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História A Morte Das Areias do Saara - O primeiro à pagar


Escrita por: kagome95ingrid

Notas do Autor


desculpa a demora! aproveitem o cap! esse eu me senti terrivelmente culpada de ter escrito ;~;

Capítulo 72 - O primeiro à pagar


Fanfic / Fanfiction A Morte Das Areias do Saara - O primeiro à pagar

Então Nefer-ka-ptah se levantou na barcaça real e, do outro lado da água, gritou para as cobras, escorpiões e criaturas rastejantes; um grito alto e terrível, e as palavras eram palavras mágicas. Assim que sua voz se acalmou, as cobras, escorpiões e coisas rastejantes também ficaram, pois estavam encantados por meio das palavras mágicas de Nefer-ka-ptah e não podiam se mover. Nefer-ka-ptah trouxe a barcaça real até a borda da lacuna, e ele caminhou entre cobras e escorpiões e coisas rastejantes, e eles olharam para ele, mas não podiam se mover por causa do feitiço que estava sobre eles.

~ Fragmento de “O Livro de Thoth”

 

Apesar dos problemas que se acumulavam, a tranquilidade da praia conseguia levar eles para longe junto com as ondas. Talvez porque os problemas estavam mais concentrados em outros deuses que não eles. Assim, conforme o sol começava a iluminar o Egito e refletir seus raios nas águas do Nilo, a reunião descontraída que havia começado só com Anput, Sopdet e Seshat, já havia dobrado de tamanho.

Com os pés na água, Anput e Nefertem simplesmente aproveitavam a temperatura da água e o barulho das ondas se quebrando na areia enquanto Sodpet estava deitada de olhos fechados aproveitando o segundo. Perto da fogueira que já havia se apagado, Anúbis,  Qebui, Seshat que conversavam enquanto Seshat ensinava Anúbis a tocar um alaúde importado da Suméria. O instrumento, um tanto diferente de sua versão medieval que ainda estava longe de nascer, tinha um médio e fino braço onde os fios se amarravam até chegarem à um ressonador de concha de tartaruga. Lá, os fios se escondiam no interior do casco ao ficarem debaixo de uma camada de pele.

- Não acredito que você foi na Suméria só pra pegar isso… - disse Qebui olhando o instrumento tentando descobrir o que tinha de interessante.

- Eu não. - disse Seshat - Hathor foi para isso e outras coisas. Apenas pedi um de lembrança.

Sem ter muita ideia de como tocar o instrumento que tinha nas mãos, Anúbis arriscou dedilhar uma das cordas para ouvir o que saía. O som diferente mas meio rústico que saiu o motivou a tentar uma segunda corda e ele, apesar de não saber muito de música, ficou se perguntando se dava para criar alguma coisa com aquilo.

- Tenta assim… Segura aqui… assim… - disse Seshat tentando ajudar ele a tirar alguma sequência de nota que parecesse ao menos minimamente interessante - Se você mudar a posição da mão, o som também muda mesmo se você puxar a mesma corda.

Anúbis tentou o que ela falou e ficou evidente em seu rosto a surpresa ao notar que  som havia mesmo mudado.

- Não tem esse instrumento no Egito ainda? - disse Anúbis insistindo agora nas duas únicas notas que pareciam combinar entre si mas que ainda estavam longe de, juntas, serem uma música.

- Não. Ao menos segundo Hathor. - disse Seshat - Ainda também é bem caro por lá também.

- Vocês estão mesmo falando sobre instrumentos musicais ao invés de falar do maior babado provavelmente da década? - disse Nefertem se agachando até as mãos conseguirem entrar na água também e então levantando-se novamente passando então as mãos molhadas pelos longos e belos cabelos cacheados. - Um mortal roubando algo dos deuses enquanto seu pai fecha todos os templos!

- O que mais temos para falar disso? - perguntou Qebui.

- Me intriga que Thoth não é tolo. - disse Anúbis suspirando e desviando a atenção do alaúde - Não deixaria algo perigoso assim tão fácil por aí. 

- Mesmo se fosse pra… não sei… querer ver o que aconteceria? - perguntou Sodpet.

- É verdade que tudo para ele é um grande projeto, experiência ou descoberta… - ponderou Seshat - Mas ele não seria imprudente à esse ponto… eu acho ao menos.

- E como Minkhaf… se tiver sido ele mesmo… encontrou algo tão perigoso assim? - perguntou Anput - Não tem como ter sido por acaso. Ele já sabia. Mas como?

- Tem algum jeito mágico de perceber isso? - perguntou Qebui - Caso contrário alguém contou pra ele.

- Mas quem? Min? Thoth? - perguntou Sodpet - Quem mais sabia desse livro?

- Hórus acho… - comentou Anúbis - Além deles, não sei.

- E…. na verdade… - disse Sodpet soltando um pesado suspiro ao se sentar e olhar para Qebui - Já cansei de falar disso. Já falamos muito antes de vocês dois chegarem.

Já se distanciando da conversa, Anput deixou também o mar para trás e foi até o lado de Anúbis onde se sentou na areia tranquilamente. Eles trocaram um breve olhar e um pequeno sorriso e deixam os demais continuarem a conversa enquanto os dois começavam a própria.

- É difícil tocar? - perguntou Anput.

- Difícil é achar alguma coisa que pareça uma música mesmo. - admitiu Anúbis - Mas é interessante.

- Sei só duas músicas. - admitiu Seshat aos sussurros deixando a discussão sobre o Livro de Thoth de lado - Duas e meia na verdade. Posso tentar te ensinar.

- Acho que vou querer também. - disse Anput entrando na oportunidade. 

Sem terem inventado ainda nenhuma forma de registrar o som de uma música em papel, como uma partitura ou algo do tipo, uma oportunidade de aprender com alguém que sabia não podia ser jogada fora. Afinal, era a única forma de passar as músicas adiante.

- Na verdade… esses dois que te mostrei agora a pouco são o começo de uma das músicas. - disse Seshat pegando o instrumento para mostrar a música.

Ela repassou as notas mentalmente antes de começar a tocar, mas logo seus dedos começaram a dedilhar o instrumento. Cada nota era simples, gentil e conseguia ser clara e leve a cada vibração da corda tocada e ao mesmo tempo combinar com a secura do deserto que se escondia mais além depois da mata que rodeava aquela praia. Mas, por mais suave que o som fosse, ainda assim era arrebatador e decidido a cada tremular de corda que formava o som cadenciado da música.

Tanto Anúbis como Anput já estavam mais aproveitando a música do que necessariamente prestando atenção para aprender algo. A suavidade e tranquilidade da música inclusive começou a atrair a atenção também de Sopdet, Nefertem e Qebui interrompendo a conversa inflamada deles sobre o Livro de Thoth. Seshat ficou momentaneamente sem graça diante de tanta atenção mas disfarçou isso com perfeição e continuou tocando a tranquila melodia.

O momento estava perfeito até que uma sensação incômoda e macabra atingiu Anúbis num piscar de olhos. Conhecia bem aquela sensação. Ele sentia várias vezes por dia, todos os dias, sem exceção. A novidade dessa vez, era quem estava gerando aquele desconfortável sentimento muitos metros à sul. E, sem pensar duas vezes, deixou aquela reunião tão feliz e tranquila para trás e foi para onde tudo se desenrolava. 

Na barca real onde Minkhaf e sua família estavam enquanto voltavam para Mênfis, o garotinho Merab saiu correndo da sombra do toldo e se inclinou para o lado, observando a água. Aparentemente sereno mas escondendo uma vingança, o sol era refletido nas águas do Nilo. O reflexo do sol atraiu o olhar inocente da criança de um jeito completamente não natural. Ali não estava apenas o reflexo do sol, estava uma parte do poder que Rá emprestou para que fosse usado para resolver o impasse do Livro de Thoth. Devido a sua natureza mágica, o poder de Rá atraiu a criança e, num piscar de olhos, a criança caiu no rio bem no momento em que Anúbis aparecia no barco.

Ninguém poderia ver Anúbis, uma magia impedia que os mortais o notassem. Mas, mesmo se notassem, provavelmente não lhe dariam importância pois todos os olhos se direcionaram rapidamente para o acidente conforme água entrava pela boca de Merab e a criança sumia embaixo d’água. Gritos quebraram o silêncio, um soldado pulou na água para tentar salvar o menino seguindo o puro instinto. Mas não havia nada de natural naquele afogamento e o soldado logo perceberia isso. O pequeno corpo de Merab era puxado cada vez mais para o fundo por uma força invisível tão forte que o soldado não conseguia puxar de volta não importava o quão forte ele fosse.

Ahura, ao notar que seu filho que havia caído do barco, gritava desesperada. Ela quase pulou na água para tentar salvar seu pequeno, mas um soldado a segurou.

- Metjen pulou para salvar o pequeno, minha senhora. - explicou o soldado - Ele é o melhor nadador entre nós.

- MEU FILHO! SALVEM MEU FILHO! - gritava a mãe desesperada.

O desespero chegou também em Minkhaf que, com o coração batendo desesperado, não via nem o soldado e nem a criança voltando para a superfície. Aquilo não parecia normal. Afinal, não tinham visto nada de sangue nas águas do rio. Assim, poderiam descartar um crocodilo ou hipopótamo. O Nilo não tinha tanta correnteza, então não fazia sentido um soldado adulto e bom nadador não estar conseguindo puxar uma criança de volta. A conclusão para Minkhaf foi clara, os deuses tinham descoberto seu roubo e a punição havia chegado.

Alheios ao desespero que se desenrolava no barco enquanto o menino se debatia embaixo d’água. Estavam Anúbis e Thoth pois Anúbis notou o deus da sabedoria voando pelos céus em sua forma de pássaro. Thoth, ao ver Anúbis, se juntou com ele em seu cantinho magicamente escondido e logo falou:

- Não vá tentar salvar o menino, por favor. - pediu Thoth.

- Vai acabar é matando o soldado assim também. - respondeu Anúbis com a voz curta não conseguindo esconder que não gostava daquilo - Aquilo é uma magia de Rá, não é? Nem mesmo um de nós poderia interromper ela.

- Só pegue a alma do menino e vá para o Salão do Julgamento, sim? - pediu Thoth enquanto olhava Anúbis esperando ele fazer exatamente isso.

Anúbis suspirou quando sentiu que o menino por fim morreu. Almas de crianças eram complicadas demais. Não entendiam bem o que estava acontecendo ao seu redor e ficavam chorando pelos pais. Era completamente fora do padrão já levar a alma do menino para o Salão do Julgamento antes mesmo de ter sido feita a mumificação dele, mas, se Thoth estava pedindo, o que Anúbis poderia fazer?

- Sabe que não é assim a ordem das coisas, né? - perguntou Anúbis.

- Só para mostrar para Hórus e Rá e então a alma pode seguir a ordem normal das coisas. - explicou Thoth.

Com a mesma facilidade com a qual havia chegado até ali, Anúbis deixou o barco para trás e reapareceu embaixo d’água. O soldado já havia desistido de puxar o corpo do menino para fora d´água e havia notado as duas coisas óbvias. A primeira, que uma força invisível impedia o pequeno corpo de sair do fundo do Nilo. A segunda, que a criança já estava morta.

Afogamento era uma morte horrível e que com certeza aquela criança não merecia assim como não era justo o pequeno Merab pagar pelos erros do pai. Vendo a criança ali embaixo d’água, desamparada, Anúbis não pode deixar de notar em como Merab ainda era muito pequeno. Dentro de alguns minutos provavelmente o poder de Rá já estaria fraco o suficiente para que os pais recuperarem o corpo da criança. Anúbis assim torcia. Assim, pelo menos poderia dar a Merab uma vida no Aaru pelo menos. Crianças costumavam passar com extrema facilidade para os campos dourados.

Por mais triste que fosse a cena, Anúbis não tinha tempo para pensar nela ou digeri-la. Delicadamente puxou aquela bolinha de luz colorida e saltitante que era a alma de Merab de seu peito e levou-a consigo para o Salão do Julgamento. Lá, encontrou os deuses já reunidos depois de provavelmente Thoth ter explicado toda a situação. Sempre gostava de notar como era extremamente útil o tempo no Salão do Julgamento passar bem mais rápido do que no mundo mortal. Não sabia como conseguiria julgar todas as almas que morriam por dia se não fosse por esse pequeno detalhe.

- Diss que matou o primogênito de Minkhaf, Thoth. - disse Rá olhando para Anúbis que não olhava para ele pois estava concentrado em deixar gentilmente a bolinha que era a alma de Merab flutuar diante de todos - É esse o menino?

Aquela singela, jovem e alegre bolinha logo tomou forma de uma criança de olhar curioso que, ao ver o lugar estranho que estava, começou a ficar com medo. Lágrimas começaram a brotar nos olhos de Merab enquanto ele fez a pergunta que toda criança faria naquele momento.

- C-Cadê a mamãe? - choramingou Merab.

- O primogênito e até então único filho. - explicou Thoth.

- Ele faz ideia de onde está? - perguntou Rá.

- É uma criança. - explicou Anúbis - Está confusa e assustada. 

- As almas de crianças são sempre complicadas de julgar mas ao mesmo tempo fáceis. - disse Osíris acrescentando detalhes à informação e, pela cara do governante do submundo, ele também não gostava do fato da vida de Merab ter sido ceifada tão levianamente - Fáceis pois são honestas como poucas. Difíceis pois estão geralmente assustadas ou perdidas.

- Tinha mesmo que matar o menino? - perguntou Anúbis para Thoth.

- Faz parte de minha vingança e da ordem de Rá! - defendeu-se Thoth - Minkhaf ainda tem chance de reparar o erro que fez.

- P-Papai… ma-mamãe… - chorava o pequeno Merab não segurando as lágrimas que escorriam pelo rosto.

Lançando um olhar irritado para Thoth, Anúbis se agachou diante de Merab e tal gesto, tão simples, gerou um forte revirar de olhos por parte de Hórus. Um deus se agachando assim para um bebê catarrento parecia o fim do mundo para o falcão.

- Seus pais estarão logo aqui… - disse Anúbis e, independente se Minkhaf reparasse o erro dele ou não, eventualmente seria verdade. Quer fosse em alguns dias ou em vários anos - Não precisa ficar com medo. Você gosta de cachorros?

- Goto. - resmungou a criança fungando fortemente com o nariz.

- Se você tiver sido um bom menino, do outro lado daquela porta ali… - disse Anúbis apontando porta a porta do Aaru - Tem um monte para você brincar.

A criança olhou curiosa para o portal para o Aaru já se perguntando que tipos de diversões teriam do outro lado e quanto poderia entrar lá. Será que seus pais iriam junto com ele? Realmente queria brincar junto com eles. Mas, depois de uma fungada mais tranquila, quando o menino abria a boca para perguntar algo para Anúbis, tudo mudou repentinamente quando uma força mágica puxou bruscamente a alma de Merab para longe do Salão do Julgamento.

 

 


Notas Finais




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