – parecia chateada.
— Quando a gente for lá, eu vou te ajudar a fazer um castelo bem grande. Então não fica assim.
— 'Tá!
— E bolo de chocolate.
— Obaa! Eu fiz 'boio, mas o papai não 'igou. – fungou. — 'Eie nem pegou.
— É porque seu pai ainda precisa aprender algumas coisinhas.
Voltei ao outro cômodo e esperei até elas aparecerem. Lucy me olhou e soltou uma risadinha. Nashi subiu no sofá e mexeu os pezinhos.
— Quer assistir desenho, princesa? – ela virou a cabeça tão rápido, fiquei com medo dela quebrar o pescoço. — O quê?
— Nada… – disse sorrindo. — Eu 'queio 'vê 'deseio, 'Nashu.
Olhei desesperado para Lucy e ela deu de ombros. Faz tempo que não ouço isso.
— Sabe, filha, eu 'tava pensando, o que você acha de outro dia irmos à praça e brincarmos no balanço?
— 'Séio? – assenti. — Obaa! – sentou no meu colo e me deu um beijo na bochecha. — Eu 'queio, 'Nashu. – ela está fazendo de propósito e eu não posso reclamar.
Depois de um tempo, levantei e sentei na banqueta, ao lado de Lucy, que estava jantando.
— Você ouviu? 'Nashu… É de propósito, né? – assentiu. — Mas ela 'tá mais animada.
— Que coisa, né? Você sabia exatamente o que dizer, parece até que ouviu nossa conversa. – disse rindo.
Ela sabe que ouvi atrás da porta. Que vergonha.
— Nashi consegue ser bem ciumenta e eu nem percebi, mas agora parece óbvio.
— Pois é. Ela é muito ciumenta, crianças são assim e ainda é sua filha. – riu. — Ela me contou que você falou com o Romeu hoje.
— Aquele moleque… Eles se abraçaram, sabia?
Ela inclinou-se e sussurrou apenas para que eu ouvisse.
— Ela já deu um beijo na bochecha dele.
Se eu não estivesse sentado, certeza que cairia.
— Quando?
— Um dia desses. Ele pegou a bola dela e ela deu um beijinho de agradecimento. – eu estava horrorizado com a naturalidade que ela falava.
— Isso não 'tá certo! Ela é um bebê, não pode sair beijando e abraçando um menino. Palhaçada! – encarei Lucy que abaixou a cabeça rindo. — Aliás, o que é aquele velho dando em cima de você?
— Q-Que velho? – ainda ria.
— O pai do Romeu.
— O senhor Macao? – dei de ombros. — 'Tá maluco?! O homem tem idade 'pra ser meu pai.
— Avô, né? Pelo visto 'pra ele isso não importa.
— Pai, Natsu, não exagera e também, nada a ver isso. – levou o prato.
Lucy é desse jeito desde nova. Ela não percebe quando tem alguém dando em cima dela. Até percebe, mas não sempre. Como se fosse difícil interessar-se por essa mulher.
A loira passou por mim, indo em direção ao quarto. Fui atrás, entrei e fechei a porta.
— Bom, pode falar sobre o encontro com meus pais. – me olhou surpresa. — Sério que você achou que eu tinha esquecido? – e tinha mesmo. — Você não sairá daqui até me contar o que houve entre vocês.
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