História A nova vida de uma pequena shinigami - O primeiro dia de aula

Dias depois...

Harumi se encontrava recostada contra a cama enquanto lia um romance, uma cena rara de se ver. Ela passava folha após folha, até que momentos depois parou a leitura ao ver que o marido havia chegado no quarto.

Harumi: Ela dormiu? - Perguntou.

Ukitake: Hai, estava cansada após brincar o dia inteiro... - Apesar de chegar cansado do 13° esquadrão, o grisalho não abria mão de participar das atividades que envolviam a filha, ele fazia questão de ajudar a esposa em tudo. 

No momento ele se encontrava em frente ao espelho, onde soltou as longas madeixas e começou a trocar de roupa. 

Ukitake: Sabe, Kosuri... eu venho pensando sobre aquele assunto que estávamos conversando naquele dia... - Ele pegou a escova dela e começou a pentear o cabelo.

Ela fechou o livro e o deixou do seu lado, aquele era um assunto sério afinal de contas.

Harumi: Então? O que você decidiu? - Ela pôde ver pelo reflexo do espelho que ele estava um pouco pra baixo. 

Ukitake: Eu ainda mantenho a mesma opinião de antes, não estou pronto pra "soltar" a minha filha... Mas também não posso ser egoísta ao ponto de restringir as experiências da Hinami por conta dos meus medos... Ela tem que crescer, e eu como pai tenho que deixar ela conhecer as coisas... - Ele parou o que estava fazendo e apoiou os braços sobre a penteadeira da esposa. - ...Mas por quê me dói tanto algo como isso? Parece que vão arrancar a minha filha de mim...

A pequena capitã levantou-se da cama e foi até ele, surpreendendo o mesmo quando o puxou pra um abraço.

Harumi: Isso também é difícil pra mim, mas vai ser algo bom, a Hinami precisa ter contato com outras crianças. - Dizia ela enquanto afagava as suas costas quentes e desnudas contra si.

Ukitake: ...Hai, eu sei disso... Talvez esteja mesmo na hora de dar asas a nossa pequena... - Ele olhou diretamente pra ela e completou. - Estou de acordo, procure uma boa escolinha pra ela, o que você decidir, eu aceitarei.

Harumi: Isso é um grande passo seu também, estou orgulhosa de você...

Ukitake: Arigatou... 

(...)

No dia seguinte Harumi seguiu pro 9° esquadrão já tarde, passara a manhã inteira cumprindo o combinado, havia conhecido todas as escolinhas infantis de Sereitei. Mas ainda assim, havia ficado em dúvidas entre duas delas, e decidiu que deixaria a própria filha decidir em qual das duas ficaria. (Claro, isso depois de conversar com ela sobre tal novidade.)

Após alguns minutos andados, ela enfim chegou. 

Hisagi: Taichou, konichiwa. - Falara o tenente enquanto organizava uma pilha enorme de documentos.

Harumi: Olá Hisagi, me desculpe por chegar tarde, acabei tendo que resolver umas coisas.

Hisagi: Não se preocupe, as coisas hoje estão bem calmas. - Ele olhou pra ela. - Como está a minha afilhada?

Ela sorriu.

Harumi: Está bem... na verdade ela foi o motivo de eu ter chegado a essa hora.

Ele não entendeu.

Hisagi: Como assim?

Harumi: Eu fui atrás de uma escola pra matricular a Hinami.

O tenente parou o que estava fazendo e fitou novamente a capitã.

Hisagi: O quê?... Escola?

Harumi: Hai, está na hora dela descobrir as coisas, vai ser bom pra Hinami sair um pouco de casa e ter amigos.

Hisagi: H-hai... acho que sim... - Ele ainda parecia meio desconcertado com a novidade, algo que a capitã rapidamente notou.

Harumi: Ora, você também? - Ela riu. - Eu cheguei a ter que consolar uma certa pessoa que até chorou por causa disso, por favor me diga que você é um homem um pouco mais controlado...

Daquela vez foi ele que esboçou um sorriso.

Hisagi: ...Ele não gostou da ideia?

Harumi: Digamos que ele não esperava que eu fosse aparecer com algo como isso, mas no fim ele entendeu.

Hisagi: Entendo... Que estranho... ela nem é minha filha e estou sentindo algo diferente, quem dirá ele que é o pai dela...

Ela suspirou, como eles podiam ser tão sensíveis por conta de uma simples escola?

Harumi: Vocês estão precisando de nervos mais fortes isso sim... Bem, ainda não está nada decidido, eu ainda tenho que falar sobre isso com a pessoa mais importante nessa história.

Hisagi: Are? A Hinami não sabe?

Harumi: Não, mas também se ela não quiser ir eu nunca vou obrigar, sem contar que isso faria o Ukitake gritar aos quatro ventos a felicidade dele.

Hisagi: Hahahaha, ta aí, uma cena que eu gostaria de ver.

Harumi: Mas eu não vou dar o braço a torcer, não vou deixá-lo voltar atrás.

O tenente ficou um pouco pensativo.

Hisagi: Então quer dizer que a minha sobrinha do coração já está prestes a ir pra escola... Onde eu estive por todo esse tempo?...

O tempo voa...

(...)

Harumi chegou em casa um pouco mais tarde naquela noite, tanto é que encontrou a filha já de banho tomado e sentada à mesa, na companhia do pai.

Harumi: Parece que a mamãe chegou um pouquinho atrasada hoje... - Ela beijou ambos e tirou o haori. - Como estão as duas pessoas que eu mais amo na vida?

A menina foi a primeira a falar.

Hinami: Mamãe, você não vai jantar comigo e com o papai?

O grisalho apenas a olhou enquanto mantinha um sorriso preguiçoso.

Harumi: Bem, a mamãe não está com vontade de com-

Hinami: Onegai mamãe! Nós temos que ficar uns momentos juntos!

Wow! De onde ela tirava aquelas ideias?

Harumi: Hai hai... - Ela se rendeu. - Parece que a mamãe não tem opções...

Ukitake: Não vai comer nada? - Perguntou um pouco sério, depois que ela sentou à mesa.

Harumi: Ah... - Ela não gostava de falar sobre aquele assunto na frente da filha. - Eu já comi no bantai, talvez mais tarde eu coma alguma coisa. - Os dois sabiam que aquilo era mentira, mas havia alguém ali que era ingênua demais.

Hinami: Mesmo? O que você comeu lá mamãe?

O que ela ia responder agora?

Harumi: Hm... - Ela pensou na primeira desculpa que veio na cabeça. - O Hisagi onii chan fez um lanche bem gostoso pra nós dois lá. - De fato o tenente era um bom cozinheiro, isso não era mentira, e também não era raro ele cozinhar no 9° esquadrão, difícil mesmo era convencer a capitã a comer.

Hinami: O Hisagi onii chan? - O sorriso costumeiro ao ouvir o nome do tio logo apareceu. - Quando ele vai vir me visitar?

Ótimo, ela havia mudado o assunto.

Harumi: Quando ele tiver tempo a mamãe convida ele a Matsumoto onee san pra virem pra cá, tudo bem? 

Hinami: Hai!

A capitã trocou um rápido olhar com o marido, o mesmo entendeu que era a hora de conversar com a menina sobre a novidade.

Harumi: Hinami, a mamãe e o papai tem uma novidade pra falar pra você. - Ela mantinha o olhar gentil, enquanto o grisalho se esforçava pra fazer o mesmo.

Hinami: O quê? - Ela não havia parado de comer, mas ouvia atentamente.

Harumi: Você não tem vontade de ter amiguinhos da sua idade?

Ela pareceu ficar um pouco pensativa.

Hinami: Como assim?

O grisalho interviu.

Ukitake: A mamãe está querendo saber se você não gostaria de ter um tempinho pra brincar com outras crianças, coisas desse tipo...

Hinami: Ah, hai! Eu tenho sim! Mas... eu não tenho nenhum amigo... - Ela fez uma carinha triste.

Harumi: O papai e a mamãe acham que está na hora de você ir pra uma escolinha e fazer novos amiguinhos lá, o que você acha?

Hinami: O que é "ecolinha"?

Harumi: É um lugar muito legal, onde você vai aprender muitas coisas, vai brincar muito e depois no fim do dia nós iremos buscar você.

Hinami: Mas... eu vou ficar lá sozinha?...

O grisalho olhou novamente pra Harumi, eles não haviam conversado sobre essa parte.

Ukitake: Harumi san, é permitido a entrada de um dos pais?

Harumi: Hai, há um período de adaptação onde pode ficar um acompanhante, até ela acostumar.

Ukitake: Ainda bem... - Ele fitou a menina. - Você não vai ficar sozinha meu amor, um de nós irá ficar com você até que você faça alguns amigos, tudo bem?

Hinami: Tudo bem! Então quando eu vou pra escola?

Harumi: A mamãe viu duas escolas legais pra sua idade, você vai escolher qual das duas você quer ficar na próxima semana, ok?

Hinami: Hai! - O sorriso era enorme.

Harumi: Vai ser algo muito divertido pra você meu amor, sem contar que você vai pedir ao papai que te ajude com o dever de casa não é? - Ela piscou, tentando animar o marido.

Hinami: Você vai me ajudar papai?

Ele afagava os cabelos da menina.

Ukitake: Hai... é claro que sim...

Harumi comemorou em silêncio a sua "vitória". Com certeza aquele era um enorme passo dado.

(...)

Na próxima semana, como prometido, Harumi levou a menina pra conhecer as duas escolas e decidir em qual delas ficaria. De cara ela se encantou quando viu brinquedos e crianças correndo por toda parte, sem contar as duas professoras que foram de imensa simpatia e cuidado com a mesma. Claro que em partes aquilo se devia a ela "ser filha de quem era", mas felizmente a menina não tinha consciência sobre aquelas coisas, pra ela tudo era brincadeira. Sem contar que após ela ter escolhido a tal escola, Harumi deixou claro que não queria que a filha sofresse favoritismos ou tivesse privilégios apenas por ser filha dela e de Ukitake, e que a mesma estava ali pra aprender a conviver em conjunto e pra participar de tudo exatamente como as outras crianças. A professora logo concordou, dizendo que era uma atitude muito bonita e honrada por parte dela, e que certamente Hinami receberia uma boa educação enquanto estivesse ali.

A capitã pareceu ficar um pouco mais tranquila ao ver que apesar de ainda não ser um "dia de aula oficial" a menina já havia se enturmado com algumas meninas e que já brincava como todo mundo na caixa de areia. Sem dúvidas ela queria que o marido visse aquela cena.

~

No dia seguinte os três estavam de pé logo cedo. Como Harumi havia conversado com o grisalho na noite anterior sobre a reação dela na escola, o mesmo decidiu que iria ver com os próprios olhos a tal novidade, sem contar que nunca perderia o primeiro dia de aula dela.

Após vestir a filha com o uniforme da escola, que consistia em uma blusa branca e uma jardineira vermelha que continha o nome dela bordado no bolso da frente (algo que derreteu o coração do pai), Harumi pegou a mochilinha dela, também vermelha e disse:

Harumi: Prontos? - Se referia aos dois, pois sem dúvidas havia "outra criança" ali.

Hinami: Hai!

Ukitake: Hai...

Juushirou apesar de feliz pela conquista da filha, estava com o coração um pouco apertado. Mas claro, ele nunca iria deixar que ela percebesse a sua insegurança.

Tanto ele como Harumi estavam vestidos com seus haoris de capitão, apesar dela não querer causar "alvoroço" por causa daquilo, também não havia tempo pra nenhum dos dois voltar em casa e trocar de roupa. E como a rotina da menina havia mudado, a empregada também havia trocado os horários, agora ela viria um pouco mais tarde, e com sorte, sairia mais cedo.

Ukitake se conteu pra não levar a menina no colo como ele sempre fazia, mas como aquela era uma "nova fase", ele teve que se contentar em apenas guiá-la pela mão. (Tudo por culpa da sua esposa, que aos poucos descolava a fita que os unia.)

Harumi: Vamos lá, se não iremos chegar atrasados. - Ela fechou a porta e os três seguiram em direção a escolinha.

~~

Assim que os dois capitães passaram pelos portões da escola, de praxe as professoras e as mães/pais que estavam lá mostraram respeito a ambos. Era óbvio de se pensar que tanto Harumi quanto Ukitake estariam ali naquele dia tão importante, mas vê-los ali de fato, era algo de se surpreender.

Hinami: Mamãe, você e o papai vão ficar aqui comigo? - Ela segurava na mão de cada um.

Harumi: Se você achar que precisa, sim, nós ficaremos. Se não, você fica com a sua professora e os seus coleguinhas, e nós iremos trabalhar, e no fim do dia um de nós dois virá buscar você.

Naquela hora a menina disse algo que surpreendeu até a própria Harumi.

Hinami: Não, eu posso ficar sozinha, eu já sou grande igual a você e o papai!

Um misto de orgulho e felicidade passou no coração da capitã quando ouviu a filha dizer aquilo, era uma satisfação que não cabia no peito. O grisalho por sua vez, considerando-a "culpada" por tê-lo feito passar por toda aquela situação, resolveu alfinetá-la aproveitando o gancho que a menina havia dado.

Ukitake: E quem disse que a mamãe é "grande"? Só se for nas palavras, porquê o papai sofre tendo que se abaixar todas as vezes que quer fazer um carinho nela....

Harumi gargalhou alto por conta daquilo.  Sabia que ele estava brincando, mas tinha suas dúvidas sobre ele ficar ou não com "ressentimentos".

Harumi: Gomen, mas nem com os meus saltos mais altos eu consigo resolver esse nosso problema, acho que a culpa não é só minha, você que é alto demais.

Ukitake: Hahaha, se bem que não teria a mesma graça se você fosse "grande" igual a mim, isso é um fato que não se discute, minha baixinha linda. - Completou beijando o alto da cabeça dela.

Naquele momento ambos viram a professora se aproximar.

- Ohayo Harumi taichou, Ukitake taichou! Que bom que vieram, é um dia muito importante pra Hinami chan.

Harumi: Hai, sem dúvidas é. E pra nossa surpresa ela não quer que a gente fique, disse que já é "grande" como nós dois. - Ela olhou pro marido. - Ao menos grande como o pai dela.

Ambas riram.

- Não se preocupem, nós temos toda a assistência que ela irá precisar, e caso surja algum imprevisto nós iremos entrar em contato com vocês. - Ela fitou diretamente Harumi. - Você trouxe a lista das coisas que ela pode ou não comer/fazer?

Harumi: Claro, está tudo na mochila dela, se houver mais alguma pendência você pode me avisar ou avisar ao Ukitake mais tarde.

- Claro claro, como quiser. Bem, está na hora de brincar com os seus amiguinhos Hinami chan, se despeça dos seus pais.

A menina abraçou e beijou ambos e seguiu com a professora, deixando ambos apenas observando.

Ukitake: Se um dia nós tivermos outro filho... ele só entrará na escola quando estiver maior do que eu. - Ele disse sério, mas bastou Harumi olhar pra ver que ele chorava.

Harumi: Afrouxe essas rédeas papai chorão... Você é forte, eu sei disso. Vamos embora, ela está bem cuidada aqui.

Ukitake: Hai hai...

E assim eles seguiram, cada um pro seu esquadrão.

                                       Continua