História A nerd e o popular - Amourshipping - Prazer!

Serena ON

Seis da manhã, um horário em que eu estaria no meu décimo sono agora é o horário na qual eu desperto. É, as férias acabaram. 

Assim que o despertador antigo toca eu me levanto com uma baita dificuldade e me direciono ao banheiro, e bem, nem preciso dizer a decepção que fiquei quando me vi no espelho. Nem tanto pela minha carranca mal humorada, e sim pela minha "disposição" aparente. Resumindo: nenhuma. 

Faço minha higiene pessoal e depois me visto, com meu tradicional uniforme preto da Pallet School 2. Colégio em que estudo desde que entrei no ensino médio. 

Tudo pronto e em seu devido lugar. Dou uma última conferida no meu material e, antes de sair do quarto novamente, fico me "avaliando" no grande espelho que tinha no meu armário. Bom, não me acho bonita, e ninguém nunca achou, mas, confesso ter minhas qualidades. Cintura fina e um cabelo loiro devidamente cortado na altura dos ombros; tenho olhos bem azuis e claros, mas a parte do meu corpo na qual eu mais admiro é minha pequena bunda levemente empinada. Porém, essas "qualidades" que afirmo ter nunca despertaram interesse em alguém. É difícil namorar sendo tão anti social, se ao menos eu fosse mais segura, talvez... Enfim, dane-se, melhor eu descer, não quero chegar atrasada no meu primeiro dia.

Desço as escadas e assim que entro na cozinha encontro uma loira visivelmente irritada e uma morena tomando seu café enquanto lê sua revista. 

Ouvindo sermão em, 3... 2... 1...

- SERENA VOCÊ PERDEU A NOÇÃO DO TEMPO? - grita a loira, surgindo uma veia pulsante em sua testa.

- não me enche, Ko.

Korrina, minha irmã irritante. Loira como eu e de personalidade diferente, a mesma nem parece que é minha irmã. Temos a mesma idade, só que ela é mais velha por algumas míseras horas. Diferente de mim ela é bastante popular na escola, grande parte por seu porte físico. A loira é bem... Como eu posso dizer... Gostosa? Enfim, ela é um pouco mais alta que eu e é bem atlética. Seu grande cabelo loiro é quase que sempre amarrado num rabo-de-cavalo pela mesma. Korrina tem um corpo bem bonito, coxas torneados e seios medianos, e bom, sua cintura fina e abdômen malhado são de dar inveja! Lembra quando eu disse que minha maior qualidade é minha pequena bunda empinada? Bom, ela é quase nada perto da dela. Realmente, Korrina nem parecia minha irmã.

- não me enche? NÃO ME ENCHE?? Eu vou te ensinar a me respeitar! - exclama a loira vindo em minha direção com uma cara de cão raivoso.

- aé? Então vem, oxigenada! - retruco já preparada pra agarrar os cabelos dela, até que:

- parem as duas... - diz minha mãe nos olhando por cima da revista, fazendo nós duas engolirmos seco. É, não queira ver dona Grace irritada logo pela manhã.

- foi ela que começou! - dizemos em uníssono apontando uma para outra. 

- não quero saber quem começou, tomem seu café e vão para escola - diz autoritária. 

- tá bom mamãe... - desistimos em uníssono e nos sentamos a mesa, nos servindo do que tinha à vista.

Pois é, dona Grace é assim, fala uma vez e aí de quem retruca-lá. A mulher que está perto dos quarenta é a minha heroína. Assim que meu pai a deixou ela cuidou da casa sozinha, sustentando eu e minha irmã com seu emprego de secretária. Já passamos por algumas dificuldades, mas graças a Deus hoje estamos mais estáveis. Mesmo a morena sendo um pouco séria e até rabugenta, tanto eu quanto Korrina sabemos que ela é uma pessoa doce e gentil na qual admiramos muito. 

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- tchau mãe, até mais tarde! - me despeço abrindo a porta.

- tchau querida, se cuida. E cuide da sua irmã por favor! - com coisa que ela precisa de mim. Nos despedimos com um aceno breve e sigo caminho com a loira irritante ao meu lado.

- Serena... - Korrina me chama e eu me viro a encarando - o que espera pra esse ano? Sabe, é nosso último ano, da pra imaginar!? - o brilho em seu olhar me faz rir. A loira sempre foi muito exagerada. 

- bom, não sei, com tanto que eu não seja incomodada por mais um ano, por mim tanto faz... - claramente eu estava mentindo. Não achava legal ser a "invisível" da escola, mas para minha própria alto confiança, eu tinha que fingir pra não passar percebido minha fragilidade. A loira ao meu lado não botou fé na minha frase, tanto que arqueou a sobrancelha, desconfiada.

- ah para né, Serena, você sabe que se quiser deixar de ser invisível é só andar comigo! - ata que eu faria isso - você não precisa viver nesse mundo de solidão que você mesma criou... 

- olha, chegamos! - mudo de assunto do nada, fazendo a loira bufar.

Não queria ouvir aquilo. Não preciso de ninguém, eu gosto de ser assim, será que ninguém me entende?! 

- essa conversa não acabou viu mocinha! - exclama Korrina antes de se distanciar indo a procura de sua sala.

Faço o mesmo que ela e começo a procura incessante pela minha turma. Não demorou muito e enfim encontrei meu nome na lista de uma sala. Suspiro profundamente antes de entra-lá, e assim que passo pela porta sou perseguida por olhares de todos os lugares da sala. Coro um pouco com a momentânea atenção e me direciono até meu assento.

- Serena! - ouço meu nome ser chamado e me viro assustada até encontrar a dona da voz.

- Misty! Nossa, nem te vi, ruiva - sorrio sem graça pra mesma que me encara desacreditada.

- sempre lerdinha né loira! - rimos.

Misty é minha amiga de infância, e assim como Korrina, ela é bem popular no colégio. Nem tanto pelo seu corpo, e sim por ser das líderes de torcida. A ruiva tem um corpo mais requintado, ela é do tipo "magrinha sexy". Sua personalidade forte já me protegeu muito, pois sempre que a questionavam do porquê ela andava comigo, a mesma faltava socar a pessoa. Ela realmente é uma amiga de verdade, e acho que a única que tenho.

Eu e a ruiva conversávamos coisas aleatórias, pondo o papo em dia, quando percebemos que quase toda a sala se calou, ambas olhamos para frente e notamos o motivo do silêncio instantâneo.

Eram eles...

- não suporto isso... - Misty aparenta desgostar de todo esse clima dramático a cerca dos dois. Bom, não é pra menos. 

Ash Ketchum e Dawn Hikari. Ambos são os queridinhos do colégio. A azulada é a capitã das líderes de torcida, e apesar de parecer muito metida, a mesma é um doce de pessoa, mais para muitos (como Misty) a mesma não passa de uma "duas-caras". Já o Ketchum tem sua fama por conta das festas que o mesmo organiza em sua casa. Diferente de Dawn, ele sim eu considero um mau-caráter, pois o vejo como uma pessoa folgada com banca de badboy. 

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Acabaram-se as três primeiras aulas (que foram praticamente de apresentações) e bateu o sino para o intervalo. Eu e Misty geralmente ficamos juntas nesse tempo, mas a ruiva tinha outros planos.

- droga! - a ouço bufar enquanto saíamos da sala - Sere, eu preciso ir na diretoria. Tenho que acertar minha matrícula com o diretor Carvalho - fiquei confusa do porquê ela precisaria fazer isso, mas dei de ombros e assenti pra mesma - vai segurando nosso lugar. Já, já eu te encontro! - termina ela e se afasta, sumindo entre os corredores.

- estou sozinha, novamente... - suspiro revirando os olhos.

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Depois de uns minutos andando, enfim encontro o lugar onde costumo ficar com a ruiva. Um pequeno banquinho de madeira que fica ao lado de uma linda árvore de cerejeira. Começo a andar de cabeça baixa ao local, segurando um pequeno pote no qual eu levava meu lanche até que sinto meu corpo se chocar em alguém.

- d-desculpa - digo envergonhada, sem coragem de encarar a tal pessoa.

- olha por onde anda caralho... Ei, espera... Sereninha, que bom te ver  - essa voz... Só podia ser ele.

Levanto o olhar dando de cara com o menino mais babaca que conheci na vida. Calem, um dos metidos da escola que tem como hobby infernizar meu sossêgo. Estudamos juntos desde o fundamental e sempre que pode ele me provoca da maneira que bem entende.

- se me der licença... - eu ia seguir caminho, mais o babaca segurou meu braço me impedindo.

- espera loirinha, não ta afim de conversar? - diz ele com aquele olhar nojento de sempre.

- não com você, agora se me DER LICENÇA! - exclamo com mais vontade, fazendo o mesmo rir. Ele balança a cabeça debochando mais parecendo uma criança birrenta do que um marmanjo de 17 anos.

- qualé Serena, não quer brincar comigo? Sabe... - sinto sua mão livre percorrer sobre minhas costas - pra uma nerdinha, você até da um caldo! - meus olhos marejados já ditavam o que viria pela frente. Mas, pra minha surpresa (e pra do babaca também), alguém aparece. 

- ô seu idiota, deixa a menina em paz - encaro o dono da voz autoritária e fico boquiaberta, surpresa com a estranha intervenção do mesmo.

Calem suspira e me solta num empurrão, me fazendo cair no gramado. 

- qual foi Ash, agora virou o protetor dos mais fracos? - questiona ele em deboche, se virando pro moreno a minha frente, que o encarava sério.

- a turma está te procurando - diz seco, fazendo Calem supirar e se virar pra mim com mesmo olhar nojento de antes.

- até a próxima, Sereninha! - ele pisca antes de se distanciar, me fazendo bufar em nervosismo.

- garota, se eu fosse você me levantava do chão... - volto minha atenção pro garoto a minha frente, um pouco supresa por ele ainda estar ali - vem - o moreno estica a mão pra me ajudar. Com um pouco de receio, aceito a ajuda, me pondo de pé em seguida.

- o-obrigada! - agradeço o olhando nos olhos. Mas ele parece estranhar, pois arqueou uma sobrancelha de forma mesquinha.

- espero que esteja me agradecendo pela mão que te dei, porque eu não te denfendi, espero que fique bem claro isso - okay, agora sim ele parece o Ash que conheço.

- olha aqui eu te conheço tá bem? Eu sei como gentinha como você age - digo firme enquanto seco as lágrimas estacionadas em meus olhos, não querendo parecer frágil em sua frente. 

- tanto faz; se cuida esquisita - eu já ia retrucar, mas o mesmo se virou e seguiu caminho, me deixando com o rosto vermelho de raiva.

- desgraçado, nem sei como um dia eu... Ah, esquece... - suspiro novamente e sigo agora ao banquinho, sem tirar da cabeça a confusão que acabara de acontecer.

"É, esse ano vai ser longo..."

Penso, observando as folhas secas do pé de cerejeira caírem sobre o gramado verde.