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História A Morte Das Areias do Saara - Como o mel mergulhado na água


Escrita por: kagome95ingrid

Notas do Autor


olha o cap novo!! esse demorou pra ser escrito kkk desculpa a demora e tal ^^'
espero que vocês gostem!!!

Capítulo 23 - Como o mel mergulhado na água


Fanfic / Fanfiction A Morte Das Areias do Saara - Como o mel mergulhado na água

Seu amor penetrou tudo dentro de mim

Como o mel mergulhado na água

Como um odor que penetra especiarias,

Como quando se mistura suco em "incerto".

~Antigo Poema de Amor Egípcio

Os barulhos da vila ocupavam o cômodo em que Anput e Shadya haviam escolhido para conversar. Pessoas conversando, pessoas trabalhando, pessoas seguindo o curso de mais um dia. A mudança tão rápida e repentina de Mênfis para aquela pequena vila tinha feito com que a família de Ahmen perdessem um luxo que era típico dos ricos, camas. Como agora várias pessoas moravam na mesma casa, a família de Shadya e a família de Ahmen, não era possível ter uma cama para todos ainda. Sendo assim, a única cama da casa, uma de casal, era revezada por todos da casa enquanto o resto dormia em colchões feitos de tapetes e palha. Sendo assim, sobrou para as duas se sentarem na única cama. Tal raridade de camas tinha um motivo simples. Camas eram feitas de madeira, madeira vinha de árvores… algo que não se tem tanto quanto desejável num deserto.

- Então - disse Anput - Conte-me, como vão as coisas no casamento? Parece estar indo bem…

- Ah… vai bem - disse Shadya corando muito e mexendo a mão delicadamente levando uma mecha de cabelo para atrás da orelha - Ele não mudou muito. Continua bem carinhoso só que agora bem mais preocupado e protetor.

- Compreensível - disse Anput dando de ombros mas logo abrindo um sorriso curioso - Por acaso já estão tentando ter um bebê? - perguntou ela fingindo não saber a resposta.

- Você vai direto nas perguntas que lhe deixam curiosa. - disse Shadya dando uma leve risada - Claro que estamos mas ainda estamos na espera de tal benção de Tawaret.

- Não se preocupe com isso. - disse Anput com um sorriso - Tenho certeza que terá uma surpresa boa nos próximos dias. Na verdade, talvez já seja melhor testar.

- Plantarei uma semente de cevada e outra de trigo então - disse Shadya pensando.

Anput não queria estragar a surpresa da amiga com a descoberta da gravidez, logo não contou o que já sabia. Contudo, Anput tinha noção de que logo Shadya iria descobrir, especialmente fazendo o teste de gravidez, o primeiro teste de gravidez que se tem registro na história da humanidade. A ideia era simples, plantar duas sementes, uma de cevada e outra de trigo. Em seguida, sobre elas urinar, se a de cevada nascer, era um menino. Se a de trigo nascer, uma menina. Se nenhuma, então ela não estava grávida. Enquanto notava a falta de Iset, que provavelmente estava na vila resolvendo alguma coisa ou trabalhando, Anput também fazia uma nota mental de pedir para Tawaret diretamente para que cuide da gravidez de Shadya e do bebê que crescia em sua barriga.

- Mas, se me permite mudar de assunto, deixe-me perguntar: algum avanço com Anúbis?

O rosto de Anput corou e ela desviou o olhar rapidamente para suas mãos que se concentravam em girar eternamente um anel de ouro que estava em seu dedo indicador.

- Um pouco, mas… menos do que você imagina - disse Anput.

A leve movimentação de Shadya na cama chegando para mais perto e seus olhos atentos no rosto da amiga eram a prova de que estava interessada na história. Com um sorriso, Anput deixou um suspiro escapar de seus lábios enquanto pensava por onde começar.

- Bem, ele me deu flores um dia. - disse Anput - A situação toda em que estamos não está das mais românticas nem dando oportunidades para isso. Na verdade, gastamos tanto tempo procurando os pedaços de Osíris que mal nos encontramos. Tem muita coisa ruim acontecendo. Não sobra muito tempo para respirar e, quando tentamos, fica uma sensação de que não deveríamos estar fazendo isso.

- Está complicado assim? - perguntou Shadya e Anput se conteve em afirmar com a cabeça.

- E também… Pode não ser o motivo principal mas, ainda é algo para se considerar. - disse Anput - Assim como entre os humanos existe a diferença entre ricos e pobres, também existem diferenças entre os deuses. Embora não tanto de riqueza.

- Diferença de o que então?

- Bem, pra começar… - disse Anput levantando um dedo - Nu, o primeiro deus. Criador das águas primordiais. Pai de Rá, deus do sol, ele e Ptah criaram tudo que existe e é provavelmente o mais importante dos deuses atualmente. Ele é pai de Shu e Tefnut, deuses primordiais do ar. Eles são pais de Geb e Nut. Deuses primordiais também. A terra e o céu. Pais de Osíris, Ísis, Set e Néftis. Quatro deuses importantes também. Sem falar que Osíris é nada menos que o atual faraó, embora Set diga que agora é o faraó. Entende onde quero chegar? Por mais que Set não tenha sido o escolhido para herdar o trono de Geb, o fato de essa ser a linha sanguínea com, não só uma ligação direta com Nu, mas também com Rá e com todos faraós e dentre os deuses...

- Isso… - disse Shadya um tanto impressionada tentando processar todas aquelas informações e parentescos - Faria dele…

- Membro da família real. - disse Anput suspirando - Coisa que eu não sou. Ele provavelmente não está em nenhum casamento arranjado ainda porque não tem nenhuma irmã ou prima.

- Não muito diferente da família real humana então né? - disse Shadya.

- Besteira de manter o sangue puro.

- O que aconteceria se… sabe? Quebrassem as regras?

Anput olhou para a amiga com os olhos surpresos e começou a rir. Isso fez Shadya ficar sem graça e desviar o olhar.

- Não achei que fosse tão ousada, Shadya.

- É que… é meio injusto sabe? Talvez eu esteja comparando demais com a vida humana mas, é injusto como os nobres e a família real são os que mais tem que fazer casamentos arranjados. Amor também é importante.

- Quebrar as regras pode não ser tanta novidade entre os humanos mas…

- Entre vocês é?

- Sim. E ainda tem mais!

- MAIS?! - exclamou Shadya surpresa.

- Não acho que ele tenha notado mas, quando Thoth ainda estava nos dando aulas, Thoth passou brevemente por um assunto que não saiu da minha cabeça e sei que não deve ter saído da cabeça de Qebui também. Mas Anúbis provavelmente não se sentiu tão interessado pelo assunto porque não sentiu que lhe dizia respeito.

- O que seria isso?

- Imortalidade e poderes, não acho que exista algum deus que não tenha isso. - explicou Anput - Mas, existe uma diferença em como esses poderes crescem. Segundo Thoth, tem basicamente dois tipos. Primeiro, os poderes estão sempre lá, descobertos cada vez mais e a aprendizagem não envolve aprender coisas novas, e sim controlar os poderes e dar um uso para eles. Segundo, os poderes são aprendidos e não são tão grandes como no primeiro caso. Você sente no que você é bom e vai melhorando nisso. Não muito diferente dos humanos no fim das contas, só que mais rápido e mais forte. Mas não tão forte como o primeiro caso.

- Interessante. - disse Shadya - Eu deveria estar ouvindo a essa explicação toda?

- Provavelmente não. - disse Anput rindo - Éramos pequenos ainda quando Thoth ensinou isso e, certo dia, depois disso, quando Anúbis voltou correndo para casa porque Osíris tinha voltado de uma batalha no Alto Egito, eu perguntei mais para Thoth sobre isso. Ele disse que alguns chamam o segundo caso de deus-menor.

- E… deixe-me adivinhar, você acha que é o segundo caso e ele não?

- Exatamente. Eu vejo como ele a cada dia descobre mais sobre si mesmo ou sobre poderes que nem imaginava que tinha. Tudo que eu sei, eu aprendi. Ele não. Ele sabe coisas, sabe magias, que nem ele sabe de onde vieram. Não deixa de dar um pouco de inveja sabe? - disse Anput soltando uma risada triste - Mas… também faz parecer que… sabe?

- Eu ia ignorar a conversa e seguir para fazer minhas coisas mas… - disse Iset aparecendo da escada.

Iset tinha claramente acabado de chegar em casa depois de ir até o centro da vila. Em suas mãos havia uma trouxa de pedaços de linho, couro e um único figo em seu topo. Ela guardou o linho e o couro em um pequeno baú de madeira que já mal aguentava as coisas de seu interior e então pegou o figo para si e deu uma suculenta mordida.

- Atitude, mulher! - disse Iset - Deixe de se sentir assim tão pra baixo e para de arrumar desculpas esfarrapadas. Você nem sabe se ele liga pra esse tanto de besteira que você tá listando aí.

- Olá para você também… - disse Anput meio surpresa.

- Iset… não fale assim…. - disse Shadya com a voz temerosa.

- Porquê não? - perguntou Iset - Eles deixaram bem claro que era pra tratar eles como se ainda fossem nossos amiguinhos humanos normais. Então, como uma boa amiga, estou criticando algo para o bem dela.

- Faz sentido na verdade - disse Anput soltando uma leve risada mas abaixando a cabeça pensativa - Obrigada, Iset.

Infelizmente, por mais que a conversa trouxesse um relaxamento e uma sensação de normalidade, nenhum ali podia dedicar muito tempo a tal atividade. Enquanto, por um lado, os deuses tinham pedaços de um deus mais importante para juntar, os humanos tinham plantações para tomar conta. E, num ambiente que dependia tanto de um único rio, uma plantação bem feita era mais do que decisivo para o futuro de uma família.

Saindo da casa dos amigos, os dois deuses e o chacal caminhavam pelo vilarejo. Algumas pessoas olhavam atraídos por algo que os humanos não conseguiam entender, mas era melhor sair do interior da vila antes de simplesmente desaparecer. Olhares discretos e indiscretos chamariam menos atenção do que uma comoção porquê duas pessoas e um animal tinham evaporado no ar.

- Você não pareceu ter contado pra ela. - disse Anúbis olhando para Anput.

- Não… - respondeu ela - Achei que ela talvez quisesse passar pela alegria de descobrir mais naturalmente. Não posso esquecer de pedir para Tawaret cuidar dela e do bebê.

Um suspiro de Anput cortou o ar enquanto ela levantava os olhos para o céu um tanto sonhadora.

- Não te faz ficar com um pouco de inveja? - perguntou ela tentando esconder a vergonha enquanto saíam da vila.

- Inveja?

- É. Eles estão tão fofos juntos e tem uma vida tão… calma. Sem preocupações grandes.

- Tenho certeza que eles se preocupam muito com coisas que não damos tanta atenção. - disse ele - Como o fluxo do Nilo. E maldições.

- Verdade - disse Anput - Mas não muda o fato de que eles estão lindos juntos.

Com a vila já a certa distância e notando que ela estava distraída e começando a andar sem rumo, Anúbis cruzou os braços e ficou seguindo ela com o olhar. Neby, não muito diferente, sentou-se na areia e também ficou olhando para a deusa enquanto ela andava até uma palmeira baixa e solitária. Ela se agachou e, com seu dedo indicador, começou a escrever na areia. Uma folha virada para a esquerda. Ao lado, uma sequência de zigue-zague para cima e para baixo várias vezes sobre um quadrado. Ao lado, um pequeno passarinho. Ao lado, um chacal. Inpw, Anúbis. Em seguida, escreveu outra sequência bem parecida. A mesma folha seguida da mesma sequência de zigue-zague e da caixa e do passarinho. Mas depois, uma semi-circunferência virada para baixo. Inpwt, Anput.

- A situação atual deixa difícil que nasça qualquer outro herdeiro ao trono. - disse Anput - Tem noção de que se Osíris não voltar, se Ísis não conseguir segurar o trono e Set e… enfim… tem noção de que você é, até então, provavelmente o próximo na linha de sucessão do trono.

- Um tanto difícil de dizer isso com toda essa bagunça. - disse ele suspirando - Espero que ela se resolva, pois não tenho o menor interesse de ficar com ele.

- Muitos iriam te chamar de maluco por isso - disse Anput depois de soltar uma leve risada.

- Você acha que… - disse Anput meio insegura mas decidindo arriscar ser mais direta mesmo assim enquanto apagava com o pé o que havia escrito na areia -  que vão tentar fazer um casamento arranjado para você?

Chocado com a mudança repentina de assunto, Anúbis trocou o peso de seu corpo de um pé para o outro e olhou para Anput com um olhar de dúvida e curiosidade enquanto inclinava levemente a cabeça.

- Ahm… Não sei. - disse ele - Mas espero que não. Especialmente considerando que eu tenho outros planos nesse quesito. Isso é, se derem certo. Já que não dependem totalmente de mim.

Um sorriso trêmulo e esperançoso ameaçou surgir no rosto de Anput, mas ela o controlou ao se virar lentamente para Anúbis mantendo a mão sobre a solitária palmeira ao seu lado.

- De que esses planos dependem para darem certo? - perguntou Anput.

- Principalmente de você - disse ele dando de ombros e abrindo um pequeno sorriso no rosto apesar de uma leve vermelhidão começar a tomar conta de sua face.

O coração de Anput pareceu dar um pulo em seu peito ao ouvir aquilo e seu rosto logo começou a ficar mais avermelhado.. Ela parou como uma estátua e levou delicada e sutilmente a mão até seu peito sentindo o coração bater.

- Tão direto você - disse ela dando uma leve e tensa risada sentindo o coração ansioso com o desfecho da conversa.

- Devia tentar algumas vezes.

Ela soltou uma pequena e tímida risada ao lentamente deixar a mão que se apoiava na palmeira cair suave e normalmente. Lentamente, passo a passo, ela foi diminuindo a distância que existia entre eles.

- Posso então?… tentar ser mais direta - disse ela ao se aproximar dele.

Olhando dentro dos olhos negros de Anput que já estava diante dele, Anúbis, curioso pelo o que ela iria dizer, abriu um pequeno sorriso desafiador e então deu de ombros. O mesmo sorriso começou a nascer nos lábios de Anput, mas ela o interrompeu brevemente para morder o próprio lábio inferior. Num breve segundo, ela respirou fundo e lentamente aproximou seu rosto que, cada centímetro de distância diminuído, mais se avermelhava, assim como o dele. A distância foi diminuída a tal ponto que nenhum dos dois precisou se mexer muito para que ambos os lábios se tocassem num leve, breve e doce beijo.

Tendo a leve intenção de apenas dar um breve beijo, Anput afastou lentamente o rosto depois de um tempo. Contudo, mesmo com o coração a mil, Anúbis habil e rapidamente passou a mão para a cintura dela puxando-a delicadamente para um beijo mais longo. Ela não recusou. Muito pelo o contrário, fechou os olhos novamente e se deixou levar pelo momento.

 


Notas Finais


## REFÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ##
casa https://www.historyonthenet.com/ancient-egyptian-houses/
ra https://en.wikipedia.org/wiki/Ra
shu https://en.wikipedia.org/wiki/Shu_(Egyptian_god)
tefnut https://en.wikipedia.org/wiki/Tefnut
ptah https://en.wikipedia.org/wiki/Ptah
Nu https://en.wikipedia.org/wiki/Nu_(mythology)
casamento e amor https://www.ancient.eu/article/934/love-sex-and-marriage-in-ancient-egypt/
teste de gravidez - https://history.nih.gov/exhibits/thinblueline/timeline.html
anubis - https://pt.wikipedia.org/wiki/An%C3%BAbis
anput - https://pt.wikipedia.org/wiki/Anput
mulheres - https://en.wikipedia.org/wiki/Women_in_ancient_Egypt
poema de amor - https://en.wikisource.org/wiki/Ancient_Egyptian_Love_Poems


ps: nos links vcs podem ver os hieroglífos dos nomes deles que foram escritos por Anput na areia. talvez vcs tenham notado que Inpwt não é tão diferente de Anput. Mas Inpw é muito diferente de Anúbis. Isso é porquê “Anúbis” vem da versão grega do nome dele Ἄνουβις.
ps2: o que acharam da breve mudança de pedaços do Livro dos mortos para um fragmento de um dos mais antigos textos românticos da humanidade? XD
ps3: Anput revelando pq vcs nunca ouviram falar dela. deusa-menor

O QUE VOCÊS ACHARAM DO CAP!! WAAAHH!! O QUE DEVERIA ACONTECER NELE MUDOU TANTAS VEZES!!


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