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História A Ordem dos Dragões ( Yoonmin- ABO) - Ningyo joruri


Escrita por: ParkMinRocah

Capítulo 19 - Ningyo joruri


Fanfic / Fanfiction A Ordem dos Dragões ( Yoonmin- ABO) - Ningyo joruri

Jimin não queria olhar para a cara do Jungkook pelos próximos três anos.

Ele queria muito voltar para casa e ficar no conforto do seu edredom pelo resto da semana, mas não podia negar que o bairro não era completamente seguro e ter um alfa por perto infelizmente ainda era necessário.

Ele simplesmente odiava a necessidade da sua espécie de depender de outra, mas pior que isso, é o fato de que alfas também dependiam de ômegas, no entanto, seus egos inflados e a carência exagerada os tornavam obsessivos e babões o que era sempre algo muito ruim com que lidar.

Jimin tinha que ser honesto, sua tentativa de namorar ômegas não estava dando muito certo, taí Taehyung pra provar suas tentativas falhas, mas ele ainda estava disposto a continuar tentando.

- Eu errei o endereço? - O motorista do Uber perguntou confuso.

- Infelizmente não. - Jimin finalmente desceu do carro, deixando o motorista curioso pra trás e levantou a cabeça pra tentar ver melhor a mansão do lado de fora.

Ele não podia negar. Nascer um Kim sempre foi uma vantagem financeira aceitável, mas aquilo era outro nível.

O lugar parecia mais um castelo, se isso ainda existisse na arquitetura moderna.

E o pior é que viviam apenas duas pessoas ali dentro.

Chega ser ridículo.

- Jimin? - Luísa desceu as escadas, sorrindo para o ômega assustado na porta da mansão. - Deixa eu te ajudar com isso.

- Não precisa, eu consigo… - Jimin parou de falar, vendo sua mala ser carregada para dentro da casa pela ômega simpática.

Se ele ainda tivesse dúvida sobre fugir, agora as chances eram zero.

- Pequeno príncipe. - Uma voz falou atrás de Jimin, o fazendo pular de susto.

- Desculpa. Não quis te assustar. Eu sou o Baekhyun, o … - O alfa coçou a cabeça confuso. - … jardineiro da família. - ele completou sorridente, como se fosse a melhor profissão do mundo.

- Jimin, só um ômega qualquer. Definitivamente não um príncipe. - ele achou por bem acrescentar.

- O Yoon…- Baekhyun tossiu seco. - ...Suga, está na biblioteca. Quer que eu te leve para conhecer a casa?

Jimin estranharia a pergunta.


Por que o jardineiro lhe mostraria a casa e não o anfitrião da mesma?


Mas conhecendo o anfitrião pelo pouco que ele conhecia. Ele tinha sorte de ter sido aceito no lugar.


- Você conhece Suga o suficiente? - Jimin perguntou quando saiu do décimo quarto idêntico da casa, que aliás ficou algo extremamente chato de ver.

- O suficiente. - Baekhyun deu de ombros, mas sem olhar na sua direção.

Jimin odiava quando não olhavam nos seus olhos numa conversa. Ele sempre achava que a pessoa estava mentindo ou algo tão ruim quanto.

- Ele sempre foi assim? - Jimin perguntou num sussurro.

Talvez o alfa tenha sofrido algo terrível e se tornou uma pessoa amarga. Como a fera, de Bela e a Fera. Porque se fosse esse o caso, Jimin com certeza seria menos hostil com o idiota do pai do Taehyung ou pelo menos entenderia o porquê de tanto ódio gratuito.

- Você acha que ele é algum monstro medieval que pendura cabeças em estacas em pontes por um acaso ? - Baek sorriu de canto, se virando para encarar Jimin.

- Isso foi bem específico. - Jimin disse confuso. - E você não precisa ser grosso. - ele resmungou abaixando os ombros em tristeza pelo alfa ter caçoado da sua pergunta um tanto quanto válida, nas sua opinião.

- Suga não é uma má pessoa. É só tratá-lo como se ele fosse um gato arisco. Se ele quiser atenção ele vai te procurar, se não, só deixe-o em paz e não terá arranhões.

Jimin revirou os olhos.

Suga não era uma criança.


Por que tinha que ter todo esse cuidado com ele?


- Manter distância. Entendi. - Jimin sorriu para o alfa. - Obrigado pelo tempo que perdeu me mostrando o lugar.

O tal do Baekhyun sorriu na sua direção, orgulhoso em ser útil.

- Meu número. Caso tenha alguma emergência. Eu moro dentro da propriedade, alguns quilômetros daqui.

Jimin concordou, guardando o papel amassado no bolso da blusa de moletom e analisou com atenção o corredor.

- Seu quarto é por aqui. Jimin. - Baekhyun sentiu a textura do nome do príncipe na língua. Era estranho ser tão informal com o Rei e o Príncipe, mas se eles queriam assim, ele não estava ali para discordar.

- Como sabe? - Jimin perguntou intrigado.

- Como eu sei o que?

- Onde vou dormir.

- Ah! Luisa está arrumando as coisas pra você no quarto.

- E você pode segui-la pelo o olfato. - Jimin terminou, impressionado.

Alfas da época de Jimin não tinham essa habilidade. Ela foi perdida com a inutilidade de seu uso, devido a modernidade e a vida em sociedade.

O que dizia muito sobre Baekhyun, o jardineiro.

O alfa era provavelmente tão velho quanto o Neandertal do pai adotivo do Tae.

Aqueles alfas eram realmente curiosos. Jimin tava louco pra descobrir mais sobre o bando. Já que não tinha nada melhor pra fazer.



Jimin sabia que seria um porre passar todos aqueles dias na casa de um alfa que o odiava e preferia que ele estivesse em qualquer lugar que não fosse ali, mas o que ele não imaginava é que nada realmente aconteceu.

O alfa se mantinha o mais longe possível dele e por mais que ele agradecesse o fato, ficar sozinho parecia muito pior.

Jimin bufou fechando o livro com mais força do que necessário. Seus olhos foram na direção do jardim, a luz do sol impedia de ver muito, mas estava um dia lindo e isso já deveria animá-lo.

Talvez sair da casa fosse lhe cair bem, o cheiro do alfa estava por todo o lugar naquela casa e deixava seu lobo inquieto de uma forma um tanto quanto difícil de explicar em palavras.

 Ele desceu as escadas às pressas, quase escorregando no último degrau e foi com o coração acelerado olhar as flores do jardim mais de perto.

Eram rosas, somente rosas, mas as cores eram variadas.

- Príncipe. Está tudo bem?

Jimin pulou de susto mais uma vez, se acostumando aos poucos com a presença do alfa.

- Me chama de Jimin. Estou bem, obrigado. - Jimin tocou em uma das pétalas sedosas de uma rosa vermelha. - Você falou sério quando disse que era jardineiro. - Jimin disse impressionado, parecia muito com uma mentira quando saiu da boca do alfa.

- Pra falar a verdade eu cuido daqui por diversão, me distrai.

- Então Suga não paga nada para você cuidar do jardim?

Jimin arregalou os olhos, pensando se era possível que o pai de Taehyung ficasse ainda pior na sua concepção.

- Nós temos um jardineiro, eu só auxilio. - Baekhyun falou meio perdido com o que dizer.

- Nós? - Jimin se incomodou sem saber muito bem com o que. - Você e o pai do Tae são…

- Que? Não. Eu moro aqui.

Jimin semicerrou os olhos, assistindo Baekhyun suspirar em desistência.

- O bando inteiro mora aqui. Suga é o nosso líder.

Jimin arregalou os olhos.

- Oh! Eu não sabia.

- Ninguém deveria saber. - Baekhyun sorriu animado agora. - Como você pôde ver, temos alguns lúpus no grupo, não seria bom se alguém descobrisse.

- Obrigado por confiar em mim então. - Jimin sorriu tímido para o alfa.

- Não acho que Suga se importaria se soubesse, então não é sacrifício nenhum.

Jimin achava completamente o contrário, Suga devia odiar o fato de que ele estava enfiando o nariz onde não era da sua conta enquanto estava ali, mas iria provavelmente assustar o simpático alfa na sua frente se dissesse.

- Posso conhecer? - Jimin perguntou um pouco desesperado, evitando que Baekhyun fosse embora. - Seu bando, quero dizer. - ele completou.

- Jimin, eu não sei se é…

- Por favor. É horrível ficar aqui sem fazer nada, estou terrivelmente entediado.

Baekhyun riu do ômega, concordando com a cabeça, mesmo que soubesse que talvez fosse perdê-la quando o rei descobrisse sobre aquilo.

- Vamos lá então.

A caminhada foi curta, ou a conversa engraçada e espontânea com Baekhyun fez parecer assim.

Jimin esperava encontrar de tudo, menos um vilarejo cheio de vida e incrivelmente lindo.

Era só alguns metros à frente da mansão, mas o contraste entre os lugares, era como se ele tivesse entrando em outro mundo.

Tinham crianças preparando uma fogueira, provavelmente para o fim da tarde. As portas das casas ficavam abertas e as jardineiras nas janelas deixavam o lugar com cara de algo saído de um conto de fadas.

- Aqui é lindo, Baekhyun.

- Por favor, me chama de Baek. Vem! Vou te apresentar para o bando.

Jimin sentiu o corpo inteiro tensionar, sem nem saber porquê. Algo sobre conhecer o bando de Suga o assustava.

Eles andaram até a parte de trás de uma das casas, onde tinha um grupo de alfas sentados numa mesa grande de madeira.

 A conversa na mesa de repente parou e todos agora olhavam na sua direção.

Jimin deu um passo para trás assustado.

- Jimin. Sente-se conosco. - Shownu disse batendo no banco ao seu lado.

Ele agradeceu aos céus por ter conhecido Shownu no restaurante do Jin ou se sentiria terrivelmente deslocado.

A conversa voltou de repente e Jimin foi timidamente para o lado do alfa. Ele mal o conhecia, mas seu cheiro estranhamente o acalmava.

- Não sabia que morava aqui. - Jimin falou baixinho, tentando não atrapalhar a conversa na mesa.

- Eu não moro. Acabei de descobrir que meu antigo bando estava morando aqui, estamos comemorando nosso reencontro hoje. - Shownu sorriu animado deixando Jimin corado pelo jeito que era olhado.

- Nós? - Jimin perguntou curioso.

- Sim. Vem cá! Tem alguém que eu quero te apresentar.

Jimin estava prestes a pedir permissão para Baek, mas quando se virou na mesa, não encontrou mais o alfa.

Ele deveria ficar com medo por estar ao redor de tanta gente desconhecida, mas era na verdade incrivelmente confortável. Desde que ele se lembra, era sempre só ele e Jungkook. Jimin gostava de agitação, ter um bando de repente parecia incrível.

- Jimin esse é o Minhyuk. Ele é um amigo muito especial pra mim.

- Park Jimin. É muito bom finalmente te conhecer.

O mais novo se segurou para não arregalar os olhos. O tal Minhyuk era um ômega, mas exalava tanta imponência e superioridade. Era algo que ele nunca viu num ômega antes, até seu cheiro era forte e marcante.

- O..Olá. É um prazer também, mas eu sou um Kim não um Park. - Jimin gaguejou, sem saber como agir.

- É claro que é. - Minhyuk bateu na testa fazendo uma careta engraçada que fez Jimin rir.

- Jungkook me convidou várias vezes para ir até o apartamento para conhecê-lo, mas nunca consegui.

- Você conhece o  meu Jungkook?

Minhyuk levantou uma sobrancelha em curiosidade com o jeito que Jimin falou de Jungkook, mas não disse nada em voz alta.

- Costumávamos andar juntos. - Shownu tentou esclarecer.

- Você é um ômega. - Jimin falou sem pensar muito. Ele ainda estava impressionado.

- Sim, sou um velho ômega sábio. Tem algo que queira saber sobre isso?

- Com certeza. - Jimin riu animado, aceitando o braço de Minhyuk para irem até a fogueira no quintal.

Eles conversaram tanto e sobre tanta coisa, que não foi surpresa nenhuma Jimin adormecer no ombro de Minhyuk enquanto ouvia histórias de ômegas que enfrentaram a sociedade racista da sua época.

Jimin estava encantado e se odiou pelo sono repentino, suas mãos pequenas agarravam o braço de Minhyuk com força, com medo de que ele fugisse.

Se ele fosse explicar seu sentimento no momento, ele diria que o que aconteceu ali foi amor à primeira vista.


Seus olhos estavam fechados e sua mente vagava distraída pelo torpor do sono, mas seu corpo entrou em alerta antes mesmo de sua mente registrar a voz de Suga próxima deles.

- Que porra? Eu achei que ele tivesse fugido ou algo assim.

- Parece que quem anda fugindo é você. - Minhyuk disse baixo enquanto acariciava os cabelos acinzentados do mais novo.

Jimin quase se encolheu com medo. Ele já estava amedrontado por fingir dormir enquanto escutava a conversa dos outros, agora o jeito que o ômega falou com Suga era ainda mais assustador.

Ele gostou disso. Gostou da superioridade independente das espécies, gostou particularmente do jeito de Minhyuk.

Suga tinha procurado Jimin pela casa inteira e se desesperou um pouco, se transformando em lobo pela primeira vez em semanas, para aumentar seus sentidos e rastrear o cheiro do príncipe, mas ficou aliviado ao perceber onde o cheiro de Jimin o havia levado.

- Quem disse que eu tô fugindo?

- Baek. - O ômega respondeu sem rodeios.

- Baekhyun é uma fofoqueira.

Minhyuk riu.

Baekhyun sempre teve a língua solta, realmente.

- Por que não quer se aproximar de Jimin, Suga?

Yoongi mordeu os lábios, agradecendo pelo único lobo ali que prestava atenção no que ele dizia e respeitava suas vontades ao chamá-lo pelo apelido.

Minhyuk não parecia julgá-lo por ele querer distância do pequeno, só tinha uma genuína curiosidade com o porquê.

- Tenho medo de perdê-lo mais uma vez.

Minhyuk sorriu compreensivo. Ele sabia bem sobre perdas para entender o alfa.

- Você vai perdê-lo de qualquer forma.

- O que quer dizer com isso?

Minhyuk deu de ombros.

- Somos imortais. Sempre vamos perder pessoas à nossa volta. A pergunta aqui não é quando você vai perdê-lo e sim o quanto você aproveitou antes disso acontecer.

Suga trocou o peso dos pés, coçando a nuca distraído.

- Não quero sentir aquela dor novamente. Eu nem sei quantas vezes tentei encerrar minha existência por causa daquele dia.

Jimin se remexeu nos braços de Minhyuk, deixando os dois tensos.

- Vamos conversar sobre isso depois. Por que não leva Jimin para casa? Ele precisa descansar.

Suga concordou, pegando o ômega no colo com certa insegurança.

- Você voltou pra ficar?

- Não sou o tipo de lobo que se acomoda, mas vou ficar por um tempo. Gosto dessa geração e fico feliz com a volta de Jimin e Taehyung.

- Eu também. Você será sempre bem vindo, fique pelo menos até V voltar.

Minhyuk concordou com um sorriso curto.

- Preciso me acostumar com esses nomes novos.

Suga sorriu largo. Nem ele tinha se acostumado direito ainda.

- Você veio por causa do Hoseok?

Minhyuk se remexeu incomodado, as sobrancelhas juntas e a boca trêmula dizia mais do que qualquer palavra que pudesse sair de sua boca.

- Shownu não te contou?

Minhyuk negou com a cabeça.

- O ciclo está completo, estamos todos juntos novamente. Algo está pra acontecer, posso sentir.

Minhyuk tossiu meio sem jeito, tentando pensar com clareza.

- Onde ele…

- O antigo curandeiro, Jin. Ele dirige um pequeno restaurante no centro da cidade agora.

Minhyuk mordeu os lábios pensativo. Ele nunca esperaria pela volta de Hoseok, já tinha se confirmado com a perda do alfa há muito tempo, mas algo naquela alma mexia com seu lobo e a menção do seu nome deixou isso bem claro.

- Você quer que eu descubra o que está acontecendo, não é?!

Yoongi concordou com a cabeça.

- Namjoon ainda não apareceu.

Minhyuk acenou positivamente.

- Vou ver o que posso fazer.


O cheiro de Jimin era tão bom e daquela distância era possível sentir seu cheiro se misturando com o do ômega.

Ele sentiu todo seu corpo vibrar com a maravilha de ter Jimin em seus braços mais uma vez.

Isso fez com que seus passos ficassem lentos e a distância entre a vila e a mansão um pouco maior.

Seu lobo tentou tomar a liderança quando ele colocou Jimin na cama, ele queria ficar perto do seu príncipe, mas não devia.

Suga passou tanto tempo na estrada, só ele e seus pensamentos de um dia ter Jimin nos braços por mais alguns segundos que fossem, que agora quando realmente o tinha ali era quase inacreditável demais. Ele parecia prestes a surtar a qualquer momento.

Se ele ao menos tocasse naquela pele suave mais uma vez. Se ao menos pudesse sentir o cheiro daqueles cabelos sedosos em contato com sua boca, nem que fosse por mais um átimo de segundo.


Mas ele não devia.


Suga balançou a cabeça, tomando controle do seu lobo e calando tanto o animal quanto sua mente, ao se retirar do quarto.

Ele não podia passar por aquilo de novo. Isso era tudo o que ele conseguia pensar.

Suas mãos tremiam quando ele saiu do quarto, finalmente soltando o ar que não fazia ideia por quanto tempo esteve segurando.


Jimin ouviu a porta bater e abriu os olhos, mordendo os lábios na tentativa de esconder o sorriso enquanto sentia o cheiro do alfa por todo seu moletom.

Aquele alfa fazia coisa com ele. Era como se milhões de penas fizessem cócegas por todo seu corpo, ele queria gritar, agarrar o alfa e sair correndo tudo ao mesmo tempo.

Jimin sentia muitos sentimentos sem nome no momento e algo lhe dizia que ele não tinha experiência o suficiente para nomeá-los se quisesse assim fazer.


Merda! Ele tava mesmo se sentindo atraído pelo pai de Taehyung?!  Até ele achava isso estranho.



Jimin acordou bem cedo na manhã seguinte, na verdade ele mal dormiu, sua mente vagava entre o despertar e o completo torpor do sono. A única coisa em comum entre ambos era o rosto de Suga, o encarando, ora como se ele fosse uma ameaça, ora como um presa.

Ele saiu do banho um pouco mais renovado, mas o que ele realmente precisava era de um café.

Seus passos ficaram um pouco mais instáveis conforme ouvia uma barulheira de panelas vindo da cozinha.

- Luisa? - Jimin entrou na cozinha, encontrando um Suga ainda mais mal humorado que o normal, se é que isso era possível.

- Espero não ter te acordado. - Suga disse numa voz suave, apesar de rouca.

Jimin não esperava por aquilo, então não soube o que responder.

- Eu…

- Luísa não pôde vir hoje.

Jimin tentou não encarar as mãos de Suga passando por seus cabelos negros e sedosos, mas precisou piscar mais vezes que o normal pra ser bem sucedido na tarefa.

- Senta do outro lado da ilha. Você não parece seguro no meio de todos esses talheres e pratos. - Jimin ordenou o mais sério que conseguiu.

- Haha. Muito engraçado você. - Suga resmungou mais algumas coisas, mas obedeceu o menor.

- Você sabe onde fica a frigideira? - Jimin se virou para encontrar Suga o olhando neutro e obviamente sem resposta.

Ele não parecia do tipo que gostava de não ter respostas, mas mesmo assim nem sempre as tinha.

- Foi o que eu imaginei. - Jimin agachou na pia, procurando na gaveta de panelas.

Sua intenção foi pura de início, mas ouvir Suga suspirar enquanto ele empinava a bunda na sua direção foi um bônus favorável.

Jimin sorriu, parecendo uma criança arteira, o que fez Suga tossir sem graça por ter sido pego. Ele queria brincar mais um pouco, mas a frigideira foi encontrada e ele precisava lembrar constantemente que ainda odiava o pai idiota do seu amigo.

- Posso te perguntar uma coisa? -  Jimin achou as espátulas e finalmente os condimentos.

- Por que eu tenho essa impressão de que não importa o que eu fale, você vai perguntar mesmo assim?

Jimin bateu os ovos um pouco mais fervorosamente depois disso, mas estava disposto a não perder a paciência.

- Você está fugindo de mim? - Jimin sorriu ao perceber que sua pergunta gerou um silêncio desconfortável.

- Eu sinto muito por isso. - Suga disse, ao invés de responder o óbvio.

Por essa ele definitivamente não esperava.

- Sente? - Jimin se virou, largando o omelete por uns instantes, bem a tempo de ver Suga concordar com a cabeça.

- Eu não quero te deixar desconfortável por estar aqui e toda vez que estou por perto você fica tenso. - Suga coçou a nuca parecendo indeciso com as próprias palavras. - Bom! Acho que isso é completamente minha culpa.

Não tinha nada de prepotente no alfa agora, na verdade ele parecia uma pessoa simples e agradável no momento.


O que era fofo.

Fofo? Que? Não. Espera.


- Eu só fico desconfortável porque você deixou bem claro que não me quer por perto. - Jimin disse às pressas, tentando conter seus próprios pensamentos confusos.

- Eu sei e eu sinto muito por ter agido daquela forma antes. - Suga baixou a cabeça e Jimin precisou se segurar no balcão para não correr e abraçar o alfa confuso e adorável.

Ele não fazia ideia da porra que estava acontecendo. Seu lobo parecia quase chorar com a cena.

Não que Jimin fosse uma pessoa indelicada e sem coração, mas ele definitivamente nunca precisou se segurar numa pia antes.

- Eu não sei porque não me quer por perto, mas vou fazer meu melhor para não incomodar.

Jimin voltou a fazer o café da manhã em silêncio dessa vez e Suga pareceu respeitar isso por um tempo.

- Jimin, eu sei que não sou a pessoa mais fácil de ser compreendida, mas por favor não se sinta desconfortável aqui.

Jimin mordeu o lábio inferior, tentando não gritar de frustração com aquilo. Uma hora ele o queria por perto, outra hora o queria o mais longe possível.

Simplesmente não conseguia entender.

- O café está quase pronto. Pode pegar as xícaras? Devem ficar acima dos pratos, ali. - Jimin suspirou imaginando o padrão que Luísa usava na cozinha.

Seus olhos seguiram o corpo do alfa,  tentando alcançar a louça acima de sua cabeça.

Ele odiava o quão sexy Suga ficava se esticando pra pegar as xícaras no armário.


Era absurdamente sexy para algo tão simples. Taí uma coisa que deveria ser proibida.

- Você deve pensar que eu sou um monstro. - Suga disse quando se sentaram ali na ilha mesmo para tomarem o café da manhã.

Jimin jogou metade da torrada no prato, suspirando desanimado.

- Você quer saber mesmo o que eu penso de você?

Suga parou com o café na metade do caminho, encarando Jimin com curiosidade e receio.

- Por favor.

- Eu acho que você tem uma alma muito antiga. Eu vejo isso quando olho nos seus olhos. É como ver relógios do mundo todo andando pra trás. Então, não vou fingir que entendo metade das suas atitudes, mas gostaria que mantivéssemos a calma na medida do possível, assim não vamos ter problemas de convivência nesta semana.

- É como você me vê? - Suga colocou a xícara de café na mesa, encarando Jimin de forma diferente agora. - Como uma alma antiga?

Jimin concordou um pouco tímido.


Por que ele sempre falava coisas fora de contexto daquela forma?!


Suga tossiu seco, tentando pegar a atenção do menor de volta.

- Eu não vou te tratar mal, Jimin. Você tem minha palavra. Está seguro aqui.

Jimin sentiu suas pernas formigarem e o coração acelerar.


Por que diabos, seu nome ficava tão diferente na boca de Suga?!


Ele se xingou baixinho. Se seu coração continuasse acelerando daquela forma, o alfa definitivamente ouviria.

- Eu preciso… - Jimin saiu da cozinha resmungando palavras desconexas, colocando uma distância entre ele e o alfa.


Algo em Jimin mudou depois daquele encontro com Suga na cozinha. Sua curiosidade sobre o alfa era cada vez maior, o fato de que algo em relação ao sentimento que andava apresentando em relação à ele serem confusos, isso o intrigava e fazia seu estômago queimar.


Ele passeava pelo extenso corredor da biblioteca agora. Os livros velhos empilhados o guiava para um salão oval e aparentemente abandonado na mansão. Tinha um pouco de poeira em cima da lareira em desuso, alguns quadros gigantescos pareciam pálidos com a decoração antiga de tapetes e cortinas em tons de vermelho e dourado. A única coisa ali que parecia ser constantemente usada era a garrafa de whisky do lado do sofá velho de couro.

Ele não sabia como chegou até ali, era como se algo ali chamasse por ele, o atraindo através de sussurros inexistentes.

Jimin se perguntava porque de Baekhyun não ter lhe mostrado aquela parte da mansão ainda, mas pensando bem, provavelmente ninguém nunca ia ali, talvez ele tivesse esquecido completamente do cômodo ou talvez nem soubesse da sua existência.

O ômega notou uma porta semiaberta, escondida por uma cortina de cetim, fingindo ser mais uma parte da parede coberta com o tecido. Ele não queria ser enxerido, mas nunca que viraria as costas para sua curiosidade. Uma mansão com passagens secretas não era algo que se via todo dia.

Seus pés tomaram a primeira atitude ao afastar o tecido esvoaçante para encontrar um segundo cômodo.

Esse era bem menos iluminado, ele não conseguia ver qualquer coisa.

Uma mesa estrategicamente posta ao lado da cortina lhe mostrou o que ele precisava fazer.

Ele ligou o interruptor do abajur com suas mãos suadas e inseguras, vendo alguns candelabros de parede acenderem junto e seu queixo caiu imediatamente com aquela visão.

Os quadros ali eram diferentes, maiores, mais imponentes. Tinha ouro e pedras preciosas incrustadas em todas as molduras ao redor da pintura a óleo definitivamente centenária. Não precisava ser nenhum conhecedor de arte para saber que aquilo tudo era antigo e valioso, mas o problema não era esse. Jimin estava olhando para uma pintura praticamente exata dele, os olhos eram diferentes, os cabelos loiros e esvoaçantes completamente diferente das suas escolhas de corte e o sorriso atrevido nada característico da sua personalidade dócil. No entanto, era uma réplica perfeita da sua aparência.

Príncipe de Galante, Rei dos dragões. Era o que dizia na plaquinha abaixo da pintura.

Jimin deu alguns passos para trás, caindo de bunda no chão quando os pés tropeçaram na borda do tapete.

Seu coração batia tão forte que ele podia sentir seu corpo pender de um lado pro outro com a pressão sanguínea extrema.

Ele olhou para o lado e viu um quadro ainda mais curioso. Era uma pintura a óleo de Suga, sentado num trono de ferro e aço, com uma coroa exageradamente coberta por rubis e diamantes.

Ele tinha uma expressão séria e assustadora. Jimin ficou com medo só por encará-lo através do quadro. Rei dos dragões, era o que dizia na plaquinha abaixo da pintura.

Suga já foi um rei?

Jimin sentiu o corpo trêmulo e agitado, não por sua causa dessa vez, mas por causa do seu lobo. Que nunca havia perdido o controle antes. Suas garras rasgaram a pele entre seus dedos, suas presas saíram da sua gengiva sangrando e seus olhos ficaram da cor de ouro líquido. Jimin se transformou em um lobo completamente. Seu pelo amarelo dourado brilhava com a luz bruxuleante do cômodo. Suas patas fincaram no tapete antigo enquanto ele olhava aterrorizado para a porta por onde havia entrado.

Jungkook era o único que sabia que ele era um puro, se mais alguém descobrisse, ele poderia acabar na cadeia ou numa mesa de laboratório.

Puros não eram tratados bem na sua sociedade e ele não sabe explicar o quão feliz ficou ao descobrir que existiam mais puros além dele e Jungkook.

Ele sempre achou que era uma aberração. O único ômega puro da história, um erro da natureza, mas depois de conhecer Minhyuk, nada mais o deixaria triste e sem esperanças outra vez.

Bom! Exceto pelo lugar em que estava agora.

Jimin não sabia como voltar para sua forma humana, seu lobo era arisco e selvagem. Ele se sentia mais um telespectador quando se transformava do que uma alma dividindo o corpo de um animal.

Talvez o fato de só ter se transformado duas vezes em toda sua vida tinha mais haver com seu descontrole do que qualquer outra coisa.

Seu lobo virou a cabeça para cima, sentindo um aroma distinto, velho e quase inexistente ao se misturar com a poeira do anos.

Ele caminhou com lentidão pelo taco velho da sala, abrindo com o focinho mais uma porta escondida na parede.

Era um quarto, completamente destruído. No entanto parecia falso e fora do lugar, como se fosse criado para parecer assim.

Jimin baixou o focinho até um tapete velho, completamente queimado nas pontas.

Era um ninho.

Porra, ele estava no ninho de alguém.

Seu lobo se desesperou, engasgando um uivo enquanto dobrava a língua pra fora tentando rosnar ao mesmo tempo.

Seu corpo desajeitado bateu em uma das paredes, derrubando o único abajur que iluminava o local, o quebrando em milhões de pedaços.

Jimin correu de volta para a sala onde estava, se transformando no meio do caminho e batendo com a cabeça na quina de uma escrivaninha. Sua visão ficou nublada e ele desmaiou, sentindo o corpo tombar com violência no chão, apesar da dor não vir com o baque de sua cabeça.

Quando seus olhos voltaram a abrir a dor finalmente o alcançou. Ele não sabia quanto tempo ficou ali, mas parecia muito, principalmente pela rigidez  nada característica no seu corpo.

Jimin olhou a roupa toda rasgada há poucos metros de distância, se desesperando ao lembrar de tudo que havia acontecido.

Ele pegou os retalhos com certo desespero e puxou a manta velha e empoeirada do sofá de couro, se enrolando no tecido áspero e correndo para o mais longe possível daquele lugar.

Seu coração pareceu mais calmo ao se livrar da peça de roupa estraçalhada na segurança do seu quarto, porém as mãos ainda estavam trêmulas e sangue seco manchava a parte da cabeça em que ele bateu quando caiu.

Jimin foi tomar banho com certo desespero, sentindo lágrimas escorrerem por seu rosto aturdido em conjunto com a água do chuveiro. Se o dono daquele ninho sentisse seu cheiro ali, ele estava morto, sabia disso e tinha uma pequena intuição de quem poderia ser o dono daquele lugar.

Ele sabia que era tecnicamente imortal, mas Jungkook disse que era possível puros morrerem, então não é como se fosse impossível e se alguém um dia quisesse matá-lo, Suga era o primeiro que vinha em sua mente, mesmo que não soubesse o porquê, ele temia o alfa.

Jimin saiu do banho às pressas pegando o celular em cima do criado mudo para ligar para a única pessoa que ele confiava que poderia lhe tirar daquela enrascada.


...


Yoongi tirou a agulha de cima do disco de vinil na vitrola antiga da sala de leitura, olhando com curiosidade para as escadas.

- Há quanto tempo está aí? - Ele perguntou enquanto se virava para subir os degraus de vidro.

- Desculpa. Não quis atrapalhar, é que Jungkook avisou que está chegando e eu achei que…

- Por que está com medo? - Yoongi chegou extremamente perto de Jimin, tocando numa mecha solta do seu cabelo acinzentados.

- Não estou com…

- Você está apavorado, posso sentir a frenesi em seu sangue do outro lado do cômodo.

- Por favor.

O lobo de Suga rosnou baixo, fazendo o ômega tremer ainda mais.

O instinto de proteção do lobo se perturbava e ele estava pronto para matar qualquer que fosse o motivo para que o ômega se amedrontasse.

- O que te assustou? - Sua voz era quase um sussurro, mas era a ordem de um alfa e Jimin sentiu arrepio por todo o corpo.

Suga parecia tão calmo o tempo todo, era assustador quando mudava de repente. Era como assistir um animal selvagem e estrategista, que ataca quando você menos espera.

- O que te assustou ômega? Responda.

- Você. - Jimin se assustou com a própria voz firme e concisa. Ele não conseguia acreditar que não gaguejou.

Yoongi afastou suas mãos do mais novo e abaixou a cabeça.

Ele estava uma escada abaixo do menor, mas seus olhos ainda se conectavam sem dificuldade.

- Minha presença te aterroriza dessa forma? - Suga baixou a cabeça envergonhado.

Jimin suspirou em alívio, mesmo que a angústia na voz do alfa não fosse prazerosa, lhe deu confiança.

Suas mãos gentis e delicadas tocaram o queixo do alfa e seus olhos voltaram a se encontrar.

Os olhos dourados de seu lobo brilharam ao ver os pratas do lobo de Suga. Eles se reconheceram num nível que seus lados humanos não podiam explicar ou entender.

Jimin engoliu em seco, sentindo as pontas dos dedos dormentes.

- Quem é o príncipe de Galante ? - Jimin sussurrou na sua direção.

A porta da casa foi praticamente escancarada, fazendo os dois pularem com o susto.

Eles estavam tão distraídos que não notaram os cheiros distintos de Jungkook e V ao se aproximarem.

- Tira as mãos dele. - Jungkook disse entre rosnados fazendo Suga obedecer imediatamente, mesmo que por instinto.

Jimin passou às pressas por Suga, abraçando Jungkook ao se aproximar do alfa.

- Você está bem? - Jungkook se afastou, avaliando Jimin com cuidado. - Se machucou? Por que sinto o cheiro de sangue?

- Não foi nada. Eu bati a cabeça no box do banheiro. Tô feliz que voltaram. - Jimin se afastou do mais velho, abraçando V que sorria largo para o amigo.

- Vem! Vamos para o meu quarto, precisamos conversar. - V disse puxando Jimin pelas escadas.

- Jimin…

- Eu tô bem Kookie, depois a gente conversa, ok?!


Suga terminou de descer alguns degraus, ignorando Jungkook enquanto tirava uma chave em seu bolso e caminhava pelo corredor lateral.

Jungkook não sabia bem porquê, mas o seguiu mesmo assim, já que Jimin não parecia no clima pra falar sobre a conversa estranha que tiveram no telefone pouco tempo antes dele chegar.

Suga olhou com certo desespero a sala abandonada, abrindo a porta do seu ninho com cuidado.

O cheiro de Jimin era forte ali, ele notou o abajur estraçalhado perto de uma porta secreta que ele não sabia que existia.

- Ele esteve aqui. - Suga disse para Jungkook que ficou na porta, respeitando o ninho do alfa.

- Tem certeza?

Suga abriu a outra porta lateral, caminhando sobre a sala com os olhos investigativos.

Ele passou o dedos na quina da escrivaninha, sentindo sangue seco grudar na sua pele.

Seu corpo virou assustado para encarar Jungkook que escondia um pedaço de roupa estraçalhada do menor no bolso.

- Ele me perguntou quem era o príncipe de Alicante.

Jungkook apontou para o enorme quadro em cima da lareira.

- Posso imaginar o porquê.

Suga encarou por alguns segundos o retrato do seu príncipe. Ele podia ver a diferença dos dois quase escancaradas agora.

- A sala tem entradas secretas, eu não sabia.

Suga sentou no sofá, colocando a mão na cabeça com preocupação.

- Ele precisa saber eventualmente Yoongi.

- Eu sei, mas não ainda.

Jungkook encostou na lareira, olhando com preocupação para o Rei.

- Se não agora, quando?

- Preciso achar minha mãe e prendê-la nas masmorras dos anciãos, se ela descobrir...

- Você precisa dela para saber mais da maldição. Já passou da hora de sabermos o que está acontecendo aqui.

- Eu preciso do Namjoon, não dela e Minhyuk está cuidando disso.

- Ele está aqui?

- Shownu o chamou.


Jungkook enrugou a testa confuso. Minhyuk se negou aparecer por tantos anos. Por que agora?


- Sobre Jimin…

- Eu vou conversar com ele, mas não agora.

Jungkook suspirou desanimado. Era exatamente por isso que ele e o Rei nunca se deram bem. Yoongi era teimoso demais.

- Por que V está usando uma saia?

Jungkook sorriu largo, mostrando seus adoráveis dentinhos pra frente.

- Essa é uma longa história, mas eu cuidei bem dele, você tem minha palavra.

- Tenho certeza que sim.



Hobi tinha acabado de sair do restaurante de Jin, uma de suas mãos protegiam o cigarro em sua boca do vento gelado de fim de tarde, enquanto a outra tentava acendê-lo o mais rápido possível.

Havia muita fumaça e barulho no centro, mas era sempre único assistir a chuva fraca caindo em cima do asfalto imundo.

Ele encostou o corpo na parede do restaurante, soltando a fumaça de sua boca com lentidão enquanto sua língua formigava com o montante de nicotina assimilada.

Seu corpo enrijeceu de repente e seus olhos nublaram com o cheiro peculiar de alguém dentre a multidão que passava por ali.

- Fico feliz por ainda causar esse tipo de efeito em um alfa.

Hobi olhou assustado para o lado, encontrando um ômega completamente diferente de tudo que ele já viu na vida.

Ele tinha a aparência delicada e gentil, mas a prepotência em sua postura lhe dizia que não era alguém que aceitava ser desrespeitado. Aquele cheiro era único e ele sabia que nunca havia sentido aquele ômega antes na vida, mas ainda assim parecia familiar.


Uma sensação de Jamais vu.


- Eu sei que não te conheço, mas…

- Minhyuk, prazer.

- Hobi.

Minhyuk sorriu largo.

- Não pareça tão apavorado assim, você deve ter sentido meu cheiro em Shownu, por isso lhe pareço familiar.

Hobi enrugou a testa, ele tinha certeza que esse não era o caso, mas era uma boa possibilidade.

- Oh! Você e Shownu são…

- Amigos.

Hobi sorriu largo.

Minhyuk era o ser mais lindo com o qual ele se deparou em toda sua vida e isso o deixava sem direção nenhuma.

- Quer dar uma volta? - Minhyuk perguntou animado.

Hobi nunca viu um ômega agir daquela forma, mas ele também era completamente diferente da característica proeminente em alfas, então não deveria se impressionar tanto com um ômega diferente também.

- Pra onde vamos? - Hobi jogou o cigarro no chão, o apagando com a ponta fina do seu sapato delicado.

- Já que você é irresponsável o suficiente pra sair com um total desconhecido assim, por que não lhe faço uma surpresa ?

- Uma surpresa? - Hobi riu animado. - Ok! Mas eu conheço essa cidade de cabo a rabo, acho difícil algo que me surpreenda, só pra você saber.

- Cabo a rabo ? Interessante escolha de palavras.



V não calou a boca desde que chegou e Jimin sorria, fazia perguntas esporádicas, mas seu maior desafio era esconder a inveja que sentia e o ciúmes também, é claro.

Jungkook era dele, sempre foi, mas o jeito que V falava do seu Jungkook, o fez perceber de que eventualmente o perderia. Não era fácil de encontrar aquele tipo de conexão, e V conseguiu conhecer um Jungkook que ele nem sabia existir, até agora.

Jimin espremeu os dedos uns contra os outros, sentindo seu corpo tencionar a cada palavra de V.

- O que foi?

- Ham?

- Você, parece que engoliu um sapo ou algo assim.

- Eu… - Jimin puxou o ar para os pulmões, olhando com tristeza para V. - Eu não sei, acho que só estou preocupado, meu cio está próximo e…

- Era Jungkook que te ajudava no seu cio? - V perguntou um pouco enciumado enquanto se aproximava do menor.

- Que? Não. Eu sempre vou numa balada ou algo assim e saio com algum alfa completamente desconhecido.

- Sério? - V arregalou os olhos em total descrença.

- Seríssimo.

- Nunca pensaria isso de você. - V riu alto, tentando imaginar o santinho do Jimin virando uma pervertida durante o cio.

- Tenho várias histórias para contar que te deixariam horrorizado.

- Ah não! Eu quero saber tudo.

Jimin se jogou na cama, escondendo o rosto no travesseiro quando V começou a provocá-lo.

V era assim desde que se conheceram. O híbrido simplesmente sabia exatamente o que dizer para acalmá-lo, talvez fosse por isso que ele sempre acabava contando tudo da sua vida para o mais novo.

- Eu sempre achei que namoraria um ômega, principalmente por causa das coisas que já aconteceram comigo durante meus cios

- Como assim?

Jimin deu de ombros, rindo de um jeito arteiro e completamente diferente do que V esperava de Jimin.

- Tem esse cara…



Shownu caminhava pelas propriedades da mansão de Yoongi com calma e distração. Ele tinha acabado de levar a bronca do ano de Minhyuk, porque ele não havia contato sobre o aparecimento de Hoseok e pra falar a verdade, nem ele sabia porquê escondeu aquilo do ômega.

Ele era tão sozinho, sua alma torturada e seu corpo cansado. Talvez estivesse com ciúmes.

Seria incrível ter alguém do seu lado, uma companhia. Ele teve isso por um tempo, quando Minhyuk lhe deu atenção, mas ele sabia que o ômega só estava entediado e sozinho. Ele também se sentia sozinho, mas não queria mais ser um brinquedo nas mãos de alguém, isso foi tudo o que ele sempre foi.

- Mestre?! - Uma voz doce, suave e tímida, sussurrou atrás dele.

Shownu estava sentado num banco de ferro, de frente para um mar de rosas coloridas. Ele sorriu docemente, incentivando o híbrido se aproximar.

- O que faz acordado a essa hora?

- Eu não sei, acho que senti sua inquietação.

Shownu concordou pensativo, sorrindo ao sentir a diferença de cheiro da pequena raposa.

- Um ômega.

V abaixou as cabeças tímido, sentando ao lado do alfa quando ele assim o permitiu.

- Meu cio foi um pouco tarde do que o normal. - O híbrido deu seu sorriso tímido e retangular para o alfa.

- Combina com você. - Shownu sorriu de volta.

Eles ficaram em silêncio por um tempo, mas era um silêncio bem vindo, reconfortante.

- Por que eu sinto sua inquietação?

Shownu suspirou, os olhos distantes, a expressão pensativa.

- Eu não sei. Algo haver com sua espécie. - Shownu sorriu pequeno para a raposa. - Quando eu vagava sem rumo pela Terra, sempre havia um híbrido por perto para cuidar de mim. Me trazer comida, me fazer companhia. Como se soubesse do que eu precisava e quando.

- Nossa espécie sempre cuidou de você? Por isso que minha raposa te chama de  Mestre?

- Eu acho que sim. Não sei exatamente o porquê, mas acho que parte de mim vive na sua espécie.

V concordou com a cabeça, arregalando os olhos ao perceber algo naquela conversar.

- É você não é?

- Vante…

- Você é o puro dos livros de história. O puro que criou nossa espécie, certo?!

- Ninguém pode saber sobre isso. Me prometa.

V arregalou ainda mais os olhos.

Ele não conseguia imaginar o quanto aquele lobo havia sofrido para lhe dar a vida. Os livros falavam sobre os experimentos e as torturas, mas ninguém nunca soube exatamente quem era e o que aconteceu com o lobo capturado centenas de anos atrás para servir de cobaia aos experimentos científicos que deu origem aos híbridos, que hoje era grande número da população existente na Terra.

- Eu prometo mestre.

- Sua raposa pode me chamar de Shownu. - O alfa disse tímido, mas V enxergou aquilo como algo de grande honra.

Ele sabia que era o híbrido dentro do mais novo que não resistia em chamá-lo assim.

- Você não está sozinho. - V disse, tocando em seu antebraço. - E eu prometo que manterei isso em segredo, Shownu.

Shownu concordou com a cabeça sem nem tentar esconder as lágrimas que caíam de seus olhos.

Ele sabia que não estava sozinho. Ele tinha a alcatéia e sua promessa de proteger Jimin finalmente voltou ter um significado com a chegada do menor em sua vida, mas ele sabia que não era disso que o híbrido falava e era bom ouvir aquilo da boca do mais novo.

Talvez o espaço vazio que Shownu sentia em seu peito não fosse o fato de não ter ninguém para amar e sim porque algo foi tirado dele quando os híbridos foram criados. Talvez a atração dos híbridos até ele fosse um sinal da sua parte faltante querendo voltar para casa.

- Eu tenho um segredo pra te contar também híbrido.

V encostou a cabeça no ombro do alfa e esperou com paciência ele começar a falar. V não sabia porquê, mas se sentia confortável ao lado do alfa.

- Você pode ser novo, mas sua alma é muito antiga.

- Como assim? - V se afastou do mais velho, tentando fazer contato com seus olhos.

- Você já existiu antes, muito tempo atrás, na época em que Jungkook era só uma criança.

- Jungkook?

Shownu concordou finalmente o encarando.

- Jungkook é a sua alma gêmea.

- É o que?

Shownu passou horas contando toda a verdade para V. Seu nome, sua origem.

Ele não teria acreditado no alfa se ele fosse qualquer outra pessoa, mas ele podia sentir a verdade saindo naquelas palavras, ele podia sentir o que seu mestre sentia. De forma sutil e quase como uma espécie de sexto sentido, mas ainda assim.

Pensar que ele era um alfa que guardava uma pantera dentro de si tempos atrás era quase engraçado. V sempre se sentiu um ômega delicado e indefeso na maior parte das vezes.

- Então Suga…

- Sim. Ele é o nosso Rei e Jimin era o príncipe que você jurou proteger com sua vida para Jungkook.

- Eu não consigo imaginar como isso é possível.

- Ninguém consegue.

- Como é que ninguém sabe direito sobre essa tal maldição? Quero dizer, alguém deve saber de algo.

- V, me prometa que não vai tentar ir atrás disso. Foi exatamente por causa dessa maldita busca que você morreu no passado. Se Yoongi não tivesse ido atrás da mãe, talvez…

- Eu não vou. - V disse o interrompendo.

Ele não sabia se realmente não iria atrás do seu passado, mas Shownu estava agitado e isso o deixava preocupado. Ele falaria qualquer coisa para acalmar o alfa.


V demorou para voltar para mansão, mas quando voltou ele finalmente caiu em si.

Ele não fazia ideia do porquê estava tão perturbado. Talvez tudo aquilo fosse mentira, talvez fosse só a história dos seus antepassados. Ele vivia com seres imortais, era normal saber sobre o passado da sua espécie.

No entanto, ele não conseguia entender, acreditar ou compreender nada daquilo.

- V ?

Suga acendeu a luz da sala, encarando o híbrido em prantos encolhido no sofá.

- O que aconteceu?

- Por que ? - V perguntou com a voz embargada.

Suga sentou ao lado do mais novo, o puxando para o seu colo.

V inclinou o rosto na curva do pescoço de Suga e suspirou, sentindo conforto com seu cheiro predominante de alfa.

- Por que o que ?

- Por que me adotou? - V se afastou do alfa, brincando com os botões no pijama do mais velho.

- Eu já disse. Por que fiz uma promessa de protegê-lo.

V fez um bico fofo com os lábios molhados de lágrimas.

- Uma promessa de alfa lúpus?

- Sim. Eu vou cuidar de você pra sempre.

- Eu vou morrer. - V disse rude.

- Eu sei. - Suga sorriu carinhoso para a pequena raposa, massageando seu ombro com a ponta dos seus dedos. - Mas eu vou estar aqui quando você voltar.

- Então é verdade.

- O que é verdade?

- A maldição, minha alma nunca vai descansar, não é?!

- Jungkook te contou que…

- Jungkook não sabe que eu sei. Ninguém sabe que eu sei, além de você.

Suga tirou V do seu colo, passando as mãos cheias de anéis pelos cabelos bagunçados.

- Como você sabe?

- Não interessa. O que importa é que eu sei. - V se levantou, pegando Suga pela cintura. - Appa, me conta sobre Kim Taehyung, eu preciso saber.

Suga suspirou desanimado, seu rosto desfigurou em angústia e seu ombro vibrava enquanto ele caía no choro.

Ele nunca conversou com ninguém sobre aquilo e talvez fosse por isso que ouvir o nome do seu melhor amigo mexesse tanto assim com ele.

Suga contou tudo para o híbrido. Pelo menos tudo que ele ainda não sabia. Eles passaram o resto da noite e boa parte do dia conversando sobre a amizade entre eles e a promessa de lobo em que eles tinham em comum.

V se sentia incrivelmente honrado por ter protegido Suga por tanto tempo, principalmente porque era grato pela proteção que recebia agora, mas algo naquela história toda era confusa e muito suspeita. Ter todas aquelas almas unidas mais uma vez, ter a promessa de que um filho nascido da família Kim iniciaria uma matança mais uma vez. Era tudo muito assustador.

- Se eu não tivesse prometido salvar Jimin…

- Você estaria vivo. Você era um puro, a única forma de um puro morrer é dando a vida por alguém que ama. No seu caso você fez isso pelo amor que Jungkook tinha por Jimin e como vocês eram unidos pela marca.

- Meus sentimentos e os sentimentos do meu alfa eram a mesma coisa.

Suga concordou em silêncio.

- Por que você não quer que Jimin saiba, talvez…

- Foi o começo de tudo. Quando eu contei para Jimin. Ele é altruísta demais, até mesmo agora. Isso tá cravado na sua alma, se Jimin souber que existe a possibilidade de uma criança ser morta por sua causa, ele vai querer se sacrificar de novo, é o que ele é.

V sentiu o corpo inteiro tremer.

- Você acha que tá acontecendo de novo?

- Se Jin tiver um filhote de Namjoon, vai começar tudo de novo.

- Mas esse Namjoon.

- Ele é o único que ainda não apareceu.

V deixou os ombros caírem.

- Isso é tão surreal. É impossível de acreditar.

- Talvez eu tenha algo que ajude.

Suga pegou V pelas mãos e o levou até a sala onde eram guardados os pertences restantes do seu reino.

- Tem um retrato de você por aqui e de Jungkook quando era criança e ainda pertencia ao Reino dos dragões. Ele foi embora pouco depois dessa pintura.

V olhou a criança assustada quase se escondendo atrás de um casal de postura ereta e expressão aristocrata.

- Por que ele partiu?

- Para cuidar de Jimin, Príncipe de Alicante. Foram ordens do meu pai, que era o Rei na época. Jimin foi prometido a mim quando nasceu.

- Jimin? Eles têm o mesmo nome?

Suga sorriu, tentando não encarar o retrato do príncipe ao lado dele.

Ainda era doloroso demais entrar ali.

- Jungkook tem grande influência na escolha do nome de Jimin. Ele e outros dois lobos foram encarregados de cuidar da geração que viesse do filho de Jin. Na época ninguém sabia muito bem o porquê, mas quando Jimin nasceu, tudo fez mais sentido.

- Mas além da aparência…

- Vocês têm o mesmo cheiro, a mesma voz, a mesma aparência, mas sabemos que são pessoas individuais, pessoas distintas, mas que dividem a mesma alma. Jungkook não gosta de você porque ele já te amou um dia V, não pense nisso.

V enrugou a testa confuso.

- Eu não estava pensando, até agora.

Suga pegou nas mãos geladas do híbrido.

- Vem! Você precisa dormir, mais tarde conversamos sobre isso.

- Appa. - V puxou Suga pelas mãos. - Posso dormir com você?

Suga sorriu pequeno, concordando com a cabeça.

V era extremamente carinhoso e por mais que Suga não demonstrasse, ele gostava disso no híbrido.

- Eu não quero que Jungkook saiba que eu sei. Se ele souber vai mudar comigo

Suga concordou, fechando a cortina do quarto, já que já estava de dia.

- Não vou contar, mas acho que uma hora você vai precisar.

- Eu prometo não falar nada para o Jimin, mas você precisa prometer…

- Não vou falar nada para ao Jungkook. Será nosso segredo.

V sorriu largo.

- É o nosso primeiro segredo juntos.

- É sim. - Suga deitou na cama, apagando a luz do abajur, tentando não reclamar de V grudando na lateral do seu corpo para dormir. - Nosso primeiro segredo. - ele sussurrou beijando os cabelos vermelho fogo da raposa sonolenta.

- Eu tenho tantas perguntas.

- Eu sei, mas agora você precisa dormir.

Suga sabia que estava ferrado no momento em que V falou sobre Kim Taehyung. Era como assistir dois mundos se colidindo em câmera lenta.

Ele sabia por experiência que era assim que a maldição começava. Quando aquelas sete pessoas aleatórias começavam a se perguntar o porquê das coisas.

Talvez fosse disso que sua mãe estava falando quando contou sobre “ a maldição dos sete” , talvez eles fossem os seres malditos na história toda. Não ele e Jimin e sim todos os Sete.


Por que senão, por qual motivo voltariam os sete a se reencontrarem inexplicavelmente? Não faria sentido algum.

A maldição não era entre ele e Jimin, era entre ele e outras seis almas.


Suga sabia o que deveria fazer a partir dali. Ele sabia que a resposta não era encontrar Namjoon e sim sua mãe.

Ela era o mestre que brincavam com suas vidas como quem brinca com fantoches. Era ela quem tinha a resposta

Talvez fosse loucura cometer o mesmo erro de antes, o de ir atrás de sua mãe para saber mais sobre a maldição ou talvez não. Foi assim que tudo começou da primeira vez, mas ele não saberia até tentar.



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