Pois, aqui estou eu. Meu real primeiro dia nesta Universidade, penso realmente que não achei chegar aqui pelo nervosismo em encontrar outras pessoas e precisar socializar com elas, justo eu não é mesmo, que estou aqui justamente para aprender a lidar com elas e seus sentimentos, forma de viver, pensamentos e tudo mais que envolta o fato.
Mas aqui é diferente, não apenas preciso me preocupar de forma clínica como também preciso me mostrar desta forma e eu acho que é o que mais me atrapalha no contexto...entender que eu também sou parte desta sociedade como ser humano e portanto não posso ser apenas uma telespectadora por fora.
Mas realmente quem eu estou tentando enganar, chega a ser engraçado como eu esqueço que estou dentro da minha própria cabeça e admito que é bem divertido lembrar como a minha mente é um espaço completamente particular que ninguém pode acessar de fato sem minha permissão e mesmo assim talvez mesmo assim nunca será totalmente aberta de fato. Então de fato começando por isso e sendo sincera porque caralhos tem tanta gente aqui, não que seja ruim visto pela forma como anda a situação da profissão e tudo mais, mas... espera eu estou perdendo o foco, moro em uma cidade que não me permite ter muita variedade de pessoas para conhecer, o que eu chamaria de Gibi da Turma da Mônica, então obviamente meus olhos primeiro percorreram pessoas já conhecidas que eu tive ou não o desprazer de encontrar, não apenas cursando o mesmo curso que eu, mas em outras instâncias do campus.
Visto deste modo eu apenas me encaminhei para onde precisava ir e me sentei, era apenas a recepção dos novos alunos e então eu aproveitei para observar as pessoas que poderiam conviver comigo. Eu tenho uma coisa em dividir minha vida com outras pessoas, do lado teórico vamos chamar isso de trauma, de outro acredito profundamente que nossas vidas não devem ser partilhadas com recém conhecidos ou algo pode dar muito errado... e ai eu chego ao ponto... principalmente eu que tenho coisas consideráveis a esconder.
E então chegamos ao ponto do porque, eu, uma jovem aparentemente completamente normal, porque teria de fato tanto medo de dividir sua experiência existencial como gosto de chamar, com outras pessoas. E então me lembro o que me trouxe aqui...e então enquanto há toda a me fazendo voltar a minha infância. Meu bairro completamente dominado pelo tráfico, meu irmão então 11 anos mais velho se perdeu e foi assim que minha vida virou um inferno...por anos...
Meus pais, pessoas realmente simples que não sabiam como lidar com a gravidade da situação e uma criança presenciando cenas de violência desde muito cedo, ambulâncias, carros de polícia, sangue, palavrões, ameaças de morte...e foi o que mudou minha pessoa pelo resto da vida acredito eu. Visto tudo aquilo eu sempre me pego viajando e pensando o que aquilo me trouxe. A partir disso se despertou em mim o interesse pelo ser humano e porque aquilo de fato aconteceu como acontece em várias outras casas e até pior...
E foi assim que secretamente eu deixei de ser apenas uma telespectadora desta realidade... e o que isso me custou... aposto que ninguém imagina...
Continua
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