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História A moeda da sorte - O ponto mais alto


Escrita por: lunevile

Notas do Autor


Olá marilenes!
Feliz Halloween pra vocês!

A espera chegou ao fimmm!
Vou explicar aqui bem rapidinho o dcc: DDC que na real quer dizer duodecim (latim porque somos chics!) é um grupo de doze pessoas desocupadas (não mesmo) se reuniram em um projeto que consiste em postar ao fim de todo mês postar uma fanfic de exo com um tema pré estabelecido!
Então se você navegar pela tag ali em cima vai ter acesso a outras onze histórias de onze ficwriters maravilhosos com o tema desse mês: Halloween!

Espero que curtam essa minha viagem louca!
Obrigada à Miu por me ajudar a betar e a Gabs pela capa maravilhosa! Valeu meninas!
Boa leitura!

Capítulo 1 - O ponto mais alto


O que é o medo?

O medo é um fenômeno psíquico que pode ser definido de diversas formas. Segundo o dicionário, medo pode ser uma perturbação resultante da ideia de um perigo real ou aparente ou da presença de alguma coisa estranha ou perigosa; pavor, susto, terror, apreensão.

Mas todas as pessoas que foram capazes de ouvir aquele grito pavoroso na noite de Halloween, não precisaram de nenhuma definição a priori para que seus corpos fossem invadidos por aquela sensação anestesiante e paralisadora.

Elas sentiram medo.

O grito agudo e desesperado ecoou da casa antiga e atingiu toda a vizinhança, como um clamor de quem encara a morte nos olhos, mas ainda tem muito a viver. Estrondos, passos desesperados e uma música triste e arrastada encheram o ar, criando a cena de terror perfeita.

Alguns juram que foram capazes de ouvir um choro constante após o grito aterrorizante que rasgou o céu escuro daquela noite, ápice do susto. Ninguém soube ao certo se aquilo era parte de uma pegadinha de Halloween, ou se realmente a casa estava provando ser assombrada por espíritos malignos dando fim a uma vida inocente, afinal ninguém se atreveria a ir até a casa procurar por respostas.

 

‡‡

 

Já faziam algumas semanas que todas as casas da vizinhança estavam enfeitadas em tons de preto roxo e também laranja proveniente das abóboras decoradas com velas.  As crianças e os jovens já vinham, há alguns dias, planejando fantasias para o grande dia e a venda de abóboras alcançava o ápice naquele período do ano. O Halloween era uma das datas que mais movimentava aquela pequena cidade sulista, talvez ficando atrás apenas do natal. Crianças, adolescentes e até alguns adultos desavisados se fantasiavam e saiam às ruas em busca de guloseimas diversas.

Mas, como todo bom Halloween, a data era cercada de histórias de terror e medo. Todo ano algum desafio mobilizava os jovens da vizinhança, algo que acreditavam ser assustador o suficiente para que se tentasse realizar na noite mais temida de todo o ano e, naquela pequena cidadezinha, quase sempre os desafios envolviam a grande casa velha – dita mal assombrada - ao fim da ladeira da Rua Doze.

A lenda sobre aquela velha abandonada que ficava no ponto mais alto da cidade corria desde que se tem notícias de moradores na região. Os contos de terror eram os mesmos, porém contados em múltiplas versões. Muitos jovens entravam na casa com o objetivo principal de mostrar uma bravura excessiva, por vezes irreal, e assim contar do que viram lá dentro. O fato curioso é que muitos entravam na casa, mas poucos eram os que conseguiam sair. E os que saiam não conseguiam falar sobre o que acontecia lá dentro.

A história que rondava a casa era sangrenta e sombria e foi passada de geração em geração, fazendo perpetuar um medo que crescia em cada criança que passava por ela. Diziam as más línguas que, no ano de 1927, uma família se mudou para a casa. O pai, um pequeno empresário em ascensão econômica, adorava realizar festas e promover bailes na casa, e sua mulher via as festas como uma forma de entrar para a alta sociedade coreana. O casal possuía dois filhos, o mais velho, um estudante exímio, esportista, e potencial sucessor de seu pai nos negócios da família. Já o menor não parecia mesmo se encaixar na realidade da família perfeita, era arredio e apresentava comportamentos que a medicina e a psicologia atual definiriam como psicose.

O pequeno possuía delírios de perseguição e constantes alucinações. Por vezes, seu olhar distante e sua desenvoltura aérea e desapegada assustavam seus pais e irmão, que decidiram prendê-lo no porão da casa, com medo de que, ao ser descoberto, o caçula se tornasse um escândalo e, consequente, empecilho ao crescimento econômico da família e seu status.

Ao que se sabe, um grande incêndio destruiu a casa alguns anos após a chegada deles. Na ocasião uma reunião de negócios acontecia e enquanto a mãe, o pai e o filho mais velho estavam no primeiro andar da casa recebendo os convidados mantendo a pose impecável, o caçula estava preso no porão, em seu próprio pequeno mundo, conversando com as vozes em sua cabeça. Não se sabe de onde veio fogo, alguns contam a história culpando um lustre, outros acreditam que talvez a empregada tenha cometido um deslize no preparo dos alimentos, fazendo o fogo do fogão se alastrar pelas cortinas da cozinha.

Tudo que se sabe é que os convidados, empregados e a família que jantavam ao nível térreo da casa conseguiram se safar ilesos das labaredas. Apenas quando já estavam todos fora da casa, exaustos pela tamanha descarga de adrenalina, foi que a mãe se lembrou de que seu filho caçula estava preso no porão sem saída e talvez não se desse conta das chamas até que elas o consumissem. Dizem que a mulher enlouqueceu completamente ao se dar conta de que não havia salvação para seu filho. O pai, desesperado, tentou adentrar na casa mesmo em chamas para salvar seu pequeno, mas a estrutura já estava bastante comprometida e ele nada pôde fazer.

As más línguas dizem que, quando os bombeiros finalmente chegaram, o filho mais velho estava em choque estirado no gramado, o pai chorava compulsivamente e a mãe, em estado de completa loucura, gritava pelo nome do filho. Os profissionais seguiram a instruções dadas pela família e foram até o porão em busca do filho mais novo, mas a surpresa foi que não encontraram ninguém, nem vivo, nem morto, não havia sinal de corpo no porão.

A família se mudou da cidade pouco depois porque a mulher enlouqueceu e teve que ser levada a um sanatório longe da capital. O homem e seu filho tentaram dar continuidade aos negócios em uma cidade distante, mas, pelo que se sabe, eles faliram.

As cinzas da casa permaneceram imutáveis por décadas, e todos os moradores da região juravam que podiam ouvir vozes como sopros ao passar em frente as ruínas da casa, ou então ver fantasma do menino louco através de suas janelas. A casa permaneceu assim, descuidada,  até que foi reformada pela prefeitura anos mais tarde e um jovem estudante e dançarino, apaixonado por seu design e pela sua história, a adquiriu por um preço relativamente baixo.

Dizem que o jovem viveu sozinho na casa por quase um ano, mas, depois de um tempo, enlouqueceu pelas visões e aparições do menino louco. O dançarino se apaixonou pelo fantasma e deu fim à própria vida, se enforcando para juntar-se ao menino e à casa. Hoje em dia, a casa continua vazia e poucos são os que se atrevem a ir até lá. Quem vai, jura ser capaz de ouvir vozes e, às vezes, até música regada ao som de passos e a barulhos de dança. Por isso, diziam que a casa era assombrada pelo menino louco e pelo fantasma dançarino e a música de qualquer tipo era uma forma de invocá-los.

 

‡‡

 

Baekhyun e Chanyeol se conheciam há mais da metade de suas vidas, se tornaram companheiros de aventuras ainda na infância e haviam compartilhado uma vasta gama de momentos. Tudo que consideravam importante na vida, eles se esforçavam para fazer juntos e, assim, criar memórias. Entrar na casa seria só mais uma lembrança que, em um futuro não tão distante, seria responsável por arrancar risadas não só dos dois como de qualquer outro que lhes ouvisse contar a magnífica história, onde ressaltariam o quanto foram valentes.

Há muito tempo os dois já compartilhavam uma vontade intensa de desvendar os mistérios daquela antiga construção, e acreditavam que o Halloween era o momento perfeito para explorar a casa. O dia em que o terror é aclamado, o dia em que as almas saem para brincar.

A vontade de provar a si mesmos essa bravura desmedida não era algo recente, os dois já haviam perdido várias horas de suas vidas confabulando sobre como entrariam na casa e o que fariam quando já estivessem dentro dela. Faziam planos mirabolantes desde que tinham doze anos, porém só agora, quando ambos já estavam prestes a completar dezoito, é que sentiam ser o momento certo para o ato que já consideravam heroico.

Os dois já haviam arquitetado um plano e sabiam exatamente o que fariam. Pediriam doces até as dez da noite e depois iriam até a casa, munidos de uma câmera, para talvez capturar as aparições sobrenaturais do casal de fantasmas.

E assim aconteceu.

Mais ou menos às dez horas da noite de Halloween, enquanto os outros adolescentes estavam ocupados demais na missão de arrecadar doces, os dois amigos se juntaram pontualmente à frente da casa de Chanyeol para repassar os próximos atos. Há essa altura da noite, já haviam arrecadado alguns doces, mas não muitos, pois nada os podia atrapalhar ou atrasar, o tempo estava contado. Os dois sentiam medo quase que em um mesmo grau, mas disso certamente não falariam, pois tinham a certeza de que falar do medo era como se confrontar com ele, e esse confronto na certa os imobilizaria, impedindo de realizar a tarefa com êxito.

Baekhyun chegou ao portão da casa de seu amigo pontualmente às nove. Antes que o outro viesse ao seu encontro, ele fechou os olhos e sentiu o vento frio bater em seu rosto… Baekhyun amava o vento. O rapaz escolheu roupas que julgava serem confortáveis o suficiente: uma calça jeans surrada pelo tempo, um moletom velho com capuz e nos pés o seu velho all star vermelho.

Enquanto esperava, ele se questionou sobre a real razão de estar fazendo aquilo. O medo já tomava seu corpo e ele estava divido: uma metade começava a acreditar que entrar na tal casa era uma grande besteira e que seguir os limites de seu corpo era o correto a se fazer, se afastando da colheita de doces e se afastando da casa. Mas havia aquela outra metade que gritava com muita força dentro de sua mente, ansiando ser ouvida, e gritava com força demais para ser ignorada. Essa metade queria se testar, queria sentir a adrenalina de ser capaz de entrar na casa e queria ser capaz ainda de se vangloriar depois de sair dela.

Quando Chanyeol viu que o amigo já o esperava do lado de fora de sua casa, percebeu, com muito pesar, que já não havia como voltar atrás, na verdade ele bem que podia dar ouvido àquela vozinha insistente em sua mente que lhe pedia encarecidamente para desistir. Chanyeol sabia que não era tão corajoso quanto seu amigo, e, por isso, queria provar para ele e para si mesmo ser capaz de realizar o que combinaram. Era Baekhyun o cérebro por trás dos planos, Chanyeol se sentia apenas como uma marionete, mas isso não o incomodava, ele apenas gostava de ser capaz de fazer as coisas que Baekhyun queria que fizesse, independente do que fossem, pois assim se sentia disponível e único ao seu amigo.

Baekhyun encarava o chão, nervoso, quando se surpreendeu com a figura magra de Chanyeol surgindo pelo portão. O maior vestia também um jeans que parecia menor do que suas pernas, uma camiseta de uma banda qualquer e, por cima, uma grande jaqueta velha que lembrava um uniforme do time de baseball. Ambos tinham mochilas em suas costas, dentro delas haviam colocado tudo aquilo que julgavam ser importantes para a realização da missão: doces, isqueiros, toalhas… Na verdade, nenhum dos dois sabia exatamente o que precisavam levar de fato, mas carregar as mochilas nas costas os fazia sentir como se tivessem algum tipo de proteção.

Chanyeol trazia em uma de suas mãos sua câmera de ultima geração, artefato que os dois julgavam essencial no feitio da tarefa, afinal, era com câmera que filmariam o interior da velha casa e quaisquer movimentação ou atividade paranormal que seus olhos vissem e que depois serviria como prova das aberrações que viram e enfrentaram.

- Pronto? – Baekhyun perguntou para Chanyeol, vendo que seus olhos estavam esbugalhados em sinal de potencial medo – Não precisamos fazer nada disso se você não quiser.

- Está com medo, Byun? – Chanyeol falou erguendo uma de suas sobrancelhas, tentando provocar o outro. Ele estava com medo, mas não demonstraria facilmente.

- Não mesmo! – Um sorriso desafiador pintou os lábios de Baekhyun, ele não recuaria.

Os dois trocaram olhares breves que transmitiam a segurança que precisavam, ainda que ela talvez não fosse tão real. Juntos eles sentiam que podiam qualquer coisa.  A casa ficava ao fim de uma rua, o topo de uma ladeira de forma que era o ponto mais alto da pequena cidade e podia ser vista em qualquer ponto dela. Agora, em frente a casa de Chanyeol, os dois lançaram um ultimo olhar à pequena ponta da casa velha, uma ponta da torre que fazia parte de sua decoração e que conseguiam ver mais acima no horizonte. Andariam mais ou menos uns quinze minutos até chegar ao tão temido destino, e, no caminho, tentariam concentrar os pensamentos no objetivo e se forçariam a permanecer nele, sem dar meia volta.

 

‡‡

 

Caminharam em silêncio em direção à casa, como soldados rumo à guerra. Quanto mais se aproximavam, mais vulneráveis estavam ao medo, pouco a pouco se afastavam do barulho animação do Halloween e se aproximavam da parte mais temida da cidade. A construção antiga ficava no topo de uma ladeira íngreme e escura demais que os meninos, trêmulos, ansiosos e já cansados quase cogitaram não subir.

A atmosfera do lugar era outra e em nada se assemelhava com o clima ainda festivo de sua vizinhança. Quanto mais subiam a ladeira, mais macabro se tornava o percurso, as luzes se tornavam cada vez mais fracas até se encontrarem no mais completo escuro. Deixavam para trás todo o barulho da cidade que se tronava cada vez mais inaudível e adentravam o silencio quase absoluto, rompido apenas pelo barulho do vento, que se assemelhava a um lamento triste e um pio insistente de uma coruja.

Os dois se aproximavam cada vez mais à medida que a ladeira se tornava, aos poucos, mais íngreme, e, quando chegaram à casa, já estavam quase colados um no outro. Parados em frente à construção histórica, os dois sentiram um arrepio gelado percorrer-lhes a espinha e ambos pensaram ter ouvido um sussurro em seus ouvidos, o que os fez   sentirem como se algo ou alguém os observasse naquele exato momento. Viraram-se bruscamente, mas não havia nada além do mais profundo breu.

Agora, de perto, ainda que no escuro, os dois eram capazes de observar a casa mais atentamente.

- Parecia ser menos assustadora de longe! – Baekhyun falou mesmo que seus lábios tremessem a cada palavra dita, não se sabe se por frio ou medo.

- Um dia deve ter sido uma casa bonita… - Chanyeol falou reticente dando, às suas mentes o poder de imaginar aquela casa em seus dias de glória.

A casa exuberante que, em sua arquitetura original, já exibia traços antigos ainda que para uma construção da década de 20, maltratada pelo tempo e pelo vandalismo, agora era marcada pelo abandono o que parecia contribuir para que um ar cada vez mais macabro se apoderasse dela. Ao nível da rua, ficava um jardim surpreendentemente bem cuidado onde a única coisa que se podia ver era uma velha caixa de correspondências na cor vermelha.

O jardim era amplo e decorado com alguns canteiros de flores que algum morador solícito provavelmente havia plantado ali, na tentativa de tornar o lugar menos assustador. Há uns vinte passos da caixa de correspondências, havia o começo de uma escadaria que, na época em que foi construía, devia ser um grande símbolo da prepotência da casa, mas hoje estava destruída e sua cor, antes marfim ou branca, hoje exibia um tom desbotado e sem graça.

A escadaria era um tanto íngreme, se erguia por cima de uma pequena muralha negra de tijolos velhos e levava até a varanda, que ficava no alto. As paredes da casa – que, segundo as lendas, um dia haviam sido amarelas, em sua pintura original – hoje exibiam um tom melancólico por conta dos vários tijolinhos escuros que faziam o acabamento do local. Tudo era tons de cinza, talvez um cinza sem graça como um céu nublado e triste. O parte externa da construção possuía várias falhas e muito descasco, dando a paisagem um tom de desleixo. Por trás do tom quase morto das paredes da casa, havia várias pichações que não se podia entender, símbolos obscuros e linguagens ocultas que ninguém ousaria interpretar. De todas as janelas, onde antes molduras amadeiradas abraçavam vitrais transparentes, nenhuma havia restado intacta, todas estavam quebradas. O cenário perfeito de destruição.

Os dois iniciaram seu caminho pelo jardim.

- Estamos com tudo preparado? – Baekhyun perguntou ao outro.

- A câmera está a postos, e o celular com a música também. – Chanyeol falou erguendo os objetos em suas duas mãos.

Sim, música.

A lenda dizia que o menino louco, que havia sido queimado por sua família, assombrou a mansão sozinho por muitos anos até que o bailarino se mudou para lá e se apaixonou pelo pequeno fantasma, se jogando para a morte na tentativa de talvez assim se juntar ao seu amado. As lendas diziam que a música era capaz de causar efeitos no casal assombrado. Alguns diziam que os provocava, outros preferiam contar que a melodia os acalmava e o que o fantasma dançarino se deliciava em dançar para o menino louco. Chanyeol e Baekhyun levariam música até o interior da casa, porém não faziam a mínima ideia de que efeitos isso provocaria.

Os dois se olharam por um momento antes de juntos darem o primeiro passo, subindo o primeiro degrau da escadaria em direção a entrada da casa. A cada degrau que ficava para trás, o medo parecia crescer dentro de ambos, mas agora parecia tarde demais para desistir. Talvez se os dois comparsas fizessem o mesmo percurso pela manhã, iluminados pela luz do sol, sentissem menos medo do que agora, quando nem a lua parecia emitir luz alguma e os dois pareciam literalmente abrir caminho na mais absoluta escuridão e seus corpos tremiam como nunca.

A coruja insistia em piar bem triste.

 

‡‡

 

Mesmo que retardassem seus passos, tentando retardar a entrada, não demorou muito para que chegassem a varanda da casa e encarassem a porta velha e quebrada. Antes de entrar, Chanyeol sentiu um mau pressentimento, coisa que iria ignorar se Baekhyun não o conhecesse suficientemente bem para ler no rosto do amigo que algo não estava certo.

- O que houve, Chanyeol? Está tudo bem? – Baekhyun perguntou preocupado. Chanyeol ainda encarava o chão, com a mochila nas costas e avaliou que era melhor não dizer palavra alguma.

Chanyeol balançou o corpo inteiro e então olhou para o amigo, indicando que era a hora de entrar. Baekhyun congelou por alguns instantes, revisando suas próximas ações com exímio cuidado. Primeiro, ele abriria a porta e depois... Bem, o depois era incerto. Os dois entrariam juntos, como haviam planejado, mas as possibilidades de acontecimentos dentro da casa eram infinitas e se debruçar nelas era algo que fazia arrepiar a espinha. O menor se sacudiu na esperança de afastar de seu corpo qualquer resquício de medo e lançou um sorriso amarelo ao outro, que tentou abrir os lábios trêmulos em resposta.

Chanyeol tremia da cabeça aos pés e, secretamente, amaldiçoava a si mesmo pela brilhante ideia de entrar na casa. Sua mente parecia conspirar contra si mesmo, quando involuntariamente ela começou a listar os vários casos de mortes cujo o cenário havia sido a velha casa. O rapaz engoliu seco, enviando para o ponto mais íntimo de seu corpo aquelas ideias. Não podia ocupar seus pensamentos com aquilo agora! Definitivamente não podia! Ele tentou se convencer de que não podia agir como um garotinho e temer a escuridão! Não haveria nada lá e não havia o que temer. Suas mãos suavam como nunca e ele quase não conseguiu as manter na câmera que já estava preparada para filmar.

As mesmas mãos que suavam buscaram as de Baekhyun em uma tentativa inconsciente de encontrar apoio. O outro apertou os dígitos do amigo para que ele soubesse que nada de mau o aconteceria desde que estivessem juntos.

- Baekhyun, eu... – Chanyeol tentou dizer, mas sua voz saiu quase como um gemido triste e ele acabou se rendendo, sentando no chão da varanda, com os pés no primeiro degrau da escada.

- Não precisa ter medo, Chanyeol! – Baekhyun se sentou ao lado do amigo e disse sorrindo aproveitando para firmar mais ainda o aperto sobre as mãos do outro – não precisamos entrar se você não quiser!

- Eu... – Ele se envergonhava profundamente apenas por pensar em admitir aquilo em voz alta, então a voz falhou e ele abaixou a cabeça em sinal de quase desistência.

O menor apenas se aproximou mais dele bem devagar e, sem lhe dizer nada, segurou seu rosto com suas duas mãos, de forma que os dois conseguissem se olhar diretamente nos olhos. Aquele tipo de contato não era nada comum e nem sequer era algo que se podia esperar em um cenário como aquele, mas os dois sentiam que era o certo.

- Você sabe que pode confiar em mim, não sabe? – Baekhyun usou seu tom mais doce com o mais alto deles.

Chanyeol sabia, então não havia porque esconder de Baekhyun o seu medo.

- Eu tenho medo do escuro. Eu não sei explicar, só não gosto! – Ele murchou e abaixou o olhar ao falar, sem coragem nenhuma de encarar o outro depois da confissão.

Chanyeol esperou que o outro lhe dissesse algo ou até que risse em resposta, mas, ao invés disso, Baekhyun apenas levou uma de suas mãos até o bolso da calça surrada e retirou de lá algo que Chanyeol não conseguia identificar o que era. Parecia pequeno e brilhava. O outro ergueu o pequeno artefato em suas mãos e Chanyeol seguiu o objeto com os olhos.

Era uma moeda.

- Essa aqui é a minha moeda da sorte! – Baekhyun seguiu dizendo, tendo os olhos de Chanyeol atentos sobre si. – E é um presente muito valioso para mim, o meu avô a trouxe do Vietnã.

A moeda era antiga e ostentava um dourado envelhecido que prenderam os olhos de Chanyeol. Haviam alguns desenhos em entalhados em sua borda em um tom diferente de seu centro, onde havia desenhado algo similar a uma cabana e mais alguma outra coisa que seus olhos não foram capazes de distinguir. Três algarismos cravados no centro da moeda indicavam o seu valor: 200 pons.

Baekhyun levou a moeda a até uma das mãos de Chanyeol, que pendia trêmula e abandonada na lateral de seu corpo esguio.

- Agora ela é sua. – O menor sorriu e fechou a palma de Chanyeol sobre o pequeno objeto circular.

- Eu não posso aceitar Baek, você acabou de dizer que é muito valorosa para você.

- Você pode sim! Além disso, você pode muito bem aceitá-la agora e devolvê-la para mim depois que sairmos da casa. Tudo bem?

O mais baixo dos dois esperou que o outro lhe dissesse algo, qualquer coisa, mas depois de algum tempo esperando a resposta que não veio, ele apenas suspirou. Baekhyun achou no mínimo curioso o medo de Chanyeol, mas o fato que realmente lhe chamou a atenção e fez algo em seu coração pular feito pipoca foi a forma que o outro se comportou após dizer de seu medo. Chanyeol fez biquinho e baixou a cabeça, voltando a encarar o chão, como já lhe era comum, esse jeito um tanto infantil que Chanyeol tinha de fazer as coisas era o que mais encantava seu amigo.

O menor observou bem a falta de jeito de Chanyeol e decidiu que aquela era sua deixa para falar de algo que nunca havia tido a coragem de colocar para fora. Havia algo que o incomodava também e que ele decidiu que, aproveitando a onda de confissões, diria ao outro naquele momento.

- Chanyeol... – Baekhyun chamou, endireitando o rosto do outro em suas mãos para poder lhe olhar nos olhos novamente - Eu gosto de você.

O silêncio pesou sobre os dois. Chanyeol, antes de baixar os olhos mais uma vez, arregalou-os tanto que Baekhyun se assustou e se arrependeu no mesmo instante de ter falado de seus sentimentos.

Mas o que é a vida se não um jogo que tentativas e acertos? Já que as circunstâncias o haviam colocado naquela situação, não haveria mal nenhum em tentar mais uma coisa, não é mesmo? Incrivelmente o pequeno se sentia leve e livre após a sua confissão e a sensação o fazia se sentir capaz de fazer algo que há muito tinha vontade de fazer, mas lhe faltava a coragem.

Os olhos de criança do mais alto, confusos e aéreos como sempre, pareciam, desta vez, transmitir a Baekhyun a certeza de que ele podia e deveria agir, portanto não havia mais o que esperar. Então o mais velho manteve as mãos emoldurando o resto de Chanyeol, e agiu se aproximando do rosto confuso de seu amigo, e com uma certa sutileza que o momento parecia pedir, juntou seus lábios. Ele o fez rapidamente, antes – e com medo – que o outro o afastasse ou o rejeitasse. Baekhyun nunca fora bom em lidar com a rejeição.

Mas, durante o selar de lábios que seria rápido e quase ríspido, Chanyeol decidiu demonstrar que também ansiava por aquele tipo de contato mais íntimo, repousando os objetos em suas mãos no chão da varanda velha e, com elas, circundar o corpo de Baekhyun. Nada mais parecia importar para nenhum deles, tudo que precisavam e queriam, naquele momento, era aprofundar o beijo, dando vazão a toda a descarga de adrenalina que fazia seus corpos pulsarem. O beijo pareceu acalmar alguma coisa dentro deles ao mesmo tempo em que provocava alguma outra coisa que nenhum dos dois conseguia distinguir.

Após alguns minutos que pareceram vidas em que se deliciaram com o sabor novo um do outro, os dois se afastaram, ainda que relutantes, agora totalmente dispostos a realizar o que quer que fosse necessário. Os dois mantiveram seus rostos colados por algum tempo e riram, certamente achando graça das circunstâncias que haviam escolhido para trocar o primeiro ósculo. Baekhyun pareceu externar exatamente o que Chanyeol pensava quando disse:

- Que lugar perfeito para um beijo, não? – Seus olhos vagavam pela varanda abandonada atestando o abandono do local.

- Ainda haverá muitos outros, Baek! – Chanyeol se sentia renovado.

- Então, vamos? – O pequeno chamou.

- Vamos! – Uma das mãos de Chanyeol apertava a palma de Baekhyun, a outra segurava a câmera, o celular e a moeda estavam em seu bolso.

 

‡‡

 

Os dois estavam prestes a entrar. Baekhyun assumiu a liderança, ficando à frente de Chanyeol, se dirigindo à maçaneta da porta velha. Os dois se olharam em silêncio mais uma vez, antes que Baekhyun de fato levasse uma de suas mãos à maçaneta e a girasse, ainda mantendo os olhos em seu amigo. Chanyeol lhe lançou um sorriso triste como forma de conceder autorização ao ato do outro. Agora definitivamente não haveria mais volta para eles.

Ao abrir a velha porta de madeira, ela rangeu alto, preenchendo o silêncio com um som estridente e macabro como um choro.

Baekhyun entrou primeiro com uma lanterna velha e fraca em uma de suas mãos. Um passo, mais um outro passo, e ele já estava completamente dentro da casa, se perdendo dentro da escuridão.  Chanyeol o seguiu, com a câmera preparada em suas mãos já filmando o escuro. Os dois ainda mantinham as mãos entrelaçadas, o que lhes dava um pouco mais de confiança e segurança. Um sopro frio de vento passou na altura de seus pescoços e os dois tremeram, Chanyeol se colocou totalmente para dentro da casa e então o vento se tornou mais forte e impetuoso, fazendo a porta bater com força total.

O maior tentou voltar imediatamente à porta, mas suas tentativas de abri-la mais uma vez foram totalmente falhas como se ela se emperrasse.

Estavam trancados.

- Baekhyun, a porta não abre! – Chanyeol gritou em desespero.

- Ch-Chanyeol coloque a música. – Baekhyun falou com a voz tomada do medo.

Chanyeol obedeceu, mas suas mãos tremiam e ele demorou tempo demais para acessar a faixa de áudio em seu celular. Sua respiração era pesada e inconstante e ele pensou que fosse desmaiar ali, mas então uma música clássica proveniente de seu celular encheu o ar e ele sentiu medo.

De repente, ouviu-se ao longe a melodia melancólica e aterrorizante de um piano emitindo notas graves e dramáticas que fizeram o coração gelar de terror. O rapaz procurou pelo aperto das mãos de Baekhyun para se sentir seguro mas não encontrou nada.

- Baekhyun! – chamou.

- Chanyeol! Chanyeol! – A voz de Baekhyun transparecia desespero, mas estava distante.

Chanyeol ergueu as mãos a sua frente tateando o vazio a procura de Baekhyun, mas nada estava ao seu alcance, não havia sinal algum de seu amigo e muito menos da lanterna dele, única fonte de luz que possuíam. Um frio gelou sua espinha e ele sentiu ser tocado na nuca, o que o fez se sacudir freneticamente. Ele podia ouvir passos, mas a escuridão e o medo o conturbavam a ponto de ser impossível dizer de onde viam, Deu passos para trás em total desespero, e a musica melancólica do piano inundou o ar com mais força, o fazendo enrijecer.

Ouviu passos firmes que pareciam coreografados. Alguém parecia dançar em algum ponto daquela casa. O som de passos rápidos e fortes pareciam vir de algum ponto da escuridão.

- Baekhyun! – Chanyeol gritou enlouquecido.

Uma gargalhada ao pé de seu ouvido fez Chanyeol se virar imediatamente de costas e uma nuvem de fumaça densa veio de encontro ao seu rosto.

- Chanyeol, fuja! – Baekhyun chorava, implorando em algum lugar da casa. Ele parecia estar um andar acima.

O jovem que filmava o nada se acelerou rumo ao desconhecido e pareceu ir de encontro a degraus de uma escada. Seu medo era absurdo, mas, por Baekhyun, ele faria qualquer coisa, por isso mesmo tremendo tentou subir os degraus a sua frente.

Outra risada forte.

- Você não vai a lugar nenhum, meu caro. – uma voz grave e áspera disse parecendo vir de trás de seu corpo.

Chanyeol gritou desesperado quando sentiu como se algo atingisse suas pernas em cheio e, imediatamente, caiu sobre os degraus da escada, impossibilitado de ir ao socorro de seu amigo que gritava em algum lugar da casa.

Outro grito aterrorizado cortou o ar.

Chanyeol tentou se mover, mas algo parecia segurar suas pernas com força total. Em sua ultima tentativa de se mover em meio aos gritos, fincou suas unhas no tecido aveludado que forrava a escada, e tentou forçar seu corpo escada acima, mesmo que tal ato fosse claramente em vão e em nada ajudaria.

- Eu te disse que você não vai a lugar nenhum! – a voz pareceu dizer ao ouvido de Chanyeol, agora raivosa.

Chanyeol gritou e se sentiu puxado com força pelos pés, escada abaixo e de nada adiantou prender as unhas aos degraus, ele apenas as sentiu ranger e arranhar o tecido, produzindo um som agonizante. O rapaz reuniu o pouco de coragem que ainda restava em seu ser e ainda tentou virar o rosto para, assim, talvez ver a face daquele que parecia ter prazer em brincar consigo, mas ao mínimo movimento de sua face, ele sentiu como se uma mão gélida pressionasse a lateral de seu rosto e sentiu a pele queimar lhe causando ardor e uma dor absurda.

Sua respiração falhou, e, mesmo que não houvesse água alguma, Chanyeol pensou ter a certeza de estar morrendo afogado. Seu peito se esforçava ao máximo em busca de ar, mas tudo parecia totalmente em vão. Ele sabia que iria morrer, mas, antes, reuniu um resquício de voz que lhe restava e pareceu resgatar as memórias que viveu com o amigo como combustível para conseguir abrir a boca e chamar seu nome.

- Baekhyun! – Chanyeol gritou uma, duas e três vezes.

Um grito cortou o breu, era Baekhyun. Chanyeol tentou correr, mas ali, caído no chão, parecia não haver saída. A escuridão densa o devorava e suas pernas e braços tremiam absurdamente. Seu rosto continuava queimando e ele apenas esperou a morte chegar. Sentiu um toque em seu ombro, e mãos entrelaçando o seu pescoço. Tentou gritar, mas uma outra voz falou algumas palavras que ele não entendeu em um idioma que com certeza não era o seu. Quase desistindo, sentiu ainda um sopro no ouvido e, ao se virar, tudo que viu foram dois olhos grandes e negros feito as trevas.

Chanyeol não lutou e não disse palavra alguma, apenas sucumbiu à realidade negra que o encobria, ao mesmo tempo em que uma risada gélida e maléfica inundava seus ouvidos. Ele percebeu que o piano continuava emitindo som em algum lugar daquela casa e, por mais que doesse, se concentrou no som produzido pelas teclas de marfim.

Baekhyun sabia tocar piano…

Morrer parecia incrivelmente fácil.

 

‡‡

 

Abrir seus olhos foi doloroso.

Chanyeol se sentia cansado e sua cabeça doía intensamente, de maneira que, ao encarar o grande ambiente exageradamente branco a sua frente, a informação excessivamente branca sobre suas retinas fez as veias de suas têmporas vibrarem e a dor latejar ainda mais forte. Ele não conseguia se lembrar bem do que havia acontecido, sua capacidade de se recordar de qualquer coisa parecia danificada e, por mais que se esforçasse, tudo que lhe vinha a memória eram apenas retalhos, cenas recortadas do que parecia ser um filme de horror. Seu rosto formigava.

Ele conseguia se lembrar de algumas coisas. Era capaz de se lembrar da casa, de subir as escadas, da sensação de ser engolido pela escuridão e também do grito. O grito de seu amigo se repetiu em sua mente infinitas vezes em apenas um minuto, e ele ainda piscando sem entender o que havia se passado, gritou enlouquecido.

- Baekhyun!

Nada de Baekhyun. Duas pessoas surgiram por entre a porta, a primeira delas uma mulher com trajes brancos e uma prancheta, seguida por um senhor grisalho que usava um jaleco. Foi então que Chanyeol se atentou para o local onde estava. Ele se encontrava deitado em uma cama, ligado a alguns aparelhos que pareciam monitorar sua respiração e seus batimentos.

- Baekhyun! – ele chamou mais uma vez, ao se sacudir e tentar sair da cama.

A enfermeira e o médico o tentaram tranquilizar, mas de nada adiantou, os olhos de Chanyeol pareciam vagar desesperados pelo ambiente em busca de alguma coisa. Em busca de Byun Baekhyun. Sua mãe surgiu da porta do quarto onde estava e Chanyeol estranhou o fato de que lágrimas brotavam dos olhos da mulher, que, depois de permanecer parada na porta por algum tempo como quem admira algo, correu ao seu encontro e o abraçou dizendo:

- Você voltou pra nós, filho! Você voltou! – a mulher chorava abraçada ao filho.

Chanyeol não entendia nada do que estava acontecendo. Sua mãe aclamava sua volta, mas ele nunca havia partido, não é? Sua cabeça doía, mas ele não compreendia o porquê de estar no hospital, rodeado de aparelhos.

Nada parecia fazer sentido e ele só queria saber de uma coisa.

- Eu só quero que me respondam onde está o Baekhyun!

Os outros ocupantes do quarto se entreolharam e não conseguiram disfarçar o espanto que aquele questionamento os causava. Os três pares de olhos, ainda presos em Chanyeol denunciavam que algo havia acontecido.

- Ninguém vai me responder? Onde ele está? – sua voz soou como um grito nervoso.

Ninguém disse palavra alguma por um tempo.

- Meu filho, se acalme por favor! – Sua mãe parecia querer chorar.

Aquilo o irritou e ele fez menção de se desvencilhar de toda a aparelhagem presa ao seu corpo. Então, para que Chanyeol se acalmasse sua mãe resolveu contar sem mais cerimônias. Depois de trocar olhares com o médico e receber dele um aceno de cabeça em consentimento, ela começou a dizer:

- Chanyeol, quando você foi encontrado, inconsciente, dois dias depois do Halloween, foi encontrado sozinho, ao lado de sua câmera... – a voz da senhora se perdeu no espaço entre ela e seu filho. Mas Chanyeol sustentava seu olhar e ela sabia, conhecendo bem o filho, que ele não desistiria, então continuou tentando escolher minuciosamente cada palavra - Os pertences de seu amigo foram encontrados, mas ele...

- Co-como assim? – Chanyeol estava perdido.

- Fique calmo, meu querido… – sua mãe pediu passando a mão em seus cabelos.

Como ela podia pedir por calma quando tudo parecia fragmentado e confuso.

- Como assim dois dias depois do Halloween? Que dia é hoje? – Definitivamente aquilo devia ser uma pegadinha de mau gosto, provavelmente arquitetada pelo próprio Baekhyun.

Chanyeol estremeceu ao ouvir a resposta.

- Quinze de Dezembro.

Não! Não podia ser!

Chanyeol não podia acreditar que havia dormido por tanto tempo. Ele tinha absoluta certeza de que estavam na casa no dia anterior… ou não? Quando se esforçava para lembrar de qualquer coisa mínima que fosse, a única imagem – se é que assim se pode chamar – que lhe vinha à mente era a escuridão daqueles olhos frios que lhe consumaram.

Ele se lembrava de ter sido puxado pela escuridão.

E só.

- Chanyeol, na noite de Halloween, quando você e Baekhyun foram até a casa, você caiu, bateu a cabeça e ficou em coma por mais de um mês. – O senhor grisalho com pose de médico disse, se colocando ao lado do leito onde Chanyeol estava.

O rapaz deitado fez um esforço para ligar os pontos e amargamente foi se dando conta de uma coisa que preferia acreditar ser uma grande mentira.

- Onde está o Baekhyun? – Chanyeol gritou e se sacudiu.

- Chanyeol... – Sua mãe tentava falar ao mesmo tempo em que erguia as mãos em volta do corpo de Chanyeol, queria conter sua agitação – Você não pode se irritar assim, tem que se recuperar, por favor!

- Me diga onde está o Baekhyun! – Ele gritava, mas era inteligente o suficiente para concluir sozinho o que tinha acontecido. Seus olhos já estavam marejados quando encontraram os de sua mãe onde as lágrimas já fluíam.

Chanyeol pareceu desistir de gritar e se entregou ao choro silencioso e compulsivo. Sua mãe segurou sua mão bem forte e indicou apenas com os olhos a pequena cômoda ao lado direito da cama de Chanyeol. Nela havia um jornal e algumas outras miudezas.

Suas mãos correram de imediato para o jornal. Uma foto da casa cercada por carros de polícia estampava a manchete principal onde se podia ler em letras garrafais um título e logo abaixo um pequeno texto explicativo da notícia:

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JOVENS SE ENVOLVEM EM ACIDENTE EM CASA ANTIGA

Moradores da redondeza juram ter ouvido o grito agonizante que cortou o céu na noite de Halloween, quando dois adolescentes de dezessete anos se envolveram em um acidente em uma propriedade abandonada, especula-se que em razão de um desafio na noite de Halloween. Um deles foi levado ao hospital inconsciente em estado grave e o outro, Byun Baekhyun, encontra-se desaparecido.

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O rapaz não foi capaz de segurar as lágrimas ao ver a foto pequena de Baekhyun sorrindo no canto esquerdo da imagem da casa, a principal da notícia, e logo elas molharam a folha do jornal.

Sua mãe o abraçou e o colo dela o fez chorar mais ainda. Sentia uma dor absurda que agora além de atingir sua cabeça, tomava conta de todo o seu corpo. Tudo parecia sucumbir à melancolia, até seus ossos pareciam doer. Ele queria Baekhyun. Só isso.

Chanyeol se perdeu na dimensão temporal de seus atos, e chorou por um tempo que não sabe dizer quanto. Uma duração infinita mesmo que ainda talvez contida em minutos. Um pequeno infinito triste entre uma lágrima e outra.

Depois ele se aquietou parecendo de alguma forma anestesiado, seus sentidos pareciam lentificados.

- Essas são algumas coisas que estavam com você naquela noite, meu filho. – A mãe falou indicando as outras coisas sobre a cômoda.

- Minha câmera… – Chanyeol falou ainda em choque, se lembrando das imagens que talvez estivessem lá, talvez elas explicassem o que houve com Baekhyun.

- A polícia chegou a retê-la como uma possível fonte de explicações, mas as imagens eram inconclusivas, foi o que disseram.

Seu rosto queimou com mais força e ele se sentiu tentado a levar as unhas à face para assim coçar a região, mas quando seus dígitos tocaram seu rosto, a dor e a ardência na pele se tornaram absurda e ele pode sentir a textura estranha e rígida da pele.

Aquilo era estranho.

- Me deem um espelho!

As mãos de sua mãe imediatamente foram até um pequeno espelho com moldura que estava estrategicamente descansando na cômoda mas ela receou um pouco em entregar o objeto nas mãos do filho.

- Chanyeol, primeiro você tem que saber…

- Me dá o espelho! – o menino deitado gritou.

A mulher lhe entregou o pequeno espelho e pela dor que era possível ver nos olhos dela, Chanyeol demorou um pouco criando coragem para finalmente olhar seu reflexo. E ele se espantou com o que viu.

Uma grande cicatriz se estendia na lateral de sua face, tomando toda a região compreendida entre as têmporas e o seu queixo. A cicatriz se assemelhava a uma queimadura, mas de certa maneira era mais branda. Em cinco pontos da grande mancha em relevo, pareciam haver pequenos hematomas, como se as pontas dos dedos de uma mão aberta tivessem marcado sua face.

Então ele se lembrou e as imagens surgiram em sucessão em sua mente. O toque de uma mão em seu rosto. O quer que seja a criatura que pressionou seu rosto, ela havia deixado uma marca, um aviso, aviso esse que lhe serviria de eterno lembrete: nunca mais desdenhar lendas antigas.

O rapaz, mais triste do que nunca, colocou o espelho de volta na cômoda e olhou os outros objetos em cima da mesa. Eram todos pequenos e pareciam não ter nenhum significado aparente, ele pensou em ignora-los por completo até que seus olhos repousaram no pequeno objeto circular e envelhecido que descansava em um ponto qualquer da cômoda.

A moeda da sorte.

A moeda que Baekhyun havia entregado a ele, quando lhe prometeu que tudo ficaria bem… Chanyeol nunca foi do tipo que acreditou em coisas como sorte, mas naquele momento não pode deixar de imaginar como teria sido se Baekhyun mantivesse a moeda consigo naquele dia.

Talvez, se Baekhyun mantivesse sua sorte para si próprio, ele tivesse escapado…

“E se?”

Chanyeol se sentia culpado e a culpa parecia preencher cada ponto de seu corpo fazendo com que seus músculos comprimissem e chegassem a tremer. Queria voltar a noite de Halloween e convencer seu amigo de que aquela não era uma boa ideia, os dois recolheriam muitos outros doces e um dia poderiam viver todo o amor que haviam guardado um para o outro.

Talvez assim Baekhyun ainda estivesse com sua moeda e sua sorte.

 

‡‡

 

Chovia muito no dia que Chanyeol decidiu que já estava em condições de ir até a casa velha. Relutou durante horas consigo mesmo antes de finalmente criar em si a coragem suficiente para ir até o local. Ainda que as memórias fossem dolorosas, ir até lá era uma forma que encontrou de provar a si mesmo que não era mais o mesmo covarde de antes, e, além disso, a casa lhe provocava sentimentos ambíguos: ao mesmo tempo em que a dor o repelia, ela também o fazia querer mais de Baekhyun e de suas memórias.

A cidade, desta vez, se encontrava decorada com motivos natalinos e todos os habitantes pareciam felizes, mas nada era capaz de retirar Chanyeol da melancolia em que vivia nos últimos tempos. A vida sem Baekhyun era triste e monótona. Montou em sua bicicleta e foi até aquele ponto, a construção antiga que poucos se atreviam a visitar. 

Durante o caminho, várias lembranças com Baekhyun lhe vieram à mente. Baekhyun sorrindo solto como sempre, lhe dando conselhos, rindo de alguma piada idiota. O beijo…  Se fechasse os olhos com força e se concentrasse bastante, Chanyeol era quase capaz de reviver aquela sensação em seu corpo.

A névoa era constante naquele ponto, como se fosse um componente fixo da atmosfera de terror que a casa emanava. O rapaz sentiu calafrios ao se aproximar daquele local.

Seu corpo queria voltar para sua casa, fugir daquele cenário que lhe causava uma dor absurda por fazer lembrar de Baekhyun. Ali, em frente a velha construção, ele lembrou de ter segurado firme as mãos do amigo e pedido baixinho para que nada acontecesse a nenhum dos dois. Foi ali que ele sentiu medo, um medo descomunal de entrar na casa e Baekhyun, solícito como sempre fora, havia dito que não precisariam entrar se Chanyeol não quisesse.

- E se nós não tivéssemos entrado? – Chanyeol se permitiu perguntar baixinho a si mesmo.

Foi ali que eles haviam se beijado. Chanyeol fechou os olhos e se esforçou para reviver a sensação única de ser beijado. As memórias certamente evocavam sensações intensas, ao se lembrar do toque, dos lábios e do cheiro do outro faziam o corpo do rapaz formigar por completo, mas, infelizmente, o máximo que ele conseguiria eram as recordações.

Pela primeira vez após ter deixado o hospital, ele se permitiu chorar e chorou por Baekhyun compulsivamente. Enquanto chorava, Chanyeol apalpou um dos bolsos de sua calça e sentiu o pequeno objeto esférico ali. Com cuidado, ele o apanhou e o segurou diante de seus olhos a moeda, o ultimo presente de Baekhyun. Quando fechou a palma da mão sobre o pequeno objeto com força, ele jurou que era capaz de ouvir a voz de Baekhyun em sua mente dizendo: “Você pode me devolver quando sairmos da casa”.

Chanyeol não teve a oportunidade de devolver a moeda e nem teria porque os dois não saíram junto da casa. Baekhyun abriu mão de sua sorte. Se dar conta disso o fez chorar como nunca em sua vida. Em meio as lágrimas, o rapaz pensou ter ouvido um som metálico um pouco atrás de si, e quando se virou para a direção do som, viu que da caixa de correio vermelha que ficava em frente a casa, antes vazia agora pendia um pedaço de papel.

O rapaz, que já era alto e bem magro, estava emocionalmente vulnerável e suas pernas tremiam de forma que quando se levantou, sua imagem demonstrava toda uma instabilidade ainda maior que o normal. Chanyeol estava emocionalmente exausto. Ele caminhou cuidadoso até a caixa de correio avaliando se aquilo era alguma piada

Receoso, ele pegou o papel e depois olhou em volta procurando alguém que pudesse ter depositado aquilo ali, mas não havia ninguém além de si mesmo e suas lembranças. O vento veio de encontro aos seus olhos e ele os fechou lembrando de como Baekhyun amava o vento. Então ele abriu o bilhete. O pedaço de papel não era muito maior que sua mão e parecia amarelado, como se estivesse envelhecido pelo tempo. Chanyeol sentiu as pernas falharem e o estômago girar quando leu a pequena frase escrita sobre a folha, em uma caligrafia que ele jamais se esqueceria. Engoliu seco e sentiu mais lágrimas em seus olhos quando leu:

“Cuide da minha moeda pra sempre, e eu vou cuidar de você.”

 

‡‡

 

Baekhyun nunca fora encontrado.

Mas hoje costumam dizer que o dançarino e seu menino dançam ao som dos acordes da canção do pianista desafortunado.

Se você passar pela casa nas noites de Halloween, pode ouvir o piano tocar triste e embalar a noite.


Notas Finais


AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH
CHOROS ETERNOS
TCHAU

THE FAROFA NEVER ENDS


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