No dia seguinte à festa, Guto acordou com uma senhora dor de cabeça. Mal conseguia abrir os olhos, porque a claridade do dia era demais pra ele. Meio tonto, ele se sentou com dificuldade e não reconheceu o lugar em que estava. Olhou em volta e notou que ainda estava no galpão do Roney.
- Eu estava dormindo... em um sofá? Nossa, o que foi que aconteceu ontem?
- Ah, então o belo adormecido acordou, hein?! – Guto virou-se para a direção de onde vinha a voz e viu Tato na cozinha. – Já tava na hora.
- Tato... O que que eu tô fazendo aqui?
- Ah, não lembra não, é? Amnésia alcoólica, muito conveniente.
- Será que dá pra deixar as piadinhas pra quando eu estiver melhor, cara? – resmungou Guto.
- Tá de ressaca, imagino. – Tato, então, encheu uma xícara com café e saiu de dentro da cozinha. – Aqui, toma um pouco de café pra ajudar a clarear as ideias. Vai precisar de um analgésico, também?
- Olha – ponderou Guto, pegando a xícara. – até que não seria má ideia. Minha cabeça tá estourando!
- Claro que está! Eu não sei quanto você bebeu, cara, mas você deu um belo de um show.
- Show? Como assim?
- É. Vomitou durante a festa, bem no meio da pista de dança. Podia pelo menos ter chegado até o banheiro.
- Credo, que vexame...
- Aham! E eu que tive que limpar a sua sujeira, ainda por cima!
- Ah, Tato, foi mal. Nem era a intenção.
- É, eu tô sabendo. Eu vou subir lá na Keyla pra pegar um remédio pra sua dor de cabeça, OK?
- Valeu, cara.
Guto viu Tato se afastar enquanto tentava se lembrar da noite passada. A dor de cabeça não estava ajudando, mas ele fez um esforço. Ele se lembrava de chegar ao galpão, do show da banda... e de Benê. Benê, que estava linda naquele vestido dourado. Benê, que ficou conversando o tempo todo com aquele nerd.
- Ela foi até o palco pra me ver tocar. Mas depois que o Juca chegou, ela esqueceu de mim. E só tinha olhos pra aquele nerd. Será... que aconteceu alguma coisa?
- Falando sozinho, Guto?
- AH, TATO! – Guto pulou do sofá. – Você me assustou! Quer me matar do coração?
- Foi mal, velho. Só vim te trazer o comprimido e um gole d’água. Quem tava falando sozinho era você.
- Eu não tava falando sozinho! Eu tava pensando alto... só isso. – Guto, então, estendeu os braços pra pegar a água e o comprimido que o cozinheiro lhe oferecia.
- Guto?
- Fala, cara.
- Você quer conversar sobre alguma coisa? Eu sei que a gente não é amigo nem nada, mas se você quiser...
- Não, cara. Valeu. Eu tô legal. Só preciso pensar, mesmo.
- OK, então. Vou voltar pra minha chapa. Se precisar de alguma coisa, grita. – disse Tato, dando as costas ao pianista e entrando na cozinha da lanchonete.
Guto voltou a ficar sozinho com seus pensamentos. “Eu bebi tanto ontem... E peguei aquela menina lá. E pra quê? Não adiantou de nada, porque o que eu queria esquecer ainda tá martelando na minha cabeça.”
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Naquele mesmo momento, as quatro meninas estavam na casa de Benê, dentro do quarto dela, tentando consolá-la.
- Benê, por favor, conversa com a gente! – implorou Keyla.
- É, fala alguma coisa! – pediu Ellen, preocupada. – Você tá tão deprimida! Acho que nunca te vi assim.
- Gente... – ela começou. – tá tudo bem. Eu não quero falar sobre isso.
- Mas Benê, nós somos suas amigas! E amigas servem pra isso. Pra ouvir, pra aconselhar... E nós não aguentamos ver você assim. – acrescentou Tina. – Olha, o Guto-
Ouvir o nome do pianista fez Benê começar a chorar imediatamente.
- Ai Benê, me desculpe. Eu não queria fazer você chorar.
- A culpa... não é... sua...
As quatro abraçaram a corredora, que se encolheu com o toque dos braços das amigas.
- Sinto muito, Benê. – disse Keyla.
- Todas sentimos. – completou Lica.
- Eu tô sentindo uma dor tão grande! – desabafou Benê, entre soluços. – Aqui, no meio do peito. Parece que tem alguém me apertando! Dói até pra respirar... Por que eu tô sentindo isso?
- Benê... é que... – começou Ellen.
- Amiga, você tá sentindo essa dor toda porque você gosta dele. E... e você viu ele com outra pessoa ontem. É por isso que machuca tanto. – completou Keyla, encabulada.
- Mas eu vejo nos filmes... e todo mundo fala... que amor é uma coisa boa! Era... era pra estar doendo tanto?!
As meninas engoliram em seco. Não sabiam como responder a pergunta de Benê. Elas se entreolharam, procurando o que dizer.
- Olha, Benê... o amor às vezes machuca. – Lica limitou-se a dizer.
- Então eu não quero mais sentir isso! É ruim! É chato! Como faz pra parar? – perguntou a corredora, em tom de súplica.
- Não... não é tão simples, Benê. Essas coisas levam tempo... – respondeu Keyla, desanimada.
- Então quer dizer... que vai continuar doendo?! – Benê exclamou, levantando o rosto cheio de lágrimas para encarar as amigas.
E, de novo, elas não sabiam o que dizer. Só souberam abraçá-la. Nenhuma delas queria ver Benê daquele jeito. Uma menina tão inocente e meiga não devia sofrer tanto...
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